Para Bella, Com Amor escrita por Alissa Nayer


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Lola, mulher, espero mesmo que tu goste do que eu fiz com as tuas inspirações. Usei o combo 1 para criar essa história de reencontro e segunda chance logo abaixo ;) (e também usei um elemento da outra imagem, mas foi de leve, tu vai ver, hahaha)
Adorei criar essa história com a tua criatividade com a frase da saga e a característica beeeem peculiar de personagem, hahahah (vou confessar que quase morri quando fui pesquisar, viu! Quem não estiver entendendo, vai entender em breve, e eu sei que a Lola sabe do que eu tô falando xD). Vou postar a história em três partes, e tô confiante de que conseguirei postar tudo até o Natal. Que você faça uma boa leitura e curta o presentinho! ♥



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PARA BELLA, COM AMOR

 

~ Edward ~

Ok. Hummm...

Argh.

Isso é tão estúpido.

Meu amigo Eric disse que escrever poderia me ajudar a clarear as minhas ideias, organizar a minha mente e me fazer entender por que a principal coisa que tenho sentido todos os dias dos últimos quatro anos é tristeza; por que, mesmo tendo uma carreira cada vez mais promissora e uma vida boa garantida, não consigo preencher o vazio em mim que me faz sentir um grande idiota por ter pensado que estava fazendo a coisa certa.

O que ele não sabe é que eu sei exatamente o motivo disso. Eu só não quis falar para ele em voz alta e deixar tudo ainda mais real. Mais doloroso.

Apenas para constar, continuo me achando ridículo por estar conversando com um pedaço de papel, mas já comecei, então foda-se. Só posso sentir muito pela árvore que teve que ser destruída para que você existisse, pedaço de papel, e viesse parar em minhas mãos para ficar encarregado da tarefa nada fácil de servir como meu muro de lamentações.

Enfim.

Eu sei que tenho sido infeliz simples e puramente por consequência das minhas escolhas. Não tenho a quem culpar, não tenho como atribuir essa responsabilidade a mais nada, nem ninguém. Eu sei que cheguei a esse ponto porque deixei que sonhos vazios que não me pertenciam tomassem o controle da minha vida, e fizessem com que eu me afastasse da única pessoa que eu sei que é capaz de fazer o meu coração aquecer e acelerar novamente.

Eu era jovem, imaturo. Um pau mandado. Burro pra caralho.

E precisei sentir na pele, na alma e no coração durante todos esses anos o que perdi quando fiz uma escolha errônea.

Ela não faz ideia de que estou voltando.

Bom, quase ninguém sabe disso. Nem mesmo Eric, que eu sei que vai querer socar a minha cara quando souber dos meus planos.

Mas eu nunca tive tanta certeza sobre algo na minha vida.

Estou voltando. E estou disposto a lutar por ela.

Por nós.

Eu só espero que não seja tarde demais.

.

.

— BELLA -

Alice: Bella! Eu preciso falar com você. Atende esse celular, PORRA!

Alice: Bella, pelo amor de Deus. Isso é MUITO sério.

Alice: Caramba, pra que você tem um celular, mesmo????

Alice: Argh! Tá. Depois não diga que eu não tentei te avisar.

 

As mensagens de Alice me alarmam, em um primeiro instante, mas logo me lembro que ela também fez um escândalo parecido no mês passado, só para me dizer que havia queimado sua chapinha e não conseguia encontrar a minha para pegar emprestada.

Além das mensagens, há pelo menos umas dez ligações perdidas dela, mas estou com o tempo tão curto entre aulas que não me dou ao trabalho de retornar imediatamente. Digito uma mensagem simples, rapidamente.

Eu: Foi mal, amiga, mas estou atolada aqui. Te ligo mais tarde.

Assim que aperto em “enviar”, o sinal da próxima aula ecoa pelos corredores da escola, e apresso-me em corrigir o restante dos testes que preciso devolver para a classe hoje. Nem me dou ao trabalho de arrumar a bagunça louca de papéis e canetas que está sobre a mesa à qual me sentei há apenas dez minutos, e concentro-me nas respostas diante de mim enquanto o barulho de alunos conversando e andando para lá e para cá preenche o ambiente.

