Anne With An "E" - Versão Gilbert Blythe escrita por Bruna Gabrielle Belle


Capítulo 4
Lágrimas na neve




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Anne With an E – Temporada 1: Episodio 6

(“O remorso é o veneno da vida”)

Na segunda - feira meu pai teve uma piora no estado de saúde e por precaução resolvi ficar em casa, cortei mais lenha que o habitual, fiz um estoque considerável para o inverno, mas estava preocupado com a matéria que eu estaria perdendo, pedi para o professor me enviar as matérias da semana para eu poder estudar em casa e ele disse que mandaria um de meus colegas me entregarem as mesmas, permaneci cortando a lenha nos fundos de casa enquanto meu pai dormia naquela tarde, a senhora Kincannon não poderia vir na segunda, somente na quarta, então eu cuidaria de meu pai até ela voltar e respirei fundo.

Quando terminei os últimos tocos e estava voltando para casa pela porta da frente para meu pai não pegar a friagem já que estava na cadeira de rodas na cozinha e no meio do caminho ouvi alguém conversando.

—- E a Marilla? Continua Brava? – ouvia voz de meu pai e assim que apareci no canto da frente da casa vi Anne conversando com meu pai que estava apoiado no batente da porta, me aproximei rapidamente deles

—- Por Deus pai o que está fazendo em pé?! – respondi colocando as madeiras na caixa e indo em sua direção, olhando Anne pelo canto de meus olhos e meu pai sorriu se virando para a garota ruiva parada ali.

—- Ele se preocupa além do demais comigo – justificou ele -- Filho, essa jovem tem algo para tratar com você, com licença eu vou voltar para dentro – disse meu pai e eu fui o acompanhar, mas ele me impediu.

—- Eu consigo ir sozinho Gilbert – respondeu meu pai e se virou sorrindo abertamente para Anne que permanecia quieta nos observando, parecia entender a situação agora, mas não sabia o que dizer agora.

—- Foi um prazer conhecer você e mande lembranças a Marilla – disse meu pai entrando em casa.

Encarei Anne que sorriu levemente para meu pai e olhou para mim e para ele que entrou na sala sorrindo.

—- Mandarei as lembranças a ela Senhor Blythe – murmurou Anne calmamente e eu vi meu pai caminhar com dificuldade para cozinha e se sentar na cadeira de rodas e tossir novamente e ele acenou para mim.

Voltei meu corpo para fora da sala de casa e olhei para os livros nas mãos de Anne.

—- São pra mim? – perguntei enquanto ela encarava a porta de minha casa e rapidamente entregou os livros.

—- Bondade sua trazer eles pra mim... – murmurei segurando os livros como se fossem ainda mais valiosos.

—- O senhor Prillips não quer que você perca ainda mais matérias – murmurou Anne e me encarou.

—- Nem eu quero... Se você me vencer de novo na soletração avançada eu quero que seja justo – murmurei.

—- Claro – disse Anne com indiferença e eu observei ela ficar com o nariz rosa por causa do frio e tentei não sorrir com isso.

—- Obrigado pelos livros e... Até breve – murmurei entrando para dentro de minha casa, mas antes pude ver Anne revirar os olhos e caminhar para longe dali, fiquei com medo dela não ter a mesma imunidade que eu contra a doença de meu pai e evitei que ficasse ainda mais exposta ao vírus e quando fechei a porta fiquei na frente do vidro da mesma observando a garota ruiva atravessar meu quintal da frente e desaparecer no campo coberto de neve e ouvi o barulho da cadeira de rodas de meu pai se aproximando por trás de mim.

—- Sua colega é linda Gilbert, prestativa e parece ser muito inteligente filho – murmurou meu pai sorrindo.

—- É, ela é mesmo – murmurei e depois pensei – Ela é muito inteligente mesmo pai, competimos semana passada e ela me venceu por um “s” .

Meu pai riu e tossiu enquanto eu ia para meu quarto guardar os livros e procurei segurar um riso bobo.

Meu pai ficou me observando na mesa da cozinha logo depois do jantar enquanto eu estudava as matérias e os livros que Anne havia me entregado naquela tarde e depois de um bom tempo em silencio ele suspirou e se ajeitou se aproximando um pouco mais da mesa onde eu estava e tocou meu ombro e sorriu.

