Nemesis escrita por ariiuu


Capítulo 5
O Super Soldado e a Fada Voadora




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O Super Soldado e a Fada Voadora

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5 de Abril de 2012, 8:13 PM

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Nova York – Brooklyn

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Mary Crystal caminhava em lentos passos para onde Sam e Steve estavam.

Passos delicados, uma expressão leve e um sorriso confiante descreviam o caráter esbelto da loira.

Os dois observavam a garota se aproximar, e o Capitão América não entendia porque a jovem que antes tocava piano, dirigia-se para onde ele e Sam se encontravam.

Ele a analisava discretamente, se sentindo levemente incomodado, sem nem ao menos entender o porquê.

E quando finalmente garota os abordou...

— E aí, Fada Voadora? – Sam a cumprimentava com um aceno em meio a um apelido que muitos da força aérea a chamavam.

— E aí, Falcão? Como vão as coisas? – Ela o cumprimentava de volta.

— Tudo certo. Você está de licença?

— Sim. Você também está?

— Claro. Ninguém é de ferro. – Sam sorria, com os braços cruzados – A propósito, deixe-me te apresentar: Esse é Steve Rogers, o Capitão América. – Ele revelava o fato mais obvio daquela noite, a ponto de fazê-la rir levemente.

O loiro a cumprimentava, timidamente, com um aperto de mão.

— Muito prazer, senhorita. – Steve mantinha a clássica cortesia do século 20 ao chama-la educadamente de ‘senhorita’.

— O prazer é meu. Me chamo Mary Crystal. – A pequena mão segurava graciosamente a do Capitão.

A voz dela era doce, suave, fina, delicada... aguda... aveludada... quase como um sussurro doce de uma flauta...

Agora que aquela garota estava tão perto e diante de si, Steve a observava detalhadamente...

Ela era muito mais bonita do que supunha...

Longos cabelos loiros levemente ondulados, olhos verdes claríssimos, pele extremamente alva, estatura magra, baixa, e um sorriso enorme e caloroso...

O loiro parecia estar diante de um anjo de luz, porque a Segundo-Tenente possuía uma beleza inigualável e incrivelmente esmerada...

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Aquela garota parecia uma boneca de porcelana...

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O jeito discreto, porém, curioso como Steve a olhava não deixava despercebido que ele havia apreciado sua aparência. E secretamente o Capitão dizia para si mesmo que ela era uma das mulheres mais lindas que já vira em toda a sua vida, só que...

Ele não curtia loiras...

Peggy era sua musa... a representação de tudo o que achava de mais perfeito fisicamente e por muito tempo acreditou que suas preferências começavam por madeixas escuras e terminavam em olhos castanhos, afinal, loiras não eram o seu tipo, no entanto... sua incrível visão de Super Soldado e as recentes impressões que tivera sobre aquela garota, mostravam o oposto de suas convicções.

O que estava acontecendo afinal? Poucos dias naquele século pareciam mudar suas mais profundas concepções?

Quantos anos ela tinha? A julgar por sua aparência, ousaria dizer que ela acabara de completar 18 anos, mas ao ouvir de Sam que a mesma era Segundo-Tenente e Bacharel em Ciência da Computação, com certeza era mais velha... 22 anos, talvez?

Ela era o oposto de Peggy Carter, ao menos fisicamente...

O Capitão não conseguia a encarar certeiramente... e então, apenas atentava para o brilho do lindo brinco de pérola que a garota usava...

Sam notava a postura cordata e ponderada do Capitão em frente a garota, mas ele era homem e sabia que Steve parecia estar levemente imerso nos encantos dela, afinal, era impossível vislumbrá-la e não se sentir fortemente atraído.

O Falcão quis rir e ao fazê-lo se virou para o lado, escondendo o riso que escapava de seus lábios, só que nisso, percebeu que alguém importante havia chegado no evento.

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O Coronel James Rhodes.

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Uma das figuras mais importantes da Força Aérea Americana, talvez o mais importante, cumprimentava a todos no local.

Ao lado dele, Riley, seu melhor amigo e parceiro no 58º esquadrão de resgate.

— Gente, eu preciso cumprimentar o Coronel Rhodes, mas daqui a pouco eu volto.

— Aah... tudo bem... – Steve se sentia um pouco incomodado de ser deixado sozinho naquele evento ao qual não conhecia ninguém e... bem ao lado daquela garota...

— Capitão, mais tarde vou te apresentar o Riley, que trabalha comigo no projeto Falcão. Ele vai adorar te conhecer!

— Será uma honra. – O loiro redarguia, numa postura cortês.

— Faz companhia pra ele, Mary... – E então, Sam Wilson piscou para a garota enquanto sorria, numa postura um tanto insinuante...

