For Grissom escrita por Dama das Estrelas


Capítulo 24
Por Grissom


Notas iniciais do capítulo

Ai eu fico tão feliz de chegar ao "final" dessa fic e ao mesmo tempo triste porque ela tá chegando ao fim!!!!

Antes de tudo eu quero contar uma coisa: tava eu de boa e tals, abri o Nyah nesses dias e levei um susto ao me deparar com uma RECOMENDAÇÃO da Leticia kirnev. Olha eu fiquei, assim, de boca aberta com o que você escreveu porque me tocou demais. Eu fiquei pensando e pensando e, nossa, me emocionou muito! Eu só tenho a agradecer por suas palavras, que ainda por cima me fizeram enxergar a própria fic e a série por outra perspectiva. Fico feliz que eu tenha conseguido ajudar a tornar aqueles eps menos doloridos. Vou guardar isso com todo carinho. OBRIGADA, LETICIA, EU AMEI DEMAIS AAAAAA

Ai gente, é bom demais ler os pontos de vista e opiniões de vocês sobre as minhas fics. Vocês tem umas ideias e comentários incríveis que me deixa até encucada às vezes. Vocês são top, na moral ♥

Obrigada a todos que estão lendo! Boa leitura!



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Será que estava mesmo vivendo aquele dia? Ou será que continuava num coma, lutando pela vida e imaginando estar num lugar distante da realidade? Engraçado pensar nisto porque tudo começou a dar certo em sua vida após o incidente. Parecia um sonho impossível de ser alcançado; impossível ou muito distante.  

Ele vestiu uma calça de alfaiataria preta e uma camisa de botões verde musgo. A jaqueta estava do lado de fora do banheiro, então aproveitou para pentear os cabelos quase que rigidamente. Passou gel nos fios grisalhos e tentou escová-los para trás. Sabia que em pouco mais de uma hora eles ganhariam vida própria, mas ainda assim o fez. 

Antes de sair do cômodo ele puxou ar dos pulmões, respirou com calma e molhou o rosto, secando-o numa toalha em seguida. Sentia-se um novo homem. Estava diferente, quase irreconhecível; não fisicamente, mas emocionalmente e psicologicamente. Talvez fosse uma coisa boa a certo olhar, mas por outro lado sentia-se receoso com as novas experiências. Procurar por caminhos desconhecidos, atitudes inéditas, coisas das quais não estava acostumado a fazer poderia ser assustador. 

— Eu, Gilbert Grissom... — O supervisor não terminou a sentença. Engoliu em seco. Ainda parado frente ao espelho, tentou reformular suas palavras, mas acabou se perdendo. Ele era um novo homem, disso tinha certeza; só precisava se descobrir. À sua frente um novo recomeço, ao lado da mulher que amava e sabe Deus por quanto tempo e quantas vezes lutou para que o “eles dois” acontecesse. 

Grissom deixou o banheiro, vestiu a jaqueta e procurou por Sara, esperando-o sentada no sofá ao lado de Hank. Quando o viu, admirar seu visual foi a primeira coisa vindo-lhe à mente. Não havia como evitar. O semblante presunçoso dela disse muita coisa. Ele ficou mais que apresentável; muito atraente para falar a verdade. 

Bastou apenas um olhar para que corasse de vergonha. Todavia, ele não conseguiu manter seu olhar afastado dela por muito tempo ao ser atraído por sua aparência. Sara optou por uma blusa branca lisa, calça jeans e um blazer de couro marrom. Os cabelos, agora descaídos até a nuca foram divididos para o lado e era perceptível a maquiagem leve em seu rosto. Grissom era suspeito para falar, pois sempre a achava a mulher mais linda do mundo, não importava como a via. 

— Você está... magnífica. — Ele disfarçou novamente ao receber aquele olhar penetrante. Pensou em dezenas de outros adjetivos nesse meio tempo. 

Tudo o que Sara disse antes era verdade. Havia momentos em que se sentia ameaçado por sua beleza, imaginando-se não ser o bastante para ter uma mulher tão extraordinária. Também haviam momentos que a primeira e única coisa em sua mente era se jogar de cabeça no amor e paixão que sentia por ela. 

Franzindo os lábios num sorriso a morena se ergueu do sofá indo em sua direção. Ela cruzou os braços e, visando-o de cima a baixo sem disfarçar, mostrou-lhe outro semblante presunçoso. 

— Posso saber aonde vai tão arrumado assim, senhor Grissom? —  Ela aproveitou para arrumar a gola de sua camisa. 

— Vou sair com a minha noiva — respondeu na mesma moeda. Grissom deu de ombros e arriscou um sorriso de canto. 

Após ajeitar a gola, Sara deslizou as mãos até a sua nuca e o beijou nos lábios. Todo momento perto dele lhe parecia propício para beijá-lo. Era como se a saudade retornasse cada vez em que os dois se afastavam; o pior sentimento que deixou em Las Vegas. 

— Está lindo — declarou antes de beijá-lo novamente. Do jeito que se encontrava atraída por ele seria capaz de cancelar o compromisso. 

— Obrigado... — respondeu com uma risadinha. Corava quase sempre quando recebia um elogio de Sara. 

— Está pronto? 

— Sim. 

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O caminho até o restaurante foi marcado por certo silêncio, principalmente nos minutos iniciais. O rosto de Grissom emanava entusiasmo enquanto atentava para o caminho e fitava para a janela ao lado. Sara não comentou, mas reparava nele algumas das vezes. Notou que só por sua postura ele se sentia vivo, talvez mais vivo do que nunca. Ela não interrompeu quaisquer que fossem seus pensamentos, só de vê-lo bem, sem preocupações, já era o bastante. Era a cena que mais sentia falta de ver. 

Eles chegaram sem pressa à entrada do restaurante. O pequeno estabelecimento, frequentado por oficiais do Departamento, era a escolha ideal para encontrar velhos conhecidos e acolhimento. As paredes pintadas de palha na parte superior e azul esverdeado na metade inferior, eram decoradas com velhos quadros e placas em neon. O chão, desgastado pelo tempo, não brilhava tanto nem horas de enceramento o fariam brilhar tão intensamente quanto antes. 

