O conto da Princesa Vermelha escrita por Luna, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 4
Capítulo 4




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De vez em quando você fechava os olhos e fingia que as palavras maternais de Euphemia estavam saindo da boca de sua mãe, era meio idiota considerando que você sabia que não podia ser, mas aquilo gerava um calorzinho em seu coração e lhe trazia algum conforto, achava que sua presença também a confortava de alguma maneira.

Eu sempre quis mais um filho, mas tendo James tão tarde sabia que era impossível. Depois nós tivemos Sirius, mas acho que com você agora me sinto finalmente completa. Ela lhe disse isso uma manhã, enquanto lhe mostrava a sala das joias, segundo ela tudo aquilo seria seu um dia e claro, você já tinha estado em uma sala igualzinha aquela, só que bem menor e com certeza não havia tantas tiaras, ou pulseiras, braceletes, colares ou brincos e aquele bastão era todo de ouro mesmo?

James estava sendo educado para ser rei, mas você, a segunda filha de uma rainha, não foi preparada para assumir essa posição, seus pais a ensinaram várias coisas sobre história, como gerir uma grande casa, como organizar grandes festas, porque claro que você casaria com alguém importante, mas eles nunca chegaram a pensar que você se casaria com um príncipe de um reino tão grande e por isso, de várias maneiras, você estava despreparada.

Esse era um dos motivos para que você fosse chamada para todas as reuniões do conselho, você seria a rainha, nada poderia fugir do seu conhecimento, mesmo que o rei reinante fosse James, ainda assim, você teria poder ali, você seria sua maior conselheira. Na maioria das reuniões você ficava em silêncio, porque você não sabia nada sobre táticas militares e ainda não conhecia o país para saber suas necessidades, James perguntava algumas vezes se você concordava com algumas de suas opiniões e aí você respondia que sim ou que não, felizmente na maioria das vezes a resposta foi afirmativa, vocês meio que pensavam igual e nesses momentos você imaginava quão fácil seria conviver com ele, trabalhar ao seu lado, tê-lo como seu marido.

Tudo estava indo bem, vocês dois conversavam tranquilamente agora, ele a acompanhava em suas andanças pelo jardim, suas visitas ao jardim de inverno e até arriscou andar a cavalo, o que era muito diferente com tanta neve envolvida. Você tinha aprendido a apreciar a companhia de James, seu bom humor ajudava e ele ainda a olhava como se você fosse uma joia especialmente bela que ele gostaria de ter em sua coleção, mas aquilo se tornou mais lisonjeiro do que irritante com o passar do tempo.

Você nunca se apaixonou por ninguém, nem fazia ideia de como devia ser, tinha lido livros de romance, mas na maioria das vezes os contos eram trágicos e você não queria fazer parte de um conto trágico, se você pudesse escolher, queria um amor como o de seus pais, fácil, simples e se não fosse todos os problemas da corte você poderia tê-lo talvez.

James a fazia rir com frequência e você estava quase se acostumando com Sirius, enquanto adora Remus verdadeiramente e o achasse uma das melhores companhias por ali. Havia Peter, era um garotinho mirrado, que andava tão encolhido que você demorou a nota-lo, tinha certeza que ele não estivera na festa de noivado, mas depois de percebê-lo sempre o via junto a um dos outros três.

O amor, disse sua mãe uma vez, sempre a faria sorrir e cada vez que James conseguia lhe roubar um sorriso você lembrava-se disso.

 

— Talvez esteja na hora de pedirmos o apoio do exército, se eles saírem de lá agora devem chegar aqui dentro de um mês, com mais homens podemos fortificar o castelo e as cidades vizinhas. — Fabian dissera.

— Mas por quanto tempo manteríamos o exército de prontidão? São muitas bocas para alimentar, nosso cofre sofreria com isso e não podemos exigir mais dos súditos.