A loira entendia a referência.

— Pode deixar. – Ela sorria de volta e então, o observava saindo dali, indo na direção da multidão que cumprimentava o Coronel James Rhodes.

Mary Crystal olhava para trás, percebendo que Edward, o marinheiro insuportável que lhe perseguia, parecia estar discutindo com Amber do outro lado do salão.

Ela revirou os olhos, quase esboçando uma careta. Se pudesse, já teria estourado os miolos dele com algum fuzil e deixado sua coluna cervical à mostra.

Steve notava uma aura um tanto sombria e assassina na expressão dela enquanto a mesma olhava para o lado, mirando alguém de longe, mas ao virar novamente de frente para ele, a aura repentinamente se tornou angelical.

Será que aquela garota possuía dupla personalidade ou era apenas impressão sua?

Mary Crystal sorriu... como um anjinho puro e inocente.

— Bem, acho que o Sam vai demorar para voltar... – Ela começava um diálogo com o loiro, tentando parecer tão tímida quanto ele.

Mas apenas aparentava, já que a loirinha não era tímida de verdade... estava atuando (sendo a personagem que ela carinhosamente apelidou de Cherry Bomb) e ao mesmo tempo que soava engraçado, Mary se encontrava curiosa em ver até onde conseguiria ir com ele.

— Ah... é verdade... – Steve não sabia exatamente o que dizer. A única coisa que prendia sua atenção era os brincos dela, que ao puxar de suas antigas memórias, se recordava de ter visto algo parecido, muito antes de se tornar um Super Soldado.

E obviamente, ela percebeu...

— O senhor parece estar desviando o olhar para o meu cabelo. Meu penteado está bagunçado? – Redarguia, lhe pegando desprevenido e achando muito estranho ser chamado de senhor pela garota, já que desde que acordara do gelo, ninguém o chamou assim...

Esquecia que tinha 94 anos no corpo de um jovem... mas talvez algumas pessoas o enxergavam como um idoso.

— Não... seu cabelo está perfeito. É que minha atenção está no seu brinco de pérola... – Replicava, timidamente.

— Por quê?

— A senhorita... está me lembrando de uma pintura que vi numa galeria de arte, em uma exposição em Manhattan... um quadro de um pintor europeu, se não me engano... – O Capitão mirava o chão, sem muita coragem de encará-la.

— Quando...? Recentemente...?

— Acho que foi em... 1941... – E então, Steve encolheu os ombros, esboçando um sorriso suave e retraído enquanto seu olhar subiu, cruzando com o dela.

Os olhos azuis do Capitão América penetraram singelamente os da Segundo-Tenente, fazendo-a perder momentaneamente sua linha de pensamento.

— Uau... faz bastante tempo...

— Sim... – Ele desviava os olhos novamente e Mary notava o quanto Steve Rogers parecia incrivelmente diferente do Capitão América, aquele que aprendera na escola, e de tudo o que colecionou dele quando ainda era uma garotinha e fã do maior herói americano.

Embora apresentasse uma personalidade tímida, o Capitão possuía naturalmente uma postura imponente. Ele emanava uma aura que refletia cores douradas, recoberta de histórias de guerra, vitórias, derrotas, honras e sacrifícios.

Ainda em silêncio, os olhos azuis de Steve, que em tons cintilantes como os dos querubins, expressados em quadros e esculturas renascentistas que Mary contemplou em diversas igrejas que visitara na Inglaterra, moviam-se de um lado para a outro, mostrando um pouco de nervosismo.

O cabelo perfeitamente penteado para o lado e posicionado para trás, era outro aspecto charmoso, exatamente como os homens dos anos 40 aparentavam e reluzia como ouro quando as luzes do salão refletiam em sua direção.

A farda do exército com alguns broches e que lhe caía incrivelmente bem, apenas completava o aspecto majestoso do Capitão América...

Aquilo a incomodava... não encontrar nele nenhuma imperfeição, não importava onde procurasse.

Enquanto outras pessoas não se apresentavam no palco, várias músicas de diferentes épocas tocavam nas caixas de som do enorme salão.

— Então, o que está achando de tudo...? – Ela o questionava, tentando manter algum diálogo, já que o loiro não parecia estar à vontade de lhe perguntar qualquer coisa que fosse.

— De tudo no geral ou de tudo sobre a festa? – A indagou, fazendo uma pergunta sistemática.

— No geral. – Ela sorria gentilmente.

— Aah, bem... acho que esse século é muito diferente de tudo o que já presenciei antes... – Steve respondia... uma resposta genérica demais, no entanto Mary Crystal sorria ao constatar o sotaque do Brooklyn, uma característica que só os Nova-Yorkinos possuíam.

