O Mistério de Vesta escrita por Sir Death


Capítulo 3
Capítulo I


Notas iniciais do capítulo

Como eu disse, esse é o primeiro capítulo propriamente dito.
Boa leitura a todos.



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— Esqueçam, apenas continuem… — O deus dos Infernos desconversou voltando a se sentar ao lado de Pallás, sua companheira de… sua companheira de reuniões, eu acho, esse cara é um mistério até para mim. Aproximou-se do pescoço da dama e lhe cheirou o local, causando um gostoso arrepio e dessa posição, desviou o olhar de volta para a garota que lhe encarara diretamente os olhos negros, “Não se lembrará de nada, minha criança…”

—… Vesta! — Uma voz extremamente irritada a chamava de volta a realidade, ela o olhou desentendida por alguns instantes enquanto este continuava suas reclamações — O que diabos você crê ser para julgar os mandos divinos? —, dando poderosos socos na mesa, esta que resistia como podia, mas eram visíveis as pequenas rachaduras que brotavam em sua superfície — Nós somos deuses, os arquitetos do destino, você acha que algum juízo de valor de um mero mortal faz algum sentido para nós? — e então Vesta se deu conta de si, estava de volta ao salão de reuniões do palácio celeste e isso a assustou, as lembranças de como chegaram ali começaram a voltar e uma ira inconsciente tomou forma em sua mente.

— Ainda assim… — Ela balbuciou olhando ferozmente o rosto de Apóllōn, mas ele já não estava mais em sua cadeira — Acho que deveria… —, antes que pudesse terminar sua frase, viu-se erguida a um metro e meio do chão, a mão forte do deus lhe segurava pelo pescoço e o apertava, impedindo a passagem de ar, fora calada, mas ainda podia caçar seu olhos, apenas para ver o que talvez desejasse não ter visto, o acúmulo de gás carbônico em seus pulmões a fez agarrar a mão que a sustentava e se debater em vão.

— Você é só uma mulher, uma mortal. — Falou com desdém e então a abaixou até ficar cara a cara com ela, apenas para gritar — Ponha-se no seu lugar, insolente! Você não acha nada! — ele afrouxou o punho fazendo o ar entrar rasgando a garganta da garota, queimando a carne e preenchendo seus pulmões com um gosto de raiva e angústia, medo e desprezo, seu sangue quase fervia em fúria. Em um movimento bruto, o deus dos deuses a arremessou para o lado oposto do salão, seu corpo chocou-se contra uma pilastra e tombou ao chão imóvel, por algum milagre sobrevivera, mas não sabia de quem. Quando conseguiu erguer a cabeça, pode ver seu marido a encarando — Vá para o seu quarto e é melhor rezar para que meu humor melhore até o fim da reunião, caso contrário… —, e como um grande clichê, resolveu não terminar a frase, apenas esperou a garota se retirar, encolhida e chorosa, do recinto.

Fez-se silêncio mortal.

Por alguns segundos apenas, já que uma das deusas o rompeu abruptamente com uma crise de risos, ela levava uma das à barriga e a outra esmurrava a mesa involuntariamente, os demais deuses a encaravam perplexos, esperando a reação de Apóllōn que vinha caminhando calmamente até sua cadeira na cabeceira — Já chega, Pallás… —, ordenou coçando a nuca, mas a deusa parecia não ouvir, ou pelo menos fingiu não ouvir, de toda forma, aquilo o irritou novamente e lá se foi a mesa ter que resistir a mais um de seus socos — Pallás, eu disse que já chega! —, mas foi só quando Hêlêl lhe tocou o ombro, provocando um forte calafrio em todo seu corpo, que a palhaça conseguiu conter suas risadas.

— Tudo bem, tudo bem, desculpem-me… — Começou, ainda recuperando o fôlego — É só que a vida do deus dos deuses parece ser bem complicada… —, falava com toda a ironia que só alguns à mesa ousavam usar com Apóllōn, o que não o ajudava nem um pouco a recuperar a compostura — Mas também, quem mandou ficar criando esses mortais como bichinhos de estimação? —. 

