Christmas Week 2: Olicity Version escrita por Ciin Smoak, Regina Rhodes Merlyn, Buhh Smoak, Thaís Romes, Ellen Freitas, SweetBegonia, MylleC


Capítulo 7
Natale A Villa Paradiso - SweetBegonia


Notas iniciais do capítulo

Olá amores!
Estou muito honrada de ter sido convidada para esse projeto!
É minha primeira One de Natal e eu espero que vocês gostem de lê-la como eu gostei de escrevê-la.
Me deixem saber se gostaram ok??!!



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Olhando a fachada da imponente estrutura que formava a Villa Paradiso, Felicity repassou tudo o que a tinha levado até ali.

A Traição dupla de Cooper – lhe tirando a sociedade da empresa que ela construiu e lhe traindo com a secretária em sua cama (que clichê!!), o mais novo casamento da mãe com o melhor amigo do seu pai e a doença e falecimento de sua avó paterna. Tudo isso coroado pelo ataque de pânico que ela teve quando Cooper veio procurá-la para pedir perdão – o grande babaca!

Sua sorte era que seu padrinho Walter Steele estava com ela no momento e conseguiu evitar maiores danos. 

O fato era que ela passou de CEO de uma próspera empresa de TI a desempregada, de noiva a corna e ainda por cima estava órfã de umas das duas únicas pessoas que ela tinha no mundo que realmente se importavam com ela.

E foi graças a outra pessoa que ela tinha no mundo, seu padrinho, que ela estava ali, na Itália...mais precisamente às margens do Lago de Como, numa Villa maravilhosa e o melhor de tudo: absolutamente sozinha.

Quer dizer, tirando o casal que cuidava da casa. Mas segundo seu padrinho informou eles não se faziam perceber, eram discretos e pessoas totalmente do bem.

A casa era de um grande amigo de Walter e ele lhe garantiu que ninguém apareceria ali. Pelo menos não até o verão.

Aliás, seus dramas familiares bem que poderiam ter esperado para acontecer numa estação mais quente. Deus! Ela podia jurar que estava muitos graus abaixo de zero!

Antes que congelasse ela resolveu tocar o interfone próximo ao portão.

—Si? Chi é?

—Oh! Me desculpe . Não falo Italiano...

​-Oh! Scusa....​ ​ - Felicity pode ouvir o riso da mulher - Quem é?

—Felicity Smoak, meu tio

—Ah! ..si….​ ​Entre….

E se Felicity achou imponente a estrutura de fora dos portões, dentro deles ela não tinha palavras para descrever.

A casa era muito antiga, tinha dois andares e várias janelas com pequenas sacadas. Parecia ser de pedra. A pintura estava um pouco gasta, mas isso dava a casa mais charme em sua opinião. 

Ela pode ver um jardim na lateral e teve um vislumbre de uma piscina do lado oposto.

Ela teria ido em direção ao jardim se não tivesse ouvido passos. Quando se voltou na direção dos mesmos ela avistou uma mulher baixa e magra, com os cabelos curtos e olhos azuis brilhantes.

—Buon giorno, signorina! ​- percebendo seu lapso ela corrigiu - Bom dia, senhorita!

—Bom dia! Mas por favor, só Felicity!

—Certo, certo... Felicity, vamos entrando! Quero lhe mostrar o lugar. Ah propósito meu nome é Chiara.

Felicity seguiu Chiara pela enorme casa, haviam mais quartos do que ela pode contar...mas todos simples e bem organizados...a casa em si era simples. Apesar do tamanho não havia ostentação. Era como se a família que fosse dona do lugar quisesse fugir do luxo, apesar dela ter quase certeza de que eles seriam capazes de encher a casa de brilho e glamour. 

Ela mal ouvia o tagarelar de Chiara sobre a casa e toda a sua história, ela só parou estática no lugar quando ela mencionou que os Queen eram os donos do lugar.

Ela os conhecia devido a um projeto em comum, na sua antiga empresa. Robert Queen era um lobo nos negócios, mas era justo. O projeto em conjunto rendeu para Felicity os primeiros lucros efetivos para sua empresa. Depois disso Cooper assumiu o setor de projetos e nada mais foi feito com a CQ.

Ela seguiu a mulher até a cozinha onde lhe foi servido um lanche maravilhoso. Ela nem tinha se dado conta do quanto estava com fome.

Seu primeiro dia na Itália foi de exploração a casa, onde iria ficar até o primeiro dia do próximo ano.

Quando ela deitou em sua cama, naquela noite ela logo dormiu. O cansaço da viagem e a conversa despretensiosa de Chiara e de seu marido Matteo a relaxou a tal ponto que pela primeira vez em dias ela dormiu sem sonhos ruins.

 

Oliver estava fugindo! Ele tinha plena consciência disso. Mas em sua defesa ele estava no limite. Se ele visse mais um repórter na sua frente ele daria uma de Justin Bieber e partiria pra cima do cara.

Uma parte sua estava se culpando por largar a empresa nesse momento, mas ele tinha certeza de que Walter daria conta. 

Ele saíra de Star City nas primeiras horas da manhã e seguira em direção ao aeroporto. Ele estava decidido, se daria uma folga das confusões e escândalos da família Queen.

Por alguns dias ele se daria ao direito de sentir luto pela morte de seu pai, ele se daria ao direito de ignorar sua mãe e seu recém assumido namoro com o pai do seu melhor amigo e melhor amigo de seu pai (e por recém assumido ele quer dizer que ela assumiu o namorado no velório de Robert Queen!)...e se daria ao direito de pelo menos por uns dias deixar de se preocupar com a irmã que havia sumido do mapa com o namorado depois de saber que seu pai biológico não era Robert e sim o recém assumido namorado de sua mãe, Malcolm Merlyn.

Ele iria para a propriedade da família na Itália. Poucas pessoas sabiam da existência dela e o que era melhor: entre as pessoas que sabiam nenhuma delas eram repórteres.

Além do que absolutamente ninguém sabia seu destino.

Ele chegaria somente de madrugada, escolheria um quarto qualquer e dormiria alí mesmo. Na manhã seguinte ele falaria com Matteo e Chiara.

Era o plano perfeito!

Ele chegou na Villa Paradiso já passava da meia noite, e muito pensou olhando no relógio quando cruzou a cozinha em direção a geladeira para pegar os ingredientes para fazer um lanche rápido.

Ele comeu em silêncio, apreciando o fato dos únicos barulhos que ouvia era o ranger do assoalho antigo e da água correndo na pequena fonte que a mãe mantinha na lateral da casa.

Ele guardou tudo o que usou e foi atrás de um quarto. Nem se incomodou em acender luz alguma. Usou o banheiro do corredor, por hora iria usar um dos quartos do andar de baixo e eles não eram suite. Ele só tirou o sapato, trocou o jeans e a camisa social por um moletom. Fazia frio na casa, mesmo com o aquecimento interno ligado.

Oliver entrou no quarto, afastou as cobertas, se aconchegou no travesseiro e seu último pensamento coerente foi que o novo perfume que Chiara estava usando nas roupas de cama era maravilhoso!

 

Em meio a penumbra da manhã e na névoa do sono, Felicity pensou que se todas as camas e travesseiros da Itália fossem confortáveis e cheirosos como os que ela estava dormindo, ela poderia ficar ali pra sempre. Um calorzinho gostoso percorria todo seu corpo e uma sensação de paz a dominava...como há muito tempo não ocorria.

A primeira coisa que Oliver sentiu ao começar a acordar foi o delicioso perfume da roupa de cama! Por Deus ele teria que levar essa marca de perfume de volta pra Star! A calmaria que o perfume trazia era inédita para ele.

A segunda coisa que ele percebeu foi que havia, além da calmaria, uma outra sensação... que ele não soube identificar de início, mas que aos poucos, à medida que ele acordava se tornava mais clara: aquele calorzinho bom que o envolvia vinham de braços e pernas enlaçadas no seu corpo.

Da mesma maneira, Felicity analisava a situação a medida que sua mente desanuviava ela se deu conta da mesma coisa que Oliver.