Era fofo, porém, elegante.

A Segundo-Tenente notava também o leve rubor no rosto dele... Steve Rogers passava uma impressão tão honesta e bondosa, que suas palavras unidas a visão esplêndida de sua aparência, era algo magicamente agradável de se contemplar, e demasiadamente instigante.

Já ele, se sentia como um homem extremamente introvertido... um garotinho que nunca havia conversado por tanto tempo com uma mulher.

Não importava qual ano fosse... 1942... 2012... Ele ainda era o mesmo Steve, tímido e inexperiente com as mulheres...

— E o que mais o surpreendeu depois que acordou no século 21? – A garota fazia outra pergunta, já sabendo que teria de assumir a linha de frente do diálogo por causa da extrema discrição, delicadeza e timidez do Capitão.

— Positivamente ou negativamente? – Ele devolvia a pergunta, e Mary se segurava para não rir. Já constatava que o loiro tinha dificuldades em responder perguntas simples, já que sua interação social não era das melhores.

— Ambos. – Ela redarguia, com uma expressão leve no rosto.

— Positivamente, acho que a tecnologia, embora tenha me assustado com o que vi, e negativamente, a batalha contra um exército alienígena. - Steve se forçava a se concentrar em qualquer lugar, menos nela. Quando olhava para Mary, tinha a impressão de não conseguir respirar corretamente. Parecia que havia um peso em seu peito, tornando sua respiração muito densa.

— Essa invasão alienígena pegou todos de surpresa. Nunca vimos nada igual antes.

— Eu imagino...

— Meu pai esteve em Nova York no mesmo dia que tudo isso aconteceu e deve voltar daqui a algumas semanas. Ele está muito ocupado com outros compromissos. – A garota revelava, deixando o loiro um pouco confuso.

— Seu pai é algum veterano de guerra? Onde ele serviu? – Steve a questionava, deduzindo que o pai da garota era algum militar e tal indagação arrancou uma reação de surpresa dela.

Ele não sabia que seu pai era o Presidente dos Estados Unidos?

Aquilo tornava as coisas... mais interessantes.

— Ele não é militar. Meu pai exerce um cargo... diplomático... – Retorquia, com um sorriso de canto.

— Ah sim... – O loiro não soube o que responder...

Ele não sabia que a pessoa ao qual Nick Fury lhe pediu para ir atrás, como missão...

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Era exatamente aquela garota que estava em sua frente.

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O diálogo entre ambos permaneceu passivo e Mary Crystal notava a resistência que Steve Rogers tinha em abrir um pouco mais a guarda.

Mesmo sendo gentil e lhe fazendo perguntas confortáveis, o loiro não parecia disposto a deixar a postura rígida e tímida de lado.

Ela teria de apelar... no entanto, se perguntando porque ele sempre desviava os olhos dela. Será que o Capitão havia sentido o peso de seu olhar? Será que havia reparado que estava atuando e não sendo verdadeira?

Mary dizia pra si mesma para ter cuidado, atentando para qualquer indício estranho, caso o Super Soldado percebesse algo suspeito em sua atuação.

— Bem, estou achando um pouco injusto que não tenham lhe chamado para fazer algum discurso no palco, afinal, o senhor salvou o mundo ontem, não é mesmo? – A garota exibia um sorriso ainda mais amplo e iluminado, deixando-o embaraçado.

— Recebi uma homenagem logo quando cheguei e acho que eles pretendem me chamar para receber outra, mas no final do evento... ao menos foi o que me disseram...

— Agora faz sentido. O melhor sempre fica para o final. – Ela afirmava com um gentil sorriso enquanto olhava fixamente nos olhos do Capitão.

Mary Crystal piscava... lentamente... sem quebrar o contato visual com ele.

Tinha de aparentar ser gentil, mas sedutora... discreta, mas dianteira...

Steve desviou os olhos mais uma vez.

— E-eu... não acho que qualquer coisa relacionada a mim seja o melhor desse evento... – Replicava, embaraçado.

— É mesmo...? Então me diga... Por que o senhor não é alguém especial...?

Aquela questão o lembrava da pergunta que o Caveira Vermelha lhe fez quando ambos se enfrentaram, só que o sentido da pergunta era inverso...

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O que o tornava tão especial...?

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Tal lembrança lhe fez sorrir, genuinamente...

— Nada me faz especial... sou apenas o rapaz do Brooklyn. – E então, pela primeira vez desde que começaram a conversar, Mary Crystal conseguiu vislumbrar algo puramente verdadeiro em Steve Rogers, algo que não fosse robótico ou tímido...

O sorriso que brotou nos lábios dele, foi algo tão caloroso que ela sentiu tudo derreter dentro de si mesma...

