O Roubo dos Presentes escrita por Karina A de Souza


Capítulo 1
A Mulher Lagarto, a Copeira, o Troll e a Vampira


Notas iniciais do capítulo

Aqui estou eu, ainda na minha tradição de natal, com um conto whovian!
Espero que gostem.



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Adelaide Vamipayeri e Jenny Flint estavam enfeitando uma das salas com decoração de natal. Duas figuras curiosas, as duas juntas, tão pálidas e cheias de segredos. Mas enquanto Jenny tinha um ar de leveza e gentileza, Adelaide era descrita como uma pessoa sombria e assustadora. Isso dito por pessoas que nunca a viram cantar as mais tolas canções de 1800 quando estava de bom humor.

—O que minhas meninas estão fazendo?-Madame Vastra perguntou, surgindo na porta.

—Desculpe, o que disse?-Jenny retrucou, erguendo uma sobrancelha. Vastra riu.

—Não se preocupe, você é a especial. Mantenho Adelaide aqui para assustar os hóspedes.

—Nós não temos hóspedes há muito tempo.

—Eu sei, mas os indesejados aparecem sem avisar.

—E eu adoro espantá-los para você. -Adelaide brincou, colocando uma meia na lareira. -Estamos preparando a casa para o natal.

—Não sabia que gostava tanto assim da data. É cristã?

—Não, apenas adoro presentes. Você não?

—Eu já averiguei o perímetro. -Strax avisou, aparecendo repentinamente. -Não há sinais de inimigos, mas devemos estar sempre alertas. -Olhou em volta. -Que tipo de bobagem terráquea está sendo feita na nossa base?

—Estamos nos preparando para o natal, sua batata estúpida.

—E onde estão os ovos de chocolate?

—Data errada, Strax. -Jenny avisou. -No natal há presentes, e comida, canções e é o aniversário de Jesus Cristo.

—Está querendo dizer que Jesus Cristo é uma pessoa?

—Ora, o que achou que seria?

—Não tenho certeza, as pessoas sempre dizem isso quando me veem.

—Se eu fosse surpreendida por uma batata raivosa, -Adelaide começou. -também diria.

—O que quer dizer com isso?

—Não comecem vocês dois. -Jenny avisou.

—Eu não sei o que haveria para ser começado. Devo iniciar os protocolos de guerra?

—Pela milésima vez, não. -Strax pareceu um pouco desapontado com a resposta. Ele sempre parecia.

—O Doutor disse algo sobre vir para o natal?-Vastra perguntou.

—Eu não o vi. -Adelaide respondeu. -Então não sei dizer.

—Bom, vamos deixar um lugar para ele, caso apareça.

—Eu não acho que... -Franziu a testa. -É muita coincidência alguém bater na porta bem nesse momento?

—Eu não ouvi nada. -Jenny disse, largando um enfeite natalino.

—Qual de nós é uma alienígena conhecida terraqueamente como vampira e tem excelente audição?-A outra apontou para ela. -Exato. Tem alguém na porta.

—Talvez seja o Doutor!-Jenny sorriu e saiu da sala. Adelaide cheirou o ar.

—Hum, eu receio que não.

—E quem poderia ser, no meio da noite?-Vastra perguntou.

—Temos visita. -Jenny anunciou, parando na porta. -Ela disse que tem um caso para a Grande Detetive.

—Ela?
Jenny assentiu e se moveu para o lado, revelando atrás de si uma garotinha loira que mais parecia uma boneca, com todo aquele cabelo enrolado e a roupa cheia de babados. Adelaide franziu o nariz.

—Devo colocá-la para fora?-Perguntou. Jenny cruzou os braços. -Não é essa minha função?

—Eu posso tirar o menino da casa se necessário. -Strax ofereceu.

—É uma menina, seu mongoloide.

—Ah.

—Não sejam tão descorteses. -Vastra pediu. -Olá, criança. Qual o seu nome?

—Mary Catharina Stuart, senhora. -A menina respondeu.

—Você é uma mocinha muito corajosa, Mary.

—A senhora acha?

—Bem, você não parece assustada.