O calorzinho bom que a envolvia era nada mais nada menos que um belo exemplar de corpo masculino!

Um belo e definido corpo masculino pelo que ela podia notar... espera! Como assim um corpo masculino? Como assim ela estava enrolada num corpo se na noite anterior ela tinha ido dormir absolutamente sozinha?

Felicity arriscou abrir um pouco seus olhos para observar a situação.

Huumm….barba por fazer, loiro, testa franzida e um sorriso divino nos lábios...espera ele estava acordado? Ela tentou se soltar do "abraço" e percebeu que o homem a liberava.

Ele abriu os olhos lentamente e ela acrescentou mais uma qualidade ao conjunto, maravilhosos olhos azuis.

UOUUUU! PARA TUDO! AQUELE ALI ERA MESMO OLIVER QUEEN?? 

O susto foi tão grande que ela acabou caindo da cama num baque seco.

Oliver percebeu o exato momento em que a mulher acordou. Ele estava analisando seu perfil. Cabelo loiro, pele de porcelana, corpo esguio e um perfume divino! 

Ele percebeu que também era alvo de uma análise e resolveu permanecer "dormindo", mas não pode evitar questionar a situação! De onde ela havia surgido? Será que era parente dos Negrini? 

Nesse momento ele resolveu abrir os olhos para por em voz alta todas aquelas perguntas e foi nesse mesmo momento que ele viu a moça loira de olhos azuis lindíssimos desabar da cama.

Oliver levantou de um pulo e foi ajudá-la a levantar.

Ela aceitou a mão estendida com um pouco de receio.

—Você se machucou? - Oliver pediu um pouco preocupado.

—Não, estou bem! - ela procurou rapidamente seu roupão para cobrir o pijama e sentou numa poltrona que havia ao lado da cama - minha pergunta é: o que você faz aqui? E porque está no meu quarto? E…

—Hey! Calma...aí já são mais de uma pergunta… - ele estava sentado na beirada da cama.

—Podes responder uma por vez! - ela sorriu com cinismo.

—Ah! Ok! Muito obrigado! - ele sorriu para ela que lutou para não sorrir de volta.

—Respostas! 

—Ok! Sou Oliver...Queen!

—Me conta uma novidade…

—Ok! Vejo que você está em vantagem aqui...podes me dizer teu nome?

—Felicity Smoak.

—Sério? Da Smoak Technologies? - ela assentiu, sem acrescentar que a empresa não era mais dela - Uau! Eu adoro os projetos da tua empresa... não sei porque não houve continuidade….

—Deixemos os negócios pra depois - ela o interrompeu - minhas respostas.

—Então….a casa é da minha família, eu estou numa….como vou dizer... brincadeira de esconde esconde….eu me escondo de minha família e das confusões deles e os jornalistas me procuram. Mas não vão achar pq ninguém sabe que vim pra cá. Aqui é o meu refúgio. - ele deu de ombros e viu que ela ainda aguardava a outra resposta - e estou neste quarto porque ele era o mais próximo do banheiro do corredor e eu estava moído de cansaço, nem pensei muito, só entrei e deitei... não percebi que vc estava na cama, não acendi luz. Satisfeita? - ela assentiu ainda com certa desconfiança - agora é minha vez. Minha rodada de perguntas. Como você está aqui? Porquê e até quando?

 

Felicity estava na defensiva, quem poderia culpá-la? Ela sabia que ele era o dono da casa e tudo mais….mas ela sabia da fama dele, pelo menos a antiga fama dele….e depois do idiota do Cooper ela estava como gata escaldada…

Ele tinha o direito de fazer todas aquelas perguntas e poderia inclusive pedir que ela fosse embora...ela respirou fundo e respondeu com calma..

—Ok! Estou aqui porque meu padrinho falou com alguém da sua família, acredito eu, e essa pessoa permitiu que eu viesse para cá. Disse que não haveria ninguém até o verão.

—Seu padrinho? 

—Walter...ele é meu padrinho.

—Você é a afilhada que ele queria me apresentar?? - Oliver sorriu e negou com a cabeça - e eu achando que a tal afilhada seria uma daquelas inglesas chatas e cheias de não me toque!

—Obrigada...eu acho… - ela estava ainda sentada na poltrona, mas levantou...porque agora vinha o porquê dela estar ali…. - e o porque...bom...resumindo: estou sem empresa, sem noivo e sem minha vó! -

Ela não queria mais chorar, mas foi inevitável que uma lágrima rolasse de seus olhos apesar do esforço para não chorar na frente dele.

Oliver pode ver o sofrimento estampado em seu rosto e o quanto ela tentou evitar que aquela única lágrima escorresse por seu rosto. Foi automático, quase um impulso quando ele se aproximou dela e a abraçou. E foi automático Felicity se deixar abraçar. E o conforto veio, simples….sem uma palavra, sem um falso sinto muito….sem nada mais que um abraço. 

Ele aspirou seu perfume e fechou os olhos a apertando mais em seus braços, Felicity pode sentir o coração dele descompassado e o seu seguindo o ritmo. Nenhum dos dois poderia explicar aquela conexão, mas ela estava ali….e nenhum dos dois procuraria as respostas naquele momento. 

Ela era linda e parecia totalmente desolada. Seja lá o que for que havia acontecido, porque o resumo dela não lhe deu a dimensão de tudo, havia lhe quebrado verdadeiramente. Oliver não sabia de onde viera aquele instinto protetor, mas ele queria cuidar daquela mulher, queria ver seu sorriso verdadeiro.

Felicity tinha plena consciência de que aquilo que sentia era loucura, da onde vinha aquele conforto, aquela sensação de paz? Foi instantâneo e um pouco assustador o fato do seu abraço lhe trazer o que nenhum outro abraço tinha lhe dado, a não ser o da sua avó e o de Walter que era quase como seu pai, conforto e carinho. Sem pedir nada em troca, sem insinuações….um gesto simples que colou um dos caquinhos de seu coração. Ela continuava em seus braços e nenhum dos dois fez menção de desfazer  o abraço.

Uma batida na porta fez com que eles se separassem rapidamente e um tanto quanto constrangidos. 

—Signorina….  - eles ouviram um resmungão em italiano que não puderam entender - Felicity? - era Chiara - Querida, o café está servido...

Oliver abriu a porta, sem ao menos olhar para Felicity e pode ver o olhar assustado de Chiara se transformar em carinho.

—Mio bello bambino!!— ela segurou o rosto dele e o beijou na bochecha e o abraçou - Ma che….. O que você faz aqui? Porque não avisou que vinha? E o que você está fazendo no quarto da Felicity? - ela falava rápido e Oliver a observava com um carinho evidente e com um pouco de humor. Felicity pode perceber porque ele tinha chamado o lugar de refúgio, não era só o lugar...eram as pessoas…. - Matteo! Matteo! - Chiara chamou o marido…

—Chiara,  mia bella ragazza! Te explico tudo no café da manhã, tudo bem? - Oliver

—lhe deu mais um abraço.

—Sí...Sí -  ela foi saindo do quarto, novamente resmungando...em parte porque o marido não tinha aparecido e em parte contra os jovens que não são capazes de avisar as coisas. Oliver sorria divertido.

—Vamos? - ele perguntou a ela quando percebeu que ela não se movia.

—Oh! Não….eu acho melhor eu ir embora…. - ela foi em direção a mala e Oliver a impediu segurando seu braço.

—Por que? 

—Porque claramente você quer ficar sozinho e esta casa é sua…..então eu vou embora - ela puxou o braço numa tentativa de ir fazer as malas, mas ele não cedeu.

—Você fica, agora como minha convidada. A casa é grande, se não quisermos a companhia um do outro é só cada um ir pro seu canto e pronto. - ele falou como se fosse a coisa mais obvia do mundo. Na verdade ele não sabia ao certo o motivo de ter pedido para ela ficar, mas ele queria conhecê-la melhor….ele queria saber o motivo daquela tristeza….ele queria fazer algo para tirar aquela expressão magoada dos lindos olhos azuis dela...e se para isso ela precisava ficar ali   isso que ela daria a ela.

