Para Bella, Com Amor escrita por Alissa Nayer


Capítulo 2
Capítulo 2




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~ Edward ~

Chegou o grande dia.

Meu voo para Seattle sai em mais ou menos uma hora, e estou tremendo enquanto escrevo isso no aeroporto.

Aliás, não posso deixar de registrar a observação de que esse negócio de escrever ajuda mesmo. Despejar no papel os pensamentos confusos da minha cabeça que estavam emaranhados e não me permitiam enxergar certas coisas fez com que eu não desse para trás mais uma vez, como o covarde que fui tantas vezes na minha vida. Sei que, se um dia eu voltar a ler isso, nem ao menos conseguirei entender direito os garranchos que minha mão trêmula está deixando, mas pelo menos está ajudando a dar uma acalmada na fúria com que meu coração bate no peito conforme os minutos vão passando.

Ah, ótimo. Meu celular está tocando pela milésima vez. O nome da minha mãe está na tela e, se eu soubesse que essa é uma simples ligação para me desejar boa viagem, eu até consideraria atender, mas eu sei que é mais algo do tipo “Não acredito que você está mesmo fazendo isso!”, “Depois de tudo que o seu pai fez por você”, “Depois de tudo que NÓS fizemos por você!”, como tanto ouvi na noite passada pessoalmente, então vou deixar tocar e falar com ela quando pousar. Acho que, assim, ela vai por fim se convencer de que é real. Odeio pensar que estou magoando a minha família, mas os pais deveriam querer que os filhos sejam felizes, independentemente do que lhes traga essa felicidade, não é? Eles vão compreender.

Porque eu estou... feliz.

E morrendo de medo.

Aterrorizado pra caralho.

Nada me garante que ela vai, de cara, correr para os meus braços abertos e tão prontos para receber seu encaixe perfeito contra mim. Nada me garante que ela vai ficar feliz em me ver, como eu com certeza ficarei quando a vir. Nada me garante que ela ainda pensa em mim, lembra de mim, ou ainda sente algo por mim, como sinto por ela.

Porra, nada me garante que ela vai me deixar lhe contar o quanto tenho sido corroído por arrependimento durante todo e cada dia em que fiquei longe dela. Que eu fui um idiota que se deixou ser mandado e guiado em vez de tomar as rédeas da própria vida. Que eu sempre fui, ainda sou e sempre serei completamente apaixonado por ela, e quero fazê-la feliz mais do que qualquer coisa nessa vida.

Nada me garante que ela nos dará uma segunda chance.

Mas não será por isso, nem por nada, que deixarei de tentar.

.

.

— BELLA -

— Ah, não acredito nisso!

Grunho, irritada, após tentar ligar minha picape pela quinta vez. Tudo bem que a pobre caminhonete é tão antiga quanto o meu avô — que a passou para o meu pai, que a passou para mim quando comecei a faculdade — e precisou ir para a oficina pelo menos uma vez por mês durante o último meio ano, mas eu amo essa geringonça. Não consigo me desapegar.

Viro a chave na ignição mais uma vez, pisando fundo na embreagem, como o mecânico me orientou na última vez em que o consertou, mas o troço engasga e para com um solavanco leve.

— Merda, merda, merda! — rosno, exasperada, encostando a testa no volante, frustrada por saber que precisarei chamar o reboque de novo – tenho gastado mais com isso do que com mercado – e triste por pensar que é provável que esteja mais do que na hora de me livrar da minha mascotinha vermelha.

— Tudo bem aí, Bella?

E por falar em coisas das quais não consigo me desapegar...

O sobressalto de susto me faz quicar no banco do carro, e quando olho para a janela, deparo-me com o rosto de Edward me encarando, com preocupação e diversão ao mesmo tempo. Reviro os olhos e exalo com força, deixando bem claro que não estou em um dia muito bom e que me assustar assim não é a melhor das ideias.

— Essa droga não quer pegar — digo, derrotada. Evito olhar para ele, porque sei que está sorrindo. Não é seguro olhar para o sorriso de Edward assim, tão de perto. Não quando ainda estou tentando entender como me sinto ao tê-lo de volta na minha vida.

— “Essa droga”? Pensei que não você não gostasse que falem mal da sua lata velha — ele comenta, e lanço-lhe um olhar repreensivo.

— Ainda não gosto, viu? O tempo pode até ter passado, mas algumas coisas não mudam. Aliás, só eu posso falar mal dela, e só nos dias em que ela resolve me deixar na mão assim.