Aquela forte sensação não estava prevista. Tinha que tomar cuidado para não se deixar levar pelas intensas impressões que o Capitão lhe deixara.

Então, a garota se recompôs e continuou o diálogo, já percebendo que Edward tinha descoberto que ela estava conversando com o Capitão América.

Tinha de agir rápido e chama-lo pra dançar, antes que aquele embuste chegasse ali e lhe interrompesse.

— Sei como é não se sentir especial. Tantas coisas ruins já aconteceram comigo, que acho que sou a pessoa mais azarada de toda a face da terra.

Steve inclinou levemente a cabeça.

— Que tipo de coisas...? – A questionou, com uma leve curiosidade. Como uma garota tão linda, talentosa e com uma carreira militar promissora, tinha algum azar?

— É uma lista sem fim... mas vou te dizer uma que me deixou arrasada: quando eu era criança, um garoto que me odiava me empurrou numa vala que havia perto de onde estudávamos. Quando me levantei, cheia de lama, a escola inteira riu da minha cara porque fiquei parecendo a Haggis, a bruxa do filme Pumpkinhead. Fiquei com o rosto queimado em algumas partes, porque havia material ácido onde caí, mas depois de tomar alguns antibióticos, consegui me recuperar.

Embora não soubesse que filme era aquele, o loiro apenas respondeu a primeira coisa que veio em sua mente.

— Graças a Deus que seu rosto não ficou com marcas.

Mary arqueou uma sobrancelha, não entendendo a resposta dele.

Ao nota-la lhe fitando confusa, o rosto do Capitão ruborizou, percebendo a gafe que parecia ter cometido.

— N-não que seu rosto precisasse se curar pra ficar melhor, mas que um ferimento deveria se curar... bem... seu rosto não precisa de conserto, porque a senhorita é uma jovem bonita, quer dizer, uma dama bonita... uma garota bonita, e...

O Capitão América não tinha ideia em como ter um diálogo com uma mulher.

— Ah, tudo bem. Eu entendi o que quis dizer. Não precisa se desculpar. – Mary sorria, gentil e bondosa, mas Steve não parecia satisfeito por ter respondido algo tão estúpido e sentia vergonha de si mesmo.

Não queria parecer que estava jogando alguma cantada ou flertando com ela, então mais uma vez, resolveu se redimir.

— E-eu não queria que a senhorita... pensasse que eu só falei essas coisas com segundas intenções, ou achando que pelo que me disse, eu deveria dizer algo semelhante, mas... é que... é que pareceu... que foi algo traumático e... eu só achei... bem, não importa o que eu achei, me desculpe, foi impróprio da minha parte, então mais uma vez me desculpe e-

Internamente, Mary queria rir desvairadamente maléfica e espalhar para o mundo que Steve Rogers era um homem extremamente destrambelhado com as palavras e com as mulheres, que ele não tinha aquela pose imponente de herói forte o tempo todo, mas externamente, ela só sorriu, percebendo que o Capitão havia lhe dado a brecha que tanto precisava para quebrar o clima formal entre ambos.

— Eu aceito as suas desculpas, mas com uma condição. – Ela deu um passo para frente, encurtando a distância entre os dois.

— Qual condição...? – Steve se encontrava com o rosto corado e seus olhos a miraram, com muita hesitação, mas apenas por educação.

Mary Crystal estendeu a mão para ele e então...

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— Me daria a honra de uma dança, Capitão Rogers...?

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Dessa vez, ela sorriu docemente ousada, notando o olhar azul do loiro alargar de surpresa.

 - A senhorita não está invertendo os papeis? Não deveria ser eu a convidá-la para uma dança...? – Steve Rogers estava perplexo, atônito, assustado e incrivelmente encabulado.

Convidar uma mulher para dançar sempre o apavorava... mas ser convidado por uma mulher para uma dança, era mil vezes pior...

Ele não sabia como reagir.

— Normalmente os homens tomam a iniciativa, porém eu duvido que o sublime herói da América pediria a qualquer mulher para dançar.

— E por que diz isso, senhorita...?

— Creio que o senhor é extremamente seletivo. Então tomei a liberdade de fazer as honras.

Steve arregalou ainda mais os olhos, por conta da ousadia dela.

No começo, aquela garota parecia tão tímida quanto ele, mas agora, mostrava uma postura totalmente contrária.

— Alguém já lhe disse que é deselegante as damas tomarem iniciativas? – Indagou-a, desconfiado.

— Talvez na sua época... porém, o senhor se esquece que estamos no século 21 e tais costumes antigos já estão banalizados.

— Então devo deixar de ser seletivo esta noite e aceitar o seu convite?