— Bom dia, Srta. Swan.

Ergo uma mão e aceno, sem tirar os olhos dos testes, para cumprimentar as primeiras meninas que chegam à sala. Respiro fundo ao passar para o penúltimo teste e, por mais que eu devesse me irritar por ver que os alunos estão um tanto atrasados, sinto certo alívio, porque assim poderei terminar a tempo de impedi-los de colocarem a sala de aula a baixo, caso fiquem o mínimo de tempo sem supervisão.

— Então... vocês já viram o novo treinador do time de futebol? — Uma das minhas alunas, Jessica, comenta tão alto que é impossível não ouvir, mesmo que eu esteja focada.  Algumas de suas amigas respondem que sim, outras ficam confusas, e então ela continua. — Ele é, tipo... muito gostoso!

— Eu nem sabia que o treinador Newton havia sido demitido! — outra garota comenta. Reviro os olhos para o senso de atenção que meninas de ensino médio têm hoje em dia.

— Mas ele não foi — Jessica explica. — Parece que recebeu uma super proposta para treinar um time importante da liga de futebol de sei lá o quê.

Passo para o último teste, apertando os lábios para não rir.

— E qual é a desse novo treinador?

Jessica dá uma risadinha antes de responder.

— Nem sei ainda qual o nome dele ou de onde saiu, mas só de vê-lo me deu vontade de dar uma de Amanda Bynes em “Ela é o Cara” e me disfarçar de menino para entrar no time de futebol e ser treinada por ele, se é que você me entende.

Elas explodem em risadas maliciosas e passam a cochichar quando percebem que os outros alunos começam a encher a sala rapidamente. Balanço a cabeça, sentindo-me velha e careta por achar um tanto absurdo garotas de dezesseis, dezessete anos estarem de olho em caras mais velhos assim, principalmente que fazem parte do corpo docente de onde elas estudam. Não é como se eu não tivesse me sentido atraída por um professor ou outro nos meus tempos de ensino médio e de faculdade, também, embora eu nunca tenha chegado ao nível delas ou agido de acordo com as paixonites bobas que senti.

Ah, mas que foram bons tempos, foram sim.

Sacudo a cabeça após dar nota ao último teste de biologia e os empilho antes de me levantar e pedir silêncio à turma barulhenta do terceiro ano, que mais parecem estar no jardim de infância ao jogarem bolinhas de papel uns nos outros.

Apesar de ser professora consistir em um trabalho exaustivo que, na grande maioria das vezes, não vale a pena diante do que temos que aguentar, eu amo dar aulas. Biologia sempre foi a minha matéria favorita desde que tive a primeira aula na vida, e ensiná-la com toda a minha paixão me faz sentir realizada. Os testes que acabei de corrigir tiveram notas muito boas, e isso me dá um orgulho imenso e mantém acesa a minha vontade de continuar.

A aula transcorre com tranquilidade — entregar notas boas para eles logo no início os incentivou a prestarem atenção, interagirem com o assunto e não me tirarem do sério — e, quando dou por mim, ouço o sinal do fim da aula, anunciando também o fim do meu expediente.

Despeço-me dos alunos, recolhendo e guardando todas as minhas coisas, já pensando no trabalho de planejamento de aulas e elaboração de atividades que ainda terei que fazer em casa. Respiro fundo e recosto-me contra a mesa por alguns segundos, aguardando, como de costume, os corredores ficarem menos abarrotados antes de sair da sala. Pego meu celular e quando vejo que Alice não me ligou, nem mandou mais mensagens nas últimas duas horas, convenço-me de que seja lá o que ela tenha de urgente para me falar, talvez não seja realmente tão urgente assim.

Quando o movimento fora da sala fica menos frenético, pego minhas coisas com calma e saio, fuçando minha bolsa para pegar as chaves do meu carro. No entanto, mesmo que eu sempre espere que o alvoroço se acalme para evitar que o meu jeito desastrado e pouco gracioso me faça pagar micos para transbordar a minha já existente coleção deles, o que me acontece a seguir me convence de que eu não tenho jeito, mesmo.