—Não sei… - ela estava em dúvida, ficar até o ano novo na mesma casa que Oliver Queen poderia ser uma provação….seriam 15 dias! Mas nada a impediria de ir embora quando quisesse, talvez não fosse má ideia….e se ela fosse sincera ela queria muito ficar. E tinha o abraço e as sensações que ele tinha lhe trazido….

—Vamos….cada um em seu canto e você nem precisa olhar no meu rosto bonito! Eu prometo me comportar!! - e ele lhe deu um sorriso causador de boa parte do aquecimento global! Ela ergueu os braços em rendição

—Ok! Mas se eu decidir ir embora, você não vai ficar tentando me persuadir a ficar.

—Fechado! - ele estendeu a mão para ela que aceitou, um pequeno choque os atingiu, mas nenhum dos dois deixou transparecer - Agora vamos tomar o café da Chiara que se eu bem conheço ela, e eu conheço, deve ser um banquete! 

Quando Oliver falou que ele iria lhe dar espaço, cada um em seu canto...ela não achou que ele levaria tão a sério.

Depois do café da manhã, onde ela pode ver todo carinho e amor que ele tinha pelo casal Negrini, ela só o viu uma vez indo caminhar e a outra na cozinha, quando ela fora buscar um café, conversando com Chiara. E isso já faziam dois dias, hoje já era 21 de dezembro...sendo sincera essa distância a estava deixando incomodada. Ok! Ela tinha imposto isso. Mas ele era o dono da casa não era certo ele ficar se esquivando pelo lugar para evitar encontrá-la.

Felicity estava a beira da piscina, apesar do frio um solzinho havia aparecido. Ela estava sentada numa das espreguiçadeiras com uma manta sobre e um livro abandonado nas pernas.

—Hey! - ela foi tirada dos seus pensamentos por um Oliver totalmente lindo em uma calça escura, um suéter verde e um sorriso avassalador - Chiara me disse que você estava aqui e me mandou com biscoitos de Natal e café! Lanche da manhã! - Felicity sorriu tanto pelo lanche quanto pela visão que era aquele homem com um bandeja nas mãos.

—Eu vou voltar pra casa enorme se ela continuar e me tratar assim! - ele riu do comentário.

—Ok! Me de um espaço aí - Felicity se ajeitou e ele sentou na sua frente com a bandeja entre eles - certo, este é seu café…..este é o meu…

—Obrigada! - ela lhe sorriu e Oliver suspirou satisfeito. Ele havia lhe dado espaço, havia respeitado seu pedido...mas toda vez que ele a observava seu semblante ainda era triste.

—Sabe….a Chiara sempre me diz que nenhum problema é tão grande que não possa ser resolvido depois de uma xícara de café…

—Duvido que os meus problemas possam ser resolvidos tão fácil assim… - e lá estava aquele olhar triste novamente.

—Sou um bom ouvinte… - ele estava sério, depois de dois dias ele ainda não tinha conseguido esquecer a sensação de acordar com ela em seus braços, mesmo que tenha sido estranho, algo mexeu com ele.

—Sei...mas duvido que você não tenha nada mais importante para fazer do que ouvir a tragédia mexicana que se transformou a minha vida…

—Hey, tem mais café na cozinha e aposto que há um bom vinho na adega do meu pai que a gente possa pegar se as coisas ficarem críticas! - os dois riram e Felicity o olhou, ele tinha um sorriso sincero e parecia realmente interessado. Chiara havia lhe contado por alto que ele estava levando toda a família nas costas há muito tempo. Os pais só mantinham a aparência do casamento, a irmã estava se metendo em confusões para chamar a atenção e a empresa dependia exclusivamente dele, ainda mais depois que o pai faleceu. Era muita coisa para uma pessoa só...não tinha sido a toa que ele tinha fugido, como falou.

—Oh, certo….mas você tem certeza? Você deve ter seus próprios problemas para lidar…

—E tenho, mas quem sabe um não ajuda o outro? Às vezes quem está de fora pode enxergar uma saída que quem está dentro do olho do furacão não pode ver. - ele deu de ombros. 

Ela lhe contou sobre a mãe que nunca estava presente, sobre o pai que sumira no mundo e nunca mais havia dado notícias. Sobre o quanto lhe doía a morte de sua avó, que era umas das duas pessoas que ela tinha no mundo. E o quanto isso a abalou, fazendo que Walter interferisse a mandando para a Itália. E sobre a empresa que ela tanto havia batalhado para conseguir e sobre como Cooper havia a manipulado e enganado para passar tudo aos poucos para o nome dele e da secretária dela, com a qual aliás ele a havia traído….em seu apartamento...em sua cama...tomando a champagne que ela havia ganhado juntamente com o prêmio de empresária revelação no ano anterior.

—Mas que grande FDP! - Oliver estava furioso.

—Não posso discordar! - Felicity já havia superado a traição, mas jamais perdoaria o roubo da sua empresa.

—Você sabe que há muitos meios de boicotar uma empresa no mercado, não sabe?? - Oliver a olhou divertido - Já pensei em alguns…seria muito fácil destruir a reputação dele como empresário….fazer a empresa ir a ruína e depois comprá-la dele por um preço irrisório e fazê-la voltar ao auge!

—Gostei disso...parece um bom plano para mim! - ela lhe sorriu e ele a olhou satisfeito...o olhar estava mudando! Quando Felicity imitou a risada do Esqueleto ele gargalhou.

—Certo...agora estou com medo de você! Deus! Eu criei um monstro!! - ela riu e lhe deu um tapa no braço. 

—Bobo! - ela comeu mais um doce - desse jeito não vou jantar!

Nos dias que se passaram os dois não mais se evitavam. Era comum vê-los conversando a beira da piscina ou caminhando no campo próximo a casa. O clima estava cada vez mais frio e os jornais anunciavam uma nevasca. 

O dia de Natal estava cada dia mais próximo e Chiara havia decorado a casa com dedicação. Havia galhos de visco espalhados por todo lugar. No fundo ela tinha esperança que algo acontecesse entre os dois moradores da casa. E nada melhor para aquecer os corações do que a época de Natal. O amor estava literalmente no ar e ela queria do fundo de seu coração que seu menino tivesse a oportunidade de ser feliz.

No dia 23 Oliver acordou muito cedo, ele tinha planos. Na verdade Chiara tinha feito os planos por ele, mas ele não poderia estar mais agradecido. Ir à feira de Natal com Felicity para buscar ingredientes para a ceia de Natal seria épico! Chiara e o marido iriam passar as festas com os pais dele numa cidade próxima, mas ela insistiu em deixar a ceia deles pronta, seria só assar! 

Ele foi bater na porta de Felicity, Oliver sabia que ela gostava de dormir até mais tarde. Mas ele tinha uma aliada, uma xícara do saboroso café italiano que Chaira deixara pronto.

Felicity abriu a porta e se encostou nela. Ainda meio dormindo e em um de seus pijamas fofos e nada sexys - na verdade ele a achava muito sexy metida naquele moletom cheio se stormtroopers.

—Queen….você sabe que mesmo aqui na Itália sete horas da manhã costuma ser madrugada quando estamos de férias...mesmo quando na verdade não são férias, são tipo um exílio forçado pelas circunstâncias….

—Bom dia para você também, Felicity! - ele interrompeu a divagação da loira e lhe estendeu o café.

—Meu herói! - ela pegou a xícara de café e entrou deixando a porta aberta. Oliver entrou e a encontrou sentada na cama tomando o café - Ok! Agora que eu já me tornei uma pessoa civilizada - rindo ela tomou mais um gole de café - podes me dizer porque cargas d’água você está no meu quarto antes das dez da manhã.

—Temos uma missão! - ele a pegou pela mão e a levantou da cama, ficando bem próximo a ela - Chiara pediu ingredientes para a ceia e estamos incumbidos de comprá-los. Vamos a feira de Natal e ao mercado.