O balcão estava repleto de pessoas, em grande parte, oficiais da polícia que faziam uma pequena pausa no turno. O cheiro do café e algo assando no forno chamaram logo a atenção de seus olfatos, trazendo-lhes uma sensação nostálgica no momento em que pisaram por lá. 

Não demorou muito para que encontrassem uma figura familiar sentada sozinha numa das mesas. Era Catherine, que chegou com uns dez minutos de antecedência ao horário marcado, às três da tarde. Havia se revirado para conseguir chegar num horário bom, o mais cedo quanto pudesse, para não ser pega de surpresa por um imprevisto. Posicionada estrategicamente para ter visão da entrada, a supervisora os avistou quando entraram e acenou para eles sem discrição. Preferiu vir sozinha em vez de chegar junto de Warrick. Tudo para não correrem o risco de ter seu relacionamento posto em evidência. Apesar dos meses de um namoro firme, ainda era cedo para pensar numa revelação ao grupo. 

Ela se ergueu da cadeira e os esperou para recebê-los com um abraço carinhoso. Valendo-se de Grissom recuperado, Catherine o abraçou forte como há muito tempo não o fazia. Aproveitou que seu porte físico melhorou nas últimas semanas, apesar de ele continuar visivelmente mais magro que no período anterior ao incidente. 

— Que bom ver vocês. — Catherine falou. Após isso foi ao encontro de Sara e a abraçou fortemente, também. 

Catherine havia optado por um visual discreto: calça preta, camisa de manga curta e uma jaqueta de couro escuro deixado sob a cadeira. Seu rosto, radiante, era de alguém que ansiava por aquele encontro após enfrentar dias turbulentos. Melhor ainda ter em mente de que o encontro foi proposto por um dos que menos se manifestava sobre; ou melhor, sequer se manifestava sobre sociabilidade. Reunir-se com os amigos, apesar da escolha inusitada por aquele restaurante, seria um marco na vida de Grissom, agora um novo homem. Catherine não poderia aceitar outro pedido melhor. 

Ao término do cumprimento, cada um tomou seu lugar à mesa larga, escolhida a dedo para abrigar a todos; desta vez com a companhia de Sara como nos velhos tempos. Os outros chegariam em breve, cada um por realizar seus afazeres pessoais a fim de esvaziarem suas agendas e seguir para o restaurante.  

— Finalmente resolveu tomar um pouco de sol, hein, Gil. — A supervisora comentou ao notar o tom de pele mais bronzeado de seu amigo. Observadora como ela, pôde perceber com clareza a diferença de tons no dia em que o recebeu após a alta e naquela tarde parcialmente ensolarada. 

— Me mandaram fazer exercícios físicos, sair ao ar livre — explicou-lhe como se fosse confissão de culpa. Até arriscava alguns sorrisos, principalmente quando procurava por Sara a fim de notar sua reação. 

— Continua tomando algum remédio? 

— Só um, ao menos. — Ele deu de ombros, continuando um pouco mais animado. — Logo, logo, eu estarei livre. 

Poucos minutos se passaram desde a chegada dos dois. Sara e Catherine foi quem trocaram mais palavras, assunto dos quais Grissom não prestou muita atenção; detalhe que ambas perceberam e brincaram com isso. 

— Boa tarde. Os senhores gostariam de pedir alguma coisa? — disse um homem forçando um tom de voz grosso. Quando se aproximou por detrás de Grissom, ele tocou em seu ombro. 

Não foi preciso se virar para saber que o homem não era o garçom. Assim que chegou, Nick não perdeu a oportunidade para chegar atraindo as atenções. Aquele era um dia para se aproveitar então daria ao máximo de si para curtir o tempo com seus amigos. O trabalho nos últimos meses os sobrecarregou e cada minuto de diversão tinha de ser tratado com todo o carinho. 

— Nick, seu bobo! Quer matar a gente de susto? — Mesmo de frente para a porta, Catherine não percebeu sua aproximação. Rindo, ela balançou a mão no ar para fingir que batia nele. 

— O que eu posso fazer? — respondeu ele após dar umas batidinhas no ombro de Grissom. Ao se virar em sua direção, o texano nem esperou que se levantasse e o abraçou forte, sendo retribuído por ele.  

Para uma reunião de meio de tarde, Nick resolveu se vestir de modo mais "elegante". Ele optou por uma calça jeans desbotada, camisa de manga lisa preta e um blazer que tirou do fundo do guarda roupa de tão pouco que o usou. Os sapatos de couro estilo cowboy, lustrados, podiam emitir o quase 100% o reflexo da luz direta. A barba foi feita e seus cabelos, cortados. Uma ocasião especial pedia por um visual especial. Ainda assim Nick não podia negar que estar ali também era a oportunidade de se encontrar com Stephanie, a garçonete que trabalhava ali e que ultimamente vinha trocando algumas conversas com ele. 

— Ei, Gris, como está? Sar. Cath. 

Nick recebeu um aceno das duas antes de se sentar entre Grissom e Catherine. Sem perder o jeito implicante, a supervisora encarou-o de cima a baixo. Obviamente, sem disfarçar. 

— Estou impressionada, Nicky. — Virando-se em sua direção, apoiou-se sobre os cotovelos na mesa. — Ficou bem elegante para um café da tarde. 

— Bem... — Curvando os lábios num sorriso descarado, Nick moveu os ombros como se aquilo tudo não passasse de coincidência. — Hoje é um dia especial! Tive de vir bem vestido. 

— Aham, sei. — Debochando de sua resposta, Catherine fingiu acreditar, mas parou por ali. — Não acredito que aquela garçonete tenha mudado de turno só para ver o garotão aqui. Como é que é o nome dela mesmo? 