O sorriso dele cresce, e preciso apertar meus lábios para impedir que os cantos se estiquem para imitá-lo. Quase me esqueci como seu sorriso divertido, que chega até os olhos e o deixa com uma expressão adorável, pode ser contagiante.

— É, algumas coisas não mudam — ele diz, e parece perdido em pensamentos enquanto continua a me fitar. Tento não achar adorável o jeito com pequenas mechas espetadas de cabelo se esguelham nas laterais de sua cabeça para fora do boné que ele usa, e pigarreio ao desviar o olhar mais uma vez. — Bom, se você quiser, posso dar uma olhada para descobrir qual é o problema.

Sacudo a cabeça negativamente e suspiro.

— Deve ser o mesmo problema do mês passado. E do mês retrasado. E do mês antes desse.

Ouço sua risada baixinha enquanto recolho minha bolsa do banco do passageiro.

— Eu ia perguntar por que, então, você não troca de carro, mas acho melhor não te irritar ainda mais.

— Ainda bem que você sabe — rebato, abrindo a porta da caminhonete sem ao menos pedir-lhe licença, fazendo com que ele dê um passo largo para trás a fim de não ser atingido. — Lá vamos nós de novo chamar o reboque e pegar um táxi.

Passo direto por ele enquanto procuro meu celular na bolsa, e logo sou interrompida pelo som de sua voz novamente.

— Eu posso te dar uma carona — ele diz e eu paro no lugar, girando lentamente em meus calcanhares até encontrar seu olhar esperançoso aguardando minha resposta.

— Não sei se é uma boa ideia — respondo sinceramente.

— É uma ótima ideia.

— Edward...

Ele ri do meu tom de advertência e dá alguns passos em minha direção.

— Bella, é só uma carona. Um colega de trabalho não pode te oferecer uma ajuda? — Edward dá de ombros ao parar diante de mim, enfiando as mãos nos bolsos frontais da calça.

Sinto vontade de socar a cara dele, só por saber que ele sabe o quanto me afeta. No entanto, expiro com força e sacudo a cabeça, recusando-me a deixar transparecer — ainda mais — o jeito com que sua proximidade me deixa nervosa, como se eu ainda fosse aquela jovem que estava começando a se apaixonar por ele.

— Argh... ok. Hum... — Coço a cabeça, rendendo-me. Uma carona não seria nada mal, mesmo. — Obrigada, eu acho.

Faço questão que ele veja o momento em que reviro os olhos quando percebo seu sorriso aumentar, antes de seguirmos até seu carro. O modelo de seu tão característico Volvo prateado é mais moderno do que o que ele dirigia nos tempos da faculdade, mas é como se ainda fosse o mesmo. Sinto vontade de fazer um comentário sarcástico em relação ao fato de ele ter zombado da minha incapacidade de trocar a minha picape, mas mordo a língua e escolho permanecer quieta.

Ele abre a porta do passageiro para mim e eu me acomodo no assento, sentindo arrepios percorrerem meus braços ao inalar o cheiro ali, que não sei identificar ou descrever bem, mas é tão... Edward. Me sinto um tanto patética por perceber que, mesmo após mais de cinco anos, nem mesmo o cheiro dele fui capaz de esquecer, embora tenha me convencido, após um bom tempo, que havia conseguido seguir em frente.

Informo-lhe o endereço do prédio onde moro e ele põe o carro em movimento. Tento manter minha atenção no caminho à frente, mas um movimento involuntário da minha cabeça me faz observar o instante em que ele retira o boné da cabeça e passa os dedos entre os cabelos revoltos para domá-los. Minhas palmas coçam com a vontade de tocar novamente as mechas macias que eu tanto amava agarrar quando...

Merda. Ele percebeu que estou encarando. E, provavelmente, babando.

O sorriso e a piscadela que Edward me lança deixa isso claro, assim como o fato de que isso é para lá de divertido para ele.

Ok, agora estou com vontade de socá-lo de novo.

Pisco algumas vezes e pigarreio, virando o rosto para a janela.

— Então, hum... como vai o novo emprego? — pergunto, porque o silêncio já estava ficando constrangedor.

— Está sendo mais legal do que eu pensava. Os garotos são muito dedicados e divertidos. Me lembra muito meus tempos de ensino médio e faculdade. Alguns sonham mesmo em seguir carreira no futebol, e vai ser uma honra, para mim, ajudá-los a conquistar isso.

Mesmo que eu não esteja olhando para ele, posso sentir o sorriso animado em seus lábios conforme ele fala.

