Anne With An "E" - Versão Gilbert Blythe escrita por Bruna Gabrielle Belle


Capítulo 22
Questões do coração




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Anne With An E – Terceira Temporada: Episodio 8

Na manhã seguinte acordei mais cedo que o normal novamente, quando havia voltado para casa noite passada Bash e Delphine haviam ido dormir mais cedo, Bash deixara o jantar sob a mesa coberto com um pano para mim, mas eu estava sem fome e a frase de Anne ecoava dentro de minha mente e no caminho para escola senti um forte cheiro de queimado no ar e assim que apertei meu passo notei Anne e a professora Stacy paradas olhando para as cinzas do que algum dia tinha sido a escola de Avonlea e me apavorei todos nossos colegas que em seguida chegaram à cena pareciam tão assustados quanto eu e perguntavam sobre o que poderia ter acontecido para fazer a escola queimar e Anne fez uma observação certeira sobre o desaparecimento da impressora que usávamos para o jornal aquilo me enraiveceu.

—- Com toda certeza esse incêndio foi feito por alguém que não gostou de ser contrariado – comentei seco.

Anne saiu correndo de perto de todos nós desaparecendo campo a dentro, peguei sua cesta e acompanhei a senhorita Stacy e nossos outros colegas até sua casa onde estudaríamos para os exames para a faculdade

Todos nos acomodamos na casa da senhorita Stacy e começamos a estudar arduamente para nossas provas para os exames finais para a Queen’s Academy, com a proposta do pai de Winifred, cogitei mudar  meus planos, adiei minha carta para a faculdade de Toronto e focar meu futuro numa possibilidade de estudar em Sorbonne, Anne e eu estávamos lado a lado sob o grande baú da senhorita Stacy e conversamos sobre como faríamos ou como seria resolver o “incêndio criminoso e o roubo da impressora”.

—- Agora estamos todos aqui amontoados por causa de um crime hediondo por pessoas de mentes pequenas.

—- E eu me pergunto como a senhora Lynde vai acusá – los, ninguém estava lá para presenciar o roubo.

—- Bom, se tem alguém que pode fazer isso... Eu tenho que dizer que foi emocionante ver a mudança da senhora Lynde com o passar dos anos – murmurou Anne ao meu lado e eu sorri com sua observação.

—- Aposto que sim... – murmurei desviando meus olhos dos dela e voltei para a caneta tinteiro que ela usava.

—- Pode me emprestar sua caneta? – perguntei e ela silenciosamente me passou a mesma, torci para que nossos dedos se tocassem e eu pudesse olhar para os fundos dos olhos azuis dela, mas isso não aconteceu.

—- Tomamos uma atitude e alcançamos algo a despeito das repercussões – murmurou ela e eu a encarei.

—- Talvez por causa das repercussões... A escola foi incendiada e isso é algo terrível... – comentei e a professora rosnou chamando nossa atenção e nos pediu para que encerrássemos esse assunto, suspirei.

Quando ela passou por nós indo em direção a outro cômodo, resolvi continuar falando sobre isso com Anne.

—- Isso me faz sentir como se o mundo fosse de fato mutável – murmurei voltando minha atenção ao que eu escrevia em meu caderno e Anne mesmo concentrada no livro que lia parecia querer falar também.

—- Não importa aonde a vida me leve, eu sei que devo ser uma incansável pedra no sapato de quem se recusa a sair desse tipo de status – murmurou ela e eu a encarei seriamente e segurei um riso com isso.

—- Claro que deve ser – murmurei, mas meu cérebro dizia que ela era uma pedra dentro do meu coração.

—- Eu só sei que agora eu sei quem eu não quero ser – murmurei – Não quero ser um medico do interior limitado a proferir apenas sentenças de morte, porque ainda há tanta coisa lá fora que ainda não sabemos e eu acredito que ainda podemos curar e salvar as pessoas, nós ainda não descobrimos como fazer isso.

Suspirei pesadamente e deixei minha mente vagar para o mundo de possibilidades no meu futuro.