Toquei sua mão em meu ombro e sorri de volta o ajudando a ir para cama naquela noite e voltei a estudar novamente na mesa da cozinha e ali adormeci em cima dos livros e pela primeira vez em muitas semanas, vi Anne em meus sonhos e não achei aquilo (tão) estranho e suspirei aproveitando o sono dos justos.

Com o passar dos dias meu pai não levantava mais da cama e continuava piorando aos poucos, optei por estudar ao lado dele em sua cama, não falávamos muito então ele era apenas o ouvinte e eu o estudado.

—- Como assim qual a melhor coisa de ficar doente pai? – perguntei quando ele iniciou a conversa e esperei.

—- Gostei de ter viajado de novo, gosto de andar de trem e ver as paisagens mudando pela janela dele e nossa como eu adoro andar de trem e ir além dos limites das cidades, estados... – murmurou ele sorrindo.

—- O mundo é muito grande meu filho, mas saiba de uma coisa, não sei se alguém um dia sabe que procura algo até encontrar ele, sempre pense desse jeito – murmurou ele e tossiu novamente e eu respirei fundo.

Depois de ter estudado mais do que o demais, guardei meus livros e fui arrumar a carroça no celeiro dos fundos de casa enquanto a senhora Kincannon cuidava de meu pai e pensei em nossa conversa anterior e enquanto eu pensava sobre isso ouvi à senhora Kincannon gritar meu nome ao longe e sai em disparada.

Naquele final de tarde, meu pai se juntou a minha mãe no reino dos céus e eu me tornei Gilbert o órfão.

Acompanhei o funeral de meu pai em completo silencio e tentava aquietar minha mente e meu coração que parecia sagrar por dentro, mesmo sabendo que uma hora ele partiria não sabia que doeria tanto.

Parecia que toda Avonlea estava no cortejo de meu pai até o cemitério próximo de minha casa, caminhei ao lado do pastor como forma de acalento pensando em todas as suas palavras nos sermões nas missas que às vezes quando podia eu me permitia ir no centro da cidade, mas parecia que nada fazia sentido.

Não conseguia tirar os olhos da carroça que levava o caixão com o corpo de meu pai e muito menos ouvir se alguém a minha volta falava alguma coisa, eu parecia um homem de gesso, sem vida, sem expressão.

Permaneci focado no caixão de meu pai dentro da cova recém aberta e continuei até o fecharem com terra.

Por alguns instantes notei todos ali se afastando, mas me recusei a me mover eu tinha medo de desabar.

Com as pernas completamente moles, me sentei no banco próximo ao tumulo de meu pai e me permiti respirar e olhei em volta vendo todos irem em direção a minha casa, a senhora Kincannon estava lá, então eu não precisaria me preocupar com a recepção e nada parecido, fiquei observando a neve cair parado ali.

Não sabia o que fazer dali por diante, na verdade eu tinha um plano, mas não saberia que teria que executa – lo tão cedo, pensei novamente nele tentando aplacar a dor em meu peito e não me permiti chorar, me levantei do banco e não olhei para trás e caminhei na direção de minha casa, mas no meio do trajeto pensei naquele monte de gente dentro da minha casa e resolvi continuar fora dela, mas ao que parece eu estava sendo observado, pois não dei nem dez passos para longe de casa e alguém me seguiu.

—- Gilbert – Anne gritou e tentou acompanhar meus passos e  tentou conversar comigo, mas eu não queria falar ou ouvir ninguém.

Absolutamente ninguém.

—- Foi uma cerimônia bonita... Pareceu adequado estar tudo branco e calmo com a neve e tudo mais.

A ignorei completamente enquanto ela caminhava do meu lado, estava segurando o choro com toda força.

—- Eu sempre achei que o reverendo rezava de forma pesarosa, então veio a calhar – murmurou Anne.

—- Os batismos dele devem ser horríveis... – disse ela, mas vendo que eu não respondia mudou de assunto.