—Oh! Eu ia mesmo visitar a feira de Natal, apesar de não saber onde ela fica. - Oliver fez uma mesura.

—Estou a sua disposição, senhorita! Serei seu guia! - ela bateu palminhas e deu um saltinho arrancando uma gargalhada dele.

—Até vou te perdoar pelo horário! Agora fora que eu vou me trocar!

—Coloque roupas bem quentes, está congelante lá fora.

—Ok! Senhor! - batendo continência ela o empurrou porta afora!

Dentro do quarto Felicity pensava que aquele exílio não estava sendo nada do que ela tinha imaginado e tudo graças a Oliver. Ele tinha forçado suas barreiras e conseguido trazer alegria para seus dias na Itália. Do lado de fora Oliver sorria e pensava que talvez o destino estivesse sorrindo para ele pela primeira vez em anos!

Oliver estava encostado no batente da porta da cozinha ouvindo as últimas recomendações de Chiara sobre as compras e sobre onde ele deveria levar Felicity, quando a própria parou ao seu lado.

—Estou pronta! Bom dia, Chiara!!

—Bom dia, querida! 

—Vamos indo? - Oliver ofereceu o braço para ela de modo galante! Ela sorriu e aceitou,

—Vamos! - e quando eles deram o primeiro passo para sair da cozinha foram interrompidos por Chiara.

—Vocês não estão esquecendo de nada? - os dois se olharam confusos. Oliver foi o primeiro a se manifestar.

—Acredito que não...a lista está comigo….

—Estamos bem agasalhados - Felicity completou…

Chiara sorriu de um modo misterioso e apontou para o alto da porta, os dois acompanharam com o olhar a direção que ela apontou e se depararam com um galho de visco.

—Oh...não…. - Felicity ficou vermelha e Oliver sorriu percebendo a manobra da amiga.

—Oras Felicity, vamos lá não se pode quebrar uma tradição…. - ela olhou para ele e sorriu levemente.

—Felicity, somente pela tradição… - Chiara falou calmamente. Felicity levantou os braços em rendição.

—Somente pela tradição….

Oliver sorriu daquele jeito que ela estava acostumada, aquele sorriso que deixava seus batimentos acelerados e as pernas bambas. Ele segurou seu rosto com delicadeza e depositou um beijo leve e demorado em seus lábios. Tudo pareceu parar...mesmo com aquele simples e inocente toque de lábios. Nenhum dos dois percebeu quando Chiara se retirou da cozinha e Felicity não reclamou quando ele terminou o beijo somente para lhe dar mais um selinho rápido e estralado em seus lábios. Ela sorriu e por incrível que parece não se sentiu constrangida. 

Oliver a abraçou pelos ombros e a levou para fora, onde Matteo e Chiara conversavam animadamente. Enquanto Felicity entrava no carro, Oliver se aproximou da amiga e cochichou em seu ouvido.

—Não pense que eu não percebi a engenhosidade do teu plano….esse ano você deve ter acabado com os viscos da região…..

—Oh! - Ela deu de ombros - Deixe de ser bobo….só tem um em cada porta e nas beiradas dos telhados…. - ele gargalhou e se despediu dos caseiros seguindo em direção a feira.

Felicity nunca tinha visto uma paisagem tão bonita. Os campos estavam parcialmente cobertos de neve e as crianças brincavam por todos os lados. 

Durante o percurso Oliver ia lhe mostrando os lugares mais turísticos. Ela estava encantada. Mal percebeu quando Oliver parou o carro.

—Já chegamos? - ela o olhou confusa.

—Não, quero te mostrar um lugar….meu preferido. 

Ele saiu do carro e foi ajudá-la a sair. De mãos dadas Oliver a guiou por um estreito caminho entre as árvores. 

Felicity estava curiosa, mas resolveu confiar nele….

—E aqui estamos - ele abriu os braços para mostrar o lugar. Era uma clareira onde havia uma cachoeira, que agora estava parcialmente congelada, com uma pequena cabana e uma mesa para piquenique. - Descobri esse lugar numa das minhas fugas das brigas dos meus pais.

—Oh meu Deus! Oliver esse lugar é lindo!! - aquele lugar era realmente especial.

—A cabana eu construí com ajuda do Matteo, é o meu lugar secreto. 

—É difícil imaginar o Oliver garotinho fugindo para cá - ela tinha pesar em seu olhar.

—Mas era onde eu vinha para fugir de tudo….na verdade eu ainda venho….nos primeiros dias aqui era para cá que eu vinha.

—Ah! Tá explicado seus sumiços….mas com razão….eu não reclamaria de ter um lugar desses para me refugiar dos problemas.

—Posso compartilhar com você! Não me incomodaria de ter tua companhia nas minhas fugas - Oliver havia se aproximado dela e Felicity não recuou. Suas respirações se mesclavam e os olhares estavam fixos um no outro. Felicity quebrou o momento

—Eu ficaria feliz de compartilhar esse lugar com você - um sorriso lindo apareceu em seu rosto e ele a puxou para um abraço...a mão dela foi automaticamente para a nuca dele, deixando ali um leve carinho. Oliver tinha uma das mãos em sua cintura e a outra em seus cabelos. 

Um barulho na mata quebrou o contato, os dois se separaram relutantes. Oliver segurou na mão dela e quando ela lhe lançou um olhar questionador ele deu de ombros e respondeu…

—Para garantir que você não escorregue e se machuque - os dois sorriram e as mãos permaneceram unidas até chegarem ao carro.

Felicity estava extasiada! A feira de Natal não era nada do que ela havia imaginado. Tudo a encantava. Cada lojinha, cada detalhe…..o coral cantando músicas de Natal no meio da feira….as crianças correndo felizes….os casais andando de mãos dadas alheios a tudo….as famílias e suas sacolas de presentes…as luzes...as cores….

Em cada barraca havia algo diferente. Felicity parou em todas. Oliver era seu guia e seu tradutor. Comprou alguns presentes para si e para seus poucos amigos.

Depois de comprarem todos os ingredientes que Chiara encomendou, Oliver a levou em uma das barracas que serviam comidas típicas.

Sentaram em uma mesa que possuía um fogueira para aquecê-los, ficaram bem próximos um do outro pois estava muito frio.

—O que você quer pedir, Felicity? - Oliver pediu enquanto a ajudava a colocar uma luva que ela havia comprado.

—Me surpreenda! - ele sorriu - eu não sei nem falar os nomes desses pratos, quanto mais saber o que eles são.

—Ok! Vamos ver se eu acerto teu gosto. - enquanto ele saiu para fazer os pedidos ela o observou. Tão bonito, tão gentil e tão longe do que os tablóides pintam dele. A companhia dele havia alegrado seus dias, ela tinha plena consciência de que se estivesse sozinha ali ainda estaria remoendo o sofrimento por tudo o que tinha acontecido. Oliver não só tinha amenizado a dor, como tinha colocado cor em seu tão abalado mundo. E tinha o beijo...mal havia sido um beijo. Mas tinha servido para aquecer todo seu corpo e seu coração. Ela não poderia se dar ao luxo de se apaixonar. Não agora. Mas só em pensar nos lábios macios dele contra os seus, as borboletas em seu estômago iniciavam uma revoada! Será que ela já estava se apaixonando?

—Hey! aqui está! - Oliver se aproximou com o atendente da barraca que o ajudava com o pedido - Dois Vin Brulé - quando ela o olhou sem entender ele completou - vinho quente com especiarias. E duas Treccia Mochena ou tranças folhadas com marmelada, mirtilo e creme! Grazie!​ - ele agradeceu o rapaz que o ajudou.

—Ok! Confesso que estou desconfiada do vinho quente e com água na boca pela trança.

—Vamos lá! Experimente! Não tire conclusões antes de provar! - Felicity tirou as luvas e se concentrou no seu doce. assim que sentiu a mistura dos sabores ela sorriu para Oliver.

—Isso é dos deuses! Nunca comi nada igual! - quando ele abriu seu sorriso preferido seu coração deu um salto! Um alerta piscou em sua mente e a pergunta sem resposta voltou com tudo: ela poderia em tão pouco tempo estar se apaixonando por Oliver Queen?