—- Eu daria de tudo para conseguir vivenciar essa descoberta – murmurei e Anne me encarou e eu a olhei.

—- Você não vai estudar na faculdade de Sorbonne? – questionou ela e eu reprimi um riso e um suspiro.

—- É melhor você me perguntar se eu consigo voar... – murmurei encarando a ruiva e não resisti e sorri.

—- Bom, eu algum dia irei... – murmurei e ela voltou a ler seu livro e em minha mente à promessa de me tornar um homem melhor para Anne e cuidar dela como de outras pessoas se fez presente e eu sorri.

Algumas horas mais tarde enquanto Anne e eu estudávamos em completo silencio Jane Andrews e Ruby Gillis apareceram na sala chamando nossa atenção, permaneci em silencio encarando as duas garotas ali.

—- Diga a Ruby para ter foco, Anne – disse Jane e eu ergui uma sobrancelha não entendendo nada daquilo

—- A prova é amanhã e ela só consegue transformar formas geométricas em corações – diziam elas e eu revirei os olhos e voltei meu foco em meu livro e enquanto escrevia minhas anotações sorri para a caneta.

—- Quem disse que ser romântica é menos respeitável do que ser estudiosa? – dizia Ruby Gillis e eu ignorei.

—- Pergunte ao Gilbert, ele é o mais estudioso da turma e com toda certeza é o mais romântico também.

Hã?

Ignorei novamente elas falando sobre mim aquilo me incomodou é claro, mas queria ver a reação de Anne.

—- Não há romance algum e não havia outro lug... – começou Anne, mas novamente Ruby a interrompeu.

—- Não com você Anne e sim com a Winifred – disse Ruby e aquilo me pegou de guarda baixa e eu suspirei.

Foco nos estudos Gilbert, foco nos estudos, ignore a cara que Anne fez com a frase da Ruby— mentalizei.

—- Como a conheceu? – perguntou Josie Pye e eu não consegui mais focar no que estava estudando ali.

—- Há quanto tempo estão se cortejando? – perguntou Tillie com os olhos amendoados muito brilhantes.

—- Ele estava acompanhando os pais dela na feira, então isso deve ser sério – murmurou Moody a elas.

Olhei pelo canto dos olhos a reação de Anne com os comentários de nossos colegas e aquilo me travou.

—- Tem que ser, ela é uma moça tão linda, Winifred não é mesmo uma moça linda, Anne? – Ruby perguntou

Anne parecia um pouco incomodada... Será que era por causa da interrupção dos estudos? Ou não?

—- Quando a verá novamente Gilbert? – questionou Tillie novamente e eu ergui minha cabeça e suspirei.

—- Farei a minha prova em Charlottetown amanhã para que eu possa jantar com os pais dela – murmurei.

—- Jantar com os pais, hein? – murmurou Charlie dando um leve empurrão no ombro de Moody que ria.

—- Nós vamos todos as ruínas amanhã a noite para comemorar nossa formatura – disse Moody e eu sorri.

—- É um segredo – murmurou Ruby e eu apenas assenti e pelo canto dos olhos vi Anne ainda em silencio.

—- Venha também Gilbert e... Traga a sua noiva— murmurou Moody e todos ali riram alto, menos Anne.

Continuei em silencio e tentei estudar, mas o silencio de Anne estava me incomodando tanto quanto as questões que entravam e saiam de minha mente sobre as palavras noiva, compromisso, pais e estudo.

Quando cheguei em casa notei que a mãe de Bash, Hazel havia aceitado a proposta do filho de vir morar conosco e nos ajudar com a criação de Delphine, com a minha ida para faculdade achei irresponsável de minha parte deixar Bash responsável pela colheita da fazenda e com sua filha que era muito pequena, sorri abertamente para a mulher que não tinha me visto entrar em casa e me dirigi a meu quarto, sorri internamente feliz por ela finalmente estar livre de ser uma escrava e ter uma casa para morar, mas ainda tinha que resolver minha questão com meus sentimentos com relação a Anne e a senhorita Winifred Rose.