— Majestade, Fabian tem um ponto, Black e Malfoy, se estão armando algo não estão sozinhos, Lestrange, Avery e muitos outros sempre foram leais a essas famílias, casaram-se entre si durante anos, são séculos de favores trocados. Se todos eles juntarem exército contra nós devemos estar preparados.

Sirius falava com paixão e mesmo tendo se dirigido ao rei com a cortesia devida dava para perceber a familiaridade, era quase como ouvir James falando.

— Nenhuma notícia dos espiões? — Euphemia perguntou.

— Nada que possa nos permitir colocar a cabeça deles em estacas. — Gideon respondeu.

— A verdade é que encaramos um inimigo desconhecido, estamos enfrentando um falsário que alega ter direito ao trono ou famílias poderosas que desejam o poder da coroa para si? — Dumbledore falou com sua voz suave, calma. Ele passava uma sensação de conforto, como se soubesse a resposta para todas as suas dúvidas, talvez isso viesse dos pequenos olhos azuis e que pareciam ver tanto, do sorriso bondoso e da aparência sábia. — Talvez só o que precisemos é de tempo e alguma sorte, quando tivermos um novo herdeiro a linha de sucessão estará segura, as pessoas irão festejar a vinda do novo príncipe e nem mesmo eles seriam capazes de criar uma guerra em um reino feliz. Solicite o exército, Majestade, proteja seus muros e dê aos seus filhos tempo para fortalecer a coroa.

Você sabia exatamente do que eles estavam falando e embora isso envolvesse também James era para você que todos olhavam. Está dentro de nós a chave para a continuidade, então, quando eles procuram alguém para culpar é para nós que eles olham, Euphemia havia lhe dito e agora você sabia que era real.

Porque você queria fugir daqueles olhares e daquele assunto você perguntou algo que estava pinicando em sua cabeça já fazia um tempo.

— Eu pensei que todo o contingente já estava sendo usado, Moody já distribuiu todos os soldados pelo país. Iremos pedir mais soldados para as províncias?

Todos a olharam curiosos sem entender, mas foi o rei que respondeu.

— Querida, eles virão do seu reino, foram um dos termos do acordo que fizemos com sua irmã.

Você sorriu desacreditada, porque Petúnia não poderia ter feito aquilo. Mas como você poderia explicar àquelas pessoas a certeza que você tinha de que sua irmã não enviaria nenhum homem para proteger um país, principalmente se você estivesse em risco? Você não sabia e por isso você não falou nada.

— Claro. — Foi a única coisa que saiu da sua boca.

Só que você deveria ter avisado a eles, você sabia que sim e sua demora só causou mais problemas, porque semanas depois sua irmã não tinha respondido a carta enviada e havia certo temor que ela tivesse sido interceptada pelos inimigos.

— Eu... — Você começou, mas não sabia como continuar. Eram anos de intriga, raiva e ressentimento e de repente você se sentia como uma garotinha com medo de ser repreendida. — Eu não acho que a carta foi extraviada. Eu não acredito que minha irmã vá mandar um único regimento para cá, pelo motivo que for.

— Mas o acordo-

— Acordos podem ser rompidos, promessas podem ser quebradas, nada importa. Eu sei que é assim que ela pensa, Petúnia acreditava que nós não devíamos ajudar os reinos vizinhos, que não deveríamos derramar nosso sangue por causas alheias, várias vezes ela foi contra as decisões de nossa mãe.

— Mas isso não é apenas enviar soldados para ajudar um reino, é para garantir a sua segurança. — James afirmou, você lhe deu um sorriso triste.

— Isso é menos que um motivo para ela, na verdade, eu estar em perigo vai lhe dar mais motivos para manter o exército lá. Acredito que a notícia de minha morte a faria dormir melhor a noite.

Era isso. A sinceridade que faria com que todos a olhassem daquela maneira desacreditada e surpresa, porque no tempo que você passou ali algo ficou muito claro, família era algo importante para aquelas pessoas, mesmo que não houvesse um laço sanguíneo os ligando.