— Assim espero e peço que perdoe minha ousadia, mas não podia perder a chance de humildemente fazer um pedido tão atrevido à lenda viva e torcer para que o mesmo considere o convite de uma reles civil...

O loiro não escondia o quão impressionado estava...

Ele conviveu com algumas mulheres, mas a maioria se mostrava excessivamente mais interessada no Capitão América do que em Steve Rogers.

Nos anos 40, quando viajou com todas aquelas dançarinas, ajudando os Estados Unidos de forma caricata, Steve se permitiu alguns flertes baseados apenas em sua fama passageira, mas tais flertes eram superficiais demais. As mulheres só eram atraídas por sua imagem, não por quem ele realmente era.

Por que aquela garota seria diferente daquelas mulheres...?

A postura dele a partir dali, mudou drasticamente, a ponto de parte de seu nervosismo e timidez desaparecerem.

Ele cederia, mas apenas porque estava encarando o convite da garota como um desafio, algo que somente o destemido e aguerrido Capitão América faria, não o tímido e inseguro Steve Rogers.

— Certo... Já que a senhorita pediu com tanta educação e humildade, eu aceito. Mas devo adverti-la sobre algo. – Steve se aproximou, dando um passo para frente, e ambos ficaram ainda mais próximos.

— Sou todo ouvidos... – Ela o encarava, com muita intensidade.

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— Eu não sei dançar...

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Steve revelava e Mary externou uma feição de espanto.

Mais uma vez, sua eu interior estava rindo maldosamente da cara dele, mas sem transparecer nada.

Ela apenas ergueu o rosto e o encarou firmemente.

— Ainda assim... Será uma honra, Capitão. – A Segundo-Tenente completou a frase, sorrindo de uma forma convicta e ao mesmo tempo doce.

No entanto, por um motivo que ela não entendia, Steve parecia menos intimidado e inibido.

Aquilo lhe acendeu o sinal de alerta. Tinha de ficar atenta, porque em hipótese alguma o loiro podia sequer desconfiar que ela estava atuando.

— Então vamos...? – O Capitão a indagava, lhe oferecendo braço.

— Claro... – E então, a garota segurou seu braço e ambos caminharam rumo a pista onde alguns casais dançavam.

De longe, Amber e Edward observavam a cena... abismados...

Mary sentia-se vitoriosa. Um homem tão elegante como Steve Rogers ao seu lado, somado as luzes do salão e a música que tocava, tornava tudo ainda mais perfeito.

Ao chegarem no meio de tantos casais na pista de dança, Mary se posicionou na frente de Steve.

Mesmo estando com um salto de 10 cm, a garota ainda tinha uma altura muito inferior a dele.

O que eram seus 1,71 de altura com salto alto perto dos 1,83 do loiro?

Steve não tinha ideia de como deveria começar... ele apenas resolveu imitar os homens que estavam ali, dançando com suas parceiras.

As mãos do Capitão percorreram pela cintura da garota e ao senti-lo tocar-lhe naquela região, a loira sentiu um leve arrepio na espinha.

E então, Mary colocou os braços ao redor do pescoço dele, encarando aquele par de olhos azuis, que a fitava de forma misteriosa.

Ao estar tão próxima do Super Soldado, a Segundo-Tenente reparava em como ele cheirava tão bem... o suave aroma límpido e fresco de alguma colônia amadeirada que lembrava sândalo e de excelente qualidade, estava impregnada em sua pele e ela podia sentir aquela fragrância maravilhosa entorpecer suas narinas.

Internamente, Steve desejava relaxar, mas não conseguia... havia algo nela que o deixava desconfiado.

Normalmente, seus instintos não falhavam. Esperava estar errado, mas por ora, apenas ficaria atento e se permitiria... aproveitar o momento...

Ele não sabia que movimento deveria fazer e tentava copiar os passos das pessoas ao redor. Percebendo isso, Mary se achegou ainda mais a ele, ficando na ponta dos pés, no intuito de lhe dizer algo.

O loiro inclinou o rosto ainda mais, apenas para ouvi-la dizer em seu ouvido.

— Tudo o que você precisa fazer é se movimentar devagar, em curtos passos num pequeno círculo.

A voz dela ecoava deliciosamente por seus ouvidos e ele se lembrou de quando a mesma cantou e tocou piano.

— Entendi... Obrigado. – Replicava, levemente embaraçado.

Mary voltou a sua posição normal e sorriu de canto, satisfeita.

Naquele momento, Steve se concentrou em guiar a loira no pequeno círculo invisível que a mesma mencionara.

Não estava sendo tão difícil assim... o Capitão tinha de conduzir a dança porque era mais alto do que ela.