Quando desci de meu quarto na manhã seguinte para ir a Charlottetown para fazer minha prova Hazel me esperava próxima a mesa da cozinha com um enorme prato de alguma coisa que cheirava muito bem e ri.

—- Bom dia – murmurei caminhando em direção a uma das cadeiras da mesa da cozinha e ela sorriu feliz.

—- Bom dia, senhor – disse ela sorrindo e eu coloquei meu terno sob o banco e sorri para ela animado.

—- O cheiro está incrível Hazel – elogiei e ela sorriu novamente colocando o prato na minha frente e eu ri.

—- Obrigada, senhor – murmurou ela e achei estranho tanta formalidade e sorrisos largos, mas relevei.

Ela não me permitiu colocar meu café em minha xícara e aquilo me deu a mesma sensação de estar cometendo um erro sem saber quando fui tomar chá com Winnie há alguns meses e aquilo me travou.

—- Obrigado, mas me chame de Gilbert, por favor – pedi a Hazel enquanto ela me servia o café e suspirei.

Logo Bash apareceu na cozinha com Delphine em seu colo e eu sorri brincando com a bebê risonha e sorri.

—- Bom dia Delly – murmurei para a bebê e notei Hazel olhar para o filho de uma forma estranha e parei.

Bash continuava brincando com “minha magreza” sorri ele estava aos poucos voltando a ser o Bash que eu tinha conhecido no barco há alguns anos e principalmente o cara que cuidava de mim com Mary e Delly.

Hazel comunicou com ele com um olhar diferente e os dois saíram dali, tomei meu café da manhã ao lado de Delly que com seus olhos castanho – escuros parecia estar me questionando alguma coisa e eu sorri.

—- Hoje o tio Gilby te ajuda com seu café da manhã enquanto seu pai e sua avó conversam – murmurei e ela parecia entender e enquanto eu fazia seu prato de comida ela voltou a me olhar como se fizesse uma pergunta muda e eu suspirei, aquele olhar parecia o ultimo olhar que Mary havia me dado quando questionou a minha felicidade com a atitude que tinha tomado para entender meus sentimentos por Anne e envolvi Winifred nessa história toda e com o olhar de Delly comecei a me questionar o que eu sentia.

—- Entendi o que quis dizer Delly... Eu entendi – murmurei para a bebê que sorriu e eu me encaminhei para fora da cozinha, não queria me atrasar e Bash e Hazel pareciam discutir e eu resolvi não me meter no que tanto falavam no outro cômodo, assim que terminei meu café e servi o de Delly caminhei para longe da fazenda com meus pensamentos envoltos com o olhar de Delly, as palavras de Mary e meus sentimentos.

Dentro do trem resolvi reler alguns dos textos que estava estudando noite passada e a caneta de Anne caiu de meu bolso e aquilo me fez novamente repensar sobre meus reais sentimentos por Anne e por Winifred.

Quando terminei minha prova caminhei lentamente pelas ruas de Charlottetown até a casa de Winifred e logo após o jantar, seu pai me convidou para ir até seu escritório e pediu licença a esposa e a filha para conversar comigo, achei aquilo estranho no começo, mas a idéia de ir para Sorbonne dominou minha mente e eu sorri abertamente com isso, no escritório coloquei um pouco de uísque nos copos enquanto ele falava sobre estar conversando com seu amigo da faculdade de Sorbonne e me sentei ao lado de Nigel.

—- Esse meu amigo me assegurou que com bons resultados nos... Testes e... Um bom patrocinador, você poderia começar as aulas no outono – murmurou ele cortando seu charuto e aquilo me surpreendeu.

—- Não sei o que dizer... Isso... – murmurei com esse fato sobre meu futuro, e Nigel sorriu com minha cara de espanto com suas palavras e depois de cortar o charuto ele me encarou e prosseguiu com a conversa.

—- Sem mencionar que temos um apartamento no quarto distrito – murmurou ele e aquilo me deixou boquiaberto, além dele me ajudar com uma das melhores faculdades do país eu teria onde ficar? Espera...