— Querida, ela é sua irmã-

Você interrompeu a rainha, não foi seu movimento mais educado, mas não queria que ela começasse um discurso sobre isso, pois só a faria lembrar de sua mãe e você não queria chorar.

— Ela era uma boa irmã, amável e carinhosa, não sei quando as coisas mudaram, talvez nem mesmo Petúnia saiba, mas... As pessoas começaram a falar, Petúnia era a filha mais velha, ela era a herdeira do trono, mas ela não tinha o amor do povo, ela sempre os olhava com desagrado, sempre queria ir embora quando íamos até os povoados visitar nossos súditos, as pessoas então começaram a falar sobre mim, sobre como eu era gentil e amorosa e lembrava muito minha avó, a rainha. Ela passou a acreditar que o povo estava preferindo a mim, que viam em mim a rainha que eles desejavam. Ela teve medo, receava que minha mãe acreditasse que haveria uma crise na sucessão quando ela morresse, que as pessoas não iriam apoiar Petúnia e então ela acreditou que mamãe estava querendo mudar a linha de sucessão. Tudo começou quando minhas aulas começaram a se voltar mais para a política, não importava quantas vezes fosse dito que aquilo era a educação adequada para qualquer princesa, ela berrava e era agressiva. Sua atitude começou a mudar, ela se tornou mais solícita, recebia as pessoas com gentileza, realizava favores, mas tudo mudou mesmo quando ela casou. Ele tinha acabado de herdar o título do pai, tinha muitas terras, mas principalmente, ele tinha um vasto exército, talvez minha irmã achasse que pudesse fazer uso desse exército para manter sua coroa. De qualquer forma, até ela ter um filho que lhe dê estabilidade eu ainda sou um risco e ela não fará nada para me proteger.

Você teria preferido que eles falassem alguma coisa, mas o silêncio depressivo a fez se sentir muito vazia e sozinha.

 

— James nos procurou trazendo algumas dúvidas quanto ao casamento. — O rei falava com tranquilidade, ignorante de como você sentia um arrepio em sua espinha. — Ficou claro para nós que a decisão de manda-la para cá partiu exclusivamente de sua irmã, embora ela nos tenha feito acreditar que estava tentando realizar um desejo seu.

Seu estômago estava se revirando tanto que era capaz de dar um nó, você permaneceu em silêncio, porque sua língua parecia pesada demais e se você abrisse sua boca sabe-se lá que tipo de coisa sairia.

— James não quer forçar um casamento, então pediu que nós ponderássemos sobre manda-la de volta. — A rainha continuou.

No dia anterior você e James tinham discutido. Até aquele momento você acreditava que o acordo de casamento tinha partido de Fleamont, pois foi assim que Petúnia fez parecer, mas James disse que não, que sua irmã os procurou em busca de um marido para você, foi então que tudo desandou.

Maldito seja ele e seu temperamento explosivo. Foi apenas uma briga, claro que houve gritos e você foi particularmente cruel, como você sempre era quando se sentia acuada. Mas era assim então? Vocês brigavam e ele resolvia enxota-la do castelo? Você queria caça-lo apenas para continuar a amaldiçoa-lo.

— O que vocês decidiram? — Sua voz saiu meio tremida, mas naquele momento não seria possível fingir qualquer coisa.

— Você não é um tapete velho que colocamos de lado quando não nos serve mais. — O rei disse, muito mais irritado do que você alguma vez já tinha visto. — Vocês jovens temerários, acham que podem tomar decisões de cabeça quente...

— Considerando o que nos disse, você poderia permanecer na corte, como nossa protegida, declararíamos o fim do noivado e você seria livre para procurar um noivo que seja do seu agrado. James apenas quer sua felicidade e segurança.

— Eu gostaria de permanecer aqui, Vossa Graça e... E eu gostaria que... — Você olhou para suas mãos, muito nervosa e muito, muito envergonhada. — Eu gostaria que meu noivado com James não fosse desfeito, se for do desejo de Vossas Majestades.