—Não estou. Sei que são os melhores detetives de Londres. E todos os boatos sobre vocês... Bem, eu ouço as coisas.

—Que coisas, exatamente?

—Sobre a detetive que se esconde debaixo de um véu, a copeira, o troll e... A vampira. -Adelaide sorriu.

—A copeira?-Jenny repetiu, uma careta no rosto. -É só o que falam sobre mim?

—Podia ser pior. -Adelaide disse. -Boatos são perigosos. Havia uns sobre eu ter um caso com um rei.

—E era verdade?

—Bem...

—Acho esse assunto um tanto inapropriado para o momento. -Vastra interrompeu. -Jenny, por que não nos prepara um chocolate quente? Parece que temos algo para conversar com Mary.

—É claro. -A garota respondeu. -Eu já volto.

Enquanto isso, Strax parecia muito confuso.

—O que foi agora, sua batata problemática?-Adelaide perguntou.

—Temos um novo membro em nossa equipe, senhorita Vamipayeri?

—Não.

—Então quem é esse tal de Troll?-A mulher suspirou.

—Há quanto tempo os Sontarans vem esquecendo de colocar cérebros em seus clones?

—Sua pergunta ofende o Império Sontaran, eu exijo que se retrate.

—Nunca.

—Exijo um duelo para o acerto de contas!-Adelaide mostrou as presas.

—Duelo aceito. -Vastra limpou a garganta.

—Vocês estão proibidos de duelar, -Começou, -caso precisem ser lembrados.

—Mas... -Ambos tentaram, em uníssono. Vastra apenas lançou um longo olhar para os dois, fazendo-os se calar.

—Perfeito. Onde estava? Ah. Sim. -Se virou para Mary. -Seus pais sabem que está aqui?

—Não, na verdade. -Respondeu. -Mas eu posso pagar. -Tirou uma moeda da bolsinha branca que carregava e a colocou na mesa. Strax começou a falar alguma coisa, mas Adelaide o atingiu com o cotovelo.

—Você parece muito jovem para precisar contratar detetives.

—Eu fui a única criança da minha rua que tinha coragem para vir.

—O que aconteceu?

—Os presentes de natal estão sendo roubados. Os adultos estão ocupados demais para notar, mas as crianças não. Começou na casa do Gerald Gueller, e agora até a Anne Colloway foi roubada.

—E vocês tem algum suspeito?

—Não. Mas achei que você poderia descobrir. Você pode, não pode?

—Somos muito bons em descobrir coisas. -Jenny contou, trazendo uma bandeja com cinco xícaras e um bom cheiro de chocolate quente.

—Então vão ficar com o caso?

—É claro que sim. -Olhou para seus companheiros, que assentiram, sem escolha.

—Obrigada. Eu fiz uma lista das crianças que foram roubadas. -Entregou um papel dobrado para Jenny. -Tem o número das casas também. E se precisarem de mais informações, podem falar comigo. -Pegou uma das xícaras.

—Você é uma menina muito esperta. -Vastra disse, espiando a lista nas mãos de Jenny. -Vamos avisar assim que tivermos alguma informação.

—Obrigada. Eu preciso ir. -Deixou a xícara na mesa e ficou de pé, parando por um momento, olhando para Adelaide. -Você é uma vampira de verdade?

—Basicamente. -Respondeu. Mary pareceu espantada, então sorriu.

—Legal.

***

—Vamos mesmo pegar esse caso?-Adelaide perguntou. -Alguém roubando presentes de natal... Parece tão clichê quanto nerds e valentões se relacionando romanticamente.

—Tivemos um menino trabalhando conosco dois natais atrás. Você ainda não estava aqui. Ele foi bem útil num caso muito importante.

—Então escutamos crianças agora?

—Crianças humanas tendem a ser caixinhas de surpresa imprevisíveis. Acredito que Mary tenha sido sincera. Alguém está roubando presentes de natal.

—Por que alguém faria algo tão cruel?-Jenny perguntou.

—É o que vamos descobrir.

O quarteto se reuniu em outra sala, onde Vastra foi anotando informações que tinham em um quadro.

—Temos presentes roubados de sete casas diferentes. -Começou. -O que significa que sete crianças foram roubadas, até o momento. Deveríamos nos dividir e falar com essas crianças.

