Nemesis escrita por ariiuu


Capítulo 71
Da felicidade ao desespero num piscar de olhos




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Da felicidade ao desespero num piscar de olhos

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21 de Dezembro de 2012, 05:05 PM

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Brooklyn – Nova York

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Mary Crystal havia chegado no apartamento de Steve duas horas antes dele. Os dois não se encontravam a três dias e resolviam passar um tempo juntos.

Depois de um dia repleto de afazeres a mando de Nick Fury e a prisão de Alexander Pierce, que havia dado muito trabalho para ser capturado, a garota resolvia relaxar antes que o Capitão chegasse. Estava sentindo seus ombros pesados e os músculos tensos, então, decidia usar a banheira dele, para um banho relaxante, afinal, segundo o próprio Steve, ela já era de casa.

Mary ficou por uma hora na banheira... estava se sentindo muito carregada nos últimos tempos...

As cenas do pesadelo de dias atrás, ainda lhe assombravam, e a Segundo-Tenente tinha uma sensação estranha ao se recordar do quão aterrorizante tudo aquilo parecia...

A expressão apreensiva em seu rosto no momento em que tentava relaxar na banheira, mostrava que na verdade, estava desesperada por dentro...

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Kiara achava que aquele pesadelo poderia ser uma visão de seu futuro...

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Mas ela não tinha certeza de nada...

Imersa em seus próprios devaneios, a garota resolvia sair da banheira, se vestir e secar os cabelos.

Após meia hora, ela terminava de se vestir, completamente limpa e com os cabelos ondulados, presos num rabo de cavalo alto.

Tentando esquecer suas preocupações, a loira perambulou pelo apartamento de Steve, observando os detalhes que passaram desapercebidos na maioria das vezes em que esteve ali.

Havia um caderno de desenho sobre a mesa da sala, e que ela curiosamente resolvia abrir.

As páginas estavam amareladas nas bordas. Havia dezenas de rostos desenhados nas folhas... pessoas da turnê com a USO pelos Estados Unidos. Meninas, roupas, vestiários, e lugares das cidades onde se apresentaram.

Steve tinha feito turnê por toda a costa leste para arrecadar dinheiro para os títulos de guerra, na ocasião. Ele e todo o grupo também foram a teatros europeus, algum tempo depois, apenas para entreter as tropas, e acabaram parando na Itália.

Mary reconhecia um lugar desenhado nas páginas, que mais precisamente ficava em Roma.

E ao folhear outra página, algo chamou sua atenção...

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Um macaco montado num monociclo, segurando um guarda-chuva e um escudo com estrelas...

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Era assim que Steve se sentia antes de se tornar de fato, um herói...?

Do que já conhecia do Super Soldado, Kiara sabia que o mesmo era diferente dos tradicionais soldados americanos... o loiro não sabia reagir a elogios e não se sentia confortável na presença de pessoas que o admiravam. Ele sempre se retirava antes dos aplausos, como se quisesse se atirar em buraco qualquer. Ele sabia que sua arte não requeria plateia e sua força não estava na multidão. Odiava a sensação de ser exemplo para alguém e insistia em dizer que não nasceu para ser inspiração de ninguém. A fama não o apetecia e os holofotes não o comoviam...

Steve preferia ser abraçado pela solidão... ainda mais quando emergiu do gelo e se viu perdido no século 21, mas... Mary estava mudando todas as suas concepções aos poucos...

Sabendo que a vida de seu namorado não havia sido nada fácil, ela resolvia ajuda-lo no que podia, apenas para que ele se sentisse melhor.

E então, a loirinha já estava na cozinha, lavando a louça, ajeitando algumas coisas, apenas para manter tudo limpo e organizado, afinal, ela amava aquele lugar e amava agradar o Super Soldado, ainda que para ele, apenas sua presença ali fosse suficiente.

E então, finalmente Steve chegava sem que Mary notasse sua presença, já que ela estava muito concentrada.

Ao perceber alguns ruídos na cozinha, o Capitão cruzava o corredor, dando de cara com Kiara lavando a louça.

Encantado pela forma como sua namorada se mostrava tão zelosa por ajuda-lo na limpeza de seu apartamento, como se também fosse a casa dela, o loiro apenas sorriu... plenamente feliz...

Os dois estavam sozinhos... então aquele era o momento perfeito para roubar um beijo de sua garota.

Steve se aproximava da Segundo-Tenente sorrateiramente, e a agarrava por trás, beijando possessivamente a curva do pescoço feminino.

— Hey! – Mary protestava, se encolhendo, sentindo um forte arrepio na nuca diante dos lábios desesperados do Super Soldado que lhe desferiam uma série de beijos apaixonados ao longo de toda a sua pele.

— Desculpe, mas não consigo resistir... você é linda demais pra apenas admirar de longe... – O loiro murmurava contra o ouvido dela, fazendo-a se virar instantaneamente para ele.

O Capitão se sentia com um alvo para aqueles olhos verdes tão claros...

Os dois se entreolhavam intensamente... porém, ele não gostava de ver os cabelos da garota presos daquela forma...

E então, Kiara era surpreendida, sentindo seu rabo de cavalo sendo solto lentamente, com a sensação dos dedos de Steve espalhando os longos fios...

— Bem melhor agora... – O loiro confessava, segurando o pequeno elástico e ajeitando com os dedos os perfeitos cabelos dourados de sua menina.

Mary apenas soltava um riso divertido em resposta.

— Quer dizer que você gosta dos meus cabelos soltos?

— Às vezes gosto de vê-los presos só pra admirar seu pescoço... mas hoje eu prefiro eles assim... – O Capitão acariciava as madeixas onduladas, sentindo os fios sedosos e macios deslizarem facilmente entre seus dedos...