— Deixa ele. Nick está muito bem mesmo para o encontro com Gil. — Sara aproveitou a deixa para cutucá-lo, também. O comentário arrancou risadas de todos na mesa, inclusive Grissom. 

— Está em desvantagem, Nick. Melhor aceitar — disse o supervisor. 

— Tá, tá bom. Talvez eu tenha passado uma colônia qualquer ou engraxado meus sapatos por conta de algo mais. 

— Talvez, não é? Talvez... — Catherine repetiu suas palavras. Sara foi na onda e repetiu a mesma coisa. 

— É, talvez. Mas agora vamos ao que interessa. Já pediram alguma coisa? — Levando a mão à barriga e fazendo uma careta, Nick perguntou aos três, que balançaram a cabeça em negativa. Avistou uma caixinha de palitos de dente, pegou um e o pôs na boca. 

— Achamos melhor esperar pelos outros. — Sara comentou enquanto visava a porta na esperança de avistar um de seus amigos. 

— Se demorarem muito vamos ter que nos servir sem eles, infelizmente. — Nick falou sem culpa. 

— Já sabemos a quem não convidar na próxima reunião. — A morena retrucou lhe lançando um olhar desafiador, mas saudável. 

Passados menos de cinco minutos o sino da porta tocou, indicando que ela foi aberta. Desta vez uma figura entrou e, assim que avistou o grupo reunido sob à mesa, aproximou-se deles rapidamente. Era Warrick. Ele usava uma camisa gelo lisa sob uma jaqueta jeans azul. Calças caqui bege e um tênis branco fechavam seu visual. Os óculos de sol estavam sob a mão e a chave do carro no bolso. Veio dirigindo e teve trabalho para encontrar um lugar bom para estacionar. 

— Olha só quem chegou! — Nick acenou ao amigo assim que ele se aproximou. 

— Ei, pessoal. — Sorrindo, Warrick acenou para eles e pressionou o ombro esquerdo de Grissom de forma amigável. Ele foi recebido por cumprimentos animados. Nick até bateu na mesa com as duas mãos para agitar o clima. — E aí, campeão — disse a Grissom. 

— Rick.  

Warrick se juntou aos amigos na mesa. Sentou-se entre Nick e Catherine, tomando o cuidado possível junto dela em não fazer transparecer seu relacionamento. Acomodou-se na cadeira e bateu levemente com os dedos na superfície plana da mesa. Visou sua namorada de canto de olho, de modo bem discreto. Infelizmente seu momento com ela se limitava a gestos discretos; não achavam que aquele era o momento de revelar aos outros sobre o namoro. 

— Bem, falta só o Greggo. — Nick levou as mãos à nuca e se recostou. O palito, ainda sob a boca, era mastigado a quase todo momento. 

— Eu acabo com ele se me deixar aqui com fome. — Warrick brincou. 

— E era eu quem devia acabar com vocês. Fui a primeira a chegar! — Entrando na brincadeira, Catherine respondeu no mesmo tom. 

Sua retaliação fez com que os outros se manifestaram de imediato causando um efeito cascata. Um falava em cima do outro e de uma hora para outra uma discussão sem motivo se formou. 

— Eu e o Gil somos praticamente os anfitriões — Sara enfatizou, apontando para eles dois. — E acho que não há problema em termos demorado por um ou cinco minutos. 

— Admitam, vocês dois. — Nick provocou. — Chegaram tão atrasados quanto o Warrick. 

— Olha só quem fala, o "senhor chega sempre na hora certa"... duas horas depois. — Warrick cruzou os braços e moveu os ombros enquanto o rebatia. — Não sei... acho que o problema não tá no seu relógio. 

— Você chegou depois de mim, Warrick, depois de mim! Acho que... — Ele deu uma breve risada. — Não pode falar muita coisa. 

Grissom foi o único que não se manifestou. Assistiu à pequena discussão — enquanto ainda se encontrava sadia — como um espectador distante, apenas analisando o comportamento de cada um à sua volta. Ele sorriu, emocionado ao ser atingido por uma sensação de nostalgia. Sentiu muita falta daquilo. 

— Não vai se manifestar, Gil? — Catherine chamou por ele, percebendo que o amigo se encontrava distante. 

Sua resposta habitual era não dar uma resposta. Gesticulando com ambas as mãos, Grissom fez uma careta como se não tivesse nada a declarar. Sentindo que estava cercado de olhares ele visou a mesa em busca de segurança. Enquanto não fosse o centro das atenções, para ele estava tudo bem. 

— Não conte com ele pra isso. — Nick estendeu a mão para frente. — Não sabe que ele é assim? — Ele caçoou do supervisor, que continuava sem se manifestar. 

Aquilo foi se estendendo até o momento que Catherine, sem ter ideia de como chegou até lá, encerrou a discussão de modo quase agressivo e os ânimos foram se acalmando. O grupo nem tinha pedido alguma coisa ainda. 

Greg foi o último a chegar. Portando uma feição tensa ele se aproximou da mesa e acenou timidamente para eles. O mais jovem CSI vestia uma camisa de manga longa xadrez com um tom avermelhado predominante. Calças azul marinho e tênis completavam seu visual. 

— Oi, pessoal. Desculpe o atraso. Não sei nem o que dizer. — Ele balançou a cabeça em negativa. Uma série de imprevistos atrasou seus planos de chegar ao restaurante com antecedência. 

— Pronto. Já sabemos em quem botar a culpa e a conta dos pedidos. — Catherine moveu as mãos pelo ar num gesto rápido como se encerrasse a discussão de outrora. 

— Hã? — Desorientado, Greg arqueou as sobrancelhas tentando encontrar uma saída e tentando não acreditar no que acabara de ouvir. Pensou até em olhar a carteira para saber se trouxe dinheiro suficiente ou se o limite do cartão de crédito não havia estourado. Do jeito que conhecia seus amigos era capaz de ser o responsável por pagar a conta. 