—Discordo. -Adelaide disse, erguendo a mão.

—Discorda?

—Olhe para nós, Vastra. Estamos falando de crianças. A única que poderia falar com elas é Jenny.

—Eu não entendi seu ponto. -Strax disse.

—É simples: você é uma batata assustadora e raivosa; Vastra é verde, quando não anda de véu parecendo a morte e todo mundo acha que sou uma vampira.

—Você é uma vampira.

—Eles não precisam saber disso. Jenny é a única de nós que parece normal. As crianças falariam facilmente com ela.

—Você tem razão. -Vastra concordou. -Crianças humanas são complicadas. Jenny lidará melhor com elas.

—Por que sou a única humana aqui?-A garota perguntou, um tom leve de provocação na voz.

—Isso também. Mas não podemos esquecer do seu rosto adorável. -Tocou a bochecha dela. -Bem, então está decidido, Jenny falará com as crianças, mas estaremos por perto, por precaução.

—Devo levar as armas químicas e afiadas?-Strax perguntou.

—São crianças, meu Deus.

—Isso é um sim?

***

Jenny podia ser vista pela janela da carruagem, falando com um garotinho de cabelos castanhos.

—Eu disse que ela seria boa para a missão. -Adelaide afirmou, deixando a cortina fechar.

—Está aliviada em não ter que falar com crianças?

—Eu não tenho nada contra as crias humanas. -Olhou para Vastra. -Apenas não sou tão sociável. E crianças não gostam de mim.

—Na verdade elas têm medo de você.

—Ninguém gosta de algo que teme.

—É uma verdade.

—Preciso caminhar um pouco. Me acompanha?

As duas saíram da carruagem, avisando Strax de que ele devia permanecer ali, e começaram a se afastar lentamente.

—Há algo errado?-Vastra perguntou.

—Olhe todas essas casas, todas bem enfeitadas... Parece que todos aqui gostam do natal.

—Não entendo onde quer chegar.

—Eu tinha uma teoria. Alguém que rouba presentes de natal de criancinhas não é boa pessoa. Alguém que ama o natal não arruinaria o de outras pessoas, ainda mais de crianças.

—E uma pessoa que não gosta do natal não enfeitaria a casa. Bem, todas aqui estão enfeitadas.

—Dessa rua, sim.

—Espalhar a busca de casas não enfeitadas é como procurar agulhas em palheiros. Levaria dias e dias, o que nos levaria há uma considerável lista de suspeitos. O que, é claro, talvez não prove nada. -Ergueu o braço, apontando para o sul. -Algumas ruas por ali fica o bairro mais pobre da cidade. São poucas as casas enfeitadas para o natal. Quando se há outras necessidades, enfeites ficam em segundo plano.

—Eu sei, é uma teoria fracassada.

—Talvez não. Quando encontrarmos o culpado, saberemos se gosta do natal ou não. Não pode descartar uma teoria sem saber se ela está certa.

—Você tem razão.

—Eu normalmente tenho. Agora vamos voltar para a carruagem. Esse frio pode não te incomodar, vampira, mas estou congelando!

***

O menino parou alguns segundos, olhando ao redor uma última vez, então saiu correndo na direção da mulher, as mãos ágeis indo direto para a bolsinha de couro preto na cintura dela, porém, ela virou, agarrando seu pulso.

—Isso me pertence, garoto. -Ele olhou para cima, pronto para uma resposta grosseira, mas arregalou os olhos ao reconhecer a vampira de Paternoster Row.

—E-e-eu...

—O que? Algum gato comeu sua língua?

—Você pegou o garoto!-Uma voz afirmou, saindo das sombras. O menino achou que seu coração ia parar. As lendas e boatos eram reais. Havia mesmo uma vampira e um troll.

—É claro que peguei. Tenho excelentes reflexos. Você vem com a gente, moleque. -E saiu o arrastando.

—Não!-Ele gritou, tentando se soltar. -Por favor, não me devorem!

—Devorar você? Eu provavelmente teria uma indigestão.

A vampira abriu a carruagem e entrou, puxando o garoto atrás de si. A porta foi fechada com força, deixando-os numa semi escuridão.