— Você é mesmo um bobo... – A loirinha sorria, completamente encantada...

— Sei... um bobo apaixonado... mas feliz por ter a namorada mais linda de todo o universo... – Steve tocava a covinha esquerda de Mary Crystal com a ponta do dedo indicador... fazendo-a sorrir ainda mais para ele...

E antes que percebesse, a Segundo-Tenente ficava na ponta dos pés, elevando o rosto, e movendo a mão direita para segurar a parte de trás do pescoço masculino, apenas para que pudesse pressionar um doce e delicado beijo nos lábios celestiais do Super Soldado...

O loiro se surpreendia com a suavidade sedosa e macia dos lábios da garota e automaticamente a beijava de volta... passando os braços ao redor do corpo feminino, aprofundando o contato pleno e eletrizante...

Era sempre mágico e envolvente quando os dois se beijavam... Mary Crystal tinha o gosto inefável de um chocolate belga ao som de um Hard Rock acústico numa tarde de primavera... a textura acetinada de sua boca era deliciosa... e ele amava se perder ali...

Kiara apertava os braços ao redor do pescoço do Capitão, sentindo o corpo quente e firme lhe envolver, fazendo-a sentir um arrepio impetuoso... como uma brisa congelada...

Ambos submergiam num mundo particular, onde só os dois existiam... era pura magia...

Quando se envolviam num abraço, era como se agasalhassem suas próprias almas... a sensação era tão aconchegante...

Steve apertava Mary Crystal com mais firmeza, fazendo as costas da loira arquearem ainda mais... ela podia senti-lo sustentar seu peso com tanta facilidade...

Os dois se afogavam numa intensidade tão sideral... era muito mais do que uns amassos numa tarde de sexta-feira... era muito mais do que carícias e uma transa quente num sábado à noite... tinha a ver com aquele abraço que mais parecia um refúgio... uma âncora... um lar... e da companhia que curava... o companheirismo nas horas boas e ruins... os pés juntos e as mãos entrelaçadas...

Era muito mais do que fazer o peito dele como travesseiro e acordar juntos depois de uma noite fria de inverno... era muito mais do que ver o primeiro sorriso preguiçoso do Capitão América e seu beijo de bom dia... era mais do que esperar amanhecer e vislumbrar o sol abraçar as paredes do quarto... era mais do que sair da cama quente, descalça, e sentir o gélido e firme assoalho abaixo dos pés...

Era amor na forma mais sublime, poética e mágica... era um vínculo que nem mesmo o tempo poderia romper...

Depois de estarem submersos por longos e quase eternos três minutos num beijo apaixonante, Steve e Mary quebravam o contato para que pudessem respirar...

O Capitão pressionava a testa na dela, olhando para aqueles lindos olhos esverdeados...

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— Eu te amo tanto...

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Steve murmurava, com o olhar vidrado nos olhos da loira... era como se pudesse enxergar o reflexo da alma de Kiara em sua perfeita íris verde... que transbordava paixão...

A garota deixava que um sorriso confino florescesse em seus lábios...

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— Não sou o seu primeiro amor, mas adoraria ser o último, Cap...

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Ele a fitava com atenção, achando aquelas palavras sérias demais...

— Acho que você já sabe que não vai existir mais ninguém daqui pra frente...

— Será...? – Ela o instigava, mas convencida de que ele estava certo.

— Não vai... é impossível...

— E o que mais você fará para me manter presa a você pra sempre...? – Mary sorria, o provocando, enquanto mantinha os braços envolta do pescoço masculino.

— Bem... minha casa não é tão grande, mas é aconchegante... a cama é um pouco estreita, mas você pode se acostumar com o tempo... podemos dormir de conchinha todas as noites... pela manhã, eu te trago café bem quentinho... e de brinde, te cubro de beijos... o que acha...? – Steve sugeria, fazendo-a rir de alegria...

— Uau... isso tudo é muito tentador!

— Posso fazer coisas ainda mais surpreendentes se você permitir...

— Se você continuar falando essas coisas desse jeitinho tão fofo, eu vou me jogar em cima de você e te dar tanto carinho, que vou fazer com que perca totalmente o controle e me dê uma noite quente de fondue... – Ela o ameaçava com uma expressão lasciva no rosto.

— Ops, então acho melhor me afastar... – O loiro desfazia o enlace envolta do corpo da garota, recuando dois passos para trás...

Mary sorria... já estava acostumada com aquele jeito tão certinho, puritano e cavalheiro... ela achava encantador o medo que Steve tinha de quando ela o beijava com vontade, fazendo-o ofegar... de sua forma de se desculpar por achar que se havia se comportado como um pervertido... e de falar demais e balançar os pés por conta da timidez...

Porém, por mais que a Segundo-Tenente soubesse que o Capitão fosse um homem tão comportado, quando tirado dos trilhos, ele virava uma verdadeira fera selvagem e se deixava ser controlado por seus instintos mais primitivos... mas isso era um bônus... um presente divino ao qual ela só conseguiria ter de tempos em tempos, e claramente aquele não era o dia para ver seu namorado sair da jaula... infelizmente...

— Cap, vá tomar um banho e me deixe fazer o jantar! – Kiara o empurrava para fora da cozinha, pois sabia que Steve havia tido um longo dia cansativo de trabalho ao lado de Fury, na base da SHIELD em Manhattan.

— Certo... serei rápido pra não te deixar sozinha...

— Nada disso! Eu me concentro melhor quando estou sozinha e também preparei a banheira pra você relaxar. Pode ficar lá o tempo que quiser! – Ela exigia, com um olhar meio autoritário, fazendo-o rir em resposta.

