Aline por Aline escrita por Mary


Capítulo 14
Capítulo 14 - Paixões do ginásio




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Com tudo o que aconteceu, nem pude me sentar e conversar com a Tita sobre aquele assunto. Logo na segunda-feira a diretora anuncia a Semana Recreativa, depois as tensões na aula de dança, a pressão para aprender alguns passos ditos básicos, o medo de falhar em público e o fato de aparecer apenas de top e short diante de muitos garotos. Apenas Cássia e Jéssica podiam aparecer de saia e a girafa deixava bem claro que somente ela tinha esse privilégio e é claro que iria ficar sem short para mostrar a bunda.

Que patética, que decadência!

Relaxar foi positivo para Tita e Adolfo. Minha mãe sempre costuma comentar que quando você se esquece do seu problema, ele se resolve.

Sabem que é verdade?

Por exemplo, eu estava com muito medo de contar à Tita que não estudaria com ela naquela escola, aí ajudando o Adolfo pensei menos em mim mesma e de uma maneira ou de outra, esse problema se resolveu.

Tita estava desesperada com a prerrogativa de ter o seu sentimento descoberto. Adolfo temia se confessar e sofrer rejeição. O primeiro beijo aconteceu tão naturalmente que eu estou espantada!

Sei que rolou um clima e tudo se desenrolou. Senti isso quando vi os dois sorridentes depois das apresentações e não queria pressioná-los os enchendo de perguntas porque sei que pessoas tímidas não gostam quando a sua privacidade é invadida. Perder a confiança de alguém tão leal como a Tita não faria o mínimo de sentido.

Ela estava bastante angustiada quando me relatou o seu segredo de vida ou morte. Espero que com o passar dos dias tenha entendido que não existe nada de ilegal no que sente. Porque é tão bom. Sei baseado no que vivi. Foi profundo, foi sincero, foi bom enquanto foi o meu amor. Agora, infelizmente, é só uma lembrança que eu tento carregar sem que pese os meus ombros.

Se quiserem saber, a Tita não perdeu nada deixando de dançar, até porque a Jéssica e a Cássia trocaram tantos insultos antes e depois da apresentação que ninguém deu a ausência da minha amiga.

Eu só não transcrevo as palavras de baixo calão porque vocês não merecem ler aqueles absurdos, mas, enfim, eu sabia que a Jéssica ia dar uns sopapos na Cássia, por isso acordei cedo e jurei a mim mesma que não sentiria um pingo de dó daquela girafa abestalhada.

Como eu soube que ia ter briga?

Bem... A Jéssica e eu apanhamos o mesmo ônibus na ida porque o orfanato onde ela mora fica a mais ou menos umas quatro quadras da minha casa. Eu escutei a Jé conversando com uma amiga de confiança e elas combinaram de aparecer na saída do colégio na sexta-feira. Eu fingi que não ouvi um pio.

Torcer para Jéssica ganhar era como escolher apostar naquele time “menos pior”.

O que se sabe e vai ficar guardado para sempre na memória de quem viu é a Cássia amarelando diante das grandalhonas.

Não teve conversa.

Nem com a Tita.

Eu adoeci no fim de semana e fiquei de atestado por alguns dias. Pelo menos, quando voltei, soube alegremente que Tita e Adolfo estão namorando e já beijaram de língua. Aliás, esse é o assunto mais comentado na turma toda, inclusive pela girafa abestalhada que de abelha-rainha agora é a aloprada. Até ela vem querer duvidar, cheia de gracinha, mas ficou é morrendo de ciúmes porque os CDFS da sala são namoradinhos.

Essa onda de paixonite contagiou também a Miriam, irmã do Adolfo. Ela está gamada no Jean, irmão da Rayanna, a melhor amiga dela no Colégio Militar. O Jean deve ter mais ou menos uns 15 ou 16 anos e... eu acho que também estou apaixonada... só que pelo amigo do Jean, o Yohann.

Às vezes eu passo à tarde na casa do Adolfo porque só assim a Tita pode ficar mais pertinho dele longe da escola. Pois então, a Miriam é uma promessa do handebol, joga muito bem e já participou de competições escolares representando o CM. Ganhou medalha de bronze em junho e se classificou para a etapa estadual.