A música que começava naquele exato momento, tinha o ritmo de uma valsa e uma letra excêntrica...

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Roxette - Crash! Boom! Bang!

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♫ My Papa told me to stay out of trouble: (Meu pai me disse para ficar longe de encrenca)

"When you've found your man, make sure he's for real!" (“Quando você encontrar seu homem, tenha certeza de que é pra valer!")

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Mary Crystal o encarava, sem desviar o olhar e embora estivesse sendo muito mais o Capitão América naquele momento, porque encarava aquela dança como um desafio, o tímido e inibido Steve Rogers ainda estava ali, quase saindo e assumindo o controle de novo.

O olhar dela... era misterioso e intrigante... parecia analisar seu íntimo e sondar suas intenções...

Olhos verdes como esmeraldas... expressivos e estonteantes... enigmáticos e tradutores de um silêncio revelador...

— Então, Senhor Rogers...-

— Prefiro que me chame de Steve... ainda não consigo aceitar que tenho mais de 90 anos... – Ele a interrompia, lhe advertindo sobre o fato de não gostar de ser chamado de senhor, e por mais que apreciasse tais formalidades, sabia exatamente que as pessoas o chamavam daquele modo porque sabiam que o mesmo tinha 94 anos.

— Tem certeza...?

— Sim.

— Então pode me chamar de Mary. – Ela revelava, deixando-o um pouco perplexo pela afirmação.

— Certo, mas não garanto que conseguirei fazer isso o tempo todo... Senhorita Mary... – Ele enfatizava seu nome e então, a loira sentiu outro arrepio leve, só que dessa vez na nuca...

A voz grave e profunda do Capitão América fluiu intimidante, tolhendo parte de sua coragem em manter os olhos fixos nele.

As mãos de Steve permaneceram respeitosamente na cintura dela, enquanto as dela continuaram na nuca masculina, com os dedos de ambas as mãos entrelaçados.

Os olhos azuis do Capitão voltaram a cruzar com os olhos verdes dela...

— Você não ia me perguntar algo antes de te interromper...? – A questionava, um pouco curioso.

— Bem... a minha pergunta é: o que sentiu quando pensou que não podiam vencer a batalha de ontem... – E então, Mary piscou, lentamente, com um aceno de cílios...

Seu olhar de boneca era hipnotizante...

— Esse tipo de pensamento não passou por minha cabeça em momento algum. – Replicava, convictamente. A voz dele soava firme.

— Por quê?

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— Porque simplesmente... me recusei a desistir...

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Mary Crystal o fitava com muita profundidade. Aquelas eram palavras que somente um homem corajoso e extremamente destemido diria.

Ela sabia, que toda aquela virtude só podia vir de um herói com uma pureza tão insigne como a dele...

No azul de seus olhos, ela contemplava o resplendor do céu... era divinamente celestial...

Steve Rogers era um homem extraordinário... e Mary se sentia estranhamente envolvida...

Não... qualquer pessoa se apaixonaria por tais palavras. Qualquer patriota estadunidense que amava seu país, via no Capitão América o maior ícone de heroísmo que existia. Não havia nada de estranho naquilo.

— E quanto a você, senhorita Mary...? Sam me disse que pilota um caça. – Ele cortou a linha de pensamentos dela.

— Ah sim... eu amo pilotar e acho que é o melhor que sei fazer...

— Isso é impressionante...

— Sim... não há nada mais maravilhoso do que estar imersa no azul do céu, perdida entre as nuvens e sentir aquela sensação mágica de liberdade preencher todos os sentidos... voar... é... a coisa mais incrível que existe...! – Mary Crystal replicava de forma eufórica a sua grande paixão por voar, fechando os olhos e sorrindo largamente quando se imaginava dentro de um dos aviões da Força Aérea Americana.

Ao contemplá-la daquela forma, o Capitão reparava que a garota possuía covinhas, que se acentuavam ainda mais quando ela sorria, e aquilo...

Era fascinante...

Aquela linda garota, que aparentava estar no auge de sua juventude, tão amena, delicada e sorridente, não tinha ideia de como se encontrava maravilhosamente encantadora... mas... não podia ser tão ingênuo e inocente em se deixar ser envolvido pela Segundo-Tenente de longos cabelos loiros.

Mas era difícil, porque aos poucos, sua postura rígida e desconfiada foi se desfazendo.

Mary parecia pouco a pouco ganhar a confiança dele, já que sua timidez retornava a cada frase que ela lhe dizia.

Steve espreitava na garota alguns traços que ele também possuía... talvez fosse isso que lhe fazia abrir a guarda para ela tão facilmente.