— Que menina detalhista e exigente...

— Eu só quero que você relaxe após um dia exaustivo de trabalho... – Ela piscava, sorrindo ternamente para o Capitão.

— Vou ouvir seu conselho então... – O loiro se aproximava, dando um rápido selinho nos lábios de sua menina, como forma de agradecimento.

E então, ele se afastava, sorrindo e acenando para ela...

— Eu já volto, cristalzinho...

Kiara acenava de volta, lhe dando tchau...

Ela o observava saindo dali... e céus, como amava cuidar de Steve...

Tudo o que Mary Crystal queria, era dar a ele o maior dos presentes que merecia, após sua vida conturbada e tensa por conta de seus problemas de saúde, e por ter passado pelo terror da segunda guerra mundial... mas...

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Por que ela tinha a sensação que aqueles lindos momentos não aconteceriam mais...?

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A garota chacoalhava a cabeça, tentando esquecer todos os pensamentos ruins, se concentrando apenas em cozinhar...

Estava disposta a fazer um jantar inesquecível para seu príncipe patriota...

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Steve ficou por exatos quarenta minutos na banheira... a água estava maravilhosa e seus músculos rígidos relaxaram completamente... mas talvez não fosse apenas por conta da água e dos sais de banho que Mary havia preparado, mas pelo lindo fato de ter a presença de sua namorada ali... ele amava quando passavam algum tempo juntos e aproveitava cada segundo ao lado dela... relaxando completamente, como se estivesse no paraíso...

O loiro então resolvia encerrar o banho, e ao sair da banheira, sentia sua pele estremecer por causa do clima frio... ele tinha esquecido de ligar o aquecedor.

Ao se secar, pegava sua loção corporal favorita, aplicando em locais estratégicos, porque sabia que Mary amava aquela fragrância...

O Capitão vestia roupas limpas e sofisticadas, afinal, precisava surpreender sua namorada.

Ele vestia uma blusa de manga comprida escura que se moldava facilmente em seus bíceps e uma calça jeans, que valorizava completamente o seu bumbum... claro, tudo para agradar sua menina...

O loiro terminava de se barbear, secava o cabelo, penteando-o num topete perfeito e aplicava uma dose de seu perfume predileto, mas...

Quando Steve abriu a porta do banheiro, se surpreendia com o que via em sua frente...

A visão o fez paralisar no meio do caminho entre o banheiro e seu quarto...

Ele engoliu a seco... sentindo suas pernas tremerem levemente...

Seu coração disparava violentamente dentro de seu peito... suas mãos começavam a suar...

Para qualquer pessoa, a cena que o Capitão via no momento, poderia ser algo completamente banal... simples e sem importância... mas não para ele...

Steve contemplava Mary Crystal ali... em seu quarto... dobrando suas roupas perfeitamente... cuidando de seus pertences... deixando tudo organizado... tudo arrumado, como se ela fosse...

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Sua esposa...

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Kiara o olhava de canto de olho, de pé, surpresa, vendo a toalha ao redor dos ombros dele cair no chão...

— Cap...? – Ela o contestava, com uma expressão tranquila na face, terminando de dobrar algumas roupas do Super Soldado, empilhando-as em cima da cama.

O loiro ainda estava chocado... mas... tentava formular a primeira pergunta que vinha em sua mente...

— Por que está aqui, dobrando minhas roupas...? – Ele a indagava, abismado...

— Eu achei que podia te ajudar nisso, já que você deve estar cansado por ter trabalhado o dia todo...

— Mary...

— Sim...?

— Por que está fazendo tudo isso por mim...? – Steve a contestava seriamente e Kiara podia sentir certa tensão em sua voz.

— Eu já disse. Estou te dando uma mão porque você está o tempo todo ocupado...

O Super Soldado a encarava de modo assustado... não conseguia ver aquela cena e não se sentir fatalmente atingido...

Ele ficou em silêncio, ainda a observando milimetricamente...

A Segundo-Tenente virou o rosto, encontrando-o paralisado com uma feição chocada no rosto...

Steve olhava nos olhos de Mary Crystal como se estivesse procurando por algum tipo de verdade escondida neles... e então, ele engoliu a seco novamente e deixou escapar...

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— Depois de três longos e cansativos dias sem você... eu te encontro aqui... dobrando minhas roupas...?

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— E o que tem isso, Cap?

— Mary... – O Capitão andava em lentos passos na direção da loira, que o olhava confusa, sem entender aquela expressão atônita...

— Você está me assustando, Steve... por que está com essa cara...?

E então, num movimento repentino e inesperado...

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O Super Soldado abraçava a Segundo-Tenente com força, num ímpeto desesperado...

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— É mais forte do que eu, Mary... eu... quero viver com você...

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Sem ter ideia do porquê, o Capitão dizia tais palavras de forma tão assustada, e Kiara sorria, um pouco desacreditada...

A garota sentia seu coração palpitar muito forte... no entanto, resolvia ficar em silêncio...

Steve sentia uma ansiedade desesperada tomar conta de seus sentidos, esperando ouvir uma resposta de sua namorada sobre o fato de o mesmo ter dito que desejava viver com ela, mas a Segundo-Tenente não havia dito nada...

— Diga alguma coisa, por favor... – Ele implorava, respirando pesadamente, ainda a segurando com força naquele abraço desajeitado...

Mary Crystal então se afastava, apenas para fitá-lo...

A garota sorria, pensando em como o loiro era adorável... céus, era impossível resistir a tudo o que ele lhe pedia, ainda mais quando era recíproco... ainda mais quando ela também desejava exatamente a mesma coisa que ele...