— Deem um desconto a ele. — Sara se manifestou como de costume para defendê-lo. — Vem, Greg. — Ela moveu sua cadeira para mais próximo de Grissom e apontou para o espaço deixado ao lado. 

— Desculpem a demora. — O CSI se desculpou novamente. — Estava resolvendo uns assuntos com a editora. 

— Ah! — Aquele foi o gatilho para Nick provocar um pequeno alvoroço. Animado, logo se manifestou. — O nosso escritor estava ocupado — falou num tom crescente. 

Corando por vergonha, Greg balançou a cabeça e moveu os ombros. Então apoiou os braços na mesa e cruzou as mãos sem pressa. 

— Agora nós queremos saber, Greggo. — Warrick se inclinou sobre a mesa.  

Qualquer sinal de discussão foi dissipado e as atenções se voltavam ao CSI mais jovem. Ele mostrou-lhes um sorriso amarelo e suspirou na tentativa de se por no lugar. Mas a verdade era que ficou um pouco nervoso por tantos olhares em cima dele. 

— Não garanto nada a vocês, mas... novidades podem chegar por aí.  

— Desembucha. Se a gente tivesse bola de cristal não estaríamos trabalhando como CSI, e sim ganhando dinheiro fácil por aí. — Catherine cortou o barato do subordinado, porém ele não se deu por vencido. 

— Calma, calma. — Ele fez um movimento com as mãos para baixo. Carregava um semblante presunçoso. — Talvez eu esteja prestes a fechar um bom contrato com uma editora. 

Uma nova algazarra se formou em volta de Greg. Festejando por meio de gritos abafados e batidas de leve na mesa. Extremamente feliz pela novidade, Grissom puxou uma sessão de aplausos e foi correspondido pelo restante do grupo. Talvez fosse o mais animado com a notícia. Lembrava-se muito bem de ter conversado com Greg acerca do projeto e o quanto estava contente por vê-lo embarcar na carreira de escritor. 

— Isso é fantástico, Greg — comentou Grissom.  

— Obrigado, chefe — respondeu meio tímido. Ouvir isso de alguém que ele admirava deixava a notícia mais especial.  

— Vai ter que separar uns lugares na primeira fila pra gente quando ficar famoso — disse Nick, nitidamente empolgado. 

— Se prepare. Nick não vai mais sair da sua cola. — Warrick cutucou o texano com o cotovelo. Nick se limitou a erguer os braços em rendição. 

— Não se esqueça da gente quando ficar famoso. — Sara afirmou e teve Catherine para apoiá-la. 

— Obrigado, pessoal. Eu torço muito que isso dê certo. 

— Vai dar. — Grissom se manifestou em seguida. Seu olhar orgulhoso falava mais alto que qualquer gesto ou expressão. Não precisava prever o futuro para saber que o projeto de seu amigo daria certo porque conhecia muito bem seu potencial. 

Assentindo ao supervisor como agradecimento, Greg voltou a falar: 

— Outra novidade e vocês vão ser os primeiros a saber. Mas vamos falar de outra coisa. A gente tá aqui pra um outro assunto, não? 

Percebendo que as atenções se voltavam a ele, Grissom riu brevemente e se preparou antes de falar. 

— Faz tempo que não isto não acontece...   

Grissom parou para visar o rosto de cada um, inclusive de sua noiva. Realizar aquela pequena reunião era também um meio de matar a saudade dos velhos tempos, nos quais podia contemplar a presença deles, mesmo que fossem raras. Grissom queria guardar aquele dia com todo o carinho.  

— Agradeço a vocês por se disponibilizarem a vir aqui. Sei que não deve ter sido fácil. 

A feição alegre de Grissom, aos poucos, foi se apagando. Para alguém que suportava as mesmas "dores" de seus amigos, tirá-los de seus respectivos descansos parecia algo cruel de se fazer, apesar das melhores intenções. 

— A gente não tá trabalhando, cara. — Warrick tomou a palavra. — Estamos aqui para curtir, nada de trabalho. 

— Foi só fazer um esforço, cancelar tudo. — Greg brincou. — Mas a gente tinha que vir. 

Os outros demonstraram concordar com a palavra dos dois o que deixou Grissom aliviado, já que não era acostumado a realizar aquele tipo de encontro. Tudo era muito novo e para ele quaisquer exageros não seria algo bom de se fazer. 

— Quero muito guardar este momento. É a primeira vez que nos reunimos após o incidente — Ele parou para observar a feição de cada um antes de continuar: — Não sou o melhor anfitrião, mas... espero que aproveitem tanto quanto eu estou aproveitando. Bem... — Ele deu de ombros, deixando a formalidade logo em seguida. — Vamos pedir alguma coisa. Estou morrendo de fome. 

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Os pedidos foram dos mais variados: de café, suco ao refrigerante. Para comer, algo carregado para alguns que mal puseram algo na boca ao longo do dia e para outros, um aperitivo leve. Hambúrguer, torta de fruta, sanduíche... A mesa se encheu com pratos, xícaras e copos. Parecia mais uma ceia de domingo que um lanche pela tarde.  

A comida, todos sabiam, não era das melhores. Todavia, todos tinham um carinho enorme por aquele lugar. Pisar naquele restaurante era pedir para receber memórias nostálgicas e uma sensação de segurança. Quase todos se conheciam, uma rede de confiança entre clientes a funcionários se estabeleceu por ali. Alguns dos que passavam, inclusive, cumprimentaram Grissom ao saber do que havia acontecido. 

— Então eu disse: tá, tudo bem, contanto que eu não tenha que vestir mais nada de couro! 

O grupo caiu na gargalhada ao ouvir uma de muitas piadas que Nick contou ao longo do tempo. Nick se empolgou; passara-se muito tempo que o texano não se divertia em momentos como aquele devido aos problemas no trabalho e a situação de Grissom. Ele fez questão de se soltar, contar as situações mais absurdas e talvez inventadas que enfrentou. O objetivo não era fazer com que acreditassem, mas sim que se divertissem junto dele. 