O rei bufou e falou novamente sobre jovens tolos, mas a rainha sorriu.

 

Oh, você se sentia aliviada, qual foi a última vez que você pensou sobre seu antigo lar? Você tinha aprendido a gostar de onde estava, o frio não a incomodava mais, na realidade você adorava os banhos quentes e como sua pele se arrepiava quando o vento frio passava pela janela, você adorava o jardim de inverno e andar a cavalo ali, principalmente quando tinha acabado de nevar, quando tudo estava branco e silencioso, você podia ouvir o farfalhar das árvores e os pequenos animais andando pela mata e você adorava como James respeitava esse silêncio também.

Você gostava de James. Muito. De sua risada feliz, da forma como ele tratava todos, de como ele nunca escondia o fato de gostar de você e estava sempre a elogiando, não apenas sua beleza, mas coisas simples como você ajuda-lo a lembrar do nome de alguém, ou saber contar uma história melhor e o fato dele nunca fazer qualquer tipo de exigência, nunca se aproximar mais do que você permitia.

Quando você disse que queria aprender a se defender todos riram, era a segunda vez que dizia isso, na primeira sua mãe sorriu condescendente e falou que não era algo com que você deveria ocupar seu tempo, havia centenas de pessoas ali para protegê-la, todos dispostos a se sacrificar por sua princesa, então você abandonou a questão, mas agora o desejo retornou, pois sua vida era sua e você não a deixaria nas mãos de ninguém, ainda mais de pessoas que você não confiava totalmente. James não riu, ele a olhou com atenção, percebeu que você estava falando sério e se comprometeu a ensiná-la. Você não acreditou de imediato, achava que aquilo era mais uma de suas brincadeiras, não foi até ele aparecer na porta do seu quarto a chamando que você soube que era real. James era um professor paciente e habilidoso e a ensinou o que você tinha que saber para conter um agressor direto, depois disso você sempre tinha um punhal escondido em seu vestido.

Você também estava começando a gostar do humor degenerado de Sirius, mesmo que na maioria das vezes ele fizesse seus olhos revirarem, mas ele era leal e James o chamava de irmão e, portanto ele também seria seu irmão e você já detestava uma irmã, não criaria problemas com outro. Lupin era simplesmente formidável e você poderia passar horas conversando com ele sobre qualquer coisa, ele era tão fabulosamente inteligente e você só queria absorver um pouco do conhecimento que ele sempre estava disposto em compartilhar e também tinha Peter, com o tempo você viu nele alguém para proteger, ele era sensível, mas arriscava-se a entrar nas pegadinhas dos garotos, mesmo que não tivesse a mesma proteção que Sirius e James.

Então, sim, você estava feliz ali, você queria permanecer naquele lugar e aprender a chama-lo de lar e amar todas aquelas pessoas que de alguma forma faziam parte de sua família já. Você queria que James continuasse a olhar para você daquela forma encantada e que ele tivesse coragem para dizer que a amava, mesmo sem saber se você repetiria as palavras, porque se você fosse ser justa, James estava naquele relacionamento a mais tempo que você, então seria perfeitamente aceitável que ele soubesse que a amava antes de você e dissesse isso para acalmar seu coração.

Você sabe que se dissesse a ele tudo isso ele nunca mais a permitiria partir, ele a seguraria com aquelas mãos fortes e a manteria junto a ele, aquecida com seu amor e devoção, mas você tinha medo de tropeçar, porque você ainda estava aprendendo a amar e ainda era muito confuso ter tantos desejos e não saber o que fazer com eles.

Você sabia que tinha que fazer algo, tinha que dizer algo antes que ele desistisse, era nobre da parte dele dispensá-la daquele compromisso, sabendo que ele detinha todo o poder, abrir mão do que ele sempre desejou, porque acreditava que estava lhe fazendo infeliz. Isso não fazia você amá-lo só um pouquinho?


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