—Qual seu nome, garoto?

—David. -Sussurrou.

—David. Conheci um David uma vez.

—E o que aconteceu com ele?

—Teve uma morte trágica. -O menino estremeceu. -Eu sei que você é um dos trombadinhas que correm pelas ruas de Londres. Sei também que é o líder de um bando de moleques ladrões como você.

—Você vai me prender?

—Eu disse que sou uma policial?-Ele fez que não. -Tenho um trabalho pra você.

—Um trabalho?

—Exatamente. E se conseguir, você e seus amigos ganharão comida e cobertores para este inverno.

—E... E se eu não conseguir?

—Acho melhor você conseguir, David. -Ele se encolheu no banco, pensando em como alguém tão belo podia ser tão assustador. -Tem alguém roubando presentes de natal de umas crianças ricas. Não deixa de ser errado por elas terem dinheiro, ainda é um crime. Sabe algo sobre isso?

—Não. Meu bando só rouba comida e dinheiro.

—Certo. Quero que me arrume informações sobre quem está roubando esses presentes. Sei que é capaz disso. Moleques como você são os olhos e ouvidos dessas ruas. Consiga informações pra mim e sairá ganhando.

—Tudo... Tudo bem. Vou conseguir as informações pra senhora.

—Ótimo. Quando tiver algo, me encontre em Paternoster Row. -Ele assentiu. Adelaide abriu a porta e David pulou para fora. -Aqui. Fique com isso. -Estendeu a bolsinha de couro para ele. O garoto a pegou timidamente, sentindo o peso das moedas. -Se alguém perguntar, não fui eu quem te deu isso.

—Pode deixar.

E saiu correndo, sem acreditar no que tinha acabado de acontecer.

***

Enquanto madame Vastra lidava com as pistas do caso, Jenny estava tentando tricotar alguma coisa na poltrona ao lado; Adelaide lia um livro e Strax polia cuidadosamente uma de suas armas. O som proeminente era o da lareira crepitando e tudo parecia muito calmo, o que era meio incomum para a mansão.

—Estou surpresa. -Vastra disse, repentinamente. -Não achei que um caso como esse pudesse apresentar tamanho desafio. São presentes de natal roubados. Deveria ser simples.

—Aprendi uma coisa na infância que uso até hoje. -Adelaide começou. -Nunca subestime seu desafio.

—Interessante filosofia infantil. -A vampira deu de ombros.

—Só se passaram alguns dias. -Jenny disse.

—Mas o natal está se aproximando. Aquelas crianças vão ficar sem seus presentes. O que é deprimente, mesmo quando se trata de filhotes humanos.

—Nós vamos conseguir. Você é a melhor detetive de Londres, e somos os melhores ajudantes.

—Ajudantes?-Strax e Adelaide repetiram, mas tons diferentes. Enquanto o Sontaran parecia indignado, a vampira demonstrava tédio.

—Bem, somos detetives também...

—Tem alguém na porta. -Adelaide interrompeu.

—Vou pegar as armas. -Strax avisou. A vampira o agarrou pela gola da roupa enquanto ele passava por ela. -Mas o que é isso? Eu exijo que me solte.

—Cale-se, batata alienígena. Jenny, eu sugiro que abra a porta. Acredito que teremos boas notícias.

A copeira saiu apressada e retornou com David, o menino de rua. Adelaide deixou o livro de lado.

—Você tem as informações que pedi?

—Tenho sim, senhora. Inclusive, acabo de ver o ladrão.

—O que?-Vastra deu alguns passos para frente, atenta. -Você o viu?

—Sim. Mais uma casa foi roubada essa noite. Meu bando e eu ficamos de guarda pelo bairro, esperando para ver se algo acontecia. E aconteceu.

—Você acha que pode descrever o ladrão, jovenzinho?

—Posso. -Deu de ombros. -Mas acho que vocês não vão acreditar...

***

—Parece familiar?-Vastra perguntou, mostrando o retrato falado que havia feito. Mary assentiu, os olhos bem arregalados.

—É a Mabel!

—Então você a conhece.