Reviro os olhos e solto uma grande quantidade de ar pela boca ao olhar para baixo e ver que não fechei direito uma das minhas inúmeras pastas, e alguns papéis acabaram se espalhando no chão. O corredor está tranquilo, com um grupinho ou outro de pessoas que passam tão compenetradas em seus bate-papos que mal me percebem, então coço a nuca, irritada, e abaixo-me para pegar aquelas porcarias.

Levo um susto quando, ao colocar a mão sobre o último papel, surge de repente uma outra mão fazendo o mesmo. Uma sensação quase sufocante de déjà-vu me deixa ligeiramente tonta, e por um segundo, pergunto-me se o dia inteiro que acabo de viver não passou de um sonho e meu despertador irá tocar a qualquer momento para que eu tenha que voltar à vida real.

Porque, quando ergo o rosto para ver a quem pertence a mão que tentou me auxiliar, só consigo pensar que estou dentro dos meus sonhos mais loucos e das lembranças da melhor — e pior — época da minha vida.

Sinto as pernas bambearem quando tento manter o equilíbrio ao ficar de pé. Sei que meu queixo caído e olhos arregalados entregam meu estado de choque, mas é como se eu tivesse perdido completamente a capacidade de controlar as minhas próprias expressões.

Aqui, diante de mim, segurando o mesmo papel que eu e encarando-me como se também estivesse debatendo internamente sobre a veracidade do momento, está Edward Cullen.

O cara que amei desde o primeiro momento em que nos vimos, quando eu era caloura na faculdade onde ele já era veterano.

Momento esse que aconteceu há mais ou menos seis anos, e que é praticamente igual este aqui e agora. Exceto pelo fato de que, naquele tempo, eu derrubei minhas coisas no chão por ter tropeçado em sua figura de pouco mais de um metro e oitenta, que desfilava pelo corredor rindo e conversando junto com seus amigos do time de futebol. E exceto também pelo fato de que eu não fiquei paralisada ou chocada, como agora. A Bella de seis anos atrás abriu a boca para xingá-lo e perguntar se ele não sabia olhar por onde andava, para então receber um sorriso torto e um pedido de desculpas tranquilo, acompanhado de uma piscadela.

Eu não sabia naquele exato instante, mas a minha vida estava prestes a mudar drasticamente.

E, por mais estranho que seja, o sentimento é o mesmo agora.

— Bella — ele diz em um fio de voz, que penetra meus ouvidos e me envolve com a mesma intensidade que nunca esqueci.

O meio-sorriso continua estampado em seu rosto como sua marca registrada, assim como o olhar suave e intenso ao mesmo tempo. Cinco anos parecem ter feito um ótimo trabalho ao amadurecê-lo. Os cabelos castanho-claros estão mais curtos do que da última vez em que o vi, mas ainda possuem o mesmo aspecto desgrenhado e macio ao toque. O corpo está indiscutivelmente mais forte e torneado, o que faz sua presença ainda mais marcante.

E a capacidade que tudo isso junto tem de fazer meu coração saltar no peito como se fosse atravessar minha caixa torácica e explodir ao se jogar no chão continua intacta.

— E-Edward? — Meu murmúrio sai em forma de pergunta, porque eu realmente não sei o que ele faz aqui, assim, tão de repente, depois de ter ido embora há tanto tempo sem olhar para trás.

— Quanto tempo, né? — ele manda de volta, soltando a folha de papel que, até agora, estávamos segurando juntos. Ele enfia as mãos nos bolsos da calça e fica esperando minha reação.

Pisco algumas vezes, ainda atônita, com a mente a mil, mas abrindo e fechando a boca como se não conhecesse mais nenhuma palavra no mundo. Respiro fundo e, sem pensar muito, consigo proferir uma resposta.

— Jura? Eu nem percebi.

Uma resposta bem péssima, por sinal, mas o conflito de sentimentos que estão me rebuliçando inteira nesse momento não me permitem ser mais criativa.

Ou menos amarga.