Kiara esbanjava seu charme infalível, e mesmo que o Capitão tivesse se deixado levar por alguns momentos, ele se forçava a manter uma postura implacável sem deixa-la controlar seus sentidos e vencer seus princípios.

Quando parava para pensar, a conversa com ela estava sendo a mais longa que já havia tido com uma mulher. Nem mesmo com Peggy havia passado longos minutos num diálogo ininterrupto, embora o loiro a amasse e soubesse que era correspondido.

Mas não tiveram tempo de aprofundar nada... tudo ficou concentrado numa promessa... numa dança... que...

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Nunca ocorreria...

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Ele tentava não pensar sobre isso e resolveu ignorar a melancolia que arriscava tomar conta de seu coração.

O loiro se concentrava na música, que continuava tocando...

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I'm walking down this empty road to nowhere, (Estou descendo esta estrada vazia que não vai para lugar algum)

I pass by the houses and blocks I once knew, (Eu passo pelas casas e quarteirões que um dia conheci)

My Mama told me not to mess with sorrow, (Minha mãe me disse para não brincar com a tristeza)

But I always did, and Lord, I still do, (Mas eu sempre brinco, e Deus, ainda brinco)

I'm still breaking the rules… (Eu ainda estou quebrando as regras)

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Eles permaneceram dançando... girando... e apreciando a música, enquanto outros casais dançavam aos arredores, apaixonadamente...

O ambiente estava tão caloroso e aconchegante e a sua parceira de dança exibia tanta leveza e descontração, que por um momento Steve sentia o peso de sua ansiedade e stress dos últimos dias esvanecer.

O loiro manteve os braços em torno dela... firmemente... um pouco enfeitiçado pela forma como ela o fitava.

O Capitão não conseguia compreender exatamente porque aquela garota, que apareceu tão repentinamente em sua frente naquela festa, havia conseguido lhe convencer a relaxar.

Talvez as mulheres do século 21 não fossem tão diferentes das de sua época?

Mary inclinou a cabeça para o lado, ainda o contemplando tão profundamente... só que com um sorriso de canto nos lábios esplendidamente perfeitos.

O Super Soldado voltava a sentir suas bochechas esquentarem... o que aquela expressão travessa significava?

— Por que está me olhando dessa forma...? – A contestou, se sentindo levemente coagido pela feição enigmática da loira.

— Você é tão cavalheiro... e isso é um atributo tão raro hoje em dia... – Redarguia, em tom de mistério.

— Os homens modernos não agem como cavalheiros? - Steve perguntava, imerso no doce e sedutor sorriso da Segundo-Tenente.

— Não. São uns mal-educados...

— Então, acho que tenho algo para me gabar... – O loiro retorquia, desviando lentamente seu olhar do dela, sentindo-se encabulado quando a garota tecia elogios sobre a conduta que seus pais lhe ensinaram nos anos 40.

— Você tem muito mais coisas para se gabar além da sua requintada educação, Capitão Rogers. – A voz de Mary Crystal fluía docemente suave.

Steve se sentia fortemente lisonjeado e incrivelmente intimidado pelas palavras dela...

O Capitão ainda era o mesmo menino ingênuo, que não sabia desviar das investidas de uma mulher.

— Aah... acho que a senhorita também possui fortes motivos para se gabar...

— É mesmo...? Quais...? – Ela piscava, sensualmente, sorrindo quase que maliciosamente, sentindo seu ego subir as alturas, apenas porque o maior herói americano começava a lhe elogiar... embora não significasse tanta coisa...

— Bem... eu disse anteriormente que a senhorita é bonita... e... suas habilidades com o canto e com o piano são surpreendentes... – O loiro confessava, de modo retraído, sem olhar para o rosto dela.

— Fico lisonjeada... obrigada, Capitão.

Um sorriso genuíno brotava nos lábios da garota diante das palavras do loiro, e por um momento... apenas por um momento, Mary Crystal percebia que não estava atuando...

Ela precisava se recompor...

Longe dali, Amber e Edward observavam a cena da Segundo-Tenente dançando com o Capitão América...

Num clima romântico.

— Como foi que a Mary e o Capitão América foram parar na pista de dança tão repentinamente? – O marinheiro questionava a amiga de Kiara, com uma carranca no rosto.

— Essas coisas acontecem e acho que você devia procurar outra garota pra ser seu par. – Amber debochava, deixando-o irritado.

— Eu não vou desistir dela, Amber. Pare de dar palpites.

— Ok. Mas acho que hoje, você não deve conseguir tirá-la dos braços do Capitão, porque ele é imbatível. – E então, a loira saia dali com um drink na mão, rindo internamente da cara de Edward e achando hilário que sua amiga conseguiu tirar o maior herói americano para dançar.

A garota passou em frente a Sam, Riley e do Coronel Rhodes...