—Agora prove o vinho! - ele ficou na expectativa, não são todos que gostam da bebida.

—Oh! Ok! Eu definitivamente amei!  - e lá estava o bendito sorriso novamente!

—Que bom! - ele pegou a mão dela que estava ao lado do prato e lhe beijou os dedos - Fico feliz por ter sido eu a te mostrar as maravilhas da feira de natal!

—Eu também - eles se olharam, um olhar que significava muitas coisas….muitos sentimentos, sem precisar de palavras. 

Oliver foi o primeiro a desviar o olhar com um meio sorriso. A intensidade de seus sentimentos o pegou desprevenido. Como era possível sentir algo tão forte em tão poucos dias? Ele nunca havia sentido uma conexão assim. E isso o assustava como o diabo! Mas ao mesmo tempo trazia uma certeza de que ele faria de tudo para que o que quer que estivesse acontecendo entre os dois não terminasse na Itália. 

Felicity tentava compreender tudo aquilo. Aquelas sensações e sentimentos que surgiam com o mais simples gesto, como um beijo casto em sua mão. Era como se o seu coração fosse explodir. Era algo que mexia com todo o seu ser e ela não estava exatamente preparada para isso. Mas...talvez e só talvez….ela iria seguir um dos conselhos loucos de sua mãe: deixe acontecer naturalmente (nota da autora: quem aqui não leu cantando não está lendo certo!!! hahahaha!!!). Poderia dar muito errado e ela poderia quebrar a cara, mas pelo menos uma vez ela iria seguir seu coração. Com Cooper era tudo muito pragmático, muito confortável. Ela nem sabia ao certo se ainda o amava. Talvez fosse por isso que a perda da empresa doeu mais que o término forçado de seu relacionamento.

Quando Oliver levantou e lhe estendeu a mão, ela a aceitou de imediato. E quando ele encaixou o braço dela no seu, os aproximando ainda mais, tudo o que ela pode fazer foi aproveitar a proximidade e o calor que emanava do corpo dele. Eles caminharam em direção a uma rua que havia ao lado da feira, essa rua estava interditada e por ela as pessoas caminhavam tranquilamente, sem se importar com a neve acumulada.

—Para onde o senhor meu guia irá me levar agora? - ela sorriu, sem entanto olhar para ele. 

Oliver pegou o sorriso e num impulso a puxou para seus braços e a girou no lugar. Felicity gargalhou e Oliver a acompanhou, feliz por ter ouvido o som do seu sorriso. Mas nesse momento ele se desequilibrou e os dois foram parar no chão. Felicity ficou embaixo dele. A situação era cômica, mas eles só conseguiam focar um ao outro. As respirações aceleradas, os corações disparados e os olhares fixos. A tensão entre os dois era palpável e lentamente seus lábios foram se aproximando, os olhos foram fechados e de repente tudo ficou mais devagar. O primeiro contato dos lábios foi lento e suave, como um roçar da brisa matinal numa manhã de verão, para logo depois se tornar um pouco mais exigente.

E assim como começou o beijo foi interrompido por uma bem lançada bola de neve! Assustados os dois olharam para a direção de onde veio a bola e se depararam com um grupo de crianças que tinham um sorriso sapeca em seus rostos.

Oliver olhou para Felicity e sorriu, ela lhe devolveu o sorriso! Olhando para as crianças, que ainda aguardavam a reação dos dois, Oliver gritou:

—Vocês sabem o que isso significa? - e quando elas negaram com a cabeça, ainda sorrindo, ele ajudou Felicity a levantar e os dois falaram juntos…

—GUERRRRAAAA!! - depois disso não se podia diferenciar quem estava se divertindo mais: as crianças ou os adultos!!

Quando eles retornaram a Villa, encharcados e tremendo de frio levaram uma bronca de Chiara, mas em compensação ganharam biscoitos com chocolate quente a beira da lareira...e quando Oliver a abraçou pelos ombros foi natural ela encostar a cabeça no ombro dele, enquanto o som da madeira queimando enchia o ambiente.

O dia 24 de dezembro chegou e trouxe com ele a neve, muita neve.

Oliver acordou muito cedo e animado, era a primeira vez em anos que ele estava empolgado com o Natal. Os natais da família Queen significavam tudo menos o que o Natal realmente significava.

Ele esperava conseguir fazer Felicity aproveitar cada minuto. Talvez os últimos resquícios de tristeza que ele ainda via nos olhos dela iriam embora depois da ceia de natal que ele e Chiara estavam preparando.

Oliver estava no mercado comprando os últimos itens para os preparativos... durante a noite ele teve uma ideia e para pô-la em prática ainda faltavam algumas coisas. 

Além disso ele ainda não havia encontrado o presente perfeito para Felicity. 

Até aquele momento! 

Ele já havia passado por todas as barracas da feira em busca do presente ideal, mas só ali naquela tendinha escondida no final da feira ele encontrou. Era um pingente com uma corrente em prata muito antigo, segundo o dono da tendinha era da época da segunda guerra.

E enquanto o feirante lhe explicava o significado do pingente ele só pode pensar que era perfeito.

 

Por favor me dê o prazer de sua companhia na ceia de Natal.

Oliver.

Felicity ainda sorria com o bilhete que havia recebido de Oliver juntamente com um café e um potinho com docinhos de mel.

Ela estava entocada na biblioteca a horas, depois que Oliver a expulsara da cozinha.

Chiara e o marido já haviam saindo para visitar os pais dele. A neve estava aumentando e a previsão de tempestade estava cada vez mais real.

Matteo havia deixado provisões de madeira para o fogão a lenha e para as lareiras. Oliver trouxe boa parte da madeira para a cozinha, somente por precaução.

E passou boa parte da tarde preparando a ceia. 

Pelas cinco horas ele foi até a biblioteca encontrar Felicity. A encontrou com o livro abandonado no colo e o olhar fixo na janela, onde se podia ver a grande quantidade de neve que caía lá fora.

—Parece que teremos a tão prevista tempestade de neve afinal…

—Oliver! - ela pôs a mão no peito devido ao susto! - Você quer me matar de susto!!??

—Jamais!! - ele fez sinal para ela lhe dar um canto na poltrona para sentar. Ela levantou a manta que cobria suas pernas e deu um lado a ele que se aproximou e a abraçou pelos ombros.

—Você não me enviou sua resposta. - ele pediu depois de alguns minutos de silêncio.

—Não é como se eu pudesse negar….- ela deu um risinho e ele correspondeu.

—Acontece que se alguém lhe envia um convite formal por escrito é conveniente que ele receba uma resposta.

Ela levantou, gargalhando, se aproximou da escrivaninha que havia no local, procurou papel e caneta.

Oliver observava curioso ela escrever algo num pedaço de papel. Mas aguardou ela lhe entregar o papel.

Lhe acompanhar será um privilégio para mim.

Aceito lhe fazer companhia na ceia de Natal.

Felicity.

Ele tinha um sorriso nos lábios quando dobrou o papel e colocou no bolso do casaco. Oliver foi até ela e pegou sua mão, lhe deu um beijo demorado nos dedos e com os olhos grudados nos dela sussurrou.

—Espero que a senhorita considere nosso jantar como um encontro.

Ela corou e sorriu.

—Até mais tarde! Lhe espero as nove na sala ao lado da sala de jogos. - Estarei lá.

Enquanto ela o via sair da biblioteca não pode deixar de rir. Aquela formalidade toda e a expectativa que ela via nos olhos dele deixava seu estômago borbulhando de ansiedade.

O vento zunia lá fora e a neve já estava acumulada ao redor da casa e nos acessos.

Provavelmente eles estariam isolados antes da meia noite. Oliver estava preocupado, mas pelo menos o telefone rural que havia na Villa estava carregado e ainda havia energia….ou não! Assim que ele terminou o pensamento um estalo anunciou a queda da energia. 

Eram oito horas, ele teria tempo para adaptar o local para o jantar. Mas antes de mais nada ele foi até o quarto de Felicity com velas e uma lanterna de querosene.