A risada sem graça de Edward mal dura dois segundos antes de ele ficar sério ao me olhar.

— Você deve estar se perguntando o que eu estou fazendo aqui — ele diz, e uma risada breve de escárnio me escapa sem que eu possa conter.

— Eu estou com tantas dúvidas e confusões na mente agora que não saberia por onde começar — confesso. Vejo o movimento lento em sua garganta quando ele engole em seco. — Por que agora? Por que agora?

Ele solta um suspiro e aponta para a camisa que veste.

Eu nem tinha percebido que, sob seu peito esquerdo, bordado no tecido pólo verde-musgo, estava o brasão que representa o time de futebol da escola.

Não.

Ele não está me dizendo que...

— É uma história meio longa, mas agora eu sou o novo treinador do time de futebol daqui — explica, e não sei como é possível, mas sei que minha expressão fica ainda mais chocada.

Lembro-me das meninas na sala de aula comentando sobre o novo treinador. Porra, e era dele que elas estavam falando! Aparentemente, se tem algo que nunca vai mudar é o sucesso que Edward faz com o sexo feminino, seja como capitão de seu time do colégio e da faculdade, seja agora adulto e treinador.

Lembro-me também das mensagens de Alice, em que ela disse que eu não deveria acusá-la de não ter tentado me avisar.

De alguma forma, ela soube antes que eu que seu primo estava de volta a Seattle. E sabia o que isso faria comigo, por isso quis me avisar. Me preparar.

Mesmo que eu soubesse que nada nesse mundo me prepararia para a realização do momento que idealizei por tanto tempo.

Durante o primeiro ano após sua partida, imaginei dia e noite que ele voltaria de repente. Me surpreenderia, nos entenderíamos e poderíamos seguir juntos, como estávamos há quase um ano.

Mas, então, mais tempo foi passando. Rápido demais.

E nem sinal dele.

Ser convocado para fazer parte da seleção oficial de futebol mais importante da Austrália exigiu que ele se fosse e, aparentemente, se esquecesse de mim, coisa que ele prometeu que não faria.

Por isso eu queria entender por que ele está agora, diante de mim, me olhando como se tivesse sonhado com esse momento durante todos os dias dos últimos cinco anos.

— Mas... e o seu time na Austrália? — pergunto, ainda sem acreditar no que vejo e ouço.

Ele dá de ombros.

— Como eu disse, é uma longa história. Mas eu posso te contar tudo o que quiser saber. Na verdade, eu quero mais que qualquer coisa esclarecer as coisas com você... — Ele faz uma pausa, interrompendo-se como se tentasse se refrear de uma vontade que toma conta de todo seu ser. — Quer ir tomar um café comigo?

Ergo as sobrancelhas diante de seu convite, sentindo meu coração furiosamente acelerado gritar “SIM!”. No entanto, ao longo dos anos, fiquei muito boa em deixar que minha mente e minha razão tomem as rédeas das minhas decisões. Meu coração já me enfiou em roubadas o suficiente por uma vida inteira.

— Não — respondo, fazendo todo o brilho de esperança em seus olhos verdes – e incríveis – desaparecer aos poucos. Sacudo a cabeça, aturdida. — Quer dizer... eu ainda nem estou acreditando. Cinco anos, Edward. Você não pode esperar que, cinco anos depois do dia em que você foi embora e nunca mais deu notícias, eu simplesmente aceite sair com você como se nada tivesse acontecido. Então... não.

Edward assente e baixa a cabeça por um instante.

— Você tem razão. Me desculpe. — Ele torna a perfurar-me com o olhar. — Não pude resistir. Esperei e sonhei muito com esse momento.

— Sério?

— Sério. — Ele expira com força e dá um pequeno passo em minha direção, criando uma proximidade que quase me faz perder o fôlego. — Tem tanta coisa que eu queria te contar. Te explicar... mas você está certa. Eu preciso ir com calma.

O jeito com que ele afirma aquilo é como se estivesse tentando convencer mais a si mesmo do que a mim. E o pior é que aquilo me faz sorrir.