— Não acha que já falou demais? — O deus dos Infernos vinha novamente lhe aconselhar. 

— Vocês são muito chatos, sabia? — Cochichou de volta. — Aliás, você anda mimando muito o Apóllōn, por que protegeu a mortal? — Perguntou com muita curiosidade, mas não obteve uma resposta decente, apenas um dar de ombros misterioso — Está bem, fica aí com seus segredinhos, fingindo escrever certo por linhas tortas, no fim só não quer admitir que não tem coordenação motora. —, o que a fez se encolher aborrecida, voltando a prestar atenção às palavras do chefe, desculpava-se pela indisciplina de Vesta e todas essas mentiras que a etiqueta manda usar e que, no fim, só deixavam Pallás ainda mais entediada — Vamos logo, Apóllōn, ninguém quer perder tempo com essas desculpinhas, poupe-se, poupe-nos, nem você gosta disso mesmo… Todos só querem que essa reunião acabe logo. — e, então, um olhar torto a fez calar-se novamente, deixando o deus continuar com suas explicações. 

— Ainda não entendo o vosso plano, meu lorde… — Pronunciou-se Yeshua inquieto em sua cadeira — Um sacrifício do nosso lado? Mesmo sendo de um mortal, normalmente são eles que sacrificam algo em troca de nossos favores, eu não entendo como isso seria um presente. —, gesticulava amplamente fazendo suas vestes frouxas tremularem no ar.

— O sacrifício ainda é mortal, querido — A voz irritante de Abella, a filha caçula de Apóllōn, invadiu o salão irritando muitos deuses, especialmente Pallás, que não tinha qualquer afinidade com a deusa mimada —, é apenas um soldado impuro, nem para ser um nascido puro ele serviu, por que tanta compaixão com esse… qual o nome dele mesmo? —, destilava toda sua personalidade sem filtros.

— De forma alguma, minha deusa — a forma como Yeshua se referia à sua noiva era um prato cheio para a palhaça reforçar sua teoria de que essa encenação toda não passava de casamento arranjado para que Apóllōn permanecesse no poder mesmo longe do torno —, um mortal é sempre um mortal, o que estou querendo dizer é… — e antes que pudesse completar seus pensamentos, fora interrompido. 

— Acalmem-se, meus filhos, todos sabem como eu adoro imolações, qualquer que seja, eu não me importo… — Claramente seu humor estava melhorando, já não gritava, muito pelo contrário, possuía até certa malícia em sua voz — Além do mais, eu entendi seu ponto, Animus é um excelente combatente, se eu apenas o matasse estaria perdendo uma preciosidade em troca de nada. —.

— Poderia então deixar os termos mais claros? — Yeshua parecia ainda mais inquieto em sua pergunta. Pallás, por outro lado, vendo a conversa tomar um rumo mais interessante, endireitou-se na cadeira e inclinou o corpo sobre a mesa, o queixo apoiado sobre as mãos e os cotovelos sobre a mesa, enquanto Hêlêl observava tudo por cima de sua cabeça. Alguns outros deuses pareciam igualmente atentos, ao ponto de darem uma pausa em suas conversas paralelas.

— Há tempos percebo que minha… — Gaguejou — digo, a nossa popularidade entre os humanos anda um tanto baixa, eles não parecem mais nos temer. —.

— É culpa dessa tal ciência que eles desenvolveram, como se eles pudessem saber de qualquer coisa por conta própria… — E então todos voltaram-se para Pallás.

— Quê? Eu não fiz nada, tô quieta há mais de dois milênios…

— Mas foi seu experimento idiota que começou tudo isso, instigar o pensamento livre nos humanos, tudo é culpa sua Pallás! — Yeshua estava particularmente enfático em sua colocação, apontando o dedo para o rosto da deusa. 