—Oi! Você está bem? - ele perguntou assim que ela abriu a porta.

—Um pouco assustada...nunca vi e nem estive em uma tempestade de neve! - ele a abraçou e lhe fez um carinho nas costas.

—Não se preocupe...a casa foi feita para essas condições. Além disso, se não temos energia temos isso - e ele lhe entregou a lanterna.

—Ok!  Não sei bem como funciona, mas ok!  - Oliver riu e a provocou.

—Não se preocupe, garota da cidade! Estou aqui para garantir que você sobreviva a lanterna de querosene!! - ela lhe deu um tapa no braço.

—Bobo! - e sacudindo as mãos ela lhe mandou sair.

—Oh, certo senhor desbravador! Agora eu preciso me arrumar, afinal tenho um compromisso mais tarde e não quero me atrasar.

Oliver piscou para ela e saiu. Felicity pegou a tal lanterna e colocou em cima da penteadeira do quarto onde ela iluminava todo o quarto. 

Faltavam alguns minutos para as nove e Oliver a esperava ansioso na entrada da sala.

Quando ela surgiu no corredor ele ficou extasiado. Ela vestia um vestido vermelho justo até a cintura, abrindo numa saia longa leve. Seu cabelo estava solto e uma leve maquiagem cobria seu rosto perfeito. Com a lanterna na mão ela parecia uma visão. Algo etéreo…

De repente ele ficou nervoso, como se algo importante fosse acontecer...algo que mudaria dia vida...e quando ela parou na sua frente e sorriu ele se deu conta do porque.

Ele havia se apaixonado por ela!

Simples e irremediavelmente!

Em pouco tempo ela tomou conta de seu coração.

Sua força para se manter em pé mesmo depois de tudo o que ela passou o deixava impressionado. Sua alegria e sua espontaneidade o encantavam. 

Seu sorriso o hipnotizava e a doçura de seus lábios o deixavam com o coração batendo descompassado.

Não havia retorno. 

O reconhecimento o fez engolir em seco. Ele estaria preparado para entregar seu coração a ela? Mesmo correndo o grande risco de ser rejeitado?

Enquanto caminhava em sua direção Felicity experimentou uma série de sentimentos.

Ele estava tão lindo, parado naquela porta esperando por ela. Seu coração falhou uma batida e de repente respirar se tornou mais pesado. Suas mãos suavam de antecipação e seus olhos não conseguiam desviar daquele homem que a esperava.

Seu sorriso era como um planeta que a puxava para sua órbita. Seus olhos, aquela imensidão azul a fazia pensar em dias de sol, paz e tranquilidade.

Ele estava bonito num terno, sem gravata, azul marinho e ela pensou em quão sortuda ela era. 

Depois de tudo o que ela passou, vir a Itália e encontrar pessoas maravilhosas e que lhe deram motivos para seguir em frente...que lhe deram carinho e compreensão havia sido maravilhoso.

Oliver lhe devolveu os sorrisos bobos e as gargalhadas espontâneas. Lhe devolveu a alegria e lhe deu esperanças.

E quando, por um momento, ela pensou que seu tempo ali logo acabaria uma dor trespassou seu peito e ela se deu conta de que não iria embora sem deixar seu coração ali, na belíssima Villa às margens do Lago de Como.

Porque enquanto caminhava na direção de Oliver ela percebeu o quão apaixonada por ele ela estava.

Quando ela parou em sua frente, a mão que segurava a lanterna tremia um pouco. A constatação de que seu coração era irremediavelmente dele a abalou momentaneamente.

Mas quando ele sorriu e lhe estendeu a mão, que ela aceitou de pronto, foi como chegar em casa.

—Senhorita! - ele deu um beijo em seus dedos antes de puxá-la para si, para que ficassem mais perto um do outro e ele pudesse ver as pequenas nuances de dourado que os olhos dela tinham misturadas com o azul.

—Estamos formais novamente! - ela não resistiu e levantou a mão lhe acariciando a barba por fazer. Oliver fechou os olhos e apreciou o toque. 

Mais confiante, devido ao pequeno gesto dela, ele a abraçou pela cintura encostando seu queixo na curva do pescoço dela. 

Felicity se deixou abraçar, aproveitando a proximidade. Ela pode sentir o perfume amadeirado que ele usava, ao mesmo tempo em que podia sentir o coração dele tão descompassado como o dela.

Ao se separarem, não soltaram o abraço e suas testas se encontraram. Palavras não precisaram ser ditas. Cada um sabia o que se passava no coração do outro.

Mas antes deles falarem sobre seus sentimentos, eles iriam jantar e comemorar o Natal.

E quando Felicity achou que nada mais a surpreenderia….

Toda a sala estava tomada por velas de diversos tamanhos e formatos. Sua luz flutuava ao redor do ambiente. Era mágico!

Havia uma mesa com as comidas na lateral da sala e mais uma mesa baixinha na frente da lareira, que estava acesa. O ambiente estava aconchegante e quentinho.

Na mesa em frente a lareira, a mesa estava posta. Almofadas serviam de cadeiras e haviam mantas colocadas próximas à mesa.

Ela não tinha palavras pra descrever o que ela via. 

Ninguém nunca havia se dedicado tanto para ela. 

E quando ela olhou novamente para ele, tinha lágrimas de alegria em seus olhos.

Ela procurou e encontrou uma pequena árvore de natal num dos cantos da sala, decorada nas cores vermelho e dourado. Foi até lá e depositou o pequeno pacote que tirou do bolso lateral de seu vestido. Sorrindo viu que ali havia uma pequena caixinha embrulhada num papel dourado com uma pequena fita vermelha. 

Olhar percorreu a sala mais um vez e a emoção tomou conta de seu peito mais uma vez.

Oliver estendeu a mão para ela que aceitou sem pestanejar. Ele a guiou para a mesa em frente a lareira e a fez se acomodar.

—Vinho? - e quando ela concordou ele serviu sua taça e a dele - não sei se a comida ficou igual a de Chiara, mas eu segui as instruções dela! - Tenho certeza que sim! A aparência está fantástica!

Eles jantaram praticamente em silêncio, somente aproveitando a companhia um do outro.

Quando terminaram ela ajudou Oliver e tirar os pratos. E de repente uma melodia suave preencheu o ambiente.

—Será que antes da sobremesa você dança comigo?

—Claro que sim! Mas devo avisar que tenho dois pés esquerdos. - Ele lhe sorriu, estendeu a mão e a puxou para seus braços.

A dança era nada mais que um balançar suave. Os olhos estavam fixos um no outro e foi natural quando ele baixou seus lábios na direção dos dela. E no momento em que eles se tocaram uma corrente elétrica percorreu os dois.

A sensação de pertencimento estava ali novamente. O calor preenchendo o peito e se espalhando pelo corpo como luzes de natal. Eles estavam em casa. Haviam encontrado seu lar um no outro.

E isso os assustava ao mesmo tempo que uma paz tomava conta deles.

O beijo foi interrompido somente quando o ar se fez necessário. eles continuaram a dançar presos no olhar um do outro.

Quando a música terminou Oliver a abraçou e lhe deu um beijos nos cabelos.

—Vamos comer a sobremesa e depois abrir os presentes!! Já é quase meia noite.

—Eu não poderia estar mais de acordo!

Oliver serviu o Struffoli​ com café e enquanto degustavam os deliciosos bolinhos com mel, mesmo com receio do futuro, alguns planos foram traçados.

—Eu falei sério quando falei que te ajudaria a reaver a empresa. 

—Ainda não decidi o que fazer sobre isso. Mas vou aceitar ajuda. De alguma maneira ele tem que pagar pelo que ele fez, não posso deixar que ele sai impune. E nem estou falando da traição, porque isso foi o que menos me abalou.

—Pense com calma e quando decidir eu estarei com você.

—Obrigada! Mas será que agora a gente pode abrir os tais presentes? Não costumo ser muito paciente quando o assunto são presentes…. - Oliver gargalhou e rendeu ao sorriso que ela lhe deu.

