Rios Fluem Até Você escrita por Hanna Martins


Capítulo 36
Controle


Notas iniciais do capítulo

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— Como você está vivo? — dizia Poe, entre zangado e perplexo. — Você não estava, sei lá, morto? O que há com os roteiristas desta galáxia? Nunca vi um roteiro tão ruim assim!  

— Por que o espanto? As pessoas por aqui parecem que nunca ficam mortas por muito tempo. Até mesmo o Ren está vivo — contestou Hux com um desgosto evidente na voz. — E vocês estavam alardeando por toda a galáxia que haviam acabado com ele, amadores! 

Um suor frio escorreu pela espinha de Rey. O olhar que Hux lançara a Ben não saia de sua mente.  

— Aquele cara não é o Kylo Ren — declarou Finn, antes mesmo que ela pudesse falar qualquer coisa. — Você acha mesmo que nós deixaríamos o Ren andar por aí se ele estivesse vivo? Nós vamos dar a você o mesmo tratamento que daríamos ao Ren!  

Hux soltou uma gargalhada que ecoou por toda a sala.  

— Você está desviando do assunto, Hux — falou Rose, com um tom frio e firme. Ela se mantivera calada até aquele instante, sentada em uma cadeira, longe dos olhares de todos. — Não estamos aqui para discutir quem está morto ou não. Temos assunto mais importantes para tratar. 

Os olhares voltaram-se para ela. Rose levantou-se e caminhou com passos seguros e determinados em direção a Hux.  

— Armitage Hux, você agora vai nos falar tudo o que sabe sobre os planos da Primeira Ordem — declarou Rose, em um tom incisivo.  

— Eu vou? — rebateu ela, olhando-a desafiadoramente.  

— Ah! Vai sim, Armitage — contestou Rose, sem deixar-se intimidar por aquele homem. — Vai nos contar tudo o que sabe. E vou me encarregar pessoalmente de que você faça isso.  

Os dois olharam-se, estudando-se. Hux fez um muxoxo. Rose cruzou os braços.  

— O ex-General Abraços acha mesmo que pode com nossa florzinha? — murmurou Poe para Rey em um tom divertido. — Se eu fosse ele, já trataria de admitir tudo, até mesmo as coisas que eu não fiz! Ninguém pode vencer nossa flor. Coitado!  

 

***************************************** 

Assim que seus olhos se cruzaram com os daquele homem soube quem era ele. General Hux, o aliado e rival de Kylo Ren. Pelo menos, era o que Armitage acreditava. Para Kylo, Hux era apenas um colega de trabalho, de vez enquanto, irritante.  

Hux sabia. O olhar que lhe lançou deixava evidente que ele sabia. Um calafrio percorreu seu corpo diante daquela constatação. Se Hux abrisse a boca as coisas estariam acabadas para ele. Mas, como impediria Hux de falar?  

Caminhou pela pequena sala da Resistência, agitado. O coração disparando cada vez que ouvia um barulho, esperando que alguém entrasse pela porta e o prendesse por ser Kylo Ren, o monstro que cometera incomensuráveis crimes.  

Não, ele não era Kylo Ren, não mais, ele era Yuri Snow. Ninguém tinha motivos para prender um simples mecânico.  

Mas, até mesmo Rey lhe daria as costas se soubesse da verdade. Ela nunca o aceitaria, não era? Ele era o assassino de Ben Solo. Fora ele o único responsável por partir o coração dela. Como ela poderia aceitá-lo, se até mesmo ele não podia perdoar a si mesmo?  

Não, não. Kylo Ren estava morto, repetia para si mesmo como um mantra. Kylo Ren estava morto. Morto. Morto. Morto. Tudo estava no passado.  

Agora, ele era Yuri Snow. Ele consertaria os estragos de Kylo Ren. Ele seria um bom homem.  

Sua pele formigava. Estava difícil enviar ar para os pulmões.  

Respire, apenas, respire. 

Fechou os olhos e tentou retirar todas aquelas memórias tenebrosas de sua mente. Focou na respiração, apenas respirar, deixar o ar entrar nos pulmões, segurá-lo e soltá-lo. Não existia mais nada, apenas o ar que entrava e saia dos pulmões.  

O barulho da porta se abrindo despertou-o. Porém, ele não se moveu nem abriu os olhos. 

— Yuri — sussurrou uma voz familiar e que tanto amava ouvir.  

