Acordei e olhei para Shane na cama, todo esparramado, como a primeira vez que eu vi ele, como dormia profundamente, saí em silencio. Na cozinha dei de cara com a Amber, o maldito nariz dela continuava perfeito.

- Precisou de cirurgia plástica? - perguntei sarcasticamente. Ela me encarou sem saber ao que me referi, eu apontei o nariz.

- Ah, não foi grave, só deslocou... Doeu pra cacete. Café? - ela ofereceu enquanto estava com a jarra de café, eu neguei com a cabeça.

- Onde está a Amber e o que você fez com ela?

- Do que você está falando?

- Você não vai me ameaçar... Ou algo como você vai se arrepender por ter estragado meu maravilhoso e reto nariz? - perguntei gesticulando. Ela me encarou com os olhos semicerrados.

- Idiota... - e saiu. Eu fiquei pasma.

Como era domingo eu fui ver a Alice. Ela ainda estava feliz pelo show. Fomos de novo naquela enorme roda gigante e depois tomamos sorvete de chocolate.

- Feliz aniversário Cassie... - e ela me entregou um pequeno embrulho.

- Obrigada! - eu sorri e a abracei. Abri o embrulho dele e dentro havia uma corrente prateada e um pingente de uma garotinha.

- Para você sempre lembrar de mim. - ela disse com um sorriso.

- Eu jamais irei esquecer de você querida. - e lhe dei um beijo no topo da cabeça. Ela me ajudou a colocar a corrente. Voltamos para o hospital.

- Hey, quero você na minha formatura, será no próximo domingo. - convidei ela e a mãe dela.

- Claro, porque não? - a mãe dela disse. Eu falei onde seria e me despedi delas.

Eu não queria voltar para casa. Não queria ver a cara daquela falsa da Amber de volta. Fui para o café, e lá encontrei Shane.

- E aí Cass... Hoje tenho um lugar maneiro para irmos.

- Onde é? - perguntei. Ele me encarou.

- Engraçado você não dizer que precisa estudar logo de cara - eu ri.

- As aulas acabaram semana passada. Não importa onde é... Vamos logo. - me levantei e o puxei comigo. Pegamos um taxi e fomos á uma casa que ficava no subúrbio. Pude ouvir a música alta desde que desci do taxi. Ele segurou a minha mão e me guiou para dentro da bagunça.

Havia tudo que você quer imaginar lá. Drogas, álcool, sexo, comida... típico de festas assim. Shane me deu uma garrafa de cerveja.

- Prefiro vinho. - eu disse. Ele pegou uma garrafa na mesa, um copo e me serviu. Eu quase virei tudo num gole só.

- Assim que eu gosto - ele disse sorrindo, - eu acho que a sua amiga deve estar por aí, quer procurar ela?

- Pode ser. - assim que respondi ele meu puxou e me guiou por entre as pessoas. A casa não estava lotada, mas havia bastante pessoas ali. Fomos para o segundo andar, e lá estava ela, se amassando com um cara. De repente Shane soltou minha mão, olhei para sua direção.

- Eu já volto Cass... Se divirta! - ele disse enquanto uma garota com jeans e só de sutiã o puxava para dentro de um quarto.

- Mas que porra? - ele me deixou sozinha... Eu não vou atrapalhar a Judy.

- Hey! - gritei, alguém me agarrou pela cintura.

- Nova por aqui? - o cara que me agarrou perguntou.

- Não, só estou de passagem. - tirei suas mãos de mim e desci para o primeiro andar. Roubei uma garrafa de vodka e fui embora. Ali não era o meu lugar. Mas que merda. Onde fui me meter?

Não achei táxi naquele lugar, então fui obrigada a ir à pé, eu e a garrafa de vodka. Caminhei por uns 10 quarteirões, até finalmente achar um que me levasse para casa. Devia passar das dez da noite quando cheguei em casa. Como sempre, minha mãe e Dean não estavam, pois sim, eu veria a cara de Amber de um jeito ou de outro.

- Foi assim que acabei engravidando - ela disse apontando para a garrafa de vodka.

- O que? Está grávida de uma garrafa de vodka?

- Não, eu estava bêbada e ele também e...

- Eu entendi garota, e eu sei como se faz bebês, eu fui sarcástica, ok? - ela me encarou e decidiu voltar a atenção para a TV.

- Então aposto que não deve saber quem é o pai... - eu disse, por maldade mesmo.

- É claro que eu sei quem é. - ela me encarou com os olhos semicerrados. - Pode parar de querer comprar briga comigo tá! Você acha que foi fácil para mim vir aqui, pedir um lugar para ficar? Acha fácil passar pelo que estou passando? Acha fácil ouvir sua mãe dizer que está muito nova para ser avó e querer tirar meu filho de dentro de mim? Acha fácil ela mandar você escolher entre ela e ele? Acha fácil ela mandar você ir embora e nunca mais voltar, porque ela não quer ver minha cara mais? Acha fácil? - ela disse tudo isso, e no meio começou a chorar. Agora ela chorava desesperadamente. Um nó na minha garganta se formou.

- Claro, e você acha fácil passar por tudo o que você fez para mim? - apontei meu dedo na cara dela.

- Aposto que isso não deve ser nem a metade do que você está passando. A minha vida toda nunca foi fácil! Você pelo menos teve um pai, e eu que nem tive! Você só teve uma briga simples com sua mãe, e eu que sempre brigava com ela por que ela não ficava em casa, porque ela só chegava em casa no outro dia! Eu perdi minha melhor amiga para um cara! Agora que minha vida está um pouco melhor você aparece e fica aí se fazendo! - eu não chorei, mas gritei tudo para fora.

- Agora que as cartas estão na mesa, quem você acha que se fodeu mais? - perguntei ceticamente - Sua vida é maravilhosa e você jogou tudo no lixo. Garota mimada. - parei para respirar. Ela me olhou com a cara borrada de maquiagem e foi correndo para o meu quarto, agora, dela, invadido, mas dela. Respirei fundo e fui para o quarto do Shane, agora meu... Droga! Detesto perder meu quarto!

Pela manhã, Shane me acordou.

- Hey, porque você sumiu?

- Hã? - eu ainda não havia acordado direito.

- Porque foi embora da festa?

- Ah, me senti mal, dor de cabeça. Ainda está doendo... - reclamei fingindo dor.

- Era só me avisar...

- E estragar seu encontro com sua namorada?

- Ela não é minha namorada, é coisa de uma noite e só... - ele deu uma piscadinha enquanto tirava a camisa. - Preciso de um banho para acordar. - e ele foi em direção ao banheiro e me deixou ali, babando. Hoje era segunda feira, ah! como eu amava segundas-feiras! Me vi obrigada a levantar e ir trabalhar, como eu já não estudava mais, eu ficaria o dia inteiro no café.