—Ok! Senhorita apressadinha. Ainda não é meia noite mas vou fazer uma exceção!

—Oba!! - Ela lhe sorriu e num impulso ele lhe beijou os lábios num selinho rápido.

Eles foram até a árvore, pegaram seus pacotes e voltaram para a frente da lareira.

Felicity estava ansiosa para ver a reação de Oliver quando visse o que ela havia comprado para ele. Ela tinha voltado a feira no dia seguinte ao que eles tinham ido, com Chiara servindo de guia. Ela havia levado Felicity numa tendinha ao final da feira onde um simpático feirante lhe mostrou várias preciosidades. O que a fez decidir pelo presente fora a inscrição e a história da peça.

—Certo, eu primeiro! - Oliver anunciou entusiasmado lhe estendendo a pequena caixinha.

Felicity pegou a caixinha com um sorriso no rosto. Quando ela abriu o embrulho viu ali uma corrente de prata bem antiga com um pingente em forma de flor.

—É lindo, Oliver!  - ela virou a flor e ali havia uma pequena inscrição em italiano.

 

Il mio cuore é tuo

O meu coração é seu  

—O feirante me falou que pertencia a uma dama cujo amor foi para a segunda guerra e lhe deixou o colar como promessa de retorno. A flor é uma Stella Alpina, ela só nasce no mais alto dos Alpes Italianos e alemães...é uma flor com um significado bastante forte.

Felicity tinha lágrimas nos olhos. Oliver pegou a peça das mãos dela e fez sinal para ela virar para que ele pudesse colocá-la em seu pescoço. Ao terminar ele depositou um beijo onde o colar tocava a pele em sua nuca. Ela ainda olhava extasiada para a flor…

 

 

—Obrigada!! Eu amei! - ele secou uma das lágrimas que corriam por seu rosto e lhe beijou suavemente. Ela correspondeu e por um momento se perderam um no outro. Quando o ar se fez necessário eles interromperam o beijo e sorriram.

—Oh! Certo! Minha vez! - ela estendeu o pacote para ele que abriu rapidamente.

Era uma bússola antiga que tinha uma inscrição na tampa.

 

Possa tu trovare sempre la strada per il mio cuore.

Que você sempre encontre o caminho para o meu coração.

—O feirante me disse que foi presente de uma dama a seu amor quando ele foi à guerra. E me parece que ele encontrou seu caminho de volta… - ela se referiu as histórias dos seus presentes serem parecidas.

—Eu acredito que sim, assim como eu sempre vou encontrar. - Ele a fez sentar-se em seu colo - Obrigado! Vou mantê-la sempre comigo. - e como as palavras não eram mais necessárias ele a beijou. 

O beijo que iniciou calmo foi se tornando ávido a medida que as mãos exploravam um ao outro e os suspiros tomavam conta do ambiente.

Quando ele a deitou em cima das almofadas em frente a lareira e amou com todo seu coração e sua alma, um só desejo passava por sua mente: de que aquela noite não fosse a ultima que eles passavam juntos.

Felicity o amou e se deixou ser amada. Ela nunca sentira nada parecido e seus pensamentos desejavam que aquele sentimento permanecesse e que eles pudessem estar juntos por muito tempo.

Adormeceram abraçados e quando a luz da manhã os encontrou eles ainda estavam enroscados um no outro.

Oliver foi o primeiro a acordar, e como no primeiro dia, foi aos poucos se dando conta do corpo feminino enroscado ao seu. Um sorriso tomou conta de seu lábios. Nem nos seus melhores sonhos ele poderia ter imaginado encontrar alguém como Felicity. Ela trouxera à luz de volta a sua vida. Ela era a sua bússola.

Ele levantou com cuidado para não acordá-la e saiu para fazer o café da manhã. Antes resolveu ver os estragos que a nevasca havia feito. Ele nem conseguiu abrir a porta da cozinha, havia muita neve acumulada. Tentou a porta principal e obteve o mesmo resultado, ou seja eles estavam presos na casa até a ajuda ou os Negrinis voltarem, o que só aconteceria no dia seguinte.

A sorte é que eles estavam com a dispensa cheia e tinham lenha de sobra. Ele estava olhando distraído pela janela da cozinha, enquanto esperava as panquecas ficarem prontas, quando sentiu o perfume dela e logo depois seus braços o envolveram pela cintura.

—Buon giorno!​ - Felicity arriscou em italiano.

—Buon giorno! - ​ele a virou em seus braços e lhe beijou.

—Como estão as coisa lá fora? - ela pegou um pedaço de uma panqueca que já estava pronta - estou faminta!

—Não consegui sair. A neve acumulou em todas as portas de acesso. Eu até poderia tentar alguma das janelas mas de nada adiantaria já que provavelmente o pátio está todo coberto de neve e as estradas também.

—Huumm….então quer dizer que eu estou presa aqui com você pelo menos pelos próximos dois dias? - quando ele assentiu com a cabeça ela colocou um dos braços na testa e fez cara de drama - Oh! Não sei se suportarei!! 

Eles gargalharam juntos e ele a puxou para mais um beijo rápido.

Tomaram café na cozinha mesmo e depois foram assistir uma nova série juntos. Por sorte a energia já havia sido restabelecida. 

O dia passou tranquilo, voltou a nevar e por um momento ficaram preocupados. No final do dia conseguiram falar com Matteo que garantiu que no dia seguinte conseguiriam retornar e limpar os acessos a Villa.

Oliver preparou o jantar com as sobras da ceia. Eles jantaram na sala do dia anterior e novamente dormiram ali, a luz de velas e com o calor e aconchego da lareira.

Na manhã seguinte eles acordaram com o barulho limpa neve trabalhando e com os ruídos característicos de Chiara na cozinha.

Eles estavam conversando animadamente com Chiara e Matteo quando o celular de Felicity começou a tocar. Era Walter, com uma proposta de trabalho na Palmer Tech como vice presidente do Depto de TI. Com salário compatível e possibilidade de crescimento. Era uma ótima proposta e ela teria dois dias para decidir. Teria que estar em Central City antes do ano novo para logo no segundo dia do ano partir para Londres, onde seria a filial nova da Palmer.

Pediu licença e foi para a área da piscina pensar. Oliver lhe deu espaço. Ele sabia que a perda da empresa e a possibilidade de não recuperá-la abalavam Felicity mais do que ela deixava transparecer. Mudar-se de cidade e começar em um emprego novo poderia ser tudo o que ela precisava para se recuperar. 

Mesmo que isso significasse que eles teriam que se separar. 

Duas horas depois ele foi chamá-la para o almoço, mas não a encontrou. Procurou pelo pátio e ela não estava em lugar algum. 

—Matteo, você viu Felicity? - ele pediu ao amigo assim que o viu saindo do pequeno celeiro atrás da casa.

—Não, garoto. Não a vi….mas avistei pegadas próximas a estrada do lago. - Ok! Obrigado!

Ele a encontrou nas margens do lago, sentada em um dos bancos ali localizados. Ele sabia que ela estaria com frio, por isso tinha levado uma manta e uma garrafa térmica com café.

—Hey! - lhe estendeu a manta e sentou ao seu lado. - Tudo bem?

—Sim - lhe dando um sorriso fraco - muita coisa na mente.

—A proposta de emprego?

—Sim… - eles ficaram em silêncio por um tempo. E foi Oliver que o quebrou.

—Eu acredito que você tem que aceitar! É uma boa proposta, um bom salário...além disso você não precisaria se preocupar com as contas e tudo mais. Além disso você teria mais tempo para tentar conseguir sua empresa de volta.

—Eu sei de tudo isso, mas e… - ele exitou.

—E nós? - ela assentiu - Londres está a uma ponte aérea. Podemos revezar nas visitas…

—Você sabe que na prática não é assim que funciona….você tem reuniões, viagens, tua família e eu vou estar no meio do furacão que é a abertura de uma filial nova em outro país. 

Ele pegou as mãos dela nas suas, lhe puxou para um beijo demorado.