Ele podia estar cinco anos mais velho, mas eu podia ver em seus trejeitos, sua maneira de falar, de se mover, de me olhar, de sorrir, que ele ainda era o Edward por quem me apaixonei.

Para quem entreguei meu corpo e alma pela primeira vez.

Para quem eu disse “eu te amo” incontáveis vezes, e que me abria um sorriso radiante ao me dizer isso de volta.

O meu Edward.

— É, você precisa — confirmo o que ele disse, ainda tentando esconder o sorriso idiota que quer surgir quando estou tentando não ceder assim, de cara.

— O que foi? — ele pergunta, franzindo as sobrancelhas.

Balanço a cabeça e penso em simplesmente sair andando, mas minhas ações se recusam a obedecer a minha mente.

— Lembra que foi exatamente assim que a gente se conheceu? — inquiro, sem conseguir o suspiro que me escapa. Merda.

Edward balança a cabeça e dá um pequeno passo para o lado, apoiando o antebraço na parede. A intensidade que emana dele me dá arrepios.

— Se eu me lembro? Eu nunca deixei de pensar nisso, Bella. Nem por um dia sequer.

Ouvir isso em seu tom de voz rouco e profundo quase faz minhas pernas cederem. Um impasse começa a se formar dentro de mim. Um lado meu consegue reconhecer perfeitamente o Edward que me fez a pessoa mais feliz do mundo durante os dez meses em que estivemos juntos; consegue sentir a honestidade pingar de cada letra proferida.

Porém, existe esse outro lado que está assustado. Defensivo. Que não me deixa esquecer que o mesmo Edward que me fez feliz foi capaz de quebrar meu coração.

Engulo em seco e respiro fundo, sentindo que preciso me afastar dali; me afastar dele, para conseguir pensar direito.

— Bom, err... já está na minha hora. Preciso ir embora — digo, ajustando minha bolsa no ombro e as pastas nos braços, certificando-me de que não corro o risco de derrubar a porra toda antes de conseguir chegar à minha picape no estacionamento. Edward aperta os lábios e assente, afastando-se da parede para me dar espaço para passar. Assim que o faço, paro de repente, quando estou lado a lado com ele, e encontro seu olhar curioso diante de minha ação. — Hummm, apesar de tudo... foi bom ver você de novo, Edward.

A faísca em seus olhos torna a brilhar.

— Acha que foi bom a ponto de querer me ver de novo?

Dou de ombros.

— Acho que vai ser meio inevitável a partir de agora, não é?

— Você sabe o que eu quis dizer.

— Cinco anos, Edward.

— Ok. — Ele coça a sobrancelha. — O negócio é ir com calma, certo?

Lanço-lhe um sorriso pequeno e continuo meu caminho, afastando-me a passos quase trôpegos, que me fazem temer pelo meu equilíbrio.

Felizmente, consigo chegar sã e salva ao meu carro, onde entro e me refugio, tentando processar o que acaba de acontecer, e ainda me perguntando se tudo não passa de um delírio.

Do outro lado do estacionamento, um Volvo prata e reluzente chama a minha atenção, como um sinal para me confirmar que, sim, é tudo real.

E que algumas coisas nunca mudam.

.

.

~ Edward ~

Nunca vou me esquecer da expressão no rosto dela ao me dizer um último adeus.

Nunca vou me esquecer de como a minha vida parecia ficar em preto e branco aos poucos, conforme eu andava até o portão de embarque no aeroporto de Seattle.

Nunca vou me esquecer de como precisei de todas as minhas forças para não dar meia-volta e mandar tudo aquilo à merda, assim como também para resistir à minha vontade de olhar para trás.

Esses momentos me definiram durante cada dia de todos esses anos longe dela.

Estar na seleção de futebol mais importante da Austrália era o máximo para mim, naquele tempo. Eu acreditava mesmo que estava realizando o meu grande sonho.

Até viver tudo de perto, realmente, e ver que aquele sonho era do meu pai, que queria que eu seguisse seus passos na carreira esportiva.

Eu amava jogar, amava estar em campo, amava a adrenalina que o futebol me proporcionava.