A Segundo-Tenente trancava seu olhar no dele, sorrindo encantadoramente...

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— Você não sabe quanto tempo eu esperei por essas palavras...

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O Capitão abaixava a cabeça, um pouco constrangido, mas tão feliz por ouvir de Mary Crystal o que mais ansiava...

— Você... também quer isso...?

— Eu estou sempre te dizendo que quero viver ao seu lado, mas você nunca leva a sério...

— Ah, bem... é que... achei que era cedo e muito precipitado... – O Super Soldado gaguejava, corando levemente.

— Qual o problema? Você acha que eu ia esperar você pedir a minha mão primeiro?

— Isso... não soa um pouco errado...? Não estamos indo rápido demais...?

— Hmm... pode até ser, mas estamos no século 21... e a virada do milênio acelerou tudo...

— Talvez não seja uma boa ideia... seus pais podem não concordar e-

— Steve... relaxa... por que está com tanto medo? Eu tenho certeza que vamos nos casar um dia, então, isso realmente importa agora...? – Mary o tranquilizava, sorrindo de forma angelical...

O Capitão olhava para sua namorada, tão firme e decidida no que dizia... tão disposta a fazer tudo dar certo... tão convicta de que os dois ficariam juntos para sempre...

E então... ele inclinou o rosto, apenas para pressionar um beijo na curva suave do pescoço feminino...

Mary Crystal sentia cócegas, e começava a reclamar, quase derrubando a pilha de roupas dobradas em cima da cama.

— Se você estragar toda a roupa que eu dobrei, eu vou te matar, Cap! – Ela o advertia, mas sua voz fluía muito carinhosa para ser levada a sério.

O loiro sorria, a puxando ainda mais contra ele...

— Você está com frio...? Porque eu adoraria te aquecer... – Ele a indagava, porque sentia o corpo feminino estremecendo diante do contato... a voz do Capitão soava rouca e mais sexy do que o normal... e aquilo a fazia congelar de tão excitante...

Kiara o encarava meio incrédula. Steve realmente estava dizendo que queria aquecê-la?

— Por que está me fazendo essa pergunta...? Você voltou atrás sobre o fondue...? – Ela o provocava, com um sorriso cínico nos lábios.

— Tudo vai depender de você... – O loiro não dizia nem que sim e nem que não, e a Segundo-Tenente começava a rir de nervoso.

— Hmm... e o que devo fazer pra você ceder...? – Ela murmurava contra o ouvido dele e a vibração de sua voz fazia um arrepio gelado percorrer a espinha do Super Soldado.

— Bem... se você continuar com essas insinuações de casamento, família, lar... acho que não vou conseguir resistir por muito tempo... você achou meu ponto fraco... – O rosto do loiro adquiria um leve tom avermelhado, mostrando timidez e embaraço.

— Ooh, é sério!? Devo vestir um avental e assar um bolo de chocolate pra você se sentir mais excitado então? – A loirinha brincava, fazendo-o rir e corar ao mesmo tempo.

— Não diga que vai assar um bolo... isso é fatal pra mim...

— Você gosta mesmo dessas coisas, não é...? Será que devemos marcar a data do nosso casamento pro ano que vem e começar a planejar o nascimento do nosso primeiro filho...? – Kiara voltava a provoca-lo, fazendo-o sorrir completamente... tão pleno e feliz...

— Mary... pare de me fazer sonhar...

— Eu só quero te fazer feliz, Cap... eu te amo muito e quero fazer da sua felicidade, a minha maior missão de vida... mais do que qualquer outra coisa...

— Mais do que a sua carreira...?

— Posso conciliar tudo isso...

— E como faremos dar certo...?

— Podemos planejar tudo isso juntos... detalhe por detalhe... o que acha?

— Eu acho perfeito... – O loiro murmurava, sentindo sua respiração ficar cada vez mais densa...

— Então vamos decidindo tudo isso aos poucos, Cap... sobre morarmos juntos... sobre adaptação, rotina, trabalho e casa...

— Eu concordo... – E então, o Capitão se inclinou mais uma vez, capturando os lábios de Kiara suavemente. A boca da loira deslizava facilmente sobre a dele...

Os dois se beijavam de novo... intensamente... até que o feitiço era quebrado pelo zumbido suave de uma música que começava a tocar no rádio da sala...

Mary abria os olhos, fitando-o com um sorriso travesso...

— Acho que vai gostar do que eu cozinhei pra você hoje... – Ela sorria, deixando-o ansioso por aquele momento.

— O que você cozinhou...?

— Nhoque à Bolonhesa...

— Uau... um típico prato Italiano... – O loiro sorria, amando quando a naturalidade de sua namorada vinha à tona.

— Tem tantas coisas que você não conhece sobre minha natureza italiana... será que devo revelar...?

— Claro que sim, cristalzinho... eu amo conhecer cada detalhe sobre você... – Ele apertava o enlace na cintura feminina, tocando a ponta do nariz dela com o seu.

— Então hoje teremos coisas inéditas... – Mary Crystal declarava, fazendo Steve sorrir ainda mais...

Aquela noite foi especial... depois do jantar, os dois assistiram a um filme e Kiara resolvia pegar seu violão que havia deixado no apartamento dele alguns dias atrás.

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Ela cantou e tocou para que Steve dormisse... e o Super Soldado sabia que não poderia mais dormir por conta própria após aquela noite, porque a Segundo-Tenente era o calmante natural mais perfeito e eficaz que existia...

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No dia seguinte, o casal STARY passeava por Manhattan, de mãos dadas, felizes e muito apaixonados, mas no caminho para o Central Park, encontravam Sam e Riley.

