A minha última semana foi levada no automático. Ignorei a Amber, trabalhei, ignorei a Amber, falei com o Bill, ignorei a Amber e trabalhei. No sábado eu descansei e fui ver a Alice, e descobri que o corpo dela não estava mais respondendo a quimioterapia que lhe era aplicada. Teria então que receber uma quimioterapia mais forte. Ela precisava urgente de um doador de medula óssea. Eu até tentei ver se eu era compatível, o que é muito difícil encontrar um doador compatível fora da família, que por sinal, eu não era um, já que as chances são de uma em cem mil.

              Quando entrei no quarto a atmosfera era diferente. Estava tudo triste e frio. Alice estava com uma aparência mais doentia, pálida e magra. Estava conectada á uma mangueirinha que levava soro até sua veia. Ela dormia calmamente na cama enquanto sua mãe a observava atenta.

- Como ela está? - sussurrei para não acordá-la.

- Piora a cada hora que passa. - sua mãe disse. Eu notei somente agora que ela tinha olheiras em seu rosto cansado. - Ela está vomitando muito, reclama o tempo todo de dor, só com remédios ela consegue dormir... É terrível. - ela começou a chorar. Eu também queria chorar. Eu só a abracei.

- Quando a morte vem chegando, parece que as pessoas ficam em paz. Param de lutar contra ela e se entregam com uma docilidade quase incompreensível.

- Eles irão encontrar um doador, eu tenho certeza. - tentei consolar á ela e a mim mesma.

- Eu sei que irão. - ela tentou sorrir, mas não conseguiu. Fiquei por um bom tempo com elas, tentando distrair minha dor ao ver Alice ali, naquele estado, mas principalmente, eu estava tentando distrair a dor daquela mãe que vê seu filho quase morrendo. Voltei para casa arrasada.

              No domingo de manhã minha mãe me acordou.

- Hey Cassie! Já passa do meio-dia! Você tem sua formatura e uma festa para ir hoje e você ainda está dormindo! - parecia que ela estava gritando, suas palavras invadiram minha cabeça, martelando em cada canto da minha cabeça oca.

- Eu não sei se quero ir... - resmunguei. Ela abriu as cortinas. Me escondi do sol debaixo das cobertas.

- O que?

- Eu não quero ir mais...

- É sua formatura! O que houve? - ela se sentou perto da cama.

- A Alice mãe... Ela não responde mais a quimioterapia... Ela pode morrer.

- É mais fácil suportar a morte sem pensar nela, querida. - ela parou e respirou fundo. - Formatura do colegial acontece somente uma vez, tente aproveitar o mínimo por mim querida, não irei ligar se não for para a festa. Faça isso por mim, por favor. Eu quero sentir o mesmo orgulho que minha mãe sentiu quando me viu pegando o diploma... - ela disse.

- Isso é chantagem emocional... Não vale!

- Não é não filha. - ela disse. Eu a encarei, ela estava certa, não deveria pensar que Alice morreria, ela era forte e com certeza iria sair dessa.

- Ok, estou levantando! - eu disse. Ela me deu um beijo.

- Obrigada.

              Sim, eu fui à formatura e fui à festa também. Também funcionou no automático, minha cabeça não estava lá e sim no hospital com a Alice.

- Hey Cass, quer que eu pegue algo para beber? - Shane perguntou se sentando próximo á mim na festa. A música era incrivelmente irritante.

- Por favor, uma água. - pedi. Mas eu não estava com sede, eu só o queria longe de mim. Não aproveitei nada da festa. Eu me sentia tão mal por ela. Voltei para casa sozinha,sem avisar ninguém. Ao me deitar na cama me lembrei dele. E também a saudade começou a apertar. Eu quase não o via e quase não nos falávamos, mas ele disse que depois da tour isso iria acabar. Espero que sim. Finalmente peguei no sono.

              Acordei com meu celular tocando, era do hospital. Algo havia acontecido com a Alice, eu sentia isso. Me arrumei o mais rápido possível e corri para lá. Entrei naquele prédio frio e triste de sempre, e perguntei porque haviam me ligado.

- A mãe dela queria te avisar. - a recepcionista disse.

- Sobre o que? - perguntei.

- Sobre o falecimento de Alice Willow. - meu corpo gelou por dentro.

- A Alice? - eu não estava acreditando. Eu precisava ver com meus próprios olhos. Eu corri até o quarto dela.

              Quando cheguei no quarto ele parecia mais grande e frio do que o normal. A sua cama estava vazia e ao lado dela, no chão encolhida e calada estava a mãe de Alice. Ela então realmente se fora. Eu não sabia o que falar, o nó na minha garganta não permitia, só fiquei parada perto da porta. De meus olhos saíam lágrimas silenciosas. Acordei com um suspiro que a mãe dela deu, foi aí que ela havia finalmente notado minha presença. Seus olhos estavam inchados devido a noite em claro, vermelhos e molhados por causa das lágrimas. Eu simplesmente me sentei ao seu lado, continuando calada. Coloquei meus braços ao redor de seu corpo, e então ela se aconchegou e começou a chorar novamente, eu fiz o mesmo, percebendo que precisava chorar, e muito.

              A única conversa que conseguimos ter foi a seguinte:

- Aqueles que amamos nunca morrem, apenas partem antes de nós.

- Eu sei, mas quem deveria ir antes era eu? Não é? - fiquei sem palavras.

- Eu não sei... - respondi, - Mas aqueles que amamos nunca morrem, apenas partem antes de nós. - simplesmente me virei e fui embora.             

              Me senti vazia o resto da semana. Creio que ainda não havia caído a ficha para mim. Ela se fora, nunca mais a veria novamente. Eu queria gritar, chorar, espernear, mas nada adiantaria. Um pedaço de mim se foi com ela, eu me sentia assim.

              Algumas horas depois, Bill me ligou e contou que havia cancelado o resto da turnê em sinal de luto. Ele iria vir para Londres para o enterro dela. Eu não o acompanhei. Eu não queria ver Alice sendo coberta por um monte de terra, porque talvez essa minha última visão dela me perturbaria o resto da vida. Eu queria era me lembrar dos bons momentos que tivemos, só isso.