—Eu não quero que você tome sua decisão por minha causa. Quero que você decida por si só. Eu não poderia aguentar ver em seus olhos o arrependimento por ter deixado passar uma oportunidade dessas. Eu sei que qualquer pessoa na tua área mataria por uma vaga dessas. Então eu quero que você decida pensando somente em você, ok?

—Ok! - ela respondeu com lágrimas nos olhos e o abraçou com força.

O dia seguinte a encontrou com metade das malas feitas. Ela havia decidido aceitar a vaga. Conseguiu adiantar a passagem e já avisara Walter de sua decisão. Ela iria direto para Central e depois de organizar sua vida iria para Londres com Barry Allen, o presidente do setor de TI.

Quando Oliver bateu na porta de seu quarto, ela ainda chorava.

Mesmo com a decisão tomada, não estava sendo fácil. Eles provavelmente nunca mais se veriam. A dor em seu peito era enorme. E por várias vezes ela pensou em desistir.

—Hey! - quando ele viu o rastro do choro em seu rosto, segurou as próprias lágrimas. Não tornaria tudo mais difícil para ela - eu vou te levar no aeroporto.

—Eu já pedi para Matteo. Será mais fácil assim.

—Certo - ele colocou as mãos nos bolsos e a observou fechar a última mala.

—Pelo menos tome um café comigo. - ele tinha o coração em pedaços, justamente agora que havia aberto seu coração.

—Claro - ela estendeu a mão para ele que aceitou, seguindo para a cozinha.

Tomaram o café curtindo o silêncio. Ele tinha a mão em sua perna e ela lhe fazia carinhos ocasionais no rosto.

Quando Matteo veio chamá-la para irem ao aeroporto, ela o seguiu para o pátio. Oliver foi logo atrás. As despedidas foram breves, Chiara chorava baixinho e Felicity a abraçou como se estivesse se despedindo de uma irmã.

Oliver lhe abraçou e lhe deu um beijo cheio de saudades. Cheirou seu cabelo e se permitiu permanecer no abraço por alguns minutos. Felicity guardou cada momento, cada detalhe. Ela pegou o rosto amado com as mãos e gravou cada detalhe. Desde o sorriso travesso até a imensidão azul de seus olhos.

Eles se beijaram novamente e novamente….e quando ela partiu ele a chamou novamente para lhe dar mais um beijo e lhe dizer uma última palavra.

—Nunca se esqueça disso - ele apontou para a Stella Alpina que repousava em seu peito. Lágrimas vieram novamente aos olhos dela que procurou no bolso dele a bússola.

—E você não se esqueça de usá-la! - ela lhe deu mais um sorriso e um beijo rápido nos lábios e entrou no carro.

O caminho de acesso a Villa ainda estava parcialmente coberto de neve, então Matteo tinha que guiar com cuidado e mais lentamente que o normal.

Ele olhou no retrovisor e a viu ainda secando as lágrimas.

—Sabe, essa flor do seu pingente tem uma história interessante. - Ela o olhou com curiosidade e ele continuou - Era comum os homens subirem aos Alpes para procurar uma flor para presentear as mulheres amadas. Essa flor só nasce no alto dos Alpes, em locais de difícil acesso. Muitos deles pereceram no caminho, mas os que conseguiam voltar davam a suas amadas o símbolo de amor eterno. É isso que essa flor significa, amor eterno. 

Felicity chorara durante o relato, mas agora seus olhos estavam secos e ela tinha um semblante decidido.

—Por favor, Matteo de a volta! - seu coração batia descompassado e sua respiração estava acelerada.

—Não há como dar a volta, eu teria que voltar de ré, a estrada é muito estreita.

—OK! Leve minhas malas de volta, eu vou a pé. - e Matteo olhou espantado a loira sair do carro e correr em direção a casa. Por sorte ele andara quase parando e eles não haviam se afastado mais do que cinquenta metros. Afinal ele era um romântico incurável e seu coração não poderia ver seu amigo se separar tão precocemente do amor de sua vida!

Felicity correu como nunca em sua vida e agradeceu aos deuses da informática por não terem se afastado muito da Villa.

Quando chegou ao pátio procurou por Oliver e não o encontrou em lugar nenhum. Ela parou em frente a piscina lembrando do primeiro café que tomaram juntos.

—Ele foi para a cachoeira! Você sabe onde fica? - Chiara já jogava a chaves de seu Cinquecento para Felicity que gritava um eu sei e obrigada!

Felicity desafiou todas as leis de trânsito enquanto guiava o pequeno carro na máxima velocidade que as estradas permitiam.

Ela saltou do carro logo depois de ligar o alerta e trancá-lo. Viu o carro alugado de Oliver logo a frente. Felicity se aproximou com cuidado e quando chegou na clareira da cachoeira o viu em pé, nas margens do pequeno lago congelado.

Oliver estava desolado. Sabia que partir seria o melhor para ela. Sua carreira iria progredir e ela teria o tão merecido sucesso que lhe foi roubado. 

Então porque doía tanto? Mesmo sendo o certo…

Ele só se deu conta que havia mais alguém ali quando ouviu o barulho de um galho quebrando.

Nada o havia preparado para a visão de Felicity parada na sua frente, o rosto vermelho pelo frio, os cabelos desalinhados pelo vento e a respiração acelerada.

Seu peito se encheu de amor. A esperança tomou conta de suas entranhas e ele pode respirar normalmente pela primeira vez desde que ela foi embora.

Ele correu para ela e ela correu em sua direção. Oliver a encontrou na metade do caminho a abraçou e a girou no ar. Quando ele a pousou no chão suas bocas foram uma ao encontro da outra e num beijo faminto de amor e saudade. O ar se fez necessário. Eles sorriram.

—Você voltou? - ele a olhou confuso e pegou seu rosto entre suas mãos - você está aqui mesmo?

—Sim...voltei!

—Mas e o emprego? E seu voo? E… - ela cobriu os lábios dele com o indicador.

—Eu amo você! - pronto! Ela havia dito o que estava pulsando em seu peito. Oliver abriu o seu sorriso, aquele que ela amava.

—Eu amo você, Felicity! 

—Eu sei - e tocou o pingente - Matteo me contou uma história muito linda….sobre amor eterno…. - ele sorriu encabulado. Ela acariciou a barba por fazer e lhe beijou novamente!

Horas mais tarde eles ainda estavam a beira da cachoeira, sentados no banco à beira do lago. Oliver havia buscado na cabana um cobertor e eles estavam aconchegados um no outro.

—E agora? - ele pediu enquanto brincava com os dedos dela - Como vai ser? Digo com o emprego.

—Eu vou enviar um email para o Sr. Palmer recusando a oferta e me desculpando. Depois voltamos a Star e se não estou enganada alguém prometeu me ajudar a ferrar com o Cooper. - ela sorriu sapeca e ele gargalhou.

—Certo, eu posso com o maior prazer te ajudar a acabar com a vida daquele fuinha, mas e depois….

—Depois...não sei…. - ela tinha pensado em algumas possibilidades antes de receber a proposta da Palmer. Poderia muito bem botar algumas delas em prática. - a única coisa que eu tenho certeza é que seja qual for meu futuro eu quero estar com você ao meu lado. 

Oliver sorriu abertamente, virou seu corpo para o dela e a puxou para o seu colo. pegou seu rosto entre as mãos e antes de beijá-la com todo o seu amor ele sussurrou.

—Não há outro lugar no mundo no qual eu queria estar. Estar ao seu lado é um bom plano pra mim!

E foi ali, numa Villa da Itália, que dois corações foram curados pelo amor numa noite de Natal!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

É isso!!
Espero que tenha enchido o coração de vocês com o espirito de Natal!!
Obrigada a todas que nos acompanharam aqui durante essa semana natalina. Saibam que estamos muito felizes e esperamos que vocês tenham curtido a experiência assim como nós!!
Eu desejo a todos um Natal cheio de paz e luz!!
Beijos no coração!
E um 2020 maravilhoso!!
P.S: não esqueçam de comentar!
E recomendações são bem vindas!!