Os dois aviadores sorriam, felizes por verem que o casal briguento finalmente havia se acertado.

— Uau, vejam só que casal mais lindo, passeando por Nova York em meio as luzes de natal de Manhattan!

— Sam e Riley... quanto tempo... – O Capitão os cumprimentava.

— E aí, rapazes? Como andam as coisas? – A Segundo-Tenente também cumprimentava seus colegas de trabalho.

— Todos na base estão com saudades da fadinha voadora, sabe? Mas eu deixei claro que agora ela está em boas mãos... – Sam revelava, sorridente.

— Você não espalhou pra ninguém que eu e o Cap estamos juntos, certo!?

— Não... quem tem de fazer o anúncio são vocês dois, e... quando é que vão oficializar esse namoro, hein?

— Em breve... – A loirinha sorria, plenamente alegre.

— Então não vai demorar muito pra você pedir a mão da fadinha pro sogrão, hein Cap!? – O Falcão cutucava Steve, que sorria tão feliz quanto Mary Crystal.

— Bem, eu ainda não sei como agir em momentos assim... e estava esperando pegar alguns conselhos com você... – O loiro corava, porque tudo aquilo era muito novo para ele.

— O Sam realmente é um manual para homens solteiros. Até acho que ele deveria virar consultor amoroso profissional. – Riley brincava com o amigo, que até se sentia lisonjeado diante do elogio.

— Ah, vamos parar de falar de mim! Vocês dois são muito discretos... aposto que já estão saindo há semanas!

— Claro, mas se dependesse do Cap, estaríamos saindo há muito mais tempo. – Kiara sorria cinicamente em resposta.

— E o que estão fazendo aqui em Nova York? – Steve os indagava, curioso com a presença dos dois aviadores na cidade.

— Uma mini-missão pela Força Aérea. Nada complicado. O recesso começa há poucos dias também.

— Hmm... falando assim, sinto falta de Colorado Springs... – Mary choramingava, apertando o braço de Steve.

— A Amber e as meninas estão esperando por você.

— Será que devo chutar o Fury e voltar amanhã...? – A Segundo-Tenente olhava para Steve, com aquele olhar apaixonado, fazendo os dois aviadores assobiarem.

— Não queremos estragar o clima amoroso, então podem continuar o passeio porque nós vamos nessa!

— Foi bom ver vocês, rapazes. Ainda temos que ir num jogo de Baseball juntos. – Steve se despedia de ambos.

— Claro! Eu estou devendo isso pra você e o Barnes. Vamos marcar qualquer hora!

— Até mais, rapazes! Juízo! – Mary também se despedia, vendo Riley acenar.

— Juízo vocês dois também, hein!? – Sam dava tchau para o casal, que voltava a caminhar pelas calçadas próximas ao Central Park.

Tudo estava lindo... as luzes da cidade em clima natalino, os casais andando juntos e colados por causa do frio, a suave neve que caia do céu branco...

Steve e Mary sorriam um para o outro, felizes por estarem juntos, mas...

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Repentinamente, na mente da Segundo-Tenente, o cenário ao redor começava a se desfazer... ficando embaralhado... fora de realidade, inexplicável e ilógico...

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Kiara começava a ver as mesmas imagens do dia do pesadelo... e automaticamente seu corpo perdia as forças...

Steve rapidamente a segurou pelos braços ao perceber que a garota parecia ter perdido o equilíbrio.

— Mary, você está bem!? – Ele a contestava, completamente preocupado.

— Mais ou menos... senti uma vertigem muito forte... – A garota fechava os olhos, passando as mãos por seu rosto.

O loiro se encontrava assustado e em choque diante da expressão de sua namorada.

— Vamos procurar um lugar para você sentar...

— Steve... – Ela pegava no braço do Super Soldado, ainda muito assustada...

— O que foi...? – O loiro a encarava com muita apreensão. Ela parecia mais pálida que o comum.

Kiara pensava em dizer sobre as imagens em sua mente, mas achava que não devia preocupa-lo.

— Não, não é nada... acho que só preciso ir pra casa descansar...

— Você está tendo visões, Mary Crystal...?

— Não exatamente... – A garota não conseguia admitir verdadeiramente. Tinha medo de dizer a ele o que estava em sua mente naquele exato momento.

O Super Soldado encarava a Segundo-Tenente, completamente assustado.

— O que você está vendo? O que anda sonhando ultimamente...?

— Eu não sei... são imagens desconexas que não fazem sentido algum... mas não se preocupe, Cap... eu estou bem... – A loira sorria, fingindo descaradamente que não estava atribulada.

— Você tem que me dizer tudo... não pode esconder nada mim, entendeu? – O Capitão agarrava o braço da garota, deixando claro que estava incomodado com aquela situação. O olhar dele mostrava isso... seus olhos azuis brilhavam apreensivos.

— Eu nunca vou esconder nada de você, Steve... não se preocupe...

— Não quer ficar comigo hoje? Devo ir para a torre daqui a algumas horas. – O Super Soldado sugeria, fazendo-a arregalar os olhos.

— Eu... não sei, Steve... acho melhor não...

O Capitão respirava fundo, olhando atentamente para sua namorada...

— Tem certeza...?

— Não se preocupe, eu estou bem... - Kiara sorria, fingindo que nada estava acontecendo...

Os dois passaram o resto do dia juntos... muito quietos, coisa que nunca aconteceu nenhuma das vezes em que saiam... Mary sempre esteve muito eufórica em todos os seus encontros com Steve, mas nas horas posteriores, se mantinha calada... calada até demais... e obviamente o Super Soldado percebia, só não entendia o porquê a Segundo-Tenente não estava dando detalhes de suas visões e sonhos dos últimos tempos...