— Ah… verdade… — Deu de ombros com calma e continuou com displicência — Bem, não é culpa minha se algumas dezenas de deuses não conseguiram, ao longo de todo esse tempo, eliminar o pensamento livre, algo tão simples… —, então voltou a escorar as costas na cadeira, cruzando as pernas sobre a mesa — Por outro lado deve ser complicado para vocês, alguns humanos já devem ser pelo menos tão inteligentes do que você —, apontou para o acusador — e todos são definitivamente mais espertos que essa pirralha… — e finalizou numa troca de olhares com a noiva irritante.

— Para a sua informação eu quase consegui isso! — Berrou Yeshua e logo foi replicado com um “quase” tão irônico quanto poderia ser. — De toda forma, você nem deveria estar falando algo, sua deusa impotente, você só quer espalhar a discórdia entre nós! 

— Já chega dessa discussão sem fim! — E lá se foi uma lasca da mesa no terceiro golpe de Apóllōn — Pallás, você não foi chamada aqui para ofender os demais deuses, muito menos o meu futuro sucessor e minha filha querida… — sua voz era imponente e ninguém conseguia contestar seu discurso nesse tom — E falando nisso, Yeshua, se deseja mesmo ocupar o meu posto no futuro, é melhor agir à altura do cargo, não posso aceitar alguém tão imaturo sentando na minha cadeira! —. Então fez uma breve pausa para respirar, foi o momento que todos tiveram para relaxar, antes que continuasse o assunto que havia começado. — Como dizia, os humanos já não nos temem, por tanto, mandaremos a morte devastar seus mundos e assim fazê-los perceber sua própria fragilidade, no entanto, um enviado dos céus, Yeshua encarnado, levará a raça humana, no caso os arianos e seus aliados, a um novo apogeu, dessa vez um apogeu religioso, reafirmando o pensamento teocêntrico pseudo-politeísta cristão radical.

“Até que o plano não é tão ruim…” Pensava Pallás quietinha em seu canto, recebendo um cafuné de Hêlêl “É surpreendente até, talvez todo aquele papo de ‘profecia’ e ‘reestruturação do firmamento’ não era só propaganda para se manter no poder incontestável” — O que pensa sobre isso, querido? —, comentou com seu companheiro, mas este apenas deu de ombros novamente “De toda forma eu estou curiosa é para saber como o Dumuzi vai reagir, será que ele percebeu as consequências óbvias?”, voltou-se então a se escorar na mesa com entusiasmo, procurando o deus avarento.

— Apóllōn, seu traidor! Como ousa fazer isso comigo?

— Desenvolva argumentos, Dumuzi… — A calma daquela reação chocou Pallás por alguns segundos, até perceber o sorriso malicioso de canto de boca no lorde dos lordes, e soube que a situação ficaria ainda mais divertida em breve. — O que faz você me interromper e bramir blasfêmias contra mim?

— O que eu digo é apenas a mais pura verdade, é embasado em fatos! — começou o deus endireitando-se — É de conhecimento geral que os arianos anseiam por apenas duas coisas: pela dominação mundial e, sobretudo, por eliminar meu povo. Eles tentam justificar a chacina alegando motivos lógicos, políticos, econômicos e sociais, mas não negam querer eliminar todos. —, ganhava confiança a cada palavra sem interrupção, ao ponto de pôr-se de pé para discursar com mais autoridade, andando de um lado para o outro — Acontece que o meu povo também é protegido pela divina intervenção, aliás, é também um dos mais religiosos entre os humanos, um dos poucos que ainda restam nesses mundos céticos, ainda assim, vem sofrendo constantes ataques, sinto quase como se fosse um ataque direto a mim… —, então, no ápice da sua confiança, encarou Apóllōn diretamente, sem hesitar — Até agora eu fiz vista grossa a tudo isso, mas esta última interferência está pondo a extinção do meu povo em cheque,  o que quebra totalmente nossos acordos, Apóllōn… —, enquanto isso, poucos eram os que conseguiam perceber a ira crescendo silenciosamente no outro deus. — É lógico que aceitarei sua retratação, afinal tudo isso não passa de um pequeno descuido de vossa parte, correto?