—Bem, mais ou menos. A mãe dela veio pedir um emprego. Eu a chamei para brincar enquanto nossas mães conversavam, mas elas logo tiveram que ir.

—E você sabe onde a Mabel mora?

—Naquele bairro pobre indo por aquelas ruas ali. -Apontou. -Foi ela que roubou os presentes?

—Temos que verificar. Por enquanto, eu peço que não conte para ninguém.

—Tudo bem. -Fez uma pausa. -Se eu soubesse que ela queria tanto um brinquedo, teria dado uma das minhas bonecas pra ela.

***

A carruagem atravessou as ruas do bairro rico até que as casas foram se tornando menores, mais simples, e as pessoas não estivessem mais tão bem vestidas. O contraste era muito grande, ao mesmo tempo em que era triste.

Vastra, Jenny e Adelaide deixaram Strax cuidando da carruagem e seguiram a pé, pedindo informações para as pessoas que encontravam pelo caminho. Logo, tinham o endereço de uma casinha numa esquina, cujo telhado parecia estar tão velho quanto o sistema solar.

Ao baterem na porta, uma mulher apareceu, limpando as mãos num avental. Adelaide ajeitou a postura rapidamente.

—Alienígena. -Sussurrou.

—O que?-Jenny cochichou. -Mas parece apenas uma mulher humana. -Não havia nada de extraordinário nela. Parecia mesmo uma mulher comum. Alta. Negra. E uma expressão preocupada.

—Posso ajudar?-Perguntou.

—Estamos procurando por Mabel. -Vastra disse. -É a sua filha?

—É sim. Ela fez alguma coisa?

—Imagino que devíamos entrar para falar disso.

—Claro. Entrem.

A casa era tão simples por dentro quanto por fora. Vastra, Jenny e Adelaide entraram na pequena cozinha, tentando não esbarrar umas nas outras.

—Não nos apresentamos ainda. Sou a madame Vastra. Essas são Jenny Flint e Adelaide Vamipayeri. A senhora é...?

—Eloisa. Podem me chamar de Eloisa. Disseram que estão procurando pela Mabel?

—Sim. Infelizmente, presentes de natal estão sendo roubados em um bairro próximo e um informante viu a sua filha fugindo com presentes de uma das casas essa noite.

—Mabel não... Ela... Eu sempre digo que roubar é errado, achava que ela sabia disso.

—Era diferente no seu planeta de origem?-Adelaide perguntou, todas olharam pra ela. -Ela não cheira como humana.

—Por que eu não sou. Mabel e eu viemos da Constelação 4, junto com meu marido. Infelizmente, ele nos abandonou e saiu do planeta, nos deixando para trás.

—Eu sinto muito. -Jenny disse.

—E eu sinto muito por Mabel estar causando problemas. Sinto de verdade. -Parou um momento. -Mabel, pode vir aqui?

Mabel surgiu na porta, um pouco hesitante e envergonhada. Tinha ouvido toda a conversa escondida, e sabia que havia sido pega.

—Você está roubando presentes de natal?-Eloisa perguntou. A menina assentiu.

—Eles estão lá em baixo.

Mabel as levou para um porão bagunçado e escuro em baixo da casa. Num canto, algo estava coberto por um pano velho e marrom. A menina puxou o tecido, revelando uma pequena pilha de presentes.

—Mabel!-Eloisa exclamou, levando a mão ao peito. -Por que você fez isso?

—Por que eu queria presentes também. As crianças do bairro me contaram sobre o natal. Disseram que o Papai Noel trás presentes, mas só pras crianças que tem dinheiro. Nós não temos dinheiro, então ele não vai me dar nada.

—Querida... -Se abaixou para ficar na altura dela. -Mesmo assim... Isso é das outras crianças. Eu sinto muito por não poder te dar nada agora, mas roubar é errado, Mabel. Você não pode fazer isso, não importa o motivo.

—Desculpa.

—Vocês vão nos entregar para as autoridades?-Olhou para o trio.

—Não. -Vastra respondeu. -Não faremos isso. Mas teremos que devolver os presentes. E Mabel tem que prometer não roubar de novo.

