Anne With An "E" - Versão Gilbert Blythe escrita por Bruna Gabrielle Belle


Capítulo 2
Porque eu sou tão medroso?




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Anne With an E – Temporada 1: Episodio 4

(“Um tesouro vindo da alma”)

 

Já fazia uma semana que Anne havia “desaparecido da escola” e como tempo estava ficando frio, ajudei meus colegas a colocar lenha na lareira de dentro da sala de aula, sempre olhei para todos os lados a procura da ruiva e evitei o máximo contar a meu pai como tinha sido meu retorno na escola, esperando ele melhorar o suficiente para termos uma conversa normal e agradável, não queria que ele se aborrecesse comigo e piorasse seu estado de saúde porque eu seu filho, machuquei uma garota que estava sendo humilhada por todos os moradores de Avonlea, aquilo me incomodava, mas eu tinha problemas maiores.

Nesse período, tirando a parte que humilhavam Anne por algum mal entendido sobre algum comentário dela que não souberam interpretar, alguns de meus colegas me encaravam como se eu fosse o culpado pela ausência da garota ruiva, cochichavam e riam e se cutucavam para se silenciarem quando percebiam que alguma coisa ou outra eu estava ouvindo e vendo quem estava comentando sobre o ocorrido na sala.

Não levantei minha cabeça pelo resto da semana e trabalhei arduamente nas frações como se minha alma dependesse disso, no fundo eu tinha esperança de que caso Anne voltasse eu pudesse ajuda – lá com essa matéria caso ela precisasse e depois de alguns dias a história de Anne e a lousa foi rapidamente esquecida.

Cheguei em casa e encontrei meu pai sentado na cadeira da cozinha e o cumprimentei e ele sorriu fracamente, sorri para ele e subi até meu quarto guardando minha bolsa e peguei alguns livros para lermos hoje, ele parecia de bom humor e pelo que havia conversado a pouco com a senhora Kincannon ele havia acordado disposto.

—- Boa tarde, pai – falei me aproximando dele com alguns livros debaixo do braço e ele sorriu para mim.

— Oi filho, como foi à escola? – perguntou ele com a voz rouca e tossiu um pouco apenas o apoiei até que a tosse parasse um pouco e lhe entreguei uma caneca de água, me sentei próximo a ele e peguei um livro.

—- O que acha de eu ler pra você hoje? – perguntei e meu pai negou bebendo um pouco de água e suspirou.

—- O que acha de conversamos um pouco? Sinto que não estamos mais conversando com tanta freqüência.

—- Claro, pai – respondi fechando o livro e o colocando em cima da mesa – Sobre o que quer conversar?

—- Você vem muito pensativo da escola na ultima semana e não minta pra mim você brigou na escola?

—- Por que essa pergunta pai? – perguntei surpreso com a pergunta de meu pai e ele me encarou sério.

—- Te vi colocando uma compressa gelada do lado do seu rosto que parecia vermelho como se tivesse levado um tapa – disse papai e eu suspirei pesadamente me lembrando da dor da pancada de Anne.

—- Foi um incidente – respondi me levantando e procurando lenha para o forno para fazer o jantar, logo estaria escurecendo e quando voltei, meu pai me encarava como se esperasse mais do que essa resposta.

—- Que tipo de incidente? – perguntou ele me encarando enquanto eu colocava a panela com água no fogo.

— Tem uma garota nova na escola... Ela é a filha adotiva do senhor e da senhora Cuthbert, eu tentei ser educado, mas por algum motivo ela não gostou da brincadeira e me acertou com a lousa e sumiu da escola e me sinto culpado por isso e ainda por cima eles falam coisas feias dela por ela ter o cabelo ruivo e o rosto lotado por pequenas sardas vermelhas – respondi e suspirei e meu pai me encarava, mas se manteve em silêncio.

Na hora do jantar esquentei o que a senhora Kincannon havia deixado para a gente e enquanto estava subindo para meu quarto, ouvi uma sirene ecoar e peguei meu casaco e saí correndo, no terreno vizinho me juntei ao marido de minha vizinha e pegamos nossos cavalos e corremos na direção do incêndio que vinha da direção da casa do senhor e senhora Gillis e todos pareciam desesperados com as chamas, pelo que pude ouvir todos estavam bem, mas se não agíssemos rápido a casa deles viraria cinzas.

Todos pegavam baldes e tentavam de alguma forma apagar o fogo, coloquei meu cavalo o mais distante possível para que ele não assustasse com as chamas ou com as pessoas assustadas em torno da casa e nisso uma das janelas explodiu assustando ainda mais todos a sua volta peguei com a ajuda de alguns homens uma escada e corri para a janela estourada na intenção de jogar água dentro do cômodo em chamas para evitar ainda mais explosões e todos gritavam apavorados pois os bombeiros estavam muito longe da região naquele momento, Matthew e Billy me ajudavam me passando os baldes grandes com água e assim que comecei a jogar a água ouvi novamente as sirenes e vi os bombeiros se aproximando da casa, a porta do quarto que havia explodido estava aberta e vi uma sombra negra passando pelo corredor e aquilo me assustou, me desesperei achando que tinha mais alguém dentro da casa ou se eu estava vendo algum fantasma, engoli em seco e voltei a tentar pegar mais baldes com água para apagar as chamas.

