O Mistério de Vesta escrita por Sir Death


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Essa é uma história antiga minha que venho tentando escrever até ficar satisfeito, não prometo um fim tão cedo, mas prometo tentar manter uma postagem regular.

Muitas das informações dos primeiros capítulos serão explicadas ao longo da história, mas mandem suas dúvidas mesmo assim.



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O sol se punha por detrás da cordilheira acinzentada, a sombra dos picos avançava rapidamente pelo nem tão estreito patamar onde as tropas aguardavam o sinal, rapidamente apenas algumas tochas iluminavam pontos específicos do acampamento temporário e nem seria necessário um olhar atento para perceber a tensão estampada no rosto de cada soldado ali presente.

Era o quinto dia de cerco, as provisões estavam se esgotando como planejado, não deveriam esperar muito para atacar. Cinco dias foi o prazo dado aos inimigos para que se rendessem, mas quem queriam enganar? Eles não eram inteligentes o suficiente para perceber que o xeque mate já estava encaminhado, no entanto eram selvagens o suficiente para não atacarem despreocupadamente, então apenas esperaram acuados atrás da rocha matriz esculpida em uma fortaleza.

De certo os atacantes nem precisavam montar guarnição e esperar uma rendição, se eles apenas avançassem ganhariam a batalha com um mínimo de baixas, mas Animus era o que chamavam de velha guarda, mesmo não tendo, em tese, idade o suficiente nem para ocupar seu cargo de general, o que realmente causava atrito com os demais comandantes.

— Devemos esperar os cinco dias de cerco antes de tomar uma fortaleza. — dizia Animus irredutível, seu olhar não se abalava nem mesmo com o tom furioso de Gafh, seu imediato, um sangue-puro nos seus sessenta e tantos anos — Pode esbravejar o que quiser, cinco dias são cinco dias, é o que está escrito.

— O que você sabe sobre comandar, seu assassino impuro… — retrucou entre os dentes, o velho, enquanto saía de perto e voltava ao seu posto, não antes de ser interrompido uma última vez pela sua desavença — Vou fingir que não ouvi nada disso, senhor Jekenm… —, sua voz era grossa, mas com um tom bem calmo, frio até — Qual a dificuldade de esperar mais três horas? —, mas não houve resposta.

— Esperar mais três horas para o quê, senhor? — o subcomandante Goyuh, também um sangue-puro e pelo menos uma década mais jovem do que Gafh, observava a planta baixa da fortificação durante a discussão, mas não deixou o comentário pertinente do general passar despercebido.

— Para começarmos o ataque, Jibikon, o que mais seria? — Animus respondeu ríspido, como se fosse óbvia a resposta, sem tirar os olhos da fortaleza inimiga.

— Mas senhor, não acabou de dizer que esperaríamos os cinco dias? — era visível a confusão em sua voz.

A verdade é que o dia ali passava bem mais lentamente do que no plano celestial. — O regulamento não especifica onde os dias devem ser contados… — Animus por fim desviou o olhar para o interior da barraca e se dirigiu até a mesa central — E para as Planícies, já estamos há quase cinco dias em campo. —, o subcomandante estagnou sem saber como reagir, a verdade é que também não se sentia confortável em ser liderado por alguém da divisão de assassinato, mas reconhecia a força do seu atual chefe o suficiente para temê-lo, mais do que respeitá-lo, pelo menos quando em sua presença. — O que vocês achavam? — comentou por fim, quebrando o silêncio que havia se formado.

— Devo então repassar essa informação para os demais comandantes. — Goyuh prestou continência e se retirou acelerado, seguindo para as demais barracas, não sem antes balbuciar um “Impuro idiota...” entre os dentes, o que fez o outro suspirar em tédio.

— Maldita hora em que aceitei essa missão. — mas não era hora de autopiedade, a audição atenta de Animus percebeu a movimentação intensa das tropas e se preparou para escutar muito dos cinco auxiliares mais velhos que vieram consigo à missão — Eu definitivamente não sou pago pra isso… —, soltou, por fim, entre os dentes, voltando-se para Gafh, Goyuh, Marin, Xarde e Liu que vinham a passos largos em sua direção.

O Coronel Jekenm, o mais velho dos cinco, parecia ainda mais irritado e definitivamente já não estava se importando nem um pouco em ser acusado de insubordinação ou desacato ou qualquer coisa assim — Eu disse que devíamos comandar essa porra por conta própria, um maldito assassino não saberia comandar nem uma invasão de propriedade… —, berrava aos quatro ventos balançando os braços vigorosamente, os demais estavam visivelmente preocupados com alguma possível punição, mas também não moviam um músculo para repreender seu colega boca suja.

