Joyeux Noël escrita por kuriyamanyah


Capítulo 9
Capítulo VIII




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Planeta W - Quadrante Southeastern

11 dias para a véspera de Natal

 

Não estava acostumado a errar em suas teorias, nem que seus planos dessem totalmente errado. Ficou possesso, nem percebeu o que lhe atingiu quando eles voaram perto do Espinhaço Níveo ou quando Jean e Ully foram empurrados do trenó e salvos por Greta. Tinha escutado alguém chamar seu nome, mas tudo que viu foi a escuridão e o que sentiu foi alguma corda ser lançada e circular seu corpo, esmagando o enchimento contra sua pele, para depois ser picado por alguma coisa. Sentiu ser puxado, algo brilhar perto de seus olhos e depois não sentiu mais nada. 

Acordou em uma sala estranha, não enxergava nada e perguntou se era assim que Jean se sentia na maior parte do tempo. Sentiu algo beliscar seus braços e vozes falando em mais uma língua estranha, levantou um pouco o pescoço e viu que seu corpo estava amarrado em uma mesa metálica. Tentou se soltar em vão, quando desistiu olhou para o teto de novo vendo a luz que o cegava. Começou a xingar em sua língua nativa e a elaborar diferentes maneiras de sair dali, podia usar magia, mas esta era uma ciência que não dominava e praguejou por isso. 

Observou alguém se aproximar de si, olhos grandes olhando os seus e depois sentiu quatro dedos tocando o braço que tinha sua marca de nascença, o símbolo que representava Hunab Ku e significava que ele tinha sido abençoado pelo deus criador no momento de sua criação. Sentiu o dedo do ser estranho ao seu lado, massagear a marca para depois furá-la com uma agulha e fazer Grinch desmaiar novamente. Ele teve sonhos estranhos, a maioria eram lúcidos e sempre tinha o idiota do velho sorridente. 

O corpo de Grinch ficou tenso, ele vomitou o que bebido na nave enquanto dormia e depois abriu os olhos, buscando ar e percebendo sua garganta fechar aos poucos. Virou a cabeça para o lado e conseguiu enxergar alguma coisa longe daquela luz, estava sendo empurrado e depois picado novamente. Em seguida, foi desamarrado, mas suas pernas estavam bambas demais e foi segurado por quatro estranhos, para logo ser jogado em sua cela e encontrar o velho que todos procuravam: Klaus Nöel. 

Grinch ficou em posição fetal, começando a tossir sem parar e espumar saliva. Foi ajudado por Klaus, que o colocou de barriga para cima e tirou a agulha do braço de Grinch, usando um pouco de magia para limpar a agulha e depois usá-la para sugar a estranha substância do corpo do recepcionista. Ele finalmente conseguiu respirar, sentou-se e recebeu dois tapas na costas. 

— Quase te mataram, criança! Que bom que está bem, ho-ho!

— Quem são eles? — disse com dificuldade e foi respondido com um levantar de ombros — Ótimo, maravilha! — deitou novamente. 



Acabou dormindo de novo, estava exausto e mesmo estando adormecido ao lado de Klaus não parou de sonhar com ele. Acordou irritado, sentando no chão e olhando para a gosma nojenta que os estranhos tinham dado de comida para os dois. Depois ficou observando Klaus, ele comia a gosma sem nenhuma animação. Os cabelos cinzentos estavam embaraçados e cheios de frizz, o rosto dele estava sujo e cansado. Teve sua roupa trocada por um uniforme sem graça e que com certeza não fora feita para o tamanho dele, mas quando olhou para o próprio corpo percebeu que os seres daquele lugar não estavam acostumados a terem seres tão altos. Teve mais certeza ainda quando ficou de pé e por pouco não bateu a cabeça no teto. 

— Então, Nöel — o velho o olhou — Sabe pelo menos como veio parar aqui?

— Você me conhece? 

— Conheço sua esposa e os caras que estavam trabalhando no seu caso. 

— Ah, você é do Eixo Norte também! — mesmo acabado o velho continuava alegre, isso dava uma leve irritação em Grinch. — Como Mary está? Espero que esteja bem, não dormi por vários dias pensando nela e no que deve estar pensando, sem contar que eu a deixei cuidando de todo planejamento. Ah, luas! Ela é nova nisso, nunca cuidou do planejamento e da produção sozinha, ainda mais esse ano que os duendes estão ficando cada vez mais levados. 

— Ela parecia estar lidando bem com isso — comentou.