E assim que estava prestes a voltar a pegar um balde de água olhei para dentro do quarto e vi Anne.

—- Anne! – gritei para ela que me encarou por meio segundo e fechou a porta do quarto bruscamente.

Aquilo me desesperou e de cima da casa pude ver o desespero de Diana e Marilla que pareciam gritar umas com as outras por Anne ter entrado na casa em chamas, mas percebi que ela estava fechando a casa e as chamas começaram a diminuir, resolvi não desistir e pedi que jogassem mais água para dentro da residência, mas não vi nada sobre Anne ou algo parecido, minha vontade era de invadir a casa e tirar ela dali e apagar as chamas, mas logo a vi saindo pela porta lateral da casa para os braços de Diana e Marilla.

Ouvi todos se preocuparem com Anne e Jerry um ajudante dos Cuthbert contar que Anne estava fechando todas as portas e janelas da casa para abafar as chamas e eu sorri aliviado, mas preocupado com a imprudência da garota ruiva, logo as chamas diminuíram, mas alguns dos danos na casa eram irreversíveis.

O incêndio só foi contido de manhã e o reverendo veio para fazer orações para todos ali que ajudaram e para consolar os Gillis que haviam perdido (não totalmente) a casa permaneci em silencio ouvindo as orações enquanto eu pensava o quanto que fui imprudente também por querer entrar na casa e também por ter sido medroso com o vulto da sombra de Anne enquanto nos ajudava a conter as chamas da casa.

O Senhor Lynde olhava toda a casa e pediu a ajuda de todos os homens para auxiliar na reforma da residência enquanto a família ficava alojada com outras famílias, e notei a cara de desapontamento de Ruby quando a mãe dela havia pedido para ela ficar na casa dos Cuthbert, mas fui embora antes que soubesse o final da história, eu precisava ver meu pai, ele conhecia todos ali e deveria estar preocupado.

Cheguei em casa e me encaminhei rapidamente para a casa de banho, não queria assustar meu pai com a sujeira da fuligem e piorar seu estado de saúde, a senhora Kincannon logo saiu juntamente com o marido assim que entrei novamente em casa, meu pai estava deitado em seu quarto e eu apareci enrolado numa toalha marrom escura e com os cabelos molhados, ele apenas ergueu os olhos e eu assenti indo para meu quarto.

—- Alguém se feriu no incêndio? – perguntou meu pai e eu apenas neguei bebendo um copo de leite e trazendo outro copo para ele que aceitou rapidamente, me sentei na cama ao lado dele e comemos nosso café da manhã improvisado e ele me encarou enquanto eu pensava na coragem de Anne, na verdade imprudência e no meu medo idiota, meu pai pigarreou e eu o encarei pegando o copo de leite de sua mão.

—- Vou ajudar os outros a reformarem a casa dos Gillis, creio que ficara pronta em uma semana, você ficará bem sem mim por uma parte do dia pai? – perguntei e ele revirou os olhos e me encarou seriamente e riu.

—- Faça o que é certo meu filho, ajude eles no que puder – disse meu pai e tossiu novamente e suspirou.

—- Vou deixar algumas coisas ajeitadas enquanto a senhora Kincannon não chega certo? – respondi lavando os copos e meu pai me parou no meio do caminho o encarei, ele estava muito observador nos últimos tempos.

—- Aconteceu mais alguma coisa Gilbert? – perguntou ele e eu assenti me sentando novamente na cama.

—- Aquela garota que eu te contei semana passada... Anne, a filha adotiva do senhor e senhora Cuthbert, nos ajudou com o incêndio, pelo que falaram ela sabia que se fechar as portas e janelas o fogo perde a força, ela entrou na casa e me deixou assustado porque ela demorou demais pra sair de lá e eu achei num primeiro momento que ela era um fantasma e depois que ela desapareceu dentro da casa achei que tinha desmaiado pela fumaça, mas ela saiu de lá de dentro toda suja de fuligem, mas bem, fiquei aliviado – sorri.

—- É uma garota corajosa – disse meu pai e eu apenas assenti, logo peguei minha roupa de frio e voltei para a casa dos Gillis, subi novamente no telhado para colocar as madeiras e Billy ficou em uma das sacadas da casa enquanto alguns pregavam, outros ajeitavam as madeiras e eu apenas olhava para estrada, por algum motivo eu esperava ver Anne novamente, já que eu não à via na escola há um bom tempo sorri com isso.

Desci do telhado e fui auxiliar Billy que parecia quase tão perdido com as madeiras quanto na noite anterior com os baldes, não sei como o Matthew não se molhou, Billy tremia muito na hora de me dar eles.

Quando voltei para colocar mais um prego em uma das madeiras do telhado, Billy me chamou atenção indicando Anne e Ruby que andavam pelo quintal da frente entregando alguma coisa para comerem, meu estomago roncou, eu havia bebido apenas um copo de leite com meu pai há um bom tempo e a fome apertou, ajeitei meu chapéu na cabeça e desci e vi Billy dando risada das duas garotas paradas lá em baixo.