Após um ríspido pigarrear, a resposta veio como uma brisa de tão tranquila — Se quiserem eu posso ir sozinho e vocês se viram para comandar as tropas…

— Muito bem! — Gafh não pensou duas vezes diante da proposta — Pelo visto estava enganado a seu respeito em um ponto: não és um completo idiota.

— Coronel… — a voz apaziguadora de Marin interveio de imediato se pondo à frente do mais velho e voltando-se rapidamente para Animus, que apenas observava a cena, sem qualquer reação — Ele não quis dizer isso… —, e um “Lógico que quis...” foi sufocado pela mão ágil do major Liu — Peço desculpas pela insolência do meu colega…

— Olha, eu cansei dessa falsidade de vocês, quem queremos enganar, cinco puristas sendo comandados por um impuro? Todos sabíamos que isso nunca daria certo… — assim como havia sido até agora, não havia qualquer irritação em sua voz, mas ainda assim os demais tremeram quando ouviram as palavras do general — Você, Gafh, não tolera que eu, em meus trinta e poucos, esteja num posto mais alto que o seu — e então olhou para o subcomandante — E você, Goyuh? Finge que respeita a hierarquia, que me respeita, mas não passa de um hipócrita que mal consegue esconder o asco que sente ao se dirigir a mim como ‘senhor’… — o mais jovem dos cinco estremeceu e procurou balbuciar alguma coisa, mas nada lhe saiu da garganta — Pois bem, faremos assim, vou fazer do meu jeito, vocês fazem como bem quiser, eu os desafio a chegar no comandante inimigo antes de mim.

E com o desafio feito, Animus deixou um último presente aos seus camaradas, em um movimento quase imperceptível, pegou a pequena adaga em sua bota e a arremessou por entre as cabeças dos respectivos novos comandante e imediato, a lâmina chegou a aparar alguns fios de cabelos prateados pelo caminho e fincou-se na planta baixa, em um cômodo bem específico. Os cinco viraram-se para analisar o papel por alguns instantes, mas quando voltaram-se para seu ex-comandante, este já não estava lá, apenas uma ampulheta e um bilhete “Obedeçam o regulamento…”.

— Ah, então você chegou até aqui… — a voz esfumaçada reverberou pela sala escura, sobrepondo o estardalhaço dos combates que aconteciam não muito longe dali, e subitamente enormes olhos amarelos brilharam como faróis numa noite sem lua — Diga-me, o que foi feito com minha crianças? —, a voz continuou, observando o guerreiro fechar a enorme porta atrás de si, trazendo um desconfortável e total silêncio em efeito, nenhum som saiu de sua boca — Entendo. —, a voz preferiu por fim, no tom deprimente de quem já não precisa de muitas respostas para entender o mundo.

Então fez-se silêncio no enorme salão de pedra, mais um pequeno par de olhos, estes vermelhos, fizeram-se visíveis e como numa dança, ambos os pares se puseram a girar emitindo sutis tinidos e pequenos tremores e nisso ficaram por algum tempo se estudando silenciosamente.

— Eles pelo menos foram algum desafio?

— De certa forma… — Preferiu mentir nesse caso, talvez por bondade, talvez para não deixar seu inimigo enfurecido — Mas não sinto orgulho de matá-los, não gosto de enfrentar crianças, preferiria que tivessem me deixado passar. —, completou com sinceridade.

— Então a culpa é minha, deveria tê-los ensinado a fugir da morte… — A voz era poderosa e levemente embargada. Então parou de se mexer, fixando o olhar em seu inimigo, avaliando a melhor ação a tomar — Só me resta, então, enfrentá-lo e vingar meus pupilos.

Dito isso, um barulho metálico ressoou, o invasor assumiu sua postura defensiva. Do meio da escuridão, pouco abaixo dos olhos amarelos, uma luz avermelhada começou a se intensificar e então um mar de chamas se espalhou pelo salão, iluminando-o e revelando o enorme corpo escamoso e quadrúpede da besta. Revelou também o homem que o enfrentava, um humano provavelmente, alto e esguio, com uma armadura leve, uma espada curta da canhota e uma adaga na destra, uma feição séria no rosto, sem medo, apenas atenção e que, com agilidade formidável, pulou em direção à parede mais próxima, numa altura suficiente para apenas sentir o calor das chamas sem se queimar, ficou a lâmina mais curta na parede e a usou como apoio para se manter ali, sem desviar o olhar de seu inimigo, “Um dragão vermelho... adulto? Provavelmente, se fosse ancião teria me sondado mais.”.