Não foram apenas as discussões um tanto sadias que marcaram o encontro. De uma forma ou de outra eles contaram um pouco sobre a rotina no trabalho, não conseguiram evitar. Falaram sobre a nova função de Ecklie, sem deixar o bom-humor para falar sobre o novo sub-xerife. Disseram a Grissom que Conrad sentiu falta dele, coisa da qual ele não duvidou. Afinal, querendo ou não, sentia que ele precisava do supervisor; talvez para se sentir mais confiante ou para saber que a situação estava sob controle. 

Grissom ouviu cada um falar e não se limitou a se perder nos próprios pensamentos. Deu valor a cada palavra, cada riso e se atentou a cada detalhe em suas expressões faciais e corporais. Riu com eles, talvez até mais que na última vez. Anteriormente eles ainda se recuperavam do susto com Warrick, que por pouco não foi incriminado por uma injustiça. Naquela tarde suas mentes ficaram leves. Não haviam preocupações aparentes ou pensamentos perturbados. Uma tarde para se lavar a alma. 

Mais de duas horas se passaram ali. A circulação de clientes era menor o que gerou uma sensação maior de privacidade, como se o tempo corresse mais devagar. O tom de voz, assim como a presença das pessoas, diminuiu com o passar do tempo. Estômagos saciados, era a hora de diminuir o ritmo. 

Grissom tinha certeza de que não se esqueceria daquela tarde. O desejo de realizar aquele encontro deu certo e foi uma das sensações mais agradáveis que recebeu. 

— Eu queria recomeçar de onde parei — disse ele de repente. Aos poucos, eles se voltaram para ouvir o que ele tinha de falar. 

Com um sorriso tímido, Grissom apoiou as mãos sobre a mesa e continuou. Pegou coragem naquele breve momento. 

— Este restaurante... foi uma escolha inusitada. Mas eu queria começar neste ponto exato. Parte da minha vida me foi tirada e sei que não vou recuperar.  

— Você merece isto. — Warrick falou, sendo apoiado pelos outros. 

— Obrigado, Rick. — Grissom respirou fundo, como se o coração começasse a bater mais rápido. — É por isso que agora... eu estou oficialmente fora do CSI. 

Silêncio na mesa.  

Olhares duvidosos, hesitantes. Cada um se virou para o outro tentando imaginar se o que acabaram de ouvir era verdade ou apenas coisa de suas mentes. Ficaram quietos de inícios; perdidos em dizer alguma coisa ou esperar por uma explicação.  

Nick pigarreou para se livrar de algo que incomodava sua garganta. Talvez fosse o nervosismo ao imaginar que fosse uma piada do amigo. Porém, quando atentou para sua feição serena, quase séria, começava a imaginar que fosse mesmo verdade. 

Warrick franziu as sobrancelhas por incredulidade. Se recusava a acreditar que Grissom falava sério. Não foi a primeira vez que ouviu seu humor áspero e não seria a última. Talvez tenha sido apenas uma brincadeira para mudar o clima. Talvez.  

— Foi isso mesmo que eu ouvi? — Greg o questionou, ensaiando uma risada nervosa. Ele encarou seus amigos imaginando que tentavam buscar uma resposta sincera assim como ele. 

— Sim, Greg. — Ele assentiu com naturalidade ao piscar uma vez. 

A resposta foi o estopim para realmente tê-los deixado em choque. Grissom não estava mentindo. tudo aquilo era verdade, muito longe de ter chegado ali para depois surgir com uma desconversa. Ninguém mais se arriscava a questioná-lo tão diretamente. Imaginavam que era preciso cuidado ao dizer as próximas palavras. Os segundos passavam e nenhuma luz surgia entre eles. 

A maioria se perguntava perplexa: "Grissom? Gilbert Arthur Grissom, o maior viciado em trabalho que conheciam e que não se desligava dele por quase nada, deixar o CSI?" "O que está se passando naquela mente?" Por trás de seu rosto sereno, sem vestígio de hesitação ou arrependimento tinha que ter algo mais. Por certo tempo tentavam decifrar aquela mente. Sem sucesso.  

— Antes que me questionem: venho pensado bastante nestes últimos tempos. Não foi uma decisão que tomei de repente. 

— Mas... Griss... — Nick o interpelou, chegando a tirar o palito recém posto na boca. — Tá falando em... deixar o Laboratório... 

— Eu acredito que tudo na vida tem um ciclo, Nick — explicou Grissom ao gesticular com as mãos. — Também acredito que meu ciclo trabalhando no laboratório chegou ao fim. 

A mente de Warrick o incitava a continuar, a perguntá-lo se realmente tinha certeza de que seu momento chegou. Se o efeito da internação e trauma sofrido continuava afetando o supervisor, fazendo-o tomar decisões um tanto radicais por seu gosto. Depois que se recuperou, há um mês, Grissom nunca mais pisou no Laboratório para trabalhar. Valeu-se apenas de visitas informais, sempre permanecendo pelo tempo que achava necessário.  

Aquele era mesmo o Gil Grissom com quem falou há mais de três meses? 

— Para falar a verdade, eu também não acreditei quando esta ideia me veio à mente — comentou, aliviando o clima pela primeira vez. — Refleti arduamente e decidi que estava na minha hora. Mas não pensem que vou abandoná-los. Meu trabalho no Laboratório chegou ao fim, não minha amizade com vocês. 

— É o mínimo, não acha? — Nick brincou, tentando consolar-se.  

— Vocês foram a melhores pessoas, a melhor equipe que eu trabalhei em anos de carreira. — Apesar da sinceridade, Grissom teve dificuldade em se expressar da melhor forma. Tentava focar no olhar de cada um, mas se desviava deles em pouco tempo. 

Ele sorriu por nervosismo e visou Sara, ativando seu mecanismo de defesa em situações ansiosas. A vontade que teve no momento foi de se despedir e ir embora o mais rápido possível para fugir da situação que ele mesmo criara.  