— Se prepara, Hêlêl... — a palhaça cochichou para o diabo.

— Entendo — começou, Pallás tentava ao máximo controlar a vontade de gargalhar, não queria estragar o evento —. Realmente, seu povo é o alvo primário dos arianos, eles também vêm sofrendo vários pequenos ataques ao longo da história e nós temos aquele velho acordo… —, a pausa e a respiração profunda indicaram que era o momento — QUE SEJA! Você é muito ingênuo, Dumuzi! Há quanto tempo você me conhece? Desde a época de Bahamut? Há bastante tempo com toda a certeza… ainda assim não aprendeu nada! NADA! Alianças não são eternas, Dumuzi, elas vão se fragilizando com o tempo, com os desentendimentos, com as falhas… —. A essa altura ele já estava de pé, com o dedo pressionando o peito do outro, sua ira e arrogância transformaram a confiança do coitado em medo puro. — E você vem falhando comigo há quatro milênios! QUATRO MIL ANOS! Dumuzi, você consegue imaginar? Toda aquela sua promessa de que sua maneira de administrar os mortais era a mais eficiente… BESTEIRA! Por Rá, tudo o que você fez só piorou, além de criar dezenas de seitas que nos veneram erroneamente e de nada nos servem, ainda tornou mais difícil a prática correta do culto aos mortais que conhecem as verdadeiras tradições! Você tem sorte de ainda estar respirando!

— Está ameaçando um deus, Apóllōn? — Foi tudo o que Dumuzi conseguiu verbalizar entre seus espasmos de medo.

— E se estiver? Alguém aqui tentar me impedir?

“Ha! Cheque! Quem ousaria levantar a voz contra ele agora? Abella? Hum… não. Yeshua? Aquele boçal deve estar é querendo matar o pobre coitado também… Dumuzi? Ha! Definitivamente deve estar todo borrado agora, não tem mais culhão nenhum…” — Vai fazer alguma coisa, Hêlêl? — Pallás analisava a situação com afinco, mas quando procurou seu parceiro, este estava rindo silenciosamente, o que foi a gota d’água para ela, suas risadas estridentes transbordaram e tomaram conta do ambiente inteiro, fazendo até Apóllōn perder a concentração.

— PALLÁS! Eu não vou mandar você calar essa sua maldita voz de novo, você quer ser a próxima?

— A próxima a que, meu bem? Vai me matar também? Não acho que tenha a coragem… — então Hêlêl ficou de pé atrás dela, rindo ainda. — Querido, você permitiria ele tocar em mim? — Completou olhando para cima.

—  De forma alguma, minha dama, eu nunca permitiria que qualquer um, além de mim, cometa qualquer barbárie contra você. — Hêlêl finalmente resolveu se posicionar — Agora vejamos… Por que não completa sua frase, Apóllōn?

— Não interfira nos meus assuntos, Hêlêl!

Silêncio total enquanto os dois se encaravam, um em ira, o outro apático. Todos os outros não sabiam exatamente como reagir, poucos eram os que ainda lembravam da última discussão deles, Pallás estava nesse grupo seleto e ansiava por isso, mas logo percebeu que não aconteceria nada demais naquele momento e logo se aborreceu.

— Sabe, Apóllōn, eu até que gostei do seu plano, simples, direto, sem muitas grandiosidades, na verdade eu adoro seus planos, dilúvios, meteoros, pragas, tudo muito lindo, mas acho que nesse em específico você perdeu a mão por um simples detalhe, depois dessa reunião, a morte na forma de um cavaleiro tornou-se algo que está além do destino. — Estava visivelmente séria, coisa que não acontecia em séculos, de forma que até o deus dos deuses engoliu em seco e esqueceu de sua cólera.