Foi inevitável, para a besta, não ficar impressionado com a acrobacia do guerreiro, o que foi manifestado com um curto sorriso de canto de focinho, agora o grande salão estava parcialmente iluminado, já que que boa parte da mobília que não era  feita de pedra encontrava-se em chamas, era um belo cenário para um embate, tanto físico quanto mental. Neste sentido, o dragão vermelho avançou contra a parede onde o invasor se encontrava, suas passadas faziam toda a fortificação tremer, mas todos os outros estavam ocupados demais para perceber isso. O homem então desviou sem muita dificuldade da enorme pata que veio em sua direção, sem perder a atenção e, para desconforto do guardião, sem expressar qualquer emoção, definitivamente “Não é um guerreiro qualquer…”.

— Ora, você é bem ágil, apesar de que era de se esperar, considerando a armadura que está usando… — Comentou curvando o pescoço na direção para onde seu oponente desviara, de fato ele não usava um equipamento típico de quem enfrenta dragões, apenas um corselete de couro por cima de uma roupa de tecido simples, tudo bem escuro, botinas e meia luvas, de metal apenas as armas e alguns adereços ou detalhes, “Estou mais acostumado com armaduras de placas, espadas longas, talvez uns dois ou três companheiros, tão bem armados quanto, mas não é isso que temos aqui…” ponderava, até que reparou no estado das vestes, “Não… eles definitivamente não foram nenhum desafio… senão haveriam manchas de sangue, cortes ou pelo menos marcas chamuscadas em seus trajes, ele sequer deve ter suado os enfrentando…”, então se virou completamente, assumindo uma postura mais compatível com o inimigo, assim como um tom mais agressivo — Diga-me, quem estou enfrentando? —.

E novamente o silêncio se estabeleceu, nenhum dos dois ousava mover um músculo sequer. Da posição em que estava, joelho esquerdo no chão, perna direita flexionada, corpo curvado para frente e cabeça erguida para o oponente, o homem respirou fundo e se impulsionou para frente, tão rápido que quase desaparecia, mas não para aquele dragão, este já possuía uma nova baforada pronta para incinerar o jovem à sua frente, “Pensei que fosse mais esperto, onde já se viu, investir diretamente contra um dragão… ainda mais com um pulo, sem poder realizar nenhuma manobra…”, mas para sua surpresa,do centro do cone de chamas, o guerreiro emergiu intacto e ainda indiferente, com a espada curta em punhos, pronta para fincá-la no topo de sua cabeça, só não o fez devido a um instintivo recuo, a lâmina, então, cravou-se em seu focinho, bem próximo dos olhos, os quais eram encarados bem de perto, pelo oponente apático.

Incrédulo, o dragão golpeou o oponente com a pata, num movimento realmente ágil para o seu tamanho, dessa forma, a figura esguia foi arremessada contra uma parede, rachando-a e caindo de cara sobre uma mesa de pedra. O guerreiro então se ergueu lentamente, cuspiu o sangue quente que lhe subia à garganta e assoou o nariz antes de encarar, com o rosto completamente vermelho, seu oponente, desta vez com um sutil sorriso — Sou Animus, general das tropas de Apóllōn… — e antes que pudesse completar, percebeu um certo espanto no dragão — Ah, vejo que já me conhece. —.

— Não existe um inimigo dos deuses que não o conheça, assassino impuro… — E com essas palavras, a feição de Animus novamente tornou-se apática, o que não passou despercebido pelo dragão — Mas não se engane, não ligo para o seu sangue, como disse, sua fama o precede e nada importa mais do que isso. —, completou voltando a ficar atento a luta — Bem, você acaba de perder a última brecha que dei para que me derrotasse, vejo que já está na hora de finalizarmos nosso duelo. —.

— Neste ponto você tem razão, já é tempo de acabarmos com isso… — Animus então assumiu uma postura ereta, relaxada, buscou um lenço num bolso da calça e pôs-se a enxugar o sangue do rosto displicentemente. Ora, nem é preciso como o dragão se sentiu vendo tudo aquilo, bem, ele apenas avançou e abocanhou o pequeno corpo do afrontoso homem numa única e precisa mordida, o gosto de sangue e tecido lhe preencheu a língua e, por alguns instantes, deixou-se entristecer pensando em seus pupilos, — Não é muito cedo para relaxar? — a voz ressurgiu apenas para lhe incomodar a mente, mas não vinha de dentro da sua boca, muito pelo contrário, veio como uma pontada no pescoço. De fato, não havia qualquer peso em sua língua, — Obrigado por se livrar do meu lenço sujo, não queria devolvê-lo para o bolso tão ensanguentado. —, não que o dragão conseguisse vê-lo, mas Animus estava confortavelmente pendurado em seu pescoço, a adaga lhe rasgando a garganta, superficialmente.