Ela estava escondendo algo dele...?

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Depois do susto que passou, Mary Crystal voltava para a casa de Wanda e Pietro. Ela tinha planos para fazer as malas e viajar para Washington DC aquela noite, porque passaria o natal com seus pais, mas... a garota não sabia mais o que fazer... talvez devesse ouvir o conselho de Steve e ir para a torre dos Vingadores?

— Já está em casa...? Pensei que ficaria com o Steve até amanhã... – Wanda se levantava da poltrona onde lia um livro, recebendo Mary na entrada.

A feiticeira notava o semblante de assombro da Segundo-Tenente, mas não entendia.

— Aconteceu alguma coisa, Mary?

A loira a fitava com uma expressão de suplício...

— Wanda... acho que minhas últimas visões e sonhos... são sobre coisas que acontecerão no futuro... só que... eu não tenho certeza...

— Por que não tem certeza...?

— Por que as imagens estão desconexas... não consigo entender completamente o que significam...

— Você está apreensiva? Não é melhor ficar com o Capitão hoje?

— Ele sugeriu a mesma coisa...

— Então vá...

— Eu prometo que vou... mas antes, preciso que você me ajude com algo... preciso me certificar de que não estou ficando louca...

— Ficando louca...? – Wanda arqueava uma sobrancelha, achando aquelas indagações um tanto confusas.

Mary Crystal olhava intensamente para os olhos da garota, imaginando que talvez a feiticeira pudesse vasculhar sua mente, e encontrar respostas para o que ela já vinha sonhando há semanas...

— Wanda... podemos fazer uma peregrinação mental agora?

— Sim, claro...

— Talvez você consiga entender as imagens desconexas em minha cabeça... eu não consigo decifrar... são verdadeiros enigmas...

— Mas será que conseguiremos...?

— Não sei... só que hoje sinto que podemos fazer algum progresso. Você pode fazer isso por mim...? – Kiara agarrava as mãos da feiticeira, que as sentiam levemente trêmulas.

— Certo... vamos nos sentar e tentar. Tente relaxar e se concentrar como sempre fazemos...

— Tudo bem...

E então, as duas se sentaram no sofá, de frente uma para a outra...

Wanda tocava a testa da garota com a mão direita, prestes a entrar em sua mente...

A Feiticeira Escarlate adentrava a um ambiente caótico... era a forma mais assombrosa e misteriosa que contemplava da mente de Mary Crystal... suas emoções estavam intimamente ligadas com os acontecimentos ilógicos de sua cabeça...

Sem explicações, a garota percebia que o ano daquelas imagens era de 2013....

Wanda caminhava lentamente... no escuro breu... vendo algumas faíscas logo à frente... e então...

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Ela se aproximou de uma janela e vislumbrou um local totalmente diferente do que já viu antes... parecia outro planeta...

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Lembranças de uma agenda repleta de anotações vinham na mente da feiticeira... eram memórias de Kiara, sobre uma pessoa... uma pessoa chamada Wendy Lawson...

E aquele planeta, era o lugar de origem dela... o nome...?

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Hala...

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Faíscas em forma de eletricidade surgiam repentinamente, e agora, Wanda parecia ter sido transportada para outro local, dentro de um dos edifícios da cidade que contemplou na entrada...

Na sala, havia um homem que trajava uma armadura escura e segurava um cajado comprido... sua pele era azul e seus olhos eram roxos...

Embora não soubesse quem ele era, nem que lugar era aquele, Wanda vislumbrava com dificuldades o rosto de uma pessoa conhecida ali... ela estava caída e seu sangue encobria parte do chão...

Ao fitar a fisionomia da pessoa caída na frente daquele homem, a Feiticeira arregalava os olhos...

O sangue vermelho estava nas mãos daquele ser...

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Ronan o Acusador...

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Ele virou o rosto e passou a encará-la... mas naquele momento, Wanda sentia uma aflição agonizante lhe acometer e então... seus olhos mudavam de verdes para vermelhos...

A Feiticeira respirava densamente, vendo a cena assustadora em sua frente... e perdendo o controle, seus poderes começavam a oscilar...

Várias imagens fragmentadas ecoaram de forma dolorosa em sua mente e ela começava a gritar...

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Wanda gritava, segurando a cabeça com suas mãos, caindo de joelhos no chão...

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Mary Crystal balançava os ombros da garota, no ímpeto de fazê-la sair daquele cenário.

Wanda abria os olhos... sua íris se encontrava em tons avermelhados...

Ela ofegava, suando frio... ainda não acreditava no que tinha visto...

— O que aconteceu!? O que você viu, Wanda!? – Mary a contestava de forma desesperada. Isso nunca tinha acontecido. A peregrinação que a Feiticeira vinha fazendo em sua mente no decorrer do tempo, sempre terminava sem qualquer reação... mas agora, Wanda estava ali, com os olhos arregalados, completamente assustada...

Os flashes das imagens que viu, ainda estavam nítidos em sua mente...

— Wanda...? – A Segundo-Tenente estava em choque e receosa...

A garota olhava para a loira... hesitante se deveria ou não contar o que viu, mas... como esconderia tais visões...? Mary Crystal precisava saber...

— O ano é 2013... eu vi um planeta que não era a terra... claramente esse lugar tem ligação com os documentos que você tem guardados de uma doutora chamada... Wendy-

— Wendy Lawson!?

— Sim... Wendy Lawson...

— E o que mais você viu!?