— Isso é incrível — digo, voltando a olhar para frente e pegando sua reação apenas com o canto do olho. — Aposto que eles estão em êxtase por terem Edward Cullen como treinador.

Meu comentário arranca uma risadinha dele.

— É, acho que sim.

O olhar rápido que lanço em sua direção me permite ver que sua resposta vem acompanhada de um dar de ombros casual.

— Como você... — começo, ainda mantendo os olhos na estrada diante de mim, sem saber bem como completar a pergunta e sem saber como fugir dela e fingir que não acabei cedendo à minha enorme vontade de entender como e por que, há uma semana, Edward está de volta à Seattle.

— Como vim parar de volta aqui? — ele complementa para mim ao sentir minha hesitação, e sinto que ele me olha antes de voltar a atenção para frente. — Bom, digamos que Mike Newton e eu somos velhos conhecidos.

— Hum, eu não sabia disso.

— Ele foi meu treinador no ensino médio, por um tempo.

— Sério? — Dessa vez, não me impeço de olhá-lo para receber a resposta.

— Uhum. Ele foi um jogador importante no tempo dele, mas acabou se aposentando cedo devido ao rompimento de um ligamento no calcanhar, que não teve jeito mesmo após várias cirurgias. Ele ficou muito feliz quando ficou sabendo que fui convocado pelo Sydney FC¹ para disputar a A-League².

— Uau. Eu não fazia ideia.

— Ele me contatou quando recebeu a proposta para ser técnico do Seattle Sounders³, para me dar a boa notícia. Conversamos um pouco e, quando contei a ele que pretendia voltar, ele foi o único que não achou uma grande loucura. Foi o único que compreendeu perfeitamente os meus motivos. — Seu olhar encontra o meu e, se ele não tivesse que desviar após alguns segundos, sei que, dessa vez, eu não conseguiria. — Então, ele me disse que seu time nessa escola precisaria de um novo treinador, então me preparei e... aqui estou.

— É, aqui está você — repito, ainda dividida entre loucura e realidade.

— Parece que, assim que eu decidi que iria voltar, tudo começou a conspirar a favor. Era, definitivamente, a coisa certa a fazer.

— Hum, parece que sim. Mas ainda é tão... surreal.

— Eu sei.

— Você simplesmente... largou tudo por lá? — inquiro. Agora que a torneira abriu, não consigo – nem quero – mais fechar.

— Não exatamente — ele explica e eu tento prestar atenção, mesmo que seja um pouco complicado quando seus braços fortes e torneados manuseando o volante me distraem tão facilmente. — Meu último contrato chegou ao fim há quase um ano, e quando chegou o tempo de renovar, eu recusei. Tive que passar meses ouvindo meu pai deixar bem clara sua decepção comigo, mas sobrevivemos. E eu sabia que valeria a pena. Então, sim, foi meio abrupto, mas não tanto assim.

Assinto, encarando a pontinha de uma mecha dos meus cabelos castanhos longos que seguro entre os dedos, antes de voltar a fitá-lo.

— Você sabia que eu dava aulas aqui quando pegou o emprego?

Ele me olha por um segundo antes de responder.

— Sabia.

— Alice?

— Facebook.

— Você nem tem Facebook. Ou tem?

— Não. Minha aversão a redes sociais nunca mudou, também. Mas algumas informações do seu perfil são públicas, então não foi muito difícil encontrar. Fiquei muito feliz por saber que você está trabalhando com o que ama.

— Obrigada. — Dessa vez, não impeço que meu sorriso imite o dele. — Devo ficar feliz por você também estar trabalhando com o que ama?

Nesse momento, Edward para em um sinal vermelho. O ar dentro do carro parece ficar denso quando seu olhar encontra o meu de uma maneira profunda, que faz com que eu feche minhas mãos em punho sobre meu colo e passe a língua nos lábios subitamente secos, gesto esse que não passa despercebido por ele.

— Com certeza — responde, em um tom grave e rouco, adornado pelo sorriso torto que faz meu coração acelerar a ponto de me deixar sem fôlego.

Engulo em seco e desvio o olhar, sentindo que ele continua a me encarar, de maneira que nem percebe que o sinal ficou verde, colocando o carro em movimento somente depois de ouvir os motoristas atrás de nós buzinarem zangados.