Mas eu sempre soube que não amava o suficiente para me ver ali a longo prazo.

Eu sempre soube que não amava como a minha família esperava que eu amasse.

Se arrependimento matasse, eu estaria enterrado há tempos.

Porque, por mais que eu amasse o futebol, eu sempre soube que não amava isso mais do que amava a Bella.

Ainda amo. Sempre amei.

E, agora, depois de anos sem dar notícias, porque acreditei que o mínimo que eu poderia fazer por ela era não iludi-la com promessas que eu não sabia se poderia cumprir e permiti-la encontrar seu rumo sem mim, planejo minha volta a Seattle com um nó na garganta de medo, nervosismo, ansiedade.

Mas eu preciso fazer isso. Eu preciso tentar.

Não posso simplesmente desistir do amor da minha vida.

E não irei.

.

.

— BELLA -

— Eu tentei te avisar!

Alice revira os olhos e dá uma mordida na fatia de pizza com queijo extra que pedimos para o jantar.

Contei para ela sobre meu fatídico reencontro com Edward, com todos os detalhes, porque é assim que sempre funciona com a gente.

Alice Brandon foi minha colega de quarto na faculdade e nos tornamos inseparáveis desde então. Foi natural nos formarmos e, logo em seguida, procurarmos um apartamento para compartilharmos. É o máximo nos darmos sempre tão bem e sou muito grata por ter uma amiga que é como a irmã que não tive.

Ela acompanhou de perto minha história com Edward — que é seu primo —, e apesar de ter ficado bem decepcionada com suas atitudes, nunca escondeu o quanto torcia por nós dois.

— E eu te falei que estava atolada e não podia falar com você — rebato sua bronca, terminando minha fatia de pizza e me esticando para pegar outra.

— Como sempre, né. — Ela balança a cabeça. — Deus nos livre de um dia esse apartamento pegar fogo comigo dentro, eu te ligar pedindo socorro e você estar “atolada” demais para me livrar de morrer queimada.

— Credo, Alice! Vira essa boca pra lá!

Minha amiga apenas dá de ombros.

— Mas, então! Me conta mais sobre o reencontro de vocês. Como você está se sentindo?

Suspiro, deixando meus ombros caírem, derrotados.

— Nem sei dizer, Allie. Acho que a ficha ainda não caiu pra mim, sabe? Eu o vi, o ouvi, o senti e, mesmo assim... ainda é como se eu estivesse sonhando. — Minha atenção se fixa em um ponto aleatório conforme as realizações me atingem aos poucos. Torno a olhar para Alice. — Você tem noção de quantas vezes eu desejei esse momento com todas as forças do meu ser? E tem noção do quão difícil foi me convencer de uma vez por todas de que isso não iria mais acontecer, para conseguir seguir em frente?

— Acho que posso imaginar.

A mão de Alice afaga o dorso da minha, que descansa sobre minha coxa.

— Ele disse que quer me contar tudo o que eu quiser saber, que quer esclarecer as coisas comigo...

— Ele claramente não te esqueceu, como você tinha tanta certeza.

— Então, por que ele sumiu por todos esses anos? — Jogo as mãos para cima, exasperada. — Por que me deixou aqui acreditando que eu não significava mais nada para ele?

— Bom, ele te chamou para ir tomar café e te explicar tudo isso, mas você recusou, ué — Alice diz, de maneira arrastada e sugestiva, olhando para os lados. Estreito os olhos para ela e bufo.

— De que lado você está, mesmo?

— Vai dizer que eu estou errada?

— E eu estou errada por não ter pulado nos braços dele de cara?

— Não, mas... sei lá, Bella. — Ela se endireita no sofá, assumindo uma expressão séria. — Eu nem o vi ainda, nem falei com ele, mas nós duas sabemos que o Edward é um cara legal, e não estou dizendo isso só porque ele é meu primo e crescemos juntos. Também achei um vacilo ele ter ido embora e te deixado no escuro por tanto tempo, mas se ele tem motivos... talvez você devesse escutá-lo. E decidir se quer ir em frente com ele ou não a partir daí. Ficar aqui cheia de dúvidas e despejando tudo em cima de mim não vai te dar resposta nenhuma, não concorda?