— Eu vi... um homem assustador que segurava um cajado repleto de sangue... ele não era um terráqueo... parecia ser daquele planeta...

— E onde eu estava...? – Mary mostrava muito choque e assombro... o que tudo aquilo significava?

Wanda engoliu a seco, tentando impedir que suas palavras saíssem, mas não podia esconder... ela precisava dizer...

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— Nessa cena... diante desse homem... você... estava... morta...

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Os olhos de Mary Crystal alargaram e uma compressão forte acometia seu estômago... automaticamente suas mãos começavam a suar e ela sentia seu coração batendo desesperadamente dentro de seu peito...

A Segundo-Tenente não conseguia dizer mais nada... estava completamente alarmada, e então, começava a arfar... numa reação violenta de puro e completo medo, aflição e agonia...

— Mary... – Wanda fechava a distância entre ambas, abraçando a loira com força, se sentindo sufocada e sem saber o que dizer ou fazer...

Kiara começava a sentir algumas lágrimas se formarem em seus olhos... se fosse em outra época, ela contestaria a versão que Wanda havia visto, mas ela sabia que algo estava muito errado nos últimos dias... ela podia sentir uma sensação mortífera pairando sobre si enquanto ia dormir... era a morte sobrevoando ao redor de sua alma...?

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As duas se abraçavam... completamente assustadas e desacreditadas...

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Mary Crystal começava a chorar... a única coisa que vinha em sua mente era o rosto de Steve...

Céus, ela iria morrer...? Como poderia deixa-lo...? Como poderia deixar de existir se agora ele precisava dela...?

Por que aquilo estava acontecendo...? Por que com ela...? Por quê...?

— Agora as imagens fazem sentido... os flashes imprecisos que vislumbrei das vezes em que peregrinei a sua mente, tinham sempre ligação com esse lugar e esse homem, mas não conseguia ter certeza de nada, pois você não o conhece... – A Feiticeira dizia, com a voz trêmula, num desespero excruciante.

— Me mostre as visões... – Mary se afastava, segurando os ombros da Feiticeira...

Wanda sentia algumas lágrimas escorrerem de sua face...

— Eu não posso te mostrar essas imagens... são horríveis... – A garota redarguia, assombrada pela cena de Kiara caída no chão, sem vida...

— Por favor... eu preciso ver...

— Mary... não quero que você sofra... é pesado demais...

— Por favor... me mostre... – A Segundo-Tenente insistia, fazendo a garota fechar os olhos, deixando que novas lágrimas escorressem...

E então, a Feiticeira tocava a testa dela, mostrando a imagem do misterioso homem carregando o cajado com seu sangue, e seu corpo estraçalhado no chão...

Nada daquilo fazia sentido... quem era aquele homem? O que era aquele lugar? Por que ele havia lhe matado? Qual era o contexto real?

E embora Mary não entendesse, ela sabia que aquilo era real... aquelas imagens estavam gravadas em sua mente, mas bloqueadas de alguma forma até poucas horas antes... só depois da vertigem que sentiu em Manhattan, ao lado de Steve, tais imagens foram totalmente desbloqueadas para que Wanda desvendasse...

A Feiticeira olhava para o rosto assustado da Segundo-Tenente, molhado por conta das lágrimas...

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— Mary... eu sinto muito...

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— Wanda... precisa me prometer que não vai dizer isso a ninguém! Nem ao Pietro, nem a Natasha e nem ao Bucky!

— Eu não ia dizer nada, mesmo se você não me pedisse...

— E de todas as pessoas... você não pode em hipótese alguma dizer ao Steve! Me prometa, por favor!!! – A loira exigia, soluçando de chorar... Wanda a fitava com muita comiseração...

— Eu prometo...! – E então, as duas voltavam a se abraçar e a chorar juntas...

Wanda não acreditava que Mary morreria daquela forma. Nada daquilo fazia sentido...

Por mais chocada e sobressaltada que estivesse, a Feiticeira Escarlate não estava disposta a cruzar os braços... Mary Crystal já era muito importante para ela, e resolvia ajuda-la na missão de desvendar todos aqueles enigmas que envolviam a sua morte...

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Steve não poderia saber... ninguém poderia saber... seria uma missão apenas das duas...

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As horas se passaram e um novo dia começava...

Mary resolvia tirar aquele dia para espairecer... não havia mais clima para festas de fim de fim de ano, natal ou ano novo... nada mais importava...

Ela entrava no carro que os irmãos Maximoff não usavam, na garagem, e resolvia dirigir para algum lugar... sim, porque quando era assombrada por seus sonhos e visões, ela fugia... sempre fugia...

A Segundo-Tenente sentava no banco do motorista, colocando o cinto...

Ela olhava para frente, vendo que a neve caia levemente... e suaves raios solares surgiam no horizonte... era um fenômeno muito lindo nos céus de Nova York... não era tão típico nevar, e o dia seguinte amanhecer ensolarado...

A garota suspirava fundo, encaixando a chave do veículo na ignição...

Ela resolvia ligar o rádio... um pouco de música talvez lhe ajudaria a dissipar os maus pensamentos e a relaxar...

Ao ligar, ela se familiarizava com a canção que tocava naquela estação...

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Hallelujah  - Jeff Buckley

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Era uma melodia de amor, levemente religiosa... mas triste... muito triste...

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I heard there was a secret chord, (Eu soube que havia um acorde secreto)

That David played and it pleased the Lord, (Que Davi tocava e agradava ao Senhor)

But you don't really care for music, do you? (Mas você não liga muito para música, não é?)

Well, it goes like this: the fourth, the fifth, (Bem, é assim: a quarta, a quinta)

The minor fall and the major lift, (A descensão menor e a ascendente maior)

The baffled king composing Hallelujah… (O rei frustrado compondo Aleluia...)