Um breve gesto de Sara foi o sinal para que continuasse como estava. Ele não sabia se era bom ou ruim. 

— Me desculpem. Imaginei tanto este momento... mas não ensaiei um discurso adequado. — Grissom sorriu de lado. 

Ao visar Catherine, a mente de Grissom se encheu de curiosidade ao perceber que, dentre todos os quatro, ela era a única a não mostrar surpresa pela notícia. Diferente deles, a supervisora sorria orgulhosamente, como se já no fundo já soubesse o teor do assunto antes mesmo de ser contado. O inesperado, para ela, foi apenas no começo e a forma com a qual ele anunciou. 

— Então quer dizer que você é um aposentado, oficialmente? — Greg caçoou dele. Assim como Nick, usou do humor para melhorar o clima por ali. Praticamente estavam dando adeus ao supervisor-chefe. Se soubesse que o caso do qual trabalhou junto dele meses atrás fosse o último, Greg teria dado mais valor. 

— Você acha que eu estou tão velho assim, Greggo? — Ele ergueu as mãos fingindo indignação. Cruzou os braços em seguida. — Agora fiquei chateado. 

— Prepare-se, Greg. — Catherine o alertou. — Hoje você sai daqui falido. 

— Ou desempregado. — Nick deu de ombros. — Acho que ele ainda pode te demitir. 

— Vocês são cruéis. — Sara comentou após rir. 

— Ah, não me diga que não faria isso com ele, Sar? — O texano replicou, inclinando-se para a frente no intuito de ouvir sua resposta. 

O sorriso característico de Sara, somado à presunção de sua face, foi o suficiente para Nick, que aceitou a resposta do mesmo jeito que ela. Acompanhando a cena, Greg se viu cada vez mais isolado. 

— Na próxima vocês arranjem outro para importunar — declarou o jovem CSI. Mas após isto, olhou arrependido para Grissom por ter se esquecido momentaneamente de sua saída. 

— Não se preocupem. Haverá outros encontros como este. — O então ex-supervisor afirmou. — Não sei quando, mas vai acontecer — disse entre uma risada. 

— Ah... — Envergonhado, Greg levou a mão à nuca para disfarçar junto de seu sorriso amarelo. 

— Eu queria que soubessem disso por mim. Repito: vocês foram as melhores pessoas com quem trabalhei e... os melhores amigos que já tive. 

Silêncio de repente entre eles. O pior dos silêncios que se poderia ocorrer ali. O semblante amigável de Grissom foi forçado pelo próprio, que já sentia o efeito da tristeza tomando conta de si. Por mais que tenha feito um esforço para passar despercebido, não conseguiu evitar. Simplesmente estava dando trabalho e, principalmente, aos seus amigos de trabalho. 

Achou que seria fácil (ou não muito difícil) dar a notícia, ainda mais acompanhado de sua futura esposa. Todavia, teve a impressão de ter sido muito mais complicado e se deixou perder pelas próprias palavras. Timidamente, baixou a cabeça, esperando em vão por algo que o salvasse. 

— Que tal a gente brindar esse momento? — Catherine falou não muito tempo depois. Suas palavras despertaram Grissom de seu mundo e fizeram com que ele desse atenção a ela. Intrigado, teve o desejo de perguntar o porquê e de que forma ela, aparentemente, "sabia" da notícia. 

— Eu concordo. — Sara, que pouco se manifestou nos momentos seguintes à declaração de Grissom, decidiu que aquela hora lhe era propícia. Ela visou Catherine de um jeito amigável e no intuito de motivar os outros a fazerem o mesmo.  

— Vamos pedir mais um café — disse Warrick. Nick se aprontou para chamar o garçom e fazer o pedido. — Poderíamos ter preparado uma despedida melhor se tivesse avisado antes. — Ele se referiu a Grissom. 

— Foi por esta causa que resolvi falar agora. Evitar ao máximo qualquer tipo de homenagem. Mais do que já recebi. — Ele falou num tom cômico, agora um pouco mais relaxado. Sua resposta, claro, não foi de muito agrado para Warrick e para os outros. Todavia, era compreensível pela pessoa quem falou.  

Em poucos minutos o garçom chegou com uma jarra de café comum recém passado e serviu a todos. Quando se retirou dali, os amigos trocaram olhares variados; entre confiança e um pouco de melancolia. O efeito de horas de conversa fiada parecia ter perdido a força. 

— Faltou bem pouco para o Gil não estar com a gente! — Catherine tomou a palavra. Falou de um jeito para tentar animar seus ânimos, ainda abatidos por causa da notícia. — Isso aqui é para se comemorar! 

— Cath tem razão. — Warrick comentou e em seguida a fitou por um instante. Foi discreto, mas o tipo de apoio que achou que sua namorada quisesse receber. Disse aquilo, também, para mostrar a si mesmo que nem ele, nem ninguém tinha o poder de decidir por Grissom. — Griss não é um robô como a gente pensava, afinal. — Ele riu, sendo seguido pelos outros. — Ele tem suas escolhas, vai viver a vida dele!  

Era melhor se "despedir" de Grissom saindo do trabalho do que num cemitério, pensava Warrick, imaginando que os outros seguiam seu raciocínio. O golpe ainda seria sentido por algum tempo, mas seria algo passageiro. Nunca poderiam se esquecer do que não apenas ele passou, como o que os outros já enfrentaram. 

— Então... vamos brindar ao Gris. — Nick tomou a iniciativa e ergueu sua xícara de café. 

— Vocês não precisavam fazer isso. 

— Você não está em posição de decidir. — Catherine retrucou quase rindo, fazendo-o se retrair um pouco sobre a cadeira em resposta. — Vamos, vocês todos! — Aproveitando que Nick já segurava seu café, aproveitou para fazer o mesmo e incentivar os outros. 

Não levou muito tempo para que Sara, Greg e Warrick pegassem suas xícaras e as erguessem até o centro da mesa. Grissom ficou em desvantagem. Já não "aguentava" nenhum tipo de homenagem porque morria de vergonha e não se sentia digno de tanto reconhecimento. Incentivado pelos outros, foi o último a erguer a xícara para concretizar o momento dedicado ao próprio. 