— Ela consegue, sei que sim. Quando a conheci ela estava fazendo figurinos sem parar para um programa, ela disse que estavam atrasados e a outra costureira tinha largado o show — viu Grinch suspirar e limpou a garganta — Enfim, não lembro muito bem como vim parar aqui. Lembro de ter saído para pegar algumas cartas no centro, esse ano a demanda parece ser maior do que os outros anos… quando saí do correio alguns jovens devem ter vandalizado meu trenó porque tinha algumas frases estranhas, fiquei irritado, mas não dei muita importância e fui para o Extremo Norte pegar mais cartas e aí — parou e colocou o dedo no queixo — não lembro de mais nada. Senti uma picada e tive sonhos estranhos com uma criança de capacete, me chamava de monsi… maun… monsieur! Ainda bem que foi um sonho, a criança parecia desesperada e chorava dentro da caverna. 

Aquilo chamou a atenção de Grinch, ele virou a cabeça na direção de Klaus e tentou dar uma chance para a gosma nojenta. Provou uma pequena porção e engoliu pensando ser mingau, empenhou-se em imaginar que estava no pinheiro de sua mãe e que ela tinha feito a comida. 

— Também não entendia uma palavra do que ela dizia? 

— Sim, sim. Sonhou com a criança também? Deve ser alguma coisa que estão colocando nas agulhas. Eu tentei acalmar o menino, parecia que era de outro planeta! Ele não parava quieto e ficava olhando para alguém que eu não conseguia ver. Depois de um tempo, eu tive o mesmo sonho e ele falava minha língua, estranhei e pensei que talvez fosse uma benção afinal! O lugar parecia o Alude Uivante, não tenho certeza, mas se for talvez estejamos salvos. Aquele espinhaço é pura magia, foi um dos únicos lugares que não teve a magia sugada para a terra depois que…

— Que você pagou um imbecil para profanar o pinheiro B13? — Klaus se calou, abaixou a cabeça e perdeu a fome — Mas diga, Nöel, a criança tinha o rosto com mais pinta do que qualquer outro ser que você viu?

— Sim, sim, como sabe?

— Porque não foi um sonho estranho, foi obra do espinhaço. Seu trenó está lá, você deve estar conectado ao lugar como eu estive um tempo atrás, quando não tinha pinheiro. — Klaus não soube o que responder — Muito obrigado por fazer meu pinheiro ficar não oco, aliás! Não, sério! Eu era criança e não tinha a menor ideia do que estava acontecendo, achei que era por causa do número, mas puta que pariu foi sua culpa — riu irônico — Pelo menos, achar você vai me dar ótimos benefícios. E a criança é um caçador espacial, sua esposa contratou ele para achar você — suspirou e bateu a cabeça na parede, olhando o teto em seguida — O idiota dormiu na caverna, eu não acredito nisso. Por isso a aranha estava no capacete dele, humanos… Quando ele chegar vai ver só, vou finalmente descontar minha raiva em alguma coisa, queria que fosse em você ou naqueles outros caçadores espaciais. 

— Eu sinto muito, me arrependo do que fiz todos os dias.

— E por isso tenta compensar a todos entregando presentes de Natal? 

— Eu quero consertar tudo que eu fiz durante a guerra.

— Vai ser muitos anos pela frente, então. E também não vai adiantar… eu gostei da sua esposa, talvez seja porque ela não nasceu na sua família, mas em algum momento o restante da sua família vai querer ter mais de novo. Vão acabar brigando por alguma outra idiotice quando os lobos pararem de uivar. 

— Eu te prometo, criança, que farei o possível para isso não acontecer. E irei compensar você e a todos. — Grinch lhe deu um resmungo em resposta.

— Eu não quero ouvir suas promessas, só quero meus benefícios e socar alguém. E mostrar pro’ idiota do Hugh que eu sou sim um ótimo investigador, mostrar o que estava na cara dele o tempo todo. Que foi preciso uma boa erva rosa e um caçador para descobrir onde você estava, errei pouca coisa, mas fui o único em acertar que você estava fora do planeta — gargalhou — Nikolaj mesmo levando uns três meses, quase chegou lá, por acaso, claro. Ele ignorou o espinhaço e sua rotina esquisita, começou a falar para todos que você forjou sua morte e perseguiu sua esposa por semanas — Klaus o olhou assustado — Sim, eu também fiquei assim quando descobri. Outro grande feito meu, aliás. Avisei para meus superiores e ele foi afastado, descobri depois que ele se juntou com aqueles grupos estranhos, devia me agradecer, sabe? Se não fosse por mim, sua esposa ia ser sacrifício de alguma seita sem sentido. 

— Obrigado, criança, muito obrigado. Não posso imaginar o que faria sem ela.