Ela passou os braços por sua cintura e descansou a cabeça em suas costas.  

— Está tudo bem? — indagou ele, colocando a mão sobre a dela.  

— Só estou cansada — disse Rey, com uma voz baixinha, que sinalizava o extremo estado de esgotamento em que ela se encontrava.  

— O interrogatório foi difícil? — perguntou ele, temendo pela resposta, mas, precisava saber.  

— Foi cansativo. Mas, Rose cuidou de tudo. Hux acabou revelando algumas coisas. Parece que temos um traidor em Búri... Na verdade, um grupo, bem rico e poderoso. Esse grupo tem ajudado com as coisas da Primeira Ordem, financiando o que restou dela. Há ainda várias bases da Primeira Ordem espalhadas pela galáxia. Hux ainda não confessou, mas Rose acredita que ele deve saber algo sobre Palpatine, que a Primeira Ordem está envolvida de alguma forma nisso.   

Apertou a mão de Rey ao ouvir aquele nome. Sabia o quanto ela odiava aquele homem.  

— Você está bem?  

— Estou... — afirmou ela. — Só é difícil enfrentar tudo isso de novo. Pensei que essa parte do meu passado havia acabado, mas, ela ainda continua muito viva... Às vezes, é impossível fugir do passado. Ele sempre te persegue como um fantasma. Só queria que isso terminasse.  

— Eu sei... — disse ele, virando-se para ela e a envolvendo em seus braços. — Eu sei... 

Enterrou a cabeça no ombro de Rey. Os lábios roçavam levemente o pescoço dela. Aspirou o cheiro familiar e acolhedor, que o acalmava. Ela se apertou mais contra ele.  

Eles ficaram em silêncio por um momento. Cada um deles perdido em seus próprios pensamentos.  

— Tenho que voltar — disse Rey, depois de um tempo. — Vamos discutir sobre algumas estratégias... Você quer vir comigo? 

— Acho que seu amigo Finn não ficaria muito feliz em me ver... 

Rey o olhou.  

— Podemos dar um jeito em Finn — propôs ela.  

— Acho que vocês já têm um monte de coisas para fazer. Não quero que vocês tenham discussões por causa da minha presença — falou, retirando uma mecha de cabelo dela que caia no rosto e o colocando atrás da orelha. — Depois, resolvemos isso, sim? Eu vou ficar bem aqui, não se preocupe comigo.  

— Você pode me esperar no meu quarto.  

— Tudo bem — assentiu ele. — Eu vou ficar bem, ok? Eu só quero que você fique bem também. Não... se cobre demais, tudo bem? Lembre-se de que você não tem nada a ver com Palpatine. Ele é ele, você é você.  

Deslizou os dedos pelo rosto de Rey, como se estivesse memorizando cada traço dele, guardando cada centímetro no âmago de seu ser.  

— Eu também gostaria de pensar assim — respondeu ela, baixando os olhos.  

— Você sabe que não tem nada a ver com ele — reafirmou.  

Rey se colocou nas pontas dos pés e o puxou, seus lábios se tocaram levemente. Ele sentiu o gosto doce dos lábios dela, a textura macia, a leve pressão. Por um segundo, todos os demais pensamentos foram esquecidos em algum canto obscuro de seu ser, e ele se concentrou unicamente naquela sensação boa, naquela calidez, que o encontro dos lábios deles provocava.  

— Obrigada por estar comigo — disse ela, acariciando seu rosto com as pontas dos dedos.  

Ele sorriu e procurou novamente pelos lábios dela. Um beijo demorado, em que seus lábios ficaram encostado um no outro por um tempo indeterminado. Aquele beijo tinha gosto de saudade. Mesmo com Rey em sua frente ainda sentia falta dela.  

O barulho da batida na porta fez Rey se desprender de seus braços.  

— Preciso realmente ir.  

— Eu vou ficar bem — assegurou ele novamente, vendo o olhar hesitante dela. — Você só precisa me prometer que irá ficar bem, certo? 

— Eu vou.  

Um breve e pálido sorriso pairou no rosto dela e ela se foi.  

 

********************************************** 

Encontrar o local em que Hux estava foi fácil. Não demorou muito e lá estava ele, diante daquela sala no final do corredor, isolada das demais, que se destaca pela porta pesada e um pouco antiga, tão diferentes das outras que tinham um acabamento moderno. Havia apenas quatro guardas. Enganá-los para que lhe permitissem acesso àquela sala também foi fácil. A parte difícil foi encarar aquele homem, que o estudava com aqueles olhos frios e calculistas. Olhos zombeteiros. 