—- Ser órfão tem lá seus desafios, mas você tem tantas vantagens que estará muito melhor do que eu... Eu não cheguei a conhecer os meus pais... Eles morreram quando eu ainda era bebê então eu não podia me defender como você pode... E eu não lembro dos meus pais, mas você se lembrará do seu pai – disse Anne.

Continuei a ignorando com todas as minhas forças, travei meu maxilar o máximo que eu aguentava.

—- Sabe... Se pensar bem, você tem muita sorte de... – recomeçou Anne, mas aquilo me irritou e muito.

—- Espera, acha que eu tenho sorte? – falei voltando meu corpo para trás e encarei a garota ruiva.

—- Claro que tem, comparado a mim que... – começou ela, mas a interrompi, pela primeira vez irritado com a petulância daquela garota que tanto deixava a minha mente confusa e meus pensamentos totalmente embaralhados.

—- Porque que tem que ser tudo a ver com você hein? – respondi rispidamente estava triste e irritado.

—- Eu só estava tentando... – murmurou Anne, mas a deixei falando sozinha, não queria ouvir mais nada.

Alguns dias se passaram, vira e mexe algumas pessoas apareciam em casa para prestar suas condolências e eu procurei organizar a casa ao máximo, pois em breve eu colocaria meu plano em execução e seria logo.

Organizei a cozinha, os armários, verifiquei a plantação e os animais enquanto fazia isso ouvi vozes femininas no quintal da frente e olhei do canto da casa e vi Diana e Ruby na estrada indo em direção a minha casa e logo bem atrás delas estava Anne com uma cara de poucos amigos e eu respirei fundo.

Assim que elas bateram na porta de casa abri e elas entraram sem cerimônia, apenas Anne parecia meio retraída em entrar em minha casa, mas mantive a porta aberta para ela que ficou parada ao lado da mesma enquanto eu me encaminhava para a mesa da sala de jantar e Diana e Ruby me encaravam.

—- Desculpe nos intrometermos, mas queríamos lhe dar isso – disse Ruby com o mesmo olhar estranho.

—- Sentimos pela sua perda – murmurou Diana e eu apenas assenti, olhando Anne atrás delas em silencio.

—- É uma torta de carne – respondeu Ruby – Fizemos juntas, especialmente para você Gilbert – disse ela.

—- Obrigado – murmurei desviando com relutância meus olhos da direção que Anne estava para Ruby Gillis.

—- Esperamos que goste da torta – murmurou Diana e Ruby a encarou com um sorriso largo nos lábios finos

—- Todo mundo gosta de torta de carne – disse Ruby e voltando o mesmo olhar estranho para mim.

 – Que isso conforte você, Gilbert – murmurou ela sorrindo e eu apenas assenti, não sabia o que responder

Na direção de onde eu estava sentado eu podia ver Anne evitando me olhar nos olhos e mantive a cabeça erguida, teria que procurar um jeito de me desculpar em outro momento e manter o foco no plano.

Elas estavam falando sobre a torta, mas meu foco era o plano que eu tinha em mente e logo Anne falou alguma coisa e eu a encarei e Diana e Ruby a encararam espantadas, o que ela havia dito? Eu não ouvi.

Anne arregalou os olhos azuis e abriu a porta de minha casa desaparecendo dali, pensei em seguir e perguntar o que havia acontecido e me desculpar pela distração, mas foquei novamente no meu plano.

—- Obrigado pela visita, mas tenho algumas coisas para fazer se não se importam – murmurei a Diana e Ruby assentiram e se retiraram da minha casa, pediria para senhora Kincannon devolver a louça da senhora Barry e cuidasse da fazenda enquanto estivesse fora, assim que elas saíram eu apenas comi a cobertura da torta de carne e voltei a fazer meu serviço, logo eu terminaria e o plano estaria feito.

Peguei uma bolsa grande e fui até o centro de Avonlea eu tinha algumas coisas para comprar para iniciar meu plano de trabalho e também algumas coisas para auxiliar o senhor e a senhora Kincannon a cuidar da minha fazenda na minha ausência, como comida para os animais entre outras coisas e encontrei Matthew.

—- Se você precisar de ajuda Gilbert, Jerry e eu podemos te auxiliar até a primavera sem problema algum.