O Jean também é atleta. Ele é alto, tem cabelo preto curtinho, olhos esverdeados, está sempre acompanhado dos amigos, principalmente do Yohann...

Miriam fala do Jean 24 horas por dia e se houvesse mais horas, mais motivos para falar dele haveria. Só que na cabeça dela tudo parece fácil e perfeito, ela já falou com ele milhares de vezes, mas gosta de um garoto o qual nunca ouviu nem a voz, nunca nem sequer conversou. Não que eu tenha batido altos papos com o Yohann, tenho medo de que a Miriam esteja entrando numa cilada e de que meu alvo tenha namorada.

Miriam promete todo santo dia que vai sem falta puxar conversar com o Jean. Todo dia o mesmo papo.

Será que falta coragem?

Será que ela tem medo de falar com ele e a ilusão acabar porque ele não é do jeito que ela sonha?

Por que ela acha que ele tem de tomar a iniciativa?

Por que acham que só o menino tem que tomar a iniciativa?

Será que tem que ser sempre assim? Não fica um pouco cansativo?

Eu ainda não conversei com o Yohann, mas já ouvi a voz dele que é bem diferente do Adolfo e do Erick, pois a voz já engrossou, parece de um rapaz, porque é o que ele é, um rapaz. E bem bonito por sinal.

Quando Tadeu me confessou que estava gamado na Ângela, fiquei muito mal, pensei que nunca mais iria conseguir amar outro garoto. Ele me prometeu e tinha que cumprir, mas eu também, por um pouquinho de tempo, também gostei do Guto. Não com a mesma força, é claro. Assim, quite por quite, a Ângela entrava na história e eu sei que ela não tem culpa por nada do que me aconteceu, nada do que me separou de verdade do Tadeu.

No começo, naquele calor do medo, da saudade, do choque da perda, parece tão fácil prometer que tudo é “para sempre”, que se pode contar que se é amada. Depois, à medida que a poeira abaixa, é possível ver com mais clareza que nem tudo o que se sente é dito e o que se diz pode nem ser sentido de verdade.

Tadeu me amou.

Em outro tempo.

Esse tempo, porém, não era atual.

Ele mudou, eu também.

É cedo para dizer se eu sou melhor do que era, mas espero ser.

Quanto a ele, somente ele pode julgar. Eu não tenho essa permissão.

Eu não consigo ter raiva dele.

Onde há amor, dificilmente o ressentimento cria raízes, mas há casos em que o amor se torna ódio e isso quer dizer que o ódio também aproxima. Dói mais do que tudo a indiferença, essa sim ofende. É horrível olhar nos olhos de alguém que já foi seu tudo e ele não ser mais nada.

Eu amava Tadeu de um jeito, um jeitinho meu, quando eu era aquela Aline de Prudentópolis...

Eu irei amá-lo para sempre... Só que de outro modo... Não do jeito que eu gosto do Yohann...

Sei que o Jean e o Yohann estudam juntos porque a Rayanna contou que eles fazem trabalhos de escola juntos.

Yohann não tem namorada e Jean também não... pelo menos até onde a Rayanna sabe!

Meu amor não tem namorada. Ele não tem namorada... Por dentro eu dou aquele gritinho de alegria, talvez um bom sinal... O Yohann já tem 16, está em outra, mas por outro lado eu sinto algo forte por ele. Quando penso na ideia de conversarmos, sinto as batidas do meu coração responderem por mim, responderem que sim, que independente do que pode acontecer, eu devo tentar...

Amanhã eu vou à casa do Adolfo fazer uma maquete de Educação Física e estou pensando em acompanhá-lo quando a D. Sônia for buscar a Miriam no treino lá no CM. Eu mal consigo pregar os olhos só de pensar que vou ver o Yohann, então sei como a Mi fica quando vai treinar, só de imaginar chegar bem pertinho do Jean... mas eu não quero só fantasiar, não quero idealizar um Yohann todo perfeitinho e ficar triste quando perceber que ele não é tudo isso... Quero conhecer o Yohann do jeitinho que ele é, assim ele vai me conhecer também como eu sou... E eu espero do fundo do meu coração que isso lhe baste...

Não passa de amanhã, eu vou conseguir o telefone do Yohann! Ah, se vou...


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