—- Aí vem à esquisita e a mais nova irmã gêmea dela – disse Billy e eu apenas ergui uma sobrancelha.

—- O que disse? – perguntei ajeitando a minha postura em cima do telhado e olhei para as duas garotas ali.

—- Trazendo comida eu não me importava se fosse o Quasimodo – respondi e Billy me ignorou encarando as duas garotas que se aproximavam, do telhado pude ver Ruby me olhando daquele jeito estranho novamente e apenas revirei os olhos, já Anne parecia não se importar quem ou o que estava fazendo ali.

Nesse momento Ruby não viu o desnível no solo e tropeçou caindo com tudo no chão e Billy começou a rir.

Coloquei o martelo perto de onde eu estava e procurei descer e ver se ela havia se ferido enquanto fazia isso notei Anne encarando Billy com o mesmo (talvez pior) ódio que ela me olhara há algumas semanas.

—- Garotas são completamente inúteis aqui, porque não voltam pra sua cozinha e ficam lá – disse Billy rindo

—- Billy, você tem mãe e duas irmãs na sua casa – murmurei baixinho e ele parecia não me ouvir e Anne e Billy começaram a discutir ali mesmo, eu apenas olhei na cesta nas mãos de Anne e olhei para Billy sério.

—- Elas já assaram os biscoitos Billy – respondi indicando a cesta nas mãos de Anne que o encarava séria.

—- Porque elas não vão embora e deixam os homens trabalhar – disse Billy, revirei meus olhos e procurei descer daquele telhado rapidamente, meu estomago estava protestando (e muito) por comida, no caso biscoitos e também porque por algum motivo eu queria olhar novamente para a garota de cabelos ruivos.

—- Billy já chega – murmurei novamente, mas ele e Anne continuaram a discutir, apenas revirei os olhos.

Desci e ajudei Ruby a se levantar do chão.

—- Vem cá - murmurei erguento uma mão para Ruby e a levantei do chão, ela me encarava com aquele olhar esquistiro novamente.

—- Você está bem? - questionei a garota silenciosa e peguei seu chapeu do solo sujo de terra e olhei Anne pelo canto dos olhos e para a cesta e o cheiro dos biscoitos me atingiu em cheio, meu estomago protestou novamente por comida e olhei para Anne que me encarava e desviei meus olhos de Ruby, apenas a respondi olhando para Anne discretamente que ignorou.

Anne se virou para Matthew e eu continuei olhando para ela mesmo com Ruby me encarando de frente.

Notando isso cocei a cabeça, estava incomodado pelo modo que Ruby me encarava e mais ainda por Anne me ignorar, continuei ali parado olhando para aquela garota ruiva e tentei encontrar palavras para falar com ela e pedir desculpas por ter puxado o cabelo dela há algumas semanas, mas Ruby me chamou a atenção e eu relutantemente retirei os olhos de Anne.

—- Obrigada Gilbert - murmurou Ruby, cujo os olhos pareciam quase saltar do rosto tamanho o sorriso que ela abria para mim.

—- É... Claro - murmurei olhando Anne pelo canto dos olhos.

—- Obrigado por virem alimentar as feras - murmurei e olhei para Anne que percebendo isso me olhou e olhou para Ruby e para mim novamente e eu tentei falar alguma coisa, mas Anne conversou rapidamente com Matthew e rapidamente saiu dali rebocando uma Ruby que continuava me encarando.

Fiquei parado lá que nem um idiota vendo elas irem embora, Ruby ainda me olhou por cima dos ombros, mas meu foco era a garota ruiva que não olhou para trás ou se despediu, ajeitei minha blusa e fui na direção de Matthew e pedi um pouco dos biscoitos que tinha na cesta e observei Anne e Ruby sumirem.

Matthew me entregou depois de algum tempo uma porção genorsa de biscoitos e enquanto eu estava no telhado tentei ver a direção que elas tomaram, mas as arvores as ocultaram na mata e eu suspirei, guardei alguns biscoitos no lenço de meu bolso e voltei a martelar o telhado e sorri sozinho.

Quando voltei pra casa, meu pai já estava dormindo, agradeci novamente à senhora Kincannon e depois de um banho me sentei na mesa da cozinha da minha casa e peguei um dos três biscoitos que eu havia trago para casa e fiquei olhando para um deles e ri sozinho, Anne era uma garota petulante e muito corajosa e ri de novo.

—- Eu sei que biscoitos deixam muitas pessoas felizes, mas é a primeira vez que vejo um sorriso mais do que feliz em seu rosto filho – disse meu pai levantando com dificuldade, o apoiei enquanto o levava para o banheiro, depois o ajudei a voltar, ele se sentou na cama e lhe ofereci um dos biscoitos e ele aceitou e riu.

—- Vá dormir meu filho, amanhã você tem escola e precisa dormir bem, boa noite – disse meu pai e assenti.

Subi lentamente as escadas na direção de meu quarto rindo novamente da cena de Anne e Billy e suspirei