—- Muito obrigado senhor Cuthbert, mas meu objetivo está traçado e se não se importa eu preciso voltar pra casa, ainda há algumas coisas para resolver antes de eu... Resolver como que vai ser daqui pra frente.

Depois que comprei tudo que eu precisava no centro resolvi voltar a pé pra casa, deixei meu cavalo no estábulo próximo a estação e pedi para o entregarem ao senhor Kincannon que estaria no centro a tarde e o levaria para minha casa e cuidaria dele e dos outros até eu voltar do meu objetivo, assim que afastei do centro encontrei com Billy e outros alunos no meio do caminho revirei os olhos e continuei meu trajeto.

—- Você tem que voltar pra escola amigo, aquela cadela está completamente fora de controle – disse Billy.

—- O que importa? – perguntei ainda andando sem olhar realmente para Billy que riu sarcasticamente.

—- Qual é Gilbert, temos que mostrar a ela que o lugar dela não é como a melhor aluna da turma – disse ele.

—- Ela é inteligente Andrews, aceite esse fato – murmurei incomodado com a cisma de Billy com Anne.

—- Posso saber por que está assim, amigo? – disse Billy a Gilbert que revirou os olhos e suspirou.

—- Se ela te incomoda tanto, porque não pega um livro e o leia e assim resolve o seu problema sozinho.

—- Fala sério, é uma ótima piada meu amigo – disse Billy tocando meu ombro e eu parei e o encarei sério.

—- Vou te dar uma dica Billy Andrews – murmurei seriamente – Não somos amigos e se você incomodar a Anne com qualquer lá que seja a sua cisma ou o que você acha que te incomoda você vai se arrepender.

—- Certo – disse Billy com um sorrisinho cínico nos lábios e eu permaneci de cara fechada para ele.

Assenti e voltei para o meu caminho, mas ele continuou me seguindo e falando na minha cabeça.

—- Sério Gilbert Blythe qual é o seu problema? – disse ele e aquilo me irritou profundamente e o encarei.

—- Fala de novo isso – ameacei indo para frente dele e ele me olhou como se não entendesse o que eu disse.

—- Sério Andrews, fala isso de novo – ameacei novamente irritado – Pergunta de novo qual meu problema.

—- Posso saber por que você está desse jeito Blythe? – perguntou Billy ainda não entendendo o que eu falei.

—- Pergunta de novo – falei ainda mais ameaçador e ele sorriu sem entender nada e me encarou cínico.

—- Não estou entendendo nada do que você está falando amigo, qual é o seu problema Blythe – disse ele.

Não aguentei joguei minha bolsa no colo de Billy e mirei um soco na sua fuça que ele estava merecendo há meses, por sorte os amigos que estavam com ele não interferiram na nossa briga, eu apanhei claro, mas também bati, bati com uma força que nem eu sabia que tinha e peguei minhas coisas e desapareci dali.

Quando estava há alguns metros de casa notei Marilla, a mãe adotiva de Anne encarando o tumulo.

—- Oh, Gilbert – disse ela surpresa em me ver se aproximando dela – Não queria incomodar, desculpe.

—- Não senhora Cuthbert, pode ficar a vontade – murmurei sentindo incomodo onde o soco de Billy acertou

—- Seu pai adorava viajar – murmurou ela quando me aproximei de onde ela estava olhando o tumulo.

—- Ele me disse que quando estava no exercito ele viajou bastante – murmurei e ela assentiu e suspirou.

—- Seu pai teve uma vida corrida, sempre cercado de aventuras – murmurou Marilla e eu a encarei sério.

—- É, viajamos por algum tempo por Alberta, mas agora eu sou o único e o ultimo – respondi tristemente.

—- Sinto muito por sua perda Gilbert, de verdade – disse Marilla e eu apenas assenti o plano a final de contas aplacava e muito tais sentimentos que eu teria que ter naquele instante e eu gostei (muito) disso.

—- Meu pai costumava nos chamar de os filhos pródigos – disse a Marilla que sorriu – Sempre voltamos.

Marilla sorriu e me contou sobre a juventude de meu pai e aquilo fixou ainda mais o meu plano inicial.

Voltei para casa e ajeitei tudo que eu tinha que ajeitar e me despedi do senhor e senhora Kincannon e parti.


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