— O que quer dizer com isso, Athēná? — Era a primeira vez de muitos ali vendo o quase onipotente deus estupefato.

— Oh! Então nem mesmo Apóllōn, com toda sua sabedoria, percebeu o que acabou de acontecer no salão de reuniões? Eu quero dizer que os arianos, que Yeshua não será capaz de deter o… — Então toda sua seriedade foi-se embora quando começou a estalar os dedos tentando lembrar-se do nome que Hêlêl prontamente lhe soprou ao ouvido — Animus, o soldado que já deve estar no caminho para aniquilação de toda uma raça…

— Quem seria idiota para acreditar nessa baboseira, Pallás?

— Não interrompa, Yeshua! Athēná, está dizendo que um mero mortal pode vencer o deus que será o próximo rei? — Apóllōn definitivamente não parecia o mesmo.

— Acontece que você menospreza tantos os mortais, que acaba não considerando algumas variáveis em seus simplórios cálculos.

— Deixa que eu explico, querido. Numa guerra, Apóllōn, conhecer o inimigo é tão importante quanto conhecer a si próprio e você nunca foi muito bom com a primeira parte, já que sempre usufruiu da fortuna de nos ter ao seu lado, cada um de nós já o orientou pelo menos uma vez em todo esse seu tempo no comando, mas acontece que sua ambição sem fim, essa sua brincadeira de criança que recebeu o nome de “profecia”, foi montada por você apenas, sozinho, considerando apenas sua enorme capacidade de moldar o destino, nunca daria certo… — E, a essa altura, o deus já não conseguia proferir nenhuma palavra.

Cabia, então, ao seu sucessor, cego por sua vanglória, desmentir tudo o que a deusa destilava sem pudor — Escute aqui, Pallás, eu sou plenamente capaz de aniquilar qualquer mortal que fizer frente a mim, não me interessa… —, mas a deusa já estava alguns passos à frente dele, na verdade atrás, já que se posicionara às suas costa, tocando seus ombros com delicadeza, numa gostosa massagem. 

Como esperado, Abella não gostou nada daquilo, mas quando fora proferir qualquer reclamação, o toque frio de Hêlêl teve o mesmo efeito relaxante e ambos permaneceram calados. — Vocês estão tão tensos, deveriam relaxar mais antes das reuniões, vão casar em breve, deveriam tomar um tempo para se conhecerem melhor… — Pallás falava com calma e doçura — Você ouviu os boatos? Sobre a guerra, sobre como Animus foi imprescindível, poderoso e astuto? Não é à toa que ao longo de todos esses poucos anos nos servindo ele ganhou diversos títulos, entrou até para a mitologia de alguns: Apollyon, Abaddon, Ceifador, Morte…

— Boatos são só boatos, mesmo que o faça parecer um grande herói, digno até de receber uma divindade menor, não passam de contos exagerados que ele mesmo deve ter inventado ou pelo menos aumentado para chegar onde chegou, eu sei como funciona a mente dos mortais…

E então Pallás voltou a gargalhar — Você conhece a mente dos mortais? Você pode até ter um grande poder de influência nas vontades dos humanos, mas não passa disso, sugestões, não quer dizer entendimento. Sabe, eu posso predizer facilmente o rumo de qualquer batalha ou mesmo de uma guerra antes mesmo de ela começar e eu sei que você não tem nenhuma chance contra o Animus... —, enquanto falava, sentia a tensão crescer nos músculos do jovem deus — Você é novo ainda, não precisa se pressionar tanto para trazer grandes resultados, acontece que o destino que vocês criaram é fraco… — então fez uma pequena pausa para lembrar de uma data específica — Sabe, o que eu vejo acontecer é algo próximo da tragédia que você causou há mais ou menos um milênio, só que dessa vez a vítima será você e… —, aproximou-se da orelha de Yeshua para lhe sussurrar — Um cadáver não daria um bom rei... —.