— Ora seu… — Urrou a besta ao novamente golpear o guerreiro com suas patas dianteira, mas dessa vez fez questão de segurá-lo contra a rocha fria, esmagando seu delicado tórax — Eu não sei como fez isso, mas achar que uma simples adaga poderia me ferir é revoltante, uma afronta contra toda minha raça, seu merdinha! Eu sou Ígneo, futuro líder da tribo dos dragões vermelhos do norte! —, iria matá-lo ali mesmo, mais uma vez preparou seu sopro de fogo e banhou sua vítima em chamas por longos minutos, despejando toda sua fúria num verdadeiro inferno em forma de cone.

Cessado o fogo, deu uma leve tossida, como quem coça a garganta depois de um longo discurso, para sua surpresa lá estava ele, intacto, incólume, apático — Era isso? Bem, chamuscou um pouco meu cabelo, mas pelo menos sua pata protegeu minha roupa… —, Animus falava com tranquilidade, alongou o pescoço ainda preso no agarrão do inimigo e logo completou — Olha, eu perdi a vontade de te matar, não tenho mais tempo a perder contigo, minhas tropas já devem estar chegando no comandante e eu não quero perder a aposta… —, e fez uma breve pausa reflexiva, queria coçar o queixo, mas não conseguia mover as mãos. — Faremos assim, você não deve ter percebido ainda, mas a adaga cravada no seu couro está embebida em veneno de basilisco, então você vai me soltar… — a notícia foi petrificante para Ígneo, que apenas seguiu as instruções, liberando Animus — Muito bem… agora eu vou reaver minhas armas do seu corpo… —, este caminhou tranquilamente até o pescoço abaixado do dragão e retirou sua adaga, buscou uma pomada em outro bolso e passou gentilmente no ferimento, então pulou para o focinho da besta, para resgatar sua espada curta e olhar bem fundo nos olhos amarelos que lhe entreteram decentemente — Não fique assim, você foi um bom oponente… —, de fato, seu humor estava um pouco melhor àquela altura, de forma que até esboçou um sorriso — Vamos lá, você viverá para contar a história de como sobreviveu a um duelo com Animus Occisor, o ceifador… —, mas, quando revelou o nome de sua família, medo foi o único sentimento que se apossou do coração da enorme fera, nada de orgulho, nada de fúria, apenas um legítimo instinto de sobrevivência.

O general não soube, na época, o que se passava na cabeça de seu oponente quando este simplesmente fugiu da fortaleza numa corrida desajeitada, deixando um belo rastro de destruição até conseguir alçar voo e sumir no longínquo horizonte. De toda forma, o assassino bateu a própria roupa para livrar-se da poeira e aproveitou para checar quantas de suas costelas estavam quebradas, “Não vai ser um grande problema…”, constatou antes de seguir caminho pelo corredores da fortaleza, quieto, sozinho, imperceptível.

Sentado sobre a enorme mesa esculpida de uma única rocha, Animus removia, com alguma dificuldade, seu corselete de couro manchado de sangue, “Essa merda não vai sair nem fodendo…”, lamentava olhando para a peça de armadura, não que fizesse muita diferença usá-la ou não, mas era o mínimo que precisava trajar para sair em missões oficiais segundo o regulamento.

— Vamos ver… — Comentou ao rotacionar o corpo num pequeno alongamento, foram poucos graus até sentir uma dor aguda — Droga, tá encostando no pulmão… —, constatou que a batalha contra o Ígneo fora mais maçante do que pareceu, de fato, estava um caco por dentro, mesmo que por fora estivesse intacto, aliás, o sangue no corselete não era dele, mas sim do gigante de fogo estirado no chão inconsciente, sobre o qual apoiava os pés enquanto aguardava seus subalternos chegarem. — Talvez fosse bom aprender técnicas de cura melhores, não posso ficar dependendo desses paliativos que o idiota do meu pai me ensinou… Talvez ela possa me ensinar algumas mais eficientes… —, estava quase perdido em seus pensamentos quando a porta pesada abriu-se num estrondo.

— Renda-se em nome do exército sagrado! — A inconfundível voz do Coronel Jekenm anunciou de supetão, fazendo Animus erguer os braços ironicamente.

— Não me ataquem, eu já estou desacordado… — Respondeu pelo comandante inimigo e logo voltou a cruzar os braços em desaprovação — Chegaram meio tarde, não? —.

— General? O que faz aqui? — Talvez a pergunta do Major Cetofevy fosse retórica, ou talvez fosse surpresa legítima.