— Nada, Nöel, você não faria nada. E o pior... — começou a dizer mais para si do que para o velho — Se esse for o lugar que eu acho que é, temo pelo o que pode acontecer com o humano que você sonhou. 



Extremo Sul, Eixo Norte - Planeta Y 

11 dias para a véspera de Natal

 

Vous plaisantez! — gritou — Como assim você perdeu o rastro dele? — bagunçou o cabelo, começando a coçar a barba mais pela ansiedade do que por causa do fio crescendo — Ele estava na sua frente! E daí…

— Eles nos empurrou do trenó na maior filha da putagem — retrucou Ully, sentando na cadeira de copiloto, estavam dentro da nave dela e Greta tentava rastrear Grinch. — Agora entendo porque não podemos andar de trenó no nosso planeta, o pai tinha razão — olhou para Greta — Andar de trenó é muito perigoso.

— Não, Ully, ele só não queria gastar dinheiro comprando oito trenós diferentes. 

— Temos assuntos mais importantes aqui, mon ange. Vamos começar de novo, nós tínhamos um plano claro e bem idiota, que não faz o menor sentido, aliás — ficou andando de lugar para o outro, relembrando tudo que Grinch tinha descoberto e planejado junto com ele durante o efeito da erva.

— Queremos a grana, Jean, não o sentido das coisas — disse Ully, pegando a comida que sua nave tinha preparado para ela. 

— Ótimo, você tirou uma pausa para o lanche, a cara do chefe. — Greta riu e Ully revirou os olhos — Enfim, Klaus é o Papai Noel e foi sequestrado por alguém ou algo que ainda não sabemos o que é e possivelmente por um motivo que tenha a ver com a Guerra dos 7 Anos. Mas sabemos que ele ainda não tem o que ele quer, porque depois do desaparecimento dele mais três primos próximos foram dados como desaparecidos, sumiram da porra do mapa. 

— E descobrimos que o trabalho de Papai Noel é de família.

— Que também tem relação com o sequestro — continuou Jean — Nosso plano era fantasiar Grinch de Papai Noel, colocar um aparelho na orelha dele, fingir que estávamos fazendo o trabalho dele no Eixo Norte enquanto ele está fora, aí Greta iria seguir o sequestrador até o esconderijo, porque não temos tempo para vasculhar outro planeta. E Audrey seria nossa retaguarda, agora em que parte nós erramos?! 

— Nós vamos achar ele, Jean. Até mesmo Audrey perdeu o rastro dele quando vocês foram empurrados — Greta o consolou e virou a cadeira para olhar o francês — E nós erramos de planeta — Jean a olhou com a dúvida nos olhos — Consegui rastrear o sinal de volta. — o francês foi até ela que virou de volta para o computador — A nave que levou ele tem bloqueadores de sinal, mas Audrey conseguiu amplificar as ondas do aparelho. Vamos para o Planeta W, galera. 

Ela ligou o holograma que se expandiu pela sala, mostrou a região e a base do planeta que eles iam ter que invadir. Precisariam de reforços, porém com mais gente teriam que dividir a recompensa e não estavam nenhum pouco afim disso, além de que o chefe iria dizer para Jean se virar sozinhos e mandar Ully e Greta pararem de se meter. 

— Esse planeta é um inferno, praticamente — disse Greta — Por algum motivo os caçadores não fazem mais trabalhos para eles. São suspeitos de sequestro intergalático e experiências ilegais com seres de outros planetas, a Base Fantasma é o laboratório principal, o sinal de Grinch está sendo emitido de lá. Costumam se aproveitar de conflitos internos dos planetas ou das famílias da vítimas, são um bando…

— De filhos da puta — murmurou Jean olhando o mapa do Planeta W, a bola verde e holográfica o lembrou da luz verde que viu quando foi abduzido, a raiva infantil e jovem borbulhava em sua cabeça a medida que certos flashes aparecia. 

— Sim, mas…

— Depois de oito anos, eu finalmente encontrei vocês. 

As irmãs tiveram uma breve conversa por sinais, tiveram receio do que viram nos olhos castanhos de Jean. O corpo do francês ficou rígido, as mãos que tremiam ficaram fechadas em punhos e, por um momento, ele se lembrou de como foi abduzido e teve pequenos flashes do que aconteceu oito anos atrás. 

— Se vocês não se importam, eu vou na minha nave. — Saiu da sala de comando e foi até a saída de carga, ligou o aparelho  e apertou o botão que abria a porta. — Audrey, preparar coordenadas para Planeta W, base Fantasma. 

E se jogou da nave quando a porta abriu, fechou os olhos e ficou com o corpo reto e parado, entrando pela escotilha quando Audrey o pegou no ar. 





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