— Você não tem autoridade nenhuma para falar assim, Pallás, você sequer é bem vinda nesse salão, não foi convidada, não possui servos, não tem mais poderes e ainda assim se acha no direito de palpitar onde não é chamada. Não quero ouvir conselhos de uma deusa impotente! — Bradou acuado, o que fez a deusa rir mais um pouco.

— Sabe que nesse ponto você tem razão? — Começou, soltando os ombros do deus e dando alguns passos desleixados para trás, como numa dança — Eu não deveria estar aqui, eu nem precisava, já fiz tudo o que queria fazer enquanto deusa, já cumpri meu papel. É verdade que eu perdi o meu povo para Apóllōn, mas não é verdade que foi de graça, certo, meu rei? — e se dirigiu ao deus que parecia alheio a tudo o que acontecia naquele momento — Fazia parte do meu experimento e serviu para descobrir exatamente onde eu estava errando… —, terminou, por fim, voltando-se para Yeshua.

— Como assim errando, eu pensei que com sua divindade você fosse incapaz de errar com meros mortais.

— Ah, sim, na verdade sou incapaz de errar até mesmo com vocês, mas não era a isso que me referi. — Ela prosseguiu, deixando o deus ainda mais confuso — Esse erro está além da minha divindade, eu realmente não seria capaz de percebê-lo se não fosse pelo experimento… —, as palavras de Pallás não mexiam apenas com o jovem deus, mas também com Apóllōn, que voltava aos poucos à realidade. — Bem, quem diria que os humanos se dariam tão bem com o pensamento livre? A verdade é que eles logo me fizeram perceber que tudo o que eu fazia se limitava a os aconselhar… — Ela parou por um momento de dar voltas e mais voltas, ficou séria novamente e tornou a se aproximar de Yeshua — Aliás, meus conselhos eram muitas vezes o que eles mesmos já sabiam ou planejavam fazer, então qual o sentido de eu interferir? Nenhum, correto? Por isso eu decidi não intervir mais no destino dos humanos e acabei sendo, eventualmente esquecida… —, então percebeu o olhar ameaçador de seu rei — Mas me sinto bem com isso, sinto-me livre de toda pretensão exacerbada…

— Já chega, Pallás! — A voz de Apóllōn logo se fez ouvir. A deusa sabia que havia falado demais, mas antes que fosse expulsa, sussurrou algumas palavras no ouvido de Yeshua, apenas por garantia. — Ponha-se já para fora desta reunião, não poderá mais participar destes encontros a menos que seja requisitada por mim exclusivamente.

— Isso mesmo, é esse tipo de pensamento tóxico que vem nos enfraquecendo. Ela só quer nos desestabilizar para que caiamos na loucura de achar que os mortais não precisam de nós. Lógico que precisam, como saberiam o que fazer sem que escrevamos o destino deles? Essa loucura é o que ocorre com nossas mentes quando ficamos muito longe do poder! — Dumuzi finalmente se pronunciou, mas era apenas uma tentativa de escapar da punição que viria.

“Tudo bem, podem achar que estou longe dos meus poderes, é melhor ser subestimada do que subestimar os outros…” Pensou consigo antes de andar de costas até as enormes portas do salão, aproveitava para mandar beijos aos demais deuses e uma piscadela em especial para Hêlêl. — Tudo bem, eu sei quando não sou quista em um lugar… — E se retirou, deixando a reunião completamente sem pauta, “A semente foi plantada…”.


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Notas finais do capítulo

É isso, espero que estejam gostando, não esqueçam de deixar comentários e sugestões, dicas e dúvidas, isso ajuda bastante na hora de buscar motivação para escrever.

Até o futuro,
Sir death.



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