Cinco minutos depois, ele estaciona em frente ao meu prédio. Deixo escapar um suspiro, sentindo a confusão de sentimentos quase me sufocar. O desejo de me jogar em cima dele briga com a vontade de bater nele; a ânsia de sentir seu toque bate de frente com a necessidade de dizer-lhe poucas e boas; o desespero por sentir sua boca na minha e pedir que nunca mais me deixe guerreia com a urgência de pedir-lhe que fique longe de mim.

É demais para mim. É demais.

Contudo, assim que coloco a mão na maçaneta da porta para sair e abro a boca para agradecer pela carona, o que acaba saindo por meus lábios é outra coisa.

— Edward... por quê?

Minha pergunta sussurrada surpreende tanto a ele quanto a mim.

— Por que...? — ele entoa, e não me passa despercebido que ele desliga o carro.

— Ah, sei lá! Por que... tudo. Por que nunca me ligou? Por que foi embora sem olhar para trás? Por que voltou agora? — despejo uma pergunta atrás da outra, observando como a cada uma que emito, seus ombros caem aos poucos em derrota.

— Bella, eu...

Jogo as mãos para cima, interrompendo-o, exasperada.

— Eu sei que você não podia perder ou recusar a oportunidade de jogar em uma liga importante de futebol, mas... mas você não quis nem tentar. Você virou as costas e se foi, esperando que eu simplesmente entendesse que aquele era o fim. Você... você me magoou demais, Edward.

A sinceridade pinga das minhas palavras, e não faço questão de refrear a maneira com que elas saem. Por mais que eu tenha chegado a um ponto onde decidi não sofrer mais e comecei a superar, sinto como se, mesmo assim, tivesse esperado todos esses anos por esse momento.

— Eu sinto muito, Bella. — Edward baixa a cabeça, e eu sinto vontade de segurar seu rosto para obrigá-lo a me encarar. No entanto, isso não chega a ser necessário, já que ele não demora a voltar seu olhar para o meu. Mesmo a fraca iluminação do início de noite me permite perceber que seus olhos brilham marejados. — Eu sinto tanto... eu...

Observo-o mover a boca várias vezes; abri-la, fechá-la, sem emitir nenhum som coerente. Ele expira com força repetidamente, olhando para os lados, coçando a nuca, enquanto minha paciência vai se esvaindo.

Estalo a língua e suspiro, tornando a colocar a mão na maçaneta da porta.

— Obrigada pela carona — sussurro, mas no instante em que faço menção de abrir o carro, o toque de sua palma fria e trêmula sobre o dorso da minha mão esquerda me faz paralisar. Minha respiração fica presa na garganta conforme arrepios se formam naquele ponto específico e se espalham por todo o meu corpo.

— Tudo aconteceu tão rápido — ele diz, e olho para ele a tempo de vê-lo engolir em seco. — Eu mal havia terminado a faculdade, e receber aquela proposta, naquele tempo, foi algo incrível e aterrorizante ao mesmo tempo. Ir para o outro lado do mundo viver o meu suposto sonho de seguir a carreira esportiva que pratiquei a vida inteira... eu estava animado, mas também confuso pra caralho. Eu não queria ir, não queria te deixar. Mas, quando me dei conta, meus pais já haviam rearranjado a vida deles por mim, para irem comigo, sem fazer a menor ideia de que eu estava com o pé atrás, sem me darem a chance de conversar e chegarmos a um acordo onde eu não tivesse que escolher entre a minha carreira e você.

— Mas você escolheu.

— Não. Eu não escolhi, Bella.

— Você não pode atribuir essa culpa a mais ninguém, Edward!

— Eu sei! — ele rebate, no mesmo tom exaltado que eu, embora sua voz dê uma vacilada de dor. Edward expira com força e leva as mãos ao rosto, esfregando-o com força antes de tornar a falar. — Eu sei que a culpa foi minha... porque eu fui um covarde. Covarde por não me impor, por ter medo de pensar direito, por não ter te ligado... você não faz ideia do quanto tudo isso me matava a cada dia longe de você.

Nossos olhares se sustentam por alguns instantes. Continuo tentando entender por que foi tão fácil, para ele, ir embora; tão simples virar as costas e não dar notícias. Continuo tentando acreditar em suas palavras, nas quais consigo sentir a sua sinceridade, mas que ainda não me permitem compreender por que tivemos que perder todos esses anos.

Desvio meu olhar do dele e encaro meus dedos sobre meu colo.

— Nós poderíamos ter dado um jeito, sabe? — digo, mordendo o lábio. — Poderíamos ter ao menos tentado fazer dar certo, à distância, se você tivesse...