Hallelujah, hallelujah, hallelujah, hallelujah… (Aleluia, aleluia, aleluia, aleluia...)

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A garota virava a chave na ignição, dando partida...

Mary dirigia na direção a Whitestone Expy. Ela estava disposta a fazer uma longa viagem e sair do Estado de Nova York, indo em direção ao interior do Estado de Connectcut...

Ao vislumbrar os raios amenos de sol no céu, lágrimas brotavam nos olhos da garota... que em meio a um semblante triste e melodiosamente lutuoso, pisava no acelerador... ao nascer do sol... com o rádio ligado ao som de Hallelujah...

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Your faith was strong, but you needed proof, (Bem, sua fé era forte, mas você precisava de provas)

You saw her bathing on the roof, (Você a viu se banhando no telhado)

Her beauty and the moonlight overthrew ya, (A beleza dela e o luar arruinaram você)

She tied you to her kitchen chair, (Ela te amarrou à cadeira de sua cozinha)

She broke your throne and she cut your hair, (Ela destruiu seu trono, e cortou seus cabelos)

And from your lips she drew the Hallelujah… (E dos seus lábios ela tirou um Aleluia...)

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Kiara tentava, porém, não conseguia suportar... as lágrimas eram pesadas demais para simplesmente segurar...

Enquanto seu peito se despedaçava, ela arriscava procurar alguma saída, para tentar se restaurar de alguma forma...

Como podia simplesmente ter o ciclo de sua vida interrompida tão repentinamente e em contextos que não faziam sentido? Como poderia deixar de viver agora que sua vida parecia ter um grande propósito? Como poderia simplesmente deixar sua família...? Seu pai era o homem mais poderoso do país, talvez do mundo... como poderia deixar sua mãe e seu irmão...?

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Como poderia deixar Steve...?

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Os dois já faziam planos... planos a curto, médio e longo prazo... e decidiam morar juntos em breve...

Eles queriam dividir o futuro... partilharem tudo juntos... e agora esse futuro seria interrompido?

Por quê...?

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I used to live alone before I knew ya, (Eu costumava viver sozinho antes de conhecer você)

And I've seen your flag on the marble arch, (E eu vi sua bandeira no arco de mármore)

And love is not a victory march, (E o amor não é uma marcha de vitória)

It's a cold and it's a broken Hallelujah… (É um frio e sofrido Aleluia...)

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Com os olhos marejados em lágrimas, os lábios da Segundo-Tenente suspiravam de tristeza... gotas quentes marcavam suas bochechas...

Mary se sentia como um rabisco... uma bagunça... tão complicada como um dia nublado em meio a um vento forte... uma estrela solitária... sem lar...

Sim, porque naquele instante, não havia nada e nem ninguém que pudesse fazer algo por ela, havia...? E de todas as pessoas que se compadecessem de sua dor, Kiara desejava que apenas uma não descobrisse sobre o futuro trágico que lhe aguardava...

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Steve Rogers...

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O amor era uma ferida e um curativo... espinho e flor... dor e cura... o amor a queimava, e Mary se sentia evaporar... chovendo em pedaços...

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There was a time when you let me know, (Bem, houve um tempo em que você me deixava saber)

What's really going on below, (Tudo o que realmente acontecia)

But now you never show that to me, do you? (Mas agora você nunca me mostra isso, não é?)

But remember when I moved in you, (Mas lembra quando eu movi em você)

And the holy dove was moving too, (E a pomba sagrada estava movendo também)

And every breath we drew was hallelujah… (E todo suspiro que dávamos era um Aleluia...)

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Ao ouvir a letra daquela música, a Segundo-Tenente só se recordava dos dias em que ela e Steve estiveram juntos... unidos... tão íntimos e entrelaçados em todos os sentidos... e o quanto sua vida havia mudado ao conhece-lo... ela se desmontou inteira porque confiou que ele a amaria mesmo sendo desfigurada, intensa e complexa, como um quadro do Picasso...

Mary olhava para longe, pelo vidro do carro... para muito além daquele sol... e todo o futuro que projetou em sua mente, parecia se dissolver como os flocos de neve naquele céu levemente ensolarado... a garota sentia sua alma escurecer enquanto o dia amanhecia...

Ela... que sempre quis desfilar com toda sua alegria para provar ao mundo que era feliz, só desejava se esconder de tudo e todos aquele momento...

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Maybe there's a God above, (Bem, talvez haja um Deus lá em cima)

But all I've ever learned from love, (Mas tudo que eu tenho aprendido sobre o amor)

Was how to shoot somebody who outdrew ya, (É como atirar em alguém que desarmou você)

And it's not a cry that you hear at night, (E não é um choro o que você ouve à noite)

It's not somebody who's seen the light, (Não é alguém que tenha visto a luz)

It's a cold and it's a broken hallelujah… (É um frio e sofrido Aleluia...)

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Mary Crystal estacionou o carro logo em seguida e chorou vinte e oito minutos ininterruptamente... sentia uma solidão profunda, devastadora, invencível e inexplicável...

De todas as pessoas que sofreriam com a sua partida, a única em quem mais conseguia pensar era Steve...

Naquele momento... só quem tinha o poder de fazê-la se sentir viva, podia fazê-la se sentir morta...

Ela passou a vida toda esperando por alguém que talvez pudesse lhe salvar de todos os monstros que apareciam em sua vida... mas louca como sempre, pensou que Steve seria essa pessoa, e infelizmente, Kiara estava errada...

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Ela não podia ser salva por ninguém...

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