—- E Winnie o adora – murmurou ele e aquilo me travou então para eu ter um futuro digno eu teria que...

—- Paris é o lugar que ela mais gosta no mundo inteiro – disse ele me passando um charuto, o peguei por educação, pois odiava aquele cheiro daquela fumaça nojenta e pelo que havia estudo fazia muito mal a saúde de quem fumava e principalmente de quem estava por perto sentindo aquele cheiro repugnante.

—- Um homem pensativo... De olho no futuro... É uma agulha no palheiro – murmurou Nigel e eu o encarei.

—- Como mencionei naquele dia na feira: Se minha filha está feliz, eu também estou feliz... Então se você nesse seu silencio quase que fúnebre está esperando minha benção, ela esta concedida – murmurou ele.

Com essas palavras tudo “caiu por terra” em meu corpo e aquilo me causou um frio no qual nunca sentira.

Ele estava me propondo um casamento com sua filha para eu conseguir estudar em Sorbonne? Era isso?

 Quando estava voltando para casa comecei a pensar no meu futuro... Não como medico e sim como homem, como amaria alguém como Winnie? Eu não tinha esse tipo de sentimento por ela... Nunca me ocorreu que tudo que estavam falando sobre andar com ela e seus pais começou a aparecer em minha mente e eu raciocinei para outro pensamento e assim que pisei na estação de Avonlea e peguei meu cavalo cavalguei em direção as ruínas onde teria a tal “festa de formatura” eu tinha que falar com Anne.

Quando cheguei ao local todos pareciam alegres além do demais e Anne dançava sob uma das ruínas e eu fiquei ali apenas admirando seu lindo cabelo ruivo voando contra o vento frio e meu coração se inflou.

—- Posso falar com você, por favor? – pedi quase que suplicando por sua atenção, as borboletas do meu estomago estavam ficando tão agitadas que achei que ela não teria me ouvido e nos afastamos da fogueira

—- O pai dela praticamente me deu de bandeja... – murmurei nervoso andando de um lado pro outro ali.

—- O que ele te deu de bandeja? – murmurou Anne com a voz um pouco arrastada, mas eu estava nervoso.

—- Ele me deu a faculdade de Sorbonne em Pais e todo o dinheiro para eu concluir minha faculdade e permissão para casar... – murmurei a ultima palavra como se fosse alguma palavra feia e Anne se calou.

—- Eu não sei o que fazer... – resmunguei andando de um lado para o outro, tudo em mim estava confuso.

—- Mas você não quer ser um medico do campo... E a faculdade de Sorbonne... É o seu sonho – disse Anne.

Fiquei a olhando falar aquilo e me aproximei finalmente deixando meus sentimentos tomarem o controle.

—- Winifred é uma moça adorável e os pais dela são muito gentis e solidários com você... – murmurava ela e eu me sentei ao lado dela encarando seu lindo rosto através das chamas da fogueira próximo a nós.

—- Eu não entendo... O que está esperando? – murmurou ela olhando fixamente para meu rosto.

—- Apenas... Uma pessoa – murmurei encarando Anne com toda potencia que meus sentimentos refletiam através de meus olhos e ela permaneceu em silencio com os olhos azuis fixos nos meus e esperei e esperei.

—- Eu não sei o que dizer... Eu... O que eu devo... E todo mundo, todo mundo está... E agora você apenas... E eu estou... Piratas e nós nem sequer... E Paris é... E você nunca encontrará... Isso eu sei... Então como... Não... Não podemos... Eu... Nós... Nós... – murmurava Anne com a voz estranha e seu hálito tinha um cheiro estranho, mas fomos interrompidos quando as meninas começaram a gritar por Anne ao fundo.

Anne foi levantada e praticamente rebocada de perto de mim e eu permaneci em silencio entristecido.

—- Eu vou embora então... Boa noite – falei com a voz embargada e me retirei dali segurando o choro que ameaçava subir de meu peito, todas as borboletas de meu estomago parecia estar sendo mortas por pequenas lâminas pontiagudas e meu coração parecia estar sendo esmagado por uma mão invisível em meu peito e quando subi em meu cavalo e fui galopando rapidamente pelo escuro e me vi sozinho gritei.