— Se não pode vencê-los... — Ele comentou sem se focar em alguém, erguendo sua xícara. 

— Por Grissom. — Warrick quem tomou coragem e disse as primeiras palavras naquele brinde. — Por... — Naquele breve e ligeiro momento, Brown pensou num discurso emocionante ou em palavras de destaque para fomentar a ocasião. — Por ele estar aqui com a gente mais uma vez. 

— Por Grissom. — Os outros disseram em uníssono. Grissom foi o único que não falou. Permaneceu quieto, carregando um meio-sorriso, ainda envergonhado pela cena.   

Não esperava se entristecer como se entristeceu. Até sua noiva repetiu as palavras dedicadas a ele, desmontando-o por completo. Visando-a brevemente, notou seu sorriso orgulhoso. “Orgulho de quê”, questionava-se, morrendo de vergonha. Tinha que "acabar" com aquilo de uma vez ou as coisas poderiam piorar para ele. 

— Eu... Obrigado por isso. A todos vocês — comentou Grissom antes de tomar um gole de sua bebida. Continuava corado de vergonha. 

— Nós quem temos que agradecer a você, chefe. — Greg falou. Abatimento era quase nítido em sua voz. 

— Não precisa me chamar assim — respondeu ele. — Sua nova chefe, ou melhor, antiga, continua sendo Catherine. — Apontou discretamente para a amiga, que os observava com uma expressão boba no rosto. 

Quando indicou seu desejo de sair aos superiores, Grissom fez questão de indicá-la para continuar com o bom trabalho que estava sendo feito. Não confiava noutra pessoa senão ela. Aquele era mais que um voto de confiança por sua afinidade e anos trabalhando juntos; Grissom tinha certeza que Catherine saberia lidar com o novo cargo. 

— Não pensem que vão ter moleza comigo no comando oficialmente. — Ela gesticulou em negativa com a mão. — Se preparem para o trabalho duro e mais hora extra. 

— Oh, céus. Mais? 

A resposta de Warrick causou riso nos outros. Ele visou a namorada e foi contemplado com um olhar quase mortal. Sabia que ela iria cobrar por isso; talvez não naquele dia, mas em algum outro momento. Fazendo uma careta de quem sabia estar encrencado, Warrick “tentou” amenizar as coisas entre ela. Os outros continuavam dando pilha. 

— Se me derem licença... — Grissom falou já se levantando. Deu a entender que iria no banheiro ou coisa do tipo. Não foi o suficiente para que os outros parassem de brincar e focassem nele, para seu alívio. Sara foi quem lhe deu mais atenção, apenas checando para saber se estava tudo certo. Ele apenas sorriu para lhe confirmar. 

Decerto, ele foi ao banheiro; aproveitou, inclusive, para molhar o rosto e respirar fundo. Aquele café de despedida o estava tocando demasiadamente, o que não era para ser assim. Estava conhecendo um novo lado mais sensível que não imaginava possuir. Aquela não era a hora para isso. 

Ao sair, prestes a fazer seu caminho de volta à mesa, deparou-se com Catherine. Sorrindo, estava sentada ao balcão como se estivesse esperando por ele. O banheiro ficava um pouco distante da mesa e a presença de outros frequentadores dificultava a percepção do grupo naquela direção. 

— Aceita uma bebida? — sugeriu com um semblante amigável. Grissom se limitou a negar e agradecer. Ainda insistente, gesticulou para que se sentasse ao lado, no banco em que ela guardou especialmente para ele. De início, o então ex-supervisor hesitou, mas se viu “obrigado” a aceitar seu pedido. Não foi para tomar alguma coisa sozinha que Catherine se sentou ali, pensou ele. 

Ajeitando-se no banco à sua esquerda, Grissom chegou a apoiar os braços na bancada, olhar para baixo e respirar fundo.  

— Você já sabia, não é? — Ele perguntou em voz baixa, virando o rosto minimamente em sua direção. 

— Muito antes de você — respondeu sem tirar o sorriso do rosto. 

Grissom riu em silêncio; pela resposta e por não imaginar que Catherine estaria dois passos à frente dele. Quase sempre era assim. Agora entendia o porquê de um rosto sereno após ele dar a notícia. Foi óbvio. 

— Estou muito feliz por você — ressaltou. — Por vocês dois. 

Carregando um meio sorriso, Grissom apenas balançou a cabeça por algumas vezes. 

— O que? Achou que eu não ia entender o que me disse no Laboratório naquele dia? — Ela brincou, chegando a olhar para a frente do balcão por um instante. Estava a ponto de pedir um uísque ou algo semelhante. — Eu devia ter adivinhado de cara. — Antes de voltar a falar, Catherine fez uma pausa.  

Silêncio. Enquanto cruzava as mãos sobre o balcão, Grissom olhou para a mão direita, sem o anel de noivado que comprara. Deixou o casamento um assunto privado, discutível somente entre e ele a noiva. Imaginaram que ainda não era a hora de revelá-lo abertamente. Se bem que a amiga ao lado pudesse imaginar. 

Grissom acabou pedindo por um suco de laranja. Evitou o álcool porque retornaria ao volante. Catherine pediu o mesmo. Não houve conversa entre os dois por alguns instantes que, em silêncio, saboreavam a bebida fria.  

— O que achou do Eli? — Ela perguntou antes de tomar um gole do suco. Tudo o que soube foi por Warrick, que voltou para casa extasiado pela tarde que passou na casa de Grissom. Não parava de falar nos presentes recebidos e o quanto ele os adorou, talvez mais que o filho. Warrick comentou que escolheria aquela reunião para contar aos outros sobre o filho. Imaginou que falava sobre ele naquela hora; não sabia ao certo como ele diria. 

— Uma graça. Warrick está no caminho certo e vai acrescentar positivamente na vida do filho. — Grissom assentiu. 