—Eu prometo. -A menina disse, olhando tristemente para os belos embrulhos atrás dela. -Eu nunca mais vou roubar de novo.

Strax trouxe a carruagem e colocou todos os presentes dentro, enquanto Vastra tinha uma conversa com Eloisa ali ao lado.

—Sabe... Eu tive uma ideia. -Adelaide disse, observando tudo atentamente. Jenny se virou para ela.

—Era exatamente o que eu ia dizer. Será que tivemos a mesma ideia?

—Bem, depende. Qual é a sua?

***

—Jenny, o cheiro está maravilhoso. -Vastra elogiou, entrando na sala de jantar. A copeira sorriu, terminando de ajeitar a árvore de natal. -Mal posso esperar para cear. Imagino que Strax também. -O Sontaran se afastou da mesa, pego no flagra.

—Alguém mantenha ele longe das batatas. -Adelaide zombou, surgindo repentinamente. -Seria canibalismo se ele as comesse.

—Achei que usaria algo festivo, Vamipayeri. É natal.

—Preto é festivo, Vastra. E fica lindo em mim. -A campainha tocou. -Eles chegaram!

Jenny saiu rapidamente e retornou com um grupo grande de meninos que aparentavam ter se esforçado para ficarem limpos e arrumados. David liderava o grupo.

—Olhe pra vocês. -Adelaide se aproximou. -Parecem meninos educados e limpinhos.

—A senhora foi bem específica no convite.

—Eu fui, sim. Eu não podia deixar meninos sujos e mal educados por aqui, iria espantar o Papai Noel. Mas vejo que ele fez o certo em deixar os presentes aqui de qualquer maneira.

—Presentes?-A vampira saiu do caminho, deixando o grupo ver a árvore de natal e todos os presentes em volta dela. -São... Nossos?

—São, sim. Todos com seus nomes. -Os meninos se olharam, espantados. -Vão lá, são de vocês. -O grupo correu para a árvore, barulhentos e alegres como quaisquer outras crianças.

—Boa noite. -Eloisa saudou, entrando timidamente na sala com Mabel logo atrás.

—Exatamente quem eu queria ver. -Vastra disse. -Um amigo meu precisa de uma criada o mais rápido possível e eu disse que conhecia uma excelente. Ainda precisa do emprego?

—É claro, eu posso começar assim que ele quiser...

Mabel olhou em volta, a atenção logo presa na árvore de natal.

—Oi, Mabel. -Adelaide saudou, se abaixando para falar com ela. -Tem uma coisa pra você lá na árvore, sabia?

—Um presente?-A mulher assentiu. -Pra mim? Mas eu não fui uma boa menina. O Papai Noel deixa carvão pras crianças más.

—Você não é má. Fez uma coisa ruim, mas se arrepende disso. Acredite em mim, eu sei como é. Às vezes fazemos coisas muito erradas, mesmo quando não queremos ou quando sabemos que é errado. Mas se nos arrependemos disso... Bem, é o que importa. Agora vai, acho que você vai gostar do seu presente. Uma amiga ajudou a escolher, pessoalmente.

A menina sorriu e correu para a árvore, encontrando um belo embrulho vermelho e dourado com seu nome. Desfez cuidadosamente o laço, tirou o papel e abriu a caixa.

—É uma boneca!-Gritou, animada. -Uma boneca como a da Mary! E ela parece comigo!-Abraçou o brinquedo.

—Bem... Eu acho que ela gostou. -Vastra disse, parando ao lado de Adelaide.

—Com toda certeza.

—Fizemos uma coisa muito boa hoje.

—Fizemos, sim.

—Bem... Feliz natal, Adelaide. -A vampira sorriu.

—Feliz natal.


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Notas finais do capítulo

Adelaide é uma personagem que vai aparecer mais vezes em outras histórias, incluindo uma que mostrará a origem dela. Aqui ela não é o foco, então há muitas lacunas.
Quando fala do menino de dois natais atrás, Vastra faz referência ao arco dos bonecos de neve assassinos, visto não apenas na série, mas também em O Demônio na Fumaça.
É isto.
Feliz Natal pra vocês!
P.S.: Vamipayeri significa "vampiro" em amárico.



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