—- Eu amo você Anne Shirley Cuthbert... Eu sempre amei e amo tudo em você e até o que eu não gosto eu amo e quero você comigo eu amo você e acho... Que você me ama também... Ama? – gritei para a lua.

Enrolei o máximo que consegui na estrada no escuro tentando colocar as lagrimas que escorriam de meus olhos para dentro para evitar que Bash ou Hazel me entupissem de perguntas nas quais não queria responder naquele momento, coloquei meu cavalo no celeiro e caminhei para a casa de banho demorando mais que o necessário lá dentro e sai de lá com as mãos enrugadas, subi para meu quarto e me joguei em minha cama e com tudo que eu estava guardando esses anos todos vieram a minha mente e rosnei ali.

Não consegui dormir o que me pareceu uma boa parte da noite e me vi meio deitado e meio sentado em meu quarto o vendo se iluminar aos poucos com a luz do sol e suspirei pensando no “pedido a Winifred”.

—- Você quer casar comigo? — murmurei sozinho, me sentindo um idiota, pelo pedido e por mim mesmo.

—- Posso ter a sua mão em casamento? – murmurei novamente me sentindo ainda mais idiota e ri sozinho.

—- Não... Você... Me faz a honra de se tornar minha esposa? – murmurei e me lembrei do anel de casamento que meu pai havia dado a minha mãe anos antes no qual havia guardado em meu quarto e agradeci por ter feito isso se não Elijah com seu furto o teria levado de mim assim como levara a medalha.

Me levantei e caminhei até meu roupeiro onde ele provavelmente estaria, não via aquele anel há anos.

Revirei meu quarto dessa vez no desespero por o ter perdido por simplesmente não guardar nada direito.

Quando abri meu baú e encontrei uma das muitas caixas que havia dentro dele encontrei o anel com a pedra verde, uma esmeralda na qual meu pai trabalhara anos para conseguir comprar, pois lembravam os olhos de minha mãe e algumas vezes durante o dia refletiam na mistura dos meus castanhos e suspirei.

Segurei aquele pequeno anel em minhas mãos, não confiando em nada em mim, nem em meu pedido e acabei derrubando o anel no chão, quando o peguei novamente em baixo de minha cama, me vi ali ajoelhado canto de minha cama pensei em uma pessoa: Anne Shirley Cuthbert e suspirei pesadamente.

 Continuei deitado em meu quarto por um longo tempo revisando “meus pedidos infundados de casamento” encarando aquele pequeno anel que lembrava tanto um vestido verde que Anne costumava usar que realçava suas maçãs do rosto e destacava tanto seu cabelo ruivo e suas sardas fofinhas e suspirei.

Quando finalmente desci pegando o anel de um saquinho de veludo sob meu criado mudo Bash e Hazel discutiam na cozinha por uma bagunça de Delphine com a tigela de mingau, mas nem aquilo me fez rir.

—- Está com fome esta manhã Gilbert? – perguntou Hazel e eu sorri constrangido com minha distração.

—- Claro Hazel... E bom dia – murmurei e eles pareciam nervosos com alguma coisa, mas ignorei a atitude.

Hazel pegou Delly dos braços de Bash que parecia constrangido com algo e assim que as duas saíram para o quarto Bash suspirou pesadamente e limpando o mingau de Delphine da mesa me encarou seriamente.

—- Desculpe pelo show... Ela é muito boa em me fazer me comportar mal – murmurou ele para mim e sorri.

—- Vocês precisam aprender a conviverem juntos... Porque em breve serão apenas vocês três aqui em casa.

—- Posso saber o porquê dessa ameaça? – questionou Bash ainda limpando o mingau de Delphine e eu ri.

—- Não é uma ameaça... Eu apenas estou propondo uma trégua – murmurei lhe mostrando o anel verde.