— Concordo. Ele está a todo vapor, pensando até em se mudar para garantir um espaço melhor para Eli. 

Sorrindo ao ouvir aquilo, Grissom tomou um gole generoso da bebida e só após uns dez segundos arqueou as sobrancelhas por curiosidade. Virou-se para ela, questionando-se sobre como sabia do filho de Warrick já que ouviu do próprio não ter contado aos amigos. 

— Bem... — A supervisora curvou os lábios sorrindo quase descaradamente. Fez de tudo para segurá-lo. — Digamos que agora ele me diz as coisas antes de todo mundo... 

Num primeiro momento Grissom fez um gesto com a cabeça que entendeu o que ela disse, porém, passados alguns segundos, virou-se para ela novamente questionando se o que ouviu foi o que realmente ouviu. Tudo o que recebeu foi uma breve gargalhada e nenhuma resposta direta. 

— Eu... prefiro me abster dos detalhes — disse ele antes que recebesse algo, torcendo para que os pensamentos que povoaram sua mente se dissipassem. Quanto menos soubesse, se o que achava que sabia fosse real, melhor. 

Catherine riu de novo, chegando a levar a mão à testa. Nem ela, nem Warrick saberiam como falar do relacionamento aos outros. Ninguém planejou como seria, apenas que um dia eles iriam saber. O anúncio de saída de Grissom tornou a tarefa ainda mais “complicada”. Eles não estavam num ambiente particular para falar aquilo de modo tão direto; se ele não entendesse, Sara, ao menos, iria entender. 

O silêncio entre eles retornou. 

— Estava na minha hora. — Ele voltou a falar passado um minuto. 

— Vai fazer falta, mas eu entendo. 

— Eu não acho. — Virando-se em sua direção para encará-la mais diretamente, Grissom agora sorria sem hesitar. 

— Ah, tá. Joga a bomba pra mim e depois sai de fininho. — Ela o ironizou. 

— Não há ninguém em que eu confie mais para assumir o turno da noite que você, Catherine. 

Ele não parecia nem um pouco ressentido de sua decisão. Catherine percebeu isso em cada palavra, cada entonação e em cada olhar de Grissom para ela. 

Catherine quis dizer muito mais. Uma enxurrada de coisas que sequer imaginou pensar, coisas das quis diria para o amigo numa possível ou iminente saída do Laboratório. Grissom era tão aficionado pelo trabalho que cogitar um “discurso” de despedida para ele parecia uma ideia distante ou difícil demais para se pensar.  

Então limitou-se ao pouco: 

— Cuide-se, tá bom? 

— Eu vou. 

— E cuide dela — ressaltou a supervisora. — Vocês merecem isso. Não podem ficar separados. 

Ele desviou o olhar par a amiga por um instante, para baixo, antes de voltar novamente com seu foco. Estendeu a mão direita no balcão chamando sua atenção, mas não obteve resposta. Então a movimentou-a como se chamasse por ela de modo infantil, até. Imaginou que estivesse chateada, desanimada; algum sinônimo do qual tentava compreender por causa de seu estranho comportamento. Não iria desistir tão facilmente dela. 

Catherine o encarou com desdém. Impressionante no começo, foi se revelando apenas uma encenação, um fingimento vindo de uma atitude entre amigos. Sem que pudesse resisti-lo, a supervisora se deu por vencida e estendeu sua mão para ele, que a pressionou com a firmeza da confiança e carinho que tinha sobre ela. 

— Não poderia ter feito nada do que fiz se não fosse você. — disse ele enquanto observava suas mãos, ainda unidas. Catherine tinha algo que Grissom não possuía, o que ajudava a manter o grupo unido. Mais de uma coisa na verdade: tinha o carisma, sensibilidade que ele lutou para cultivar em si mesmo, teimosia. Não poderia imaginar seus anos como supervisor sem ela. 

— Droga, não me deixe emotiva agora. Já sofri demais com você. — Ela brincou. No fundo tinha seu pingo de verdade. 

— Obrigado, Cath. — Ainda segurando sua mão, Grissom a pressionou uma última vez. 

Apesar de almejar aquele cargo há um bom tempo, Catherine sentiria sua falta. Tinha de confessar. Sentiria falta da presença do amigo no Laboratório trabalhando junto dela num caso ou surgindo com seu jeito esquisito e humor duvidoso. Entretanto, não podia prender ninguém de suas vontades, longe dela disso. Grissom merecia aquela vida, ter alguém para a amar e ser correspondido e ter paz na mente e alma.  

— Obrigada, Gil. 


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Notas finais do capítulo

A conversa entre o Gil e a Cath no final :(((((((((((

Eu quase comecei esse cap não do zero, mas do 5/10! O original ficaria muito grande com partes "desnecessárias" então precisei aparar as arestas ~e mesmo assim ficou grande eu entrei em desespero~. Até ficaria legal de postar, mas o cap teria umas 8 mil palavras com o tipo de conteúdo que se distancia um pouco do tema principal.

Tava tranquila escrevendo este capítulo até lê-lo depois de revisá-lo, aí eu fiquei mal kkkkkkk A bad chegou atrasada, não esperava que ficasse triste com o que eu mesma escrevi. Acho que deu certo a ideia kkkkkk Por que eu fui inventar um negócio desse kkkkk:(

Não vou postar as curiosidades da fic porque este ainda não é o último capítulo, falta mais um. Mas a história já está fechadinha, este é o detalhe importante. Vamos considerar o próximo como um epílogo.


Obs: a tradução do título desta fanfic seria mais um "para Grissom" que "por Grissom", mas eu quis fazer um trocadilho com o nome do cap e do título, acho que vocês entenderam. Sei lá, na hora do brinde ficaria estranho falar "para" em vez de "por" e ok eu vou ficando por aqui.

Obs 2: No contador de palavras do Word dizia que tinha menos de 7 mil palavras então o que vale é a minha opinião kkkkkkkkkkkk



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