— Eu sei. — Dessa vez, sua voz sai em um sussurro derrotado. Continuo sem olhá-lo, mas sei que sua atenção continua em mim. — Eu... quando cheguei lá e senti o gosto de como a minha vida seria a partir de então, achei que não seria justo te prender; te prometer coisas que eu não tinha certeza se poderia cumprir. Eu sempre quis que você fosse feliz. E, naquele momento, acreditei que estava fazendo isso por você ao te libertar de um cara covarde e idiota que não te merecia.

Ergo a cabeça, por fim, para encontrar seu rosto novamente, que parece estar um pouco mais próximo do meu. Por mais que minha reação imediata queira gritar para ele o quanto foi absurdo de sua parte achar que eu poderia ser feliz longe dele, refreio-me e me permito absorver aquilo melhor, apesar de ainda me sentir tonta com a confusão de sentimentos que permeiam minha mente e meu coração.

Edward fecha os olhos por um momento ao tornar a falar. Sua voz é baixa e contida, apesar da intensidade que emana dele.

— Porra, eu fui tão idiota, tão estúpido... tão escroto. Precisei sofrer tudo o que sofri durante todos esses anos até entender o tamanho da burrice que cometi no dia em que fui embora. — Ele baixa a cabeça por um segundo, como se precisasse de um tempo, como se o que ele estivesse prestes a falar fosse difícil demais. — E, não, eu não espero que você simplesmente me perdoe só por voltar e te contar tudo isso – Deus sabe que nem eu mesmo ainda fui capaz de me perdoar –, mas, Bella... eu precisava tentar. Eu nunca deixei de te...

Não reprimo minha reação imediata, dessa vez. Ergo a mão e o interrompo, antes que possa completar aquela frase.

— Não. Por favor, não diga isso — peço, sacudindo a cabeça. — Não agora. Não assim.

Edward assente, compreensivo, apesar do pequeno sorriso triste que abre.

— Tudo bem. Me desculpe. Ir devagar. Eu sei.

Ele se endireita no assento, e então percebo o quanto nossa calorosa discussão o fez se inclinar em minha direção. Passo a língua por meus lábios e pigarreio.

— Eu... eu sinto muito por você ter passado por tudo isso. — Edward torna a me olhar ao ouvir minha voz. — Apesar de eu ter passado uns bons dois anos desejando que você aparecesse na minha frente só para que eu pudesse te dar uma boa surra, depois de ter passado um ano inteiro desejando, mais do que qualquer coisa, que você voltasse e deixássemos aquele pesadelo de ficarmos separados para trás, sinto muito por saber que você sofreu. Eu nunca te desejei o mal... pelo menos, não de coração.

Isso lhe arranca um risinho baixo e breve, mas logo sua expressão muda um pouco. Ele parece confuso.

— Não era óbvio que eu iria sofrer longe de você? — pergunta, e eu dou de ombros.

— Ah, eu não sei. De uma hora para outra, você já não estava mais aqui, e nunca mais trocou uma palavra comigo, mesmo à distância. Achei que tivesse superado rápido, enquanto eu fiquei aqui tentando não cair no abismo vazio que você deixou para trás comigo. — Assim que as palavras deixam minha boca, torço o nariz e balanço a cabeça. — Nossa, que melodramática!

A diversão volta à expressão de Edward, e mesmo que os traços de tristeza, culpa e arrependimento ainda estejam ali, sinto alívio por ver seu rosto mais suave. Acho que isso já foi pesado o bastante para nós dois, além de esclarecer muitas coisas. Eu só preciso de mais tempo e espaço para pensar, eu acho.

— Eu sinto muito, Bella.

— Você já disse isso.

— Eu espero mesmo conseguir, um dia, com que você me perdoe.

Balanço a cabeça, olhando para ele com sinceridade.

— Mas eu já perdoei, Edward. Eu já havia te perdoado, superado, seguido em frente... bom, pelo menos, foi o que pensei. Tive muito tempo para isso, sabe? E, agora, você está novamente diante de mim e tudo veio à tona de uma vez. Eu nem sei bem o que... sentir. Eu estou muito confusa.

— Eu entendo. Me desculpe por isso, também.

Assinto e desvio o olhar, encarando o para-brisas durante os segundos em que permanecemos calados. No momento em que decido que está, enfim, na hora de sair do carro e tentar absorver e processar tudo o que acabamos de conversar, a voz de Edward me surpreende.