— Esperando os senhores, apenas para dizer que perderam a aposta…

— Tecnicamente a gente nunca apostou nada… — Major Louise era a espertinha dos cinco e parecia ter sempre uma resposta para qualquer coisa, mas quase nunca tinha disposição para se pronunciar, a melhor possibilidade era a de que o estresse de combate estava a falar por ela.

— Tudo bem… Sejam maus perdedores… — Riu com desdém — De toda forma, o serviço está acabado, vocês tomaram a fortaleza e eu dei conta dos inimigos que poderiam matá-los…

— O que quer dizer com isso? — Gafh interrompeu irritadíssimo como sempre.

— Pensei que soubesse o idioma comum, talvez eu devesse falar em insolencês para que compreenda… — E então Animus levantou-se da mesa, apoiando todo seu peso nas costas largas do gigante caído, fazendo-o acordar na mesma hora e então pulou ao chão, ignorando completamente os murmúrios do inimigo — Esse cara aqui era o menor dos seus problemas e ainda assim poderia facilmente levar a vida de qualquer um de vocês cinco… imaginem o que faria com nossas tropas caso eu não o tivesse derrotado antes que resolvesse se envolver no combate… —.

— O menor? O que quer dizer com isso?

— Vocês só sabem repetir isso, cacete, analise isso, Major Yokuji, seu cético do caralho… — O impuro definitivamente já estava perdendo completamente a paciência quando arremessou alguns fragmentos de algo para Liu que prontamente disse se tratar de pedaços únicos de chifres de dragões vermelhos — São quatro pontas do chifre ímpar que possuem na ponta do focinho, esses são de jovens, quase adultos, infelizmente do quinto não sobrou nem pó e o tutor deles fugiu quando escolhi dar uma abertura para tal… —. Todos ficaram surpresos com aquilo, achavam que os quatro corpos de dragões eram caça dos gigantes de fogo — Caça? Não, esses daqui haviam feito um acordo de cooperação com a tribo do norte, o primogênito do líder dos dragões estava aqui usando a fortaleza como treinamento e servindo de proteção... E teriam sido bem sucedidos se Apóllōn não houvesse me mandado junto… —, e então refletiu sobre a divina providência, talvez Vesta tivesse algum envolvimento nisso, mas teve seus pensamentos novamente interrompidos por Gafh.

— Não acha que é pretensão demais achar que foi o salvador da missão? — O que fez Animus revirar os olhos de tédio, fingindo escutar todo um discurso sobre liderança e bom senso e seguir as normas e não subestimar as forças aliadas, o que culminou no manjado xingamento de impuro, tudo termina com esse argumento afinal.

— Entendi, entendi, tudo bem, vocês estão certos e tal, mas já que perderam a aposta de qualquer jeito, vocês cin… — E só então reparou que o Tenente Coronel Jibikon não estava entre eles —  quatro… Onde está Goyuh? —, foi quando soube do desaparecimento do seu subcomandante, estranhou a princípio, mas logo relevou a informação, eventualmente ele apareceria, mesmo que morto, então faria uma investigação para saber o que acontecera, de toda forma, queria voltar logo para a sua tenda, arrumar as coisas e retornar para casa — Muito bem, vocês quatro, sem qualquer ajuda dos soldados, vão ter que carregar esse gigante até o acampamento, vivo, sem qualquer arranhão… —, completou ríspido, caminhando para fora da sala e desaparecendo na primeira curva, deixando os agora quatro num misto de indignação e confusão.

 E assim foi feito, caminhou lentamente, sabendo que os outros demorariam ainda mais tendo que carregar o ser de mais de três metros de altura, foi passeando pelos corredores, estes estavam bem diferentes de quando passara no sentido contrário, alguns corpos estirados ao chão, soldados aliados hostilizando os inimigos rendidos, alguns cães infernais dilacerados, outros ainda vivos, mas amarrados, era perceptível uma decepção no olhar das tropas, provavelmente por saberem que não haviam fêmeas na fortaleza, uma lástima.

De toda forma, passou despercebido por todos, roubou algumas rações pelo caminho e foi devorando as barrinhas de proteína até chegar na sua barraca, bem arrumada, do jeito que havia deixado, exceto por um pedaço de papel escondido embaixo da planta da fortificação rendida, uma carta de Goyuh, uma carta cujo conteúdo prolongou a missão por longos seis meses, para o total desprazer de Animus, “Eu não dou sorte mesmo…”.


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Notas finais do capítulo

Bem, esse é o primeiro capítulo (bem, tecnicamente o prólogo) dessa história, espero que tenham gostado e mandem sugestões, comentários, erros etc.



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