Ele nem sabia direito o que estava fazendo. De repente se vira lá, diante daquele homem que poderia arruinar todo o seu futuro.  

Aqueles olhos de um azul gelado o analisavam minuciosamente. Hux lhe trazia lembranças que jamais queria recordar. Os fragmentos de memórias estavam agitados, fervilhando em sua mente, tornando-se ainda mais caóticos. Sua cabeça girava e doía, lhe provocando uma espécie de náusea. As unhas apertavam tanto a palma da mão que chegavam a tirar sangue. Mas, ele não se importava com a dor.  

— Então, você me veio me visitar? — falou Hux, o olhando cinicamente. — Sabe, você é bem mais experto do que eu pensei... 

Seus olhos estavam fixos sobre aquele homem.  

— Enganou a todos e ainda conquistou um lugar na Resistência. Devo lhe dar parabéns, Ren?  

— Você está enganado. Eu não sou este cara que você está falando. Me chamo Yuri Snow.  

E ele não estava mentindo. Kylo Ren estava morto.  

— Claro — falou Hux ironicamente. — Você pode enganar todos estes acéfalos da Resistência com este papinho. Mas, não a mim. Você nunca poderá esconder a verdade. Pode fingir que é outra pessoa, adotar outra identidade, mas isso não apagará o fato de ser Kylo Ren. 

— Eu não sou este cara — gritou, repleto de raiva. Toda aquela raiva acumulada estava fervilhando dentro de si. — E você pode parar de falar isso! — Apontou o dedo em riste.  

— Se não o quê? — indagou com uma expressão desafiante.  — O que você vai fazer, hein? 

— Você não vai querer saber — declarou, não se deixando intimidar. — Você precisa parar de espalhar mentiras por aí. 

Hux soltou um gargalhada.  

— Mentiras? Não sou eu quem está espalhando mentiras por aí...  

Os olhos frios de Hux o atingiram. Ele sabia. Olhou bem no fundo dos olhos de Hux. A raiva crua e avassaladora explodiu dentro de si. Se pudesse acabaria com aquele sujeito ali mesmo.  

Hux soltou uma pequena gargalhada que ecoou pelas paredes brancas e frias como uma acusação.  

Algo nele se remexeu. Cólera. A fúria o dominava, corria em suas veias como fogo. Suas mãos se estenderam em direção aquele homem que tanto odiava. Envolveu-as no pescoço longo e pálido de Hux. Aquele pescoço era frágil. Suas mãos eram grandes e fortes.  

Hux lutava para respirar, a pele pálida de seu rosto tornara-se vermelha. Era tão fácil acabar com aquele sujeito, bastava um pouco mais de pressão e tudo estaria terminado dentro de instante. Porém, algo dentro dele gritou, impedindo que se deixasse dominar por aquelas emoções.  

Recuou horrorizado, retirando as mãos do pescoço de Hux. Por um breve, instante, quase quebrara a barreira e voltara a ser Kylo Ren.  

Saiu daquela sala certo de que cometera uma estupidez. Por que havia procurado Hux? 

Olhou para as mãos. Não conseguia vê-las como parte de seu corpo, pareciam coisas com vida própria. As mãos tremiam. Quase deixara-se levar pela fúria. Não podia permitir que aquilo acontecesse novamente. Tinha medo. E se ele não pudesse deixar Kylo Ren morrer?  

Ele quase perdera o controle sobre si.  

Não. Ele não permitiria que algo como aquilo acontecesse novamente. Precisava ficar mais alerta.  

Kylo Ren estava morto. Mas, a verdade é que Kylo era um fantasma que estava sempre o rondando, aguardando ansiosamente para vir à tona, querendo o controlar. E isso dava medo...  

— Você está ai! — gritou Rey, tirando-o daqueles pensamentos. — Estava procurando por você.  

— O que foi? — perguntou, vendo a agitação de Rey. Escondeu rapidamente as mãos ainda trêmulas.  

— Precisamos ir para Jakku. Parece que a Primeira Ordem estava planejando alguma coisa por lá... 

Jakku, Matt, Declan... As coisas só ficavam piores a cada momento. 


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Notas finais do capítulo

O que acharam?



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