—- Sim... A minha resposta é sim – brincou Bash e eu revirei meus olhos guardando o anel em meu bolso.

—- Ontem à noite, eu perguntei a Anne se ela achava que haveria alguma chance para nós... – murmurei, mas Bash me interrompeu levantando bruscamente de sua cadeira e me encarou boquiaberto e sorria.

—- Espera, eu tenho que ficar em pé pra esse momento... Tenho que me levantar para esse tipo de coisa, porque você está me dizendo que eu basicamente ganhei – disse ele e eu ergui uma sobrancelha e ele riu.

—- Eu sabia! Eu sabia! – gritava Bash fazendo uma dança esquisita no meio da cozinha – Sempre foi a Anne.

Parei próximo a ele com os braços cruzados e com a cara fechada enquanto ele continuava dançando feliz.

—- Desde o momento que você recebeu a carta dela no navio... Eu falei... Você a ama e eu ganhei – disse.

Ele ia dar uma pirueta, pois virou de costas para mim com sua dança ridícula e eu resolvi me pronunciar.

—- Ela disse não – murmurei e aquilo trouxe um gosto amargo em minha boca e meu coração doeu com isso

Bash me encarou seriamente parando a dança e eu respirei fundo e continuei parado de braços cruzados.

—- Basicamente.

—- Sinto muito Blythe... É difícil – disse ele voltando a se sentar parecia tão surpreso com a noticia e suspirei

—- Mas agora está claro... Eu precisava saber como estava com relação a Anne e com a resposta dela acho que conseguirei seguir meu futuro estudando na faculdade de Sorbonne e viver feliz ao lado da Winifred.

—- Você tem absoluta certeza de tudo que está falando Blythe? – questionou Bash e eu o encarei sério.

—- Não sinta que precisa fazer alguma coisa só porque as pessoas esperam que você faça isso, entende?

—- Tenho certeza – murmurei não confiando em minhas palavras que pareciam vazias como minha mente.

—- Não vá ganhar o mundo completamente cheio de dúvidas garoto – dizia Bash e eu apenas fiquei calado.

—- Eu tenho certeza de que está tudo certo – murmurei nervoso com o rumo da conversa com ele e suspirei

—- Se você tem certeza... – iniciou ele e aquilo me deixou ainda mais confuso e irritado e o cortei friamente.

—- Certo... Então a Anne é o seu passado... – começou ele e eu suspirei ignorando a dor no peito com isso.

—- E a Winifred é o meu futuro – murmurei e novamente senti que as palavras ainda eram muito vazias.

Bash apenas desviou os olhos dos meus parecendo fazer uma pergunta interna e resolvi mudar de assunto

—- E além do mais... Nós dois ainda somos irmãos – murmurei tocando seu ombro e ele sorriu abertamente.

—- Eu estou feliz por você Blythe – murmurou ele me abraçando fortemente, mas assim que me soltou riu.

—- Pela sua profissão e não pela escolha da garota – murmurou ele seriamente e revirei os olhos nervoso.

—- Você vai se prestar a um casamento sem amor? – disse Bash muito sério e respirei fundo e o encarei.

—- Eu vou me doar e o carinho se constrói com tempo e respeito – murmurei não confiando em minhas palavras.

—- Mas e os sonhos? – disse Bash novamente quando lhe dei uma resposta vaga e voltei a respirar fundo e o olhei.

—- Eu nem tenho tantos sonhos, Sebastian – murmurei e sai rapidamente dali para meu quarto, mas no meio da escada Bash me chamou e quando olhei para trás ele estava nos pés dela com o mesmo olhar que meu pai costumava me dar quando eu contei a ele sobre as coisas que Anne havia feito desde o dia que eu a conheci.

—- Então, eu quero que você seja homem e olhe bem no fundo... Da sua alma que eu sei que você tem e me diga com a mais pura sinceridade possível... O que você sente pela Anne e pela Winifred? Veja o que é real e o que é apenas um jogo.

Com as palavras de Bash voltei para meu quarto pensando seriamente no que ele havia me dito e suspirei.


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