Que se encontravam boquiabertos diante da cena onde Mary Crystal dançava com Steve Rogers.

— Como foi que isso aconteceu? – Rhodes questionava Sam, que também estava bem chocado.

— Não sei... mas o que é que essa garota não consegue?

— Coitado do Capitão... quando a conhecer, vai se arrepender amargamente. – Riley confessava, fazendo os olhos do Coronel Rhodes brilharem, só de imaginar... o que estava imaginando...

— Sabe, rapazes, acho que tenho que contar as boas novas pro Senhor Presidente. – Rhodes, ou como era chamado nas bases: Patriota de Ferro, replicava, com um sorriso satisfeito.

— E quais são as boas novas, Coronel? – Sam questionava, já imaginando o que seu superior diria.

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— Acho que temos um pretendente à altura para Mary Crystal. E tenho certeza que seu pai vai adorar saber dessa notícia.

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O melhor amigo de Tony Stark revelava, deixando os dois aviadores perplexos.

— Tá falando sério...? – Sam ainda não acreditava que aquela fala podia ser real.

— Nunca falei mais sério em toda a minha vida. – Rhodes completava, agarrando os dois rapazes, pelos ombros, num gesto de pura animação.

E a música continuava tocando de modo ecoante pelo salão...

Os dois permaneciam imersos um no outro...

Ambos olhares azul e verde se misturavam... eles estavam cara a cara, se encarando... impetuosamente...

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Cos every time I seem to fall in love, (Pois toda vez que pareço me apaixonar)

Crash! Boom! Bang!

I find the roses dying on the floor, (Eu encontro as rosas morrendo no chão)

Crash! Boom! Bang!

That's the call, that's the game, (Essa é a parada, esse é o jogo)

And the pain stays the same, (E a dor continua a mesma)

That's my real middle-name, (Essa é quem eu sou de verdade)

It has always been the same… (Sempre foi assim…)

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Mary apertou um pouco mais os braços ao redor do pescoço de Steve, encurtando ainda mais a distância de seus corpos enquanto dançavam...

O loiro não recuou...

Um lindo e majestoso sorriso se formava nos lábios vermelhos carmesim da garota e o Capitão se perdia na curva deles...

Mary Crystal era tão dócil e serena por fora... mas tão lutuosa e eclipsada por dentro...

— Por que você sorri tão despretensiosamente pra um homem que nunca viu antes...? – Ele a questionava, curioso por sua postura tão magnânima e jovial.

— Eu já te vi antes... muitas vezes... – Retorquia, num tom radiante.

— Onde...? Nos livros de história...?

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— Nos meus sonhos...

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Aquela declaração o pegava desprevenido.

— Sonhos bons ou ruins...?

— Ambos...

— E o que havia neles...? – Steve se via cada vez mais preso e magnetizado nos encantos e nas palavras de Mary Crystal, sem tanta resistência.

— O que havia neles...? Bem... – A garota principiava, deixando certo suspense no ar, mas completando a sentença dois segundos depois. – Se eu lhe dissesse... – Ela pausava novamente, até que...

.

— Eu teria que te matar...

.

E então, mais uma vez, a Segundo-Tenente sorriu, mas de modo sombrio e ardiloso... tão falaz e triunfante, como uma rainha nefasta e ufana... com um sorriso que mataria qualquer homem de medo...

Mas não Steve Rogers...

O Capitão América apenas correspondeu, sorrindo de volta... tão ilustre, nobre e divino... o extremo oposto dela...

O Super Soldado tinha o brilho e a magnificência de um anjo serafim... a hierarquia mais alta que possuía acesso ao trono sagrado do Deus Pai.

E ela se perdia... se perdia naquele olhar magistralmente azul, na aura esplendidamente dourada, na essência pura de seu caráter, e no sorriso mais luminoso que existia... estava tão perdida que não desejava se encontrar nunca mais...

Porque existiam sorrisos que arrepiavam a alma e valiam o mundo...

E o sorriso de Steve Rogers era um desses...

Causava inveja ao sol, chamava atenção da lua e fazia as estrelas dançarem...


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Notas finais do capítulo

E aí, galera? Curtiram a dança dos dois? Se sim, só tenho algo para dizer sobre o próximo: Vocês ficarão CHOCADOS!

A Mary disse que o viu em seus sonhos. Sim, ela viu em suas visões do futuro, mas isso será explicado mais para frente.

Recomendo a música desse capítulo, que é da dupla Roxette. Eles fizeram muito sucesso no anos 80/90 e a vocalista infelizmente faleceu esse mês. A voz da Marie Fredriksson é linda, gente. Ouçam. Vocês vão se apaixonar.



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