Era uma vez uma garotinha que caminhava sozinha pela floresta, uma floresta imensa, dava impressão de que as árvores eram tão altas que escondiam o céu e as estrelas, e tão grandes que pareciam te apertar até não ter mais espaço para andar. 

Na primeira vez que a garotinha entrou naquela floresta, ela sentiu medo e quis sair de lá no mesmo instante, mas lhe falaram que todo mundo tinha que passar por aquele caminho, então a mandaram seguir em frente. Ela segurou bem forte sua mochila, onde estavam aquilo que, diziam, a ajudaria a sobreviver na floresta e começou a sua caminhada. 

A cada nova coisa assustadora que encontrava, tinha vontade de desistir e voltar, mas de vez em quando, ela achava coisas que chamavam sua atenção, fazendo ela querer continuar e assim ela caminhou por um longo tempo.

Depois de tanto tempo ali, o medo foi embora, restou apenas um torpor, a fazendo pensar que aquele lugar fosse normal, ela estava se esquecendo de que havia um mundo para além daquelas árvores. E assim se seguiu por muito mais tempo.

Até que um dia ela tropeçou numa pedra e caiu, fechando os olhos no processo, quando sentiu o impacto da sua mão com a água, estranhou, água não era comum dentre essas árvores, então abriu os olhos, o que viu era algo mágico, ela viu o céu, com milhares de estrelas e uma lua que iluminava tudo. Relembrou do seu gato e de como costumava encarar a lua ouvindo seu ronronar, piscando algumas vezes, ela olhou em volta, sentindo o costumeiro torpor a abandonar, lembrando que tinha um mundo fora dali.

Sentou a beira daquele lago que refletia um céu tão limpo e olhou em volta, com a iluminação da lua, conseguiu ver coisas que passavam despercebidas antes, ela viu flores e borboletas, até coelhos passaram por ali, viu reflexos de outros animais correndo e pode ver as coisas que a assustavam mais claramente, percebendo que na verdade, não eram assustadoras, apenas diferentes.

Ela ficou tão maravilhada com tantas coisas novas e mágicas que ficou com medo de seguir a trilha que estava e nunca mais conseguir ver essa magia de novo. Então ali ela ficou, passou um bom tempo sentada na beira daquele lago, olhando o mundo, a lua aparecia e sumia várias e várias vezes, mas ela continuava sempre ali.

O que fez a garotinha, que agora já deixara de ser uma garotinha, sair dali, era desconhecido. Talvez fosse o balançar das flores que espalhavam seu aroma, talvez os animais correndo, o barulho de água vindo de outro lugar ou até mesmo o sussurrar das estrelas. Talvez  tenha sido a junção de tudo isso que fez a garota se levantar, olhar uma última vez para o céu refletido na água e seguir o caminho, dessa vez um caminho diferente daquele que fazia no começo, quase o oposto, na verdade. Agora o caminho se mantinha sempre iluminado e a garota sempre estava acompanhada por animaizinhos. Ela não caminhava mais tão séria e assustada como antes, agora estava pensativa e satisfeita, parecia ter descoberto qual caminho deveria seguir. Isso a deixava sempre satisfeita por saber qual era aquela trilha, mas pensativa com as mudanças traria, às vezes pensava em voltar para a antiga trilha, mas algo naquela floresta a incentivava a seguir em frente e diferente da primeira vez, não parecia algo estranho e incerto, parecia algo natural e preciso.

Então ela apenas seguiu em frente e um dia encontrou uma brecha maior entre as árvores, como um portal, que dava numa areia branquinha e para um mar calmo e azul, ela caminhou um pouco sobre a areia macia, molhando um pouco os pés. E mais a frente, ela encontrou um barco, olhou para trás e novamente escutou sussurros, falavam que tinha duas opções, ficar na areia, onde era seguro, ou adentrar o mar e descobrir o mundo que há lá fora. 

Ela caminhou até o portal da floresta, encarou aquelas árvores fechadas e sentiu o aroma que emanava, representava tudo que conhecia, então achou que deveria ficar onde era seguro, mas antes de dar adeus ao barco, ela escutou mais um sussurro, aquele que a ajudou a encontrar sua trilha, falaram para ir, com medo, ela refutou, então lhe responderam: “Você já conhece aqui, já conhece tudo isso”, ela ainda temerosa, falou novamente: "Aqui é meu lugar", e num último sussurro lhe disseram: "Você não é uma menina da floresta, você é uma menina do mundo".

Sem mais uma palavra, ela deu as costas às árvores e subiu naquele barco, olhando para a praia e a floresta, sentiu medo de não escutar mais aqueles sussurros, mas seu instinto gritava que sempre estariam ali.

E ele não estava errado.

Ela, então, olhou para o mar e se preparou para descobrir o mundo.