Nemesis escrita por ariiuu


Capítulo 11
Um inesperado pedido de desculpas




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12 de Abril de 2012, 08:55 AM

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Manhattan – Nova York

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Steve Rogers atravessava a faixa de pedestres junto com outras pessoas, rumo a cafeteria que Natasha, Clint e Mary estavam.

No entanto, no meio do caminho, do ladro contrário de onde o Capitão atravessava, havia uma frágil velhinha que andava com muita dificuldade, segurando uma bengala e uma pequena bolsa.

Todas as pessoas passaram por ela e nenhuma se dispôs a ajudá-la a terminar de atravessar a Avenida.

O sinal de pedestres estava prestes a se fechar e a debilitada senhorinha não conseguiria atravessar toda a Avenida a tempo.

Steve percebia que todos passavam por ela, sem se importarem muito.

O loiro olhou para trás, com certo desconforto ao constatar que as pessoas daquele século não pareciam ajudar os mais velhos e então...

Ele deu meia volta, retornando todo o caminho que havia percorrido, apenas para ajudar a senhorinha a atravessar o resto da faixa de pedestre.

O Capitão se aproximou gentilmente e ofereceu auxílio a debilitada velhinha.

— Precisa de ajuda para terminar de atravessar? – A indagou, logo estendendo a mão, prestes a guiá-la o resto do trajeto.

— Ooh sim, querido... é possível?

— Claro. – E então, o Capitão segurou a mão da frágil velhinha.

Mesmo com o sinal prestes a fechar, ele a conduziu pelo resto do caminho, com muita paciência.

A agora sorridente senhorinha, ria diante da gentileza daquele jovem rapaz que fazia questão de segurar firmemente sua mão enquanto a mesma caminhava com dificuldade segurando sua bengala.

De certa forma, aquilo lhe lembrava quando passou a fazer apresentações com a USO, antes de se tornar oficialmente o Capitão América que guerreava na linha de frente. Ele era o alvo das velhinhas, que sempre o achavam bonito e diziam querer um neto como ele.

Steve se sentia extremamente confortável perto das pessoas mais velhas do século 21. Talvez porque os jovens da década de 40 eram os idosos de hoje.

O sinal havia fechado e o Capitão terminava de guia-la para a calçada do outro lado da Avenida Madison. Dois carros ainda esperavam os dois terminarem de atravessar.

Um deles buzinou, mas não era por reclamação e sim porque apreciava o gesto cortês com uma pessoa mais velha e debilitada.

— Mandou bem, garoto! – Uma mulher gritou do carro que passava ao lado de Steve e da senhorinha.

O loiro acenou com a cabeça para a morotista, notando que naquele século, as pessoas estavam tão acostumadas a agirem de modo individualista, que quando alguém fazia uma simples gentileza, parecia ser algo grandioso demais e digno de palmas.

Céus... o que as últimas décadas fizeram com os seres humanos...?

— Obrigada, meu filho. Achei que não conseguiria atravessar. – A risonha velhinha agradecia, com um lindo sorriso, apreciando a gentileza do Capitão.

— Não há de quê. – E então, ele sorriu de volta para ela, que naquele momento, se sentia cativada pela cortesia digna de um honorário cavalheiro.

— Ooh querido, como gostaria que minha neta conhecesse um rapaz tão educado, gentil e bonito como você... mas hoje em dia, as meninas andam preferindo os badboys... – A senhorinha confessava, num tom de sinceridade que fazia Steve sorrir, achando encantador, mas engraçado...

Mal sabia aquela velhinha, que ele provavelmente tinha a mesma idade que ela.

— Tome cuidado. Preste atenção no chão e caminhe devagar. – Ele a advertia, se despedindo.

— Obrigada. Que Deus te abençoe, meu filho. – E então, a sorridente senhorinha acenava, se despedindo do belo rapaz que lhe ajudou a atravessar a rua.

Steve sorriu gentilmente para ela, acenando de volta.

O sinal ainda estava fechado, então lá estava ele, esperando novamente para atravessar.

Enquanto isso, dentro da cafeteria, Natasha e Mary observavam a cena e... ambas pareciam bastante embasbacadas com a cena onde o Capitão América ajudava uma senhorinha.

Era um gesto muito bondoso e altruísta.

Obviamente, a Viúva Negra não expressaria que secretamente achou aquele ato um tanto legal da parte dele.

Já Mary... mirava Steve Rogers com uma feição maravilhada e um sorriso de canto...

Era notável que a garota parecia impressionada com a gentileza e o cuidado que o mesmo mostrava para com as pessoas mais velhas, despretensiosamente...

Uma característica que muitos homens daquele século não possuíam mais...

A loira julgava aquele atributo... bastante fofo...

Natasha percebia que a Segundo-Tenente havia curtido o benevolente gesto do Super Soldado.

Steve conseguia alguns pontos com Mary, o que era ótimo, pois faltava apenas um pequeno empurrão para convencê-la de se juntar a eles naquela enigmática missão.

E então, o sinal finalmente abriu e o loiro passou a caminhar pela faixa de pedestres, atravessando a Avenida...

Seus passos eram firmes, a postura imponente e o semblante misterioso por conta dos óculos escuros...

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A linda e extraordinária epítome do homem perfeito...

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Em poucos segundos, Steve finalmente entrava na cafeteria...

Logo de cara avistava Clint no balcão, segurando um copo de suco de laranja.

Automaticamente, ele se dirigiu ao Gavião Arqueiro.

— Parece que a Natasha conseguiu fazer um grande progresso, porque a diabinha loira permaneceu calma e não se levantou para ir embora. – O agente dizia o que tinha visto da conversa das duas.

— Isso é ótimo, mas não devemos cantar vitória antes da hora. – A voz de Steve soava firme e rígida.

— E é por isso que você está aqui. Agora precisa convencer essa peste a cooperar com a gente. - Clint deixava claro sua antipatia por Mary.

— Espero conseguir.

— Pensamento positivo, Cap. Você vai conseguir. Agora vai lá e arrasa. – Barton articulava, com otimismo.

O Capitão América respirou profundamente, se recompondo antes mesmo de se dirigir à Segundo-Tenente.

Naquele momento, o olhar dele recaiu sobre Natasha e Mary.

A Viúva Negra se despedia da loirinha.

— Espero que cumpra sua promessa, ou não vou te ligar quando for para a Comic Con. – A ruiva afirmava, em tom de brincadeira, arrancando um meio sorriso de canto da garota.

— Promessa é dívida, agente Romanoff. Espero que cumpra a sua também.

— Sou uma mulher de palavra. – E então, Natasha se levantava da mesa.

A ruiva passou a caminhar na direção do agente e do loiro.

— Tudo certo. Ela topou conversar com o Capitão, então agora é com você, Rogers... – Natasha o encarou com consistência e ele assentiu.

— Aqui vamos nós. – O Super Soldado passou a andar na direção da mesa da garota, que se encontrava de costas para ele.

E então...

Steve Rogers chegava até onde a Segundo-Tenente se encontrava sentada, ficando frente a frente com ela.

— Senhorita Ellis... – Ele a cumprimentava, tirando os óculos escuros no mesmo instante com muita classe, revelando os belos e majestosos olhos azuis...

A loira elevou o rosto para fita-lo...

— Capitão Rogers... – O cumprimentou de volta.

— Posso me sentar? – A indagava, pedindo permissão para se sentar à mesa.

— Sim, claro.

O Super Soldado se acomodava no assento da mesa ao lado da janela, ficando de frente para a garota.

Agora que estavam tão próximos, ela conseguia sentir um perfume límpido, puro e refrescante provindo dele.

Era delicioso...

Ok, outro esplêndido atributo que caracterizava positivamente o Capitão América na lista mental que Mary fazia sobre o loiro: Ele era maravilhosamente cheiroso.

O olhar austero, rígido e extremamente impassível de Steve Rogers soava um tanto ameaçador, se Mary Crystal pudesse julgar, porém...

A garota notava resquícios de solidão e devastação bem claras em sua expressão, o que não era mentira, afinal, ele não conseguia dormir direito desde que foi tirado do Alaska, caindo de paraquedas no século 21.

Conseguia enxergar nele, uma expressão cansada, pesada e angustiada.

Será que as demais pessoas próximas ao loiro, notavam o quão arrasado ele parecia?

No entanto, ainda assim, Kiara mostrava uma expressão séria, letárgica e congelada, o extremo oposto do que externou na frente de Natasha.

Ela esperou que ele dissesse algo.

Steve observava a Segundo-Tenente lhe encarando firmemente, com um semblante gélido, neutro e passivo, piscando lentamente, sem quebrar o contato visual...

Aqueles olhos verdes tão claros e espelhados, ainda lhe causavam desconforto. Ela não tinha ideia do quão incisiva e ameaçadora parecia?

Naquele momento, Mary Crystal se assemelhava a uma boneca de porcelana com uma expressão congelada e gélida o suficiente para arrancar um arrepio agudo espinha abaixo.

O Capitão resolveu ignorar todas as fortes e negativas impressões que tinha dela e ir direto ao ponto... sem enrolações, delongas, desculpas, ou qualquer outra coisa...

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Senhorita, o Diretor Fury quer um mapa de todas as bases da HYDRA que a Cosa Nostra tinha conhecimento.

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Mary arqueou uma sobrancelha, impressionada pelo mesmo ir direto ao ponto.

Ela resolveu jogar seu jogo.

— E é só isso que ele quer?

— Não. Ele disse que precisa de suas habilidades para outras coisas importantes.

— Como o quê?

— Essas informações não foram passadas para mim. Estou apenas seguindo ordens.

— Interessante... ele manda e você obedece cegamente, exatamente como um cachorrinho...

Quando Steve terminou de ouvir as palavras ácidas da garota, o mesmo respirou profundamente, recuperando a paciência que havia perdido e tentando se desvencilhar de todas as respostas mal-educadas que pensava em dizer a ela.

— Senhorita Ellis, acho que devemos esquecer os últimos ocorridos e recomeçar, o que acha? – Sugeria, no ímpeto de arrumar uma solução para as divergências que ambos tinham, por conta do choque de suas personalidades tão contrastantes.

— Recomeçar?

— Sim, eu e você.

— Em que sentido?

— No sentido em que estou numa missão onde você está sendo requisitada e que há a possibilidade de trabalharmos juntos, claro, desde que aceite cooperar, e que daqui pra frente, nossa relação seja estritamente profissional, se é que haverá tal relação, porque dependemos de que aceite colaborar com a SHIELD e a iniciativa Vingadores.

Mary ficou em silêncio três segundos, digerindo tais palavras.

— Está dizendo pra esquecer tudo que aconteceu entre nós dois, antes de hoje?

— Sim, exatamente.

— Esquecer que nos conhecemos na festa dos veteranos, que eu te beijei e você me beijou de volta... que me salvou e eu te salvei de volta... e que eu atirei no seu braço e no seu ombro, te xinguei de covarde e te mandei calar a boca, além da nossa última discussão no térreo da Torre Stark dias atrás? - Ela replicava cinicamente, com o único intuito de provocá-lo, mas Steve suspirou, olhando pra cima, sem paciência com tamanho atrevimento e infantilidade.

Ele se recompôs em frações de segundos.

— Como disse, podemos passar uma borracha nisso e recomeçarmos daqui? – O loiro manteve uma postura formal.

— Bem, acho justo, mas um pouco inevitável, no entanto com certeza é a melhor solução.

— Então, a partir de agora, o que vale é o que acontece daqui pra frente. De acordo?

— Sim senhor.

De longe, Clint e Natasha acompanhavam a conversa de Steve e Mary.

Os dois notavam que a dupla parecia estar fazendo algum progresso, já que a Segundo-Tenente permaneceu agindo amigavelmente.

— E o que tem a me dizer a respeito de trabalhar conosco? – Steve a indagava novamente, só que a garota estava olhando para o lado, com os olhos mais abertos que o comum, totalmente distraída com o que o mesmo lhe perguntava.

— Senhorita...? – Ele a chamava, mas a atenção dela não se voltou para sua voz.

Kiara começava a balbuciar algumas palavras desconexas, só que em silêncio...

O que ela estava fazendo...?

— Senhorita Ellis...? – A chamava novamente, estranhando aquele comportamento.

Quando a atenção da loira se voltou novamente para ele, resolvia se desculpar.

— Aah, me desculpe, é que do nada começou uma música que eu não ouvia a muitos anos e fiquei um pouco chocada por perceber que ela estava tocando aqui agora.

Mary se referia a música que começava a tocar na cafeteria naquele exato momento.

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The Cranberries - Dreams

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Quando o Capitão prestou atenção na música, estranhou a letra...

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Oh, my life, (Oh, minha vida)

Is changing everyday, (Está mudando todos os dias)

In every possible way… (De todas as maneiras possíveis)

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And oh, my dreams, (Oh, os meus sonhos)

It's never quite as it seems, (Não são bem o que parecem)

Never quite as it seems… (Nunca como parecem)

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I know I felt like this before, (Sei que já me senti assim antes)

But now I'm feeling it even more, (Mas agora sinto ainda mais)

Because it came from you… (Porque veio de você)

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A música tinha uma pegada alternativa, com vocais femininos e acordes de guitarra acústica.

Era totalmente bizarro e levemente denso, pelo pré-julgamento do Capitão América, que não tinha ideia que tipo de música era popular naquele século.

— É isso que vocês ouvem hoje em dia? – A contestava, intrigado com o som pesado onde uma mulher cantava.

— O quê...? Não... essa música é de 1993 e já enfrentávamos o comecinho da queda do rock ainda nos anos 90. – Mary respondia à pergunta do Super Soldado, deixando-o ainda mais confuso.

— Rock...? Eu acho que ouvi alguma coisa desse gênero nos acampamentos militares da Inglaterra, nas poucas pausas que tivemos enquanto estávamos atrás do Johann Schmidt...

— É mesmo...? O que vocês ouviram?

— Sister Rosetta Tharpe. Ela era ótima... – Steve revelava, deixando Mary Crystal um tanto perplexa.

— Já ouvi falar. Dizem por aí que ela foi uma das precursoras do rock, mas... oficialmente o rock só tomou forma com Elvis Presley, então... você está atrasado... muito atrasado mesmo...

— É, eu sei... não imagino o que aconteceu com a música nesse momento, mas sem querer ser indelicado e voltando ao assunto, pretende me dar uma resposta imediata ou vai pensar a respeito?

— Sobre?

— Se juntar a nós.

— Aah sim... será que posso pensar? Não é algo que posso decidir numa simples conversa de cafeteria.

— Claro. Quanto tempo precisa...?

A garota olhou nos olhos azuis do Capitão, depois desviou o olhar para baixo e então para cima, como se estivesse calculando o que lhe responderia.

E então...

— Eu mudei de ideia, Capitão. Não preciso esperar pra pensar. Quero colaborar. – Retorquia, diretamente.

— Isso é ótimo.

— Com uma condição. – E então, os lábios dela se curvaram num sorriso enigmático.

Steve suspirou impacientemente... céus, o que aquela garota ia exigir?

— Qual condição?

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Eu dou a lista de todas as bases da HYDRA se o Fury me der uma cópia de toda a pesquisa e anotações do projeto PEGASUS da Doutora Wendy Lawson.

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A garota replicava, decididamente audaciosa e o loiro não tinha a mínima ideia do que era aquilo que a mesma exigia.

— Por que está pedindo isso?

— É de meu interesse. Se o Fury não disse a ninguém qual ligação eu tenho com esse projeto, então talvez seja melhor continuar mantendo o segredo guardado.

— Desde que não atrapalhe a missão. Não vejo problemas.

— Essa é uma qualidade que eu aprecio em você, Capitão. Seu desinteresse pelo que nada tem a ver com seus objetivos.

O loiro arqueou uma sobrancelha em resposta.

— Você está sendo irônica de novo?

— Não, estou falando sério.

— Certo, eu direi ao Fury o que me pediu, então, acho que encerramos por hoje.

— Claro, mas antes...

— Sim...?

A expressão no rosto de Mary Crystal mudava drasticamente e ela exibia uma feição contrita... tímida...

— Bem, já que chegamos a um acordo e resolvemos nossas diferenças, passando uma borracha no passado, quero antes me desculpar pela forma como lhe tratei aquele dia na torre Stark. Eu estava muito nervosa, afinal, Nick Fury tirou o meu emprego.

Naquele momento, Steve percebia que a Segundo-Tenente parecia estar falando sério e sendo sincera.

— Bem... acho que é uma reação normal de alguém que está com raiva depois de ser afastada do trabalho por causas injustas.

— Sim... mas também quero me desculpar por ter atirado em você aquele dia em que fomos sequestrados. – Se justificava, num tom apreensivo.

— Tudo bem... não é como se nunca tivesse tomado um tiro.

— Seus ferimentos estão melhores?

— Sim. Minha regeneração é muito acelerada. – Ele a tranquilizava, deixando claro que não se importava, já que o soro de Super Soldado colaborava para uma melhor recuperação.

— Então você entende minha situação?

— Claro.

— E pode aceitar minhas desculpas?

— Se são sinceras, sim... desculpas aceitas.

— Não vai mesmo ficar ressentido?

— Se me tratar de um jeito hostil, não vou retribuir da mesma forma, só que... às vezes eu acabo quebrando essa regra... – E então, o loiro piscou, deixando claro que estava disposto a esquecer as discussões que tiveram nos dias anteriores.

Após as palavras do Capitão, Mary Crystal Ellis sorriu divinamente angelical e seu sorriso era tão contagiante que o Super Soldado correspondia, sorrindo de volta.

Steve Rogers possuía o sorriso mais caloroso que existia, derretendo tudo dentro dela...

Naquele momento, Natasha e Clint saíram de fininho do local, deixando o loiro sozinho com a filha do Presidente.

Provavelmente, a dupla de espiões tinha algo em mente, só que o Capitão América, como sempre, era o último a saber.

— Bem, então vou indo agora. – Steve se preparava para sair da cafeteria, porém, a garota o impediu, perguntando algo inesperado.

— Está indo para o Brooklyn?

— Sim, como sabe?

— Disseram que você mora lá... e bem... será que você poderia me dar uma carona ao Queensboro Bridge Parque?

Steve olhava para frente, procurando por Natasha e Clint, mas eles não estavam mais no local.

Ótimo, agora teria de dar uma carona para ela?

Ele não conseguia recusar um pedido simples, ainda mais de uma jovem dama. Sua polida e exagerada educação conservadora não lhe permitia.

— O parque que fica depois da ponte que liga Manhattan ao Queens?

— Sim!

— Bem… acho que posso te levar até lá… - Replicava, um pouco contra sua vontade.

— Obrigada, mas é possível que você me espere apenas cinco minutos enquanto vou ao toalete?

— Claro, fique à vontade.

— Obrigada, Cap. – E então, Mary Crystal se levantou, correndo na direção do banheiro da cafeteria.

O loiro suspirou aliviado e tenso ao mesmo tempo. De certa forma, havia feito um imenso progresso e agora aquela guerra estranha entre ambos parecia finalmente ter acabado.

Esperava não estar errado... mas o ideal era confiar em seus instintos.

Sete minutos depois, Mary saia do local com a mesma roupa que trajava, mas sem o cardigan, que agora segurava em suas mãos.

A garota também se encontrava com os olhos mais delineados do que antes, os cílios mais longos e os lábios mais avermelhados.

Em sete minutos, a Segundo-Tenente se maquiou... e estava mais apresentável.

Naquele momento, Steve se convencia que ao menos uma coisa não havia mudado nas mulheres desde 1940: A maioria delas sempre retocava a maquiagem quando saiam de um lugar para o outro.

Além disso, ele reparava que a loira usava uma corrente com duas medalhinhas, e a da frente possuía um “A”.

O que aquilo significava...?

— Pronta?

— Sim... – E então, Mary sorriu docemente meiga.

Quando Steve olhou pelo vidro da janela da cafeteria, se lembrando que sua moto estava estacionada do outro lado e teria que atravessar a Avenida, deduziu que o melhor era fazê-la esperar ali, até que estacionasse em frente ao local.

— Espere aqui só um momento. Vou pegar a minha moto do outro lado da Avenida.

— Mas eu posso te acompanhar.

— Não precisa se dar ao trabalho, senhorita. - E então, o Capitão dirigiu-se para fora da cafeteria, indo na direção do veículo.

Mary o analisava, um pouco abismada com aquela educação exorbitante...

O loiro caminhava pela calçada, colocando os óculos escuros novamente enquanto andava na direção do veículo.

Naquele momento, outra música conhecida da garota começava...

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Radiohead – High and Dry.

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Mary colocava seu cardigan em cima do assento da mesa que antes tomava café e observava Steve de longe.

A linda imagem do Super Soldado caminhando despreocupadamente ao som do violão e a voz de Thom Yorke, era uma combinação perfeitamente celestial...

Aquele jeito que ele tinha, prendia tudo a sua volta... Steve Rogers parecia uma órbita repleta de constelações.

O trânsito estava frenético. Muitos carros e pessoas transitavam pelo local…

A agitada Nova York se encontrava sempre em seu auge...

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Two jumps in a week, (Duas escapadas em uma semana)

I bet you think that's pretty clever don't you boy? (Eu aposto que você se acha muito esperto, não é, garoto?)

Flying on your motorcycle, (Voando em sua moto)

Watching all the ground beneath you drop… (Vendo todo chão desabar abaixo de você)

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Mary esperou por cinco minutos, até que Steve estacionasse seu veículo em frente a cafeteria, e então, finalmente o Super Soldado voltou para onde havia a deixado.

— Vamos?

— Sim...

O Capitão América foi na frente e abriu a porta para que ela pudesse passar...

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Céus... por que ele tinha de ser tão cavalheiro...?

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Mary de fato ficava encantada com as maneiras antiquadas de Steve Rogers, e admirava secretamente aquele sotaque do Brooklyn, tão inconfundível... além de suas tentativas de entender todas as mudanças ocorridas nas últimas décadas, embora ainda estivesse se habituando em aprender sobre o mundo moderno, navegando na internet e lendo alguns livros de história quando estava sozinho em seu apartamento.

A música continuava ecoando por dentro da cafeteria, mas audível o suficiente na calçada...

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Don't leave me high… (Não me provoque)

Don't leave me dry… (Não me deixe pior)

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Ao saírem, Kiara se espantava com a beleza magnífica daquele veículo extraordinário que combinava perfeitamente com o Capitão América.

— Uma Harley...? Uau... – Mary mostrava o quão impressionada estava. Nunca tinha visto uma pessoalmente.

— Bem, você saberá qual a sensação de andar nela...

— Com ou sem você? – Ela brincava, entusiasmada.

O loiro soltava sua primeira risada real desde que fizeram as pazes.

— Sabe conduzir uma moto, senhorita?

— Claro, esqueceu que eu piloto um bombardeiro de caça?

— Ah sim, tinha me esquecido desse pequeno detalhe. – Ironizava e ela percebia o resquício de sarcasmo, achando interessante.

— E os capacetes?

— Aah, eu... tenho andado sem...

— Que insensato de sua parte, Capitão. – Ela arqueava uma sobrancelha.

— Tem razão. Mas se dirigir devagar não teremos problemas.

— É uma pena, porque eu amo uma adrenalina! – A garota sorriu de canto, sugestiva.

— Sim... você ama voar... me disse isso na festa... – Steve relembrava, deixando-a confusa.

— Pensei que havíamos decidido não falar mais nada de hoje para trás.

— Oh, sim, você tem razão... me desculpe... – E então, o Capitão virou o rosto para o outro lado, tentando esconder o leve rubor que surgia em suas bochechas.

Ela quis rir, mas se segurou. O Super Soldado tinha uma aparência tão máscula, imponente e majestosa, mas no fundo, não passava de um menininho tímido e inseguro, que se envergonhava por qualquer coisa.

E então, Steve se colocou na frente da moto, estendendo a mão para que ela pudesse se equilibrar e subir no veículo.

E mais uma vez a garota ficava perplexa diante de tanta gentileza e cavalheirismo...

Não era nada forçado... ele de fato era assim.

Naquele momento, a loira via a brecha perfeita para fazer um trocadilho besta, que provavelmente o deixaria confuso.

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Oh, pudinzinho, você finalmente vai acelerar a sua Harley!? Vroom, vroom!

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Steve arqueou uma sobrancelha. O que aquilo significava?

— Pudinzinho...?

— Sim... é uma fala da Arlequina pro Coringa...!

Arlequina? Ele jurava que Natasha tinha dito em poucos dias que Mary Crystal se parecia com uma tal de Arlequina. Seria a mesma pessoa?

— Acho que pela minha cara, você já deve ter percebido que eu não entendi a referência, certo?

— Claro. De qualquer forma, foi só um trocadilho bobo...

— Entendi...

— Desculpe, Capitão... você vai me pedir pra ir com calma, certo? – Ela o alfinetava, sabendo que tais piadas podiam ser muito intensas para ele suportar.

Mas em resposta, o loiro sorriu.

— Algo me diz que não é mais assim que as coisas funcionam...

— Exato... – E então, finalmente, ela segurou a mão dele para subir na Harley.

Mary se equilibrava no veículo, sentindo o calor da forte e gentil mão do Capitão América.

Quando a garota terminou de se sentar, Steve se acomodou no assento, segurando os guidões da moto.

A chave virou na ignição.

Pronta...? – A contestou, enquanto a loira sentia a vibração do veículo.

Ao vislumbrar os ombros largos do Capitão, que ficavam graciosamente sexys naquela elegante jaqueta de couro, ela rodeou a cintura dele com seus braços, segurando-o com força, apenas para que pudessem finalmente sair dali.

— Agora estou pronta... – Respondia convicta e divertidamente.

Steve sentiu uma forte compressão no estômago quando Mary o abraçou por trás... não tinha ideia que ela faria um movimento tão audacioso...

Mas tinha que aprender a reagir naturalmente diante de atos como aquele. As mulheres do século 21 eram muito mais desprendidas de costumes conservadores do que as do século 20.

Ele respirou profundamente...

— Aqui vamos nós. – Replicava, acelerando o motor...

E então, lá estavam os dois... se locomovendo da Avenida Madison para a Rua 79 ao leste.

A velocidade era moderada e os reflexos de Steve eram perfeitos.

Kiara o segurava com força, fascinada pela forma como o mesmo conduzia a Harley Davidson com maestria.

Ela conseguia sentir os músculos fortes por baixo da jaqueta enquanto o loiro atravessava o tráfego, e quando insistia em manter seus olhos fixos nele, segurando-o com força, Mary analisava detalhadamente toda a masculinidade que era realçada pela postura firme e vigorosa que o mesmo esbanjava naturalmente...

Além do delicioso perfume amadeirado com nuances de âmbar e sândalo que entorpeciam suas narinas por conta da proximidade de ambos...

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Steve Rogers cheirava a liberdade e paz...

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E então, naquele momento, o loiro entrava na Avenida Franklin D. Roosevelt East River Drive, uma Avenida que pegava a margem do rio East.

A paisagem do lugar era maravilhosamente magnífica.

O sol em seu esplendor, refletia no fluxo da água, tornando tudo ainda mais fantástico de se apreciar.

Ao contemplar a imagem extraordinária em sua frente, Mary relembrava de suas aventuras no alto, quando pilotou diversos aviões da Força Aérea, em algumas missões.

A garota então soltava as mãos da cintura de Steve, apenas para erguer os braços para o alto, tomada pela fantástica sensação de liberdade.

Ao notar o quão perigoso aquilo parecia, Steve lhe advertia.

— Você vai cair...!

— Não vou...!

E então, Mary Crystal permaneceu com os braços para o alto, os olhos fechados e um enorme sorriso no rosto ao vivenciar o vento batendo em seu rosto e bagunçando os longos cabelos loiros.

O Capitão América achava que a filha do Presidente dos Estados Unidos era alguém muito inconsequente, fazendo coisas tão arriscadas e perigosas.

Mas secretamente ele admirava pessoas assim... por mais que jamais admitisse...

Eles atravessaram a borda da ponte e retornaram, entrando na Queensboro Bridge.

O cenário ao lado era outro, porém, muito mais deslumbrante do que o anterior.

Dali, era possível visualizar a Ilha Roosevelt e também a Ilha de Manhattan bordadas pelo rio East, os raios solares e a imensidão do céu azul em meio as nuvens brancas que complementavam aquele cenário radiante e sensacional.

Steve acelerava e Mary voltava a se segurar nele, ofuscada pelo brilho magnífico de uma das paisagens mais lindas de Nova York.

O Capitão permaneceu conduzindo a Harley numa velocidade célere, até conseguir retornar pelo Queensboro Plaza e virar alguns quarteirões.

Depois de alguns minutos, os dois finalmente chegavam ao local...

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O Queensboro Bridge Parque...

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O loiro desacelerava aos poucos, até parar ao lado de uma calçada.

E então, a Segundo-Tenente desenlaçava sua cintura, deixando-o finalmente livre.

Naquele instante, Steve notava que não estava respirando direito... talvez porque era incomum que uma mulher lhe abraçasse por tanto tempo, ainda que a circunstância fosse a de uma simples carona em sua moto.

— É aqui, certo? – Perguntava enquanto retirava os óculos escuros, prendendo-os na gola de sua camisa.

— Sim... – E então, Mary se apoiou nos ombros dele, se equilibrando para descer da Harley.

O Capitão observava panoramicamente o local...

Por mais que conhecesse Nova York, não se recordava de ter passado naquele parque antes.

Talvez Bucky se familiarizasse com o lugar, diferente dele...

Ao descer da moto, instantaneamente a garota tentava arrumar os longos fios loiros com os dedos, que se encontravam desgrenhados por causa do vento.

A luz do sol clareava ainda mais suas belíssimas madeixas, tornando-as douradas, como ouro cintilante...

Ao notar que Steve lhe observava arrumando seus cabelos, ela o mirou no mesmo instante...

Os olhos dela refletiam um degrade fascinante... misturando o amarelo até o verde limão... e o verde natureza... que atingia seu ápice na primavera, transmitindo pureza e esperança...

Era incrível a possibilidade de enxergar um espectro das mais variadas cores refletidas nos olhos de uma pessoa, e de certa forma, aquelas mesmas cores revelarem parte de um mistério fascinante...

Os lábios dela se curvaram em mais um esplêndido sorriso...

Era ofuscante... ainda mais quando os raios solares realçavam aquele brilho esplendoroso na face da jovem Mary Crystal Ellis.

— Obrigada pela carona, Capitão Rogers. Me economizou uma viagem de metrô...! – Ela confessava, num tom divertido, porém doce e florescente.

— Por nada, senhorita Ellis. – Steve assentia com a cabeça, agradecendo de volta.

Era um pouco insano imaginar que a filha do Presidente dos Estados Unidos andaria por aí de transporte público e ainda mais inacreditável que a mesma pudesse ter sua liberdade, já que o povo americano não tinha conhecimento de quem eram os filhos do presidente.

Aquilo com certeza tinha o dedo de Nick Fury e do Conselho Mundial de Segurança.

A garota então olhou ao redor, mas sentiu a brisa gélida de mais uma manhã de primavera estremecer sua espinha.

Ela arregalou os olhos e gritou...

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Mannaggia!!!

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— O quê...? – Steve a contestava, sem entender o que aquilo significava.

Era italiano...?

— Céus... acho que esqueci meu cardigan no assento da cafeteria...! – Mary levava as mãos na cabeça, fazendo uma careta em resposta.

— Estava distraída?

— Sim... olhando pra você... – Ela sorriu retraída e matreira, deixando Steve levemente surpreendido.

— Quer que eu volte lá para pegar?

— Não se incomode. Eu passo lá mais tarde e pego.

— Não sentiu frio quando estávamos atravessando a ponte? O vento estava forte.

— Sim, mas a paisagem era tão maravilhosa que nem notei que estava congelando. – Ela dizia enquanto segurava os braços com as mãos.

O Capitão sacudiu a cabeça, abismado no quão desatenta a loirinha se mostrava ser.

Ele se levantou da moto, dando a volta na Harley e então...

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Steve retirou rapidamente sua jaqueta, colocando-a sobre os ombros femininos no mesmo instante...

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Os olhos dela alargaram, piscando freneticamente, espantada com o quão gentil e cavalheiro o Capitão América estava sendo...

— Aah, não precisa fazer isso por mim... – Replicava timidamente.

— É um pouco deselegante ver uma jovem dama congelar de frio enquanto me mantenho aquecido.

— Mas-

— Não se preocupe. Pode me devolver da próxima vez que nos vermos... – E então, ele sorriu singelamente para ela.

Seus incríveis olhos azuis a miravam, suaves e quentes... e aquele sorriso lançado em sua direção, era capaz de derreter qualquer gelo...

Mediante a mais um ato de gentileza do Capitão América, Mary Crystal desejava retribuir da mesma forma...

Ela se aproximou dele, caminhando dois passos em sua direção, com ambos ficando frente a frente, e então...

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A garota rapidamente ergueu o rosto, ficando na ponta dos pés, dando um beijo suave na bochecha dele...

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— Obrigada mais uma vez... Steve... – Mary agradecia, de forma doce e afetuosa, pegando-o totalmente de surpresa, o que causava certo acanhamento imediato no Capitão América...

Ainda mais depois que ela o chamou repentinamente de... Steve... numa cortesia mais informal.

— Aah... não há de quê... – O loiro balbuciava, tímido e totalmente retraído. Achava que nunca conseguiria se acostumar com toda a liberdade que as pessoas daquele século tinham de se tocarem, se beijarem e se abraçarem casualmente.

Ela observava o embaraço dele, achando um tanto fofo, mas...

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Beijar no rosto era estranho, quando seus lábios já se conheciam...

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— Posso fazer uma pergunta? – Ela interrompia os devaneios do Super Soldado repentinamente.

— Sim, claro...

— O que vai fazer agora?

— Agora...? Bem, como não tenho nenhum compromisso, pensei em ir para a Academia de boxe perto do meu apartamento... talvez treinar por algumas horas.

— Uau... você treina nas horas vagas?

— Sim...

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Bem, se não for atrapalhar... não gostaria de passar essa manhã comigo?

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Os olhos de Steve alargaram.

O Super Soldado era pego de surpresa e não sabia o que responder...

Ceder ou não...?

A sorte estava lançada...

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Notas finais do capítulo

Pra você que está achando esse convite fofinho e essa Mary Crystal itimalia, só tenho um aviso pra te dar: CUIDADO, PERIGO. NÃO SE ENGANE, MUAHAHAHAHAHAHA!!!



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