— Mas, eu queria que você soubesse... — Viro o rosto em um gesto automático, e minha respiração fica presa na garganta novamente ao sentir seu rosto tão perto do meu. —... que você foi o único motivo que me fez voltar para Seattle. Compreendo e respeito completamente como você se sente, mas, Bella, saiba que eu estou aqui, esperando por você, não irei a lugar algum e farei tudo o que estiver ao meu alcance, e até fora dele, para te provar isso. A não ser que...

Ele ergue as sobrancelhas e começa a se afastar devagar. Franzo a testa, confusa.

— A não ser que?

Ele aperta os lábios antes de responder.

— A não ser que você esteja saindo com alguém. Ou namorando. Ou casada. — Edward sacode a cabeça e bate a mão na testa. — Nossa, eu nem pensei nisso.

Deixo uma risadinha me escapar e reviro os olhos.

— Não que isso signifique que você ganha alguma vantagem, mas não... não estou saindo com ninguém. Nem namorando. Nem casada.

Ele até tenta disfarçar, mas o suspiro de alívio que emite fica mais do que óbvio. Seu sorriso cresce ao ver que também estou sorrindo e, quando vejo seu olhar desviar para os lados algumas vezes, sei que está prestes a perguntar mais alguma coisa.

— Você... hum... namorou alguém nesse tempo? — A pergunta sai normal, casual, mas consigo sentir seu desconforto.

— Nada muito sério ou relevante. E nem seria da sua conta, se tivesse sido. — Ele ri do jeito que falo, mas reviro os olhos mais uma vez, para deixar claro que estou falando sério. — Assim como também não é da minha conta sabe-se lá quantas australianas bonitas você pegou lá do outro lado do mundo.

Ok, eu também não sou muito boa ao tentar esconder meu incômodo ao apontar isso de maneira despojada.

— Acho que dá para contar nos dedos de uma mão as que me dispensaram logo depois de eu chamá-las de Bella — ele diz, e eu faço um gesto vago com a mão em sua direção.

— Vou fazer de conta que acredito — retruco, aproveitando o alívio que é sentir o clima mais leve entre nós. — Bem, hã... obrigada pela carona, Edward.

— Disponha sempre. — Dessa vez, ele não me impede de abrir a porta e sair do carro, mas assim que a fecho, ele torna a me chamar? — A propósito, que horas você quer que eu te busque amanhã? — questiona, debruçado sobre o banco no qual estive sentada.

— Amanhã? Para quê? — inquiro de volta, sem entender.

— Para ir para o trabalho, ué. O seu carro vai para o conserto, então acredito que seria uma boa ter uma carona para ir até à escola, não é?

— Não se preocupe. Alice pode fazer isso por mim — respondo por puro instinto.

— Ah, ok. Tudo bem, então. — Ele assente e sorri.

E, antes que eu possa pensar melhor, me vejo dizendo:

— Bom, mas eu posso precisar de carona para voltar para casa de novo.

O sorriso que se espalha pelo rosto de Edward, dessa vez, não precisa de esforço nenhum. É tão amplo, brilhante, satisfeito.

Esperançoso.

Me dá vontade de sorrir também.

— Amanhã, no estacionamento, no mesmo horário de hoje?

— É, acho que sim.

— Encontro marcado, então.

— Edward, não é um encontro. — Não sei por que sinto a necessidade de dizer isso, mas também nem sei mais o que ou quem está controlando – ou não – o que penso e o que falo.

— Como quiser. Se acreditar nisso vai te ajudar a dormir melhor... — Ele me lança uma piscadela, e eu aperto os lábios para não lhe dar gostinho. — Até amanhã, Bella.

Ele liga o carro e, antes de colocá-lo em movimento, eu aceno com a mão.

— Até amanhã.

.

—_______________________

¹Sydney Football Club, clube de futebol australiano sediado na cidade de Sydney.

²Liga principal de futebol da Austrália.

³Seattle Sounders Football Club, clube americano de futebol sediado em Seattle.


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Notas finais do capítulo

Eu queria colocar a culpa da minha demora no fato de Edward e Bella falarem pra caramba, hahaha, mas nah, eu sou uma enrolada mesmo. Mas promessa é dívida e nunca que vou deixar minha amiga oculta com o presente incompleto, né xD

Espero que estejam gostando! Me contem nos comentários o que estão achando desse reencontro, essas DRs, esse casal! Ah, se tornou uma short-fic mesmo, viu, gente, hehe. Vai ter cinco capítulos :)

Voltarei looogo com os próximos! Beijos e até! ♥



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