Minha amiga me encara com as sobrancelhas erguidas e os lábios comprimidos. Expiro com força e agarro uma almofada, em busca de conforto.

— É, você tem razão — admito, vendo-a assumir uma expressão de triunfo. — Que droga.

— Nada novo sob o sol, amiga. — Ela pisca para mim e estica o braço para pegar mais um pedaço de pizza.

Ouvimos uma batida na porta antes de ela se abrir no segundo seguinte.

— Opa! Cheguei em boa hora, hein? — Emmett, irmão de Alice, vai entrando sem a menor cerimônia. Mas nós já estamos acostumadas.

— Como sempre, Emmett — comento, rindo de seu olhar cheio de cobiça sobre a pizza que está na mesinha de centro da nossa sala de estar.

Emmett interrompe seu momento e olha para mim com uma expressão ofendida.

— Tá me chamando de gordo, Bella?

— Longe de mim. — Ergo as mãos ao respondê-lo, e troco risadinhas com Alice, que ele ignora ao reivindicar um lugar no sofá e um pedaço suculento de pizza.

O irmão da minha melhor amiga tem um metro e noventa de altura e parece um muro de músculos ambulante. Acho incrível como, apesar da figura assustadora e imponente, ele é uma das pessoas mais carismáticas, doces e protetoras que já conheci na vida.

— Então, como você está? — ele pergunta para mim. — Já fiquei sabendo que uma certa pessoa aí está de volta...

Suspiro mais uma vez.

— Eu estou em algum lugar entre “confusa pra cacete” e “quero bater minha cabeça na parede até conseguir acordar desse sonho maluco”.

— Eu estava dizendo a ela que eles dois deveriam conversar, Emm — Alice aponta.

— E pra quê? O babacão foi embora e deixou a Bella aqui sofrendo. Nós sabemos disso mais do que qualquer outra pessoa, Alice.

O comentário de Emmett me dá vontade de rir.

— Ai, Emmett, dá um tempo! — Alice se exalta. — Eu sei que ele não fez isso pura e simplesmente para magoá-la. Acho que existem pingos a serem colocados nos is nessa história toda.

— Claro, né, depois de tantos anos sem is e sem letra nenhuma do alfabeto pra formar palavras e frases para ao menos se comunicar — ele diz, e é possível sentir sua decepção a cada palavra pronunciada. Alice revira os olhos e ele a imita. — Ok, o cara é meu primo e nós sempre nos demos bem, mas é difícil, pra mim, não tomar as dores da Bella. — Ele se vira para mim. — Tá, talvez, você deva mesmo conversar com ele e tal, mas ó: se ele bancar o escroto com você de novo de alguma forma, me avisa que eu desço a porrada nele.

Não reprimo a risada dessa vez.

— Não é má ideia.

— Dá pra você parar de incentivar o brutamonte do meu irmão, Bella? — Alice resmunga.

— Só falei isso porque eu sei bem que ele é do tipo que coloca uma barata pra correr ao invés de matá-la, Allie.

— Ei! — Emmett se manifesta. — Não duvide da força dos meus punhos e da minha capacidade de usá-los, viu?

Alice e eu caímos na gargalhada, porque é impossível não fazer isso diante da pose de durão de Emmett, quando sabemos que ele não é, nem de longe, uma pessoa violenta.

— Ah, eu acredito em você, ursão — digo, fazendo Alice rir ainda mais, e Emmett revira os olhos.

— Porra, vocês são foda.

Abraço-o pelo pescoço e dou um beijo em sua bochecha.

— A gente sabe disso.


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Notas finais do capítulo

Ah, é sempre bom estar volta às raízes! Poder brincar de possuir Edward e Bella e criar histórias com eles é e sempre vai ser o máximo pra mim *-*
Espero que tenham gostado! As próximas partes serão postadas o mais breve possível para vocês verem como esse reencontro vai se desenrolar e no que vai dar ;)
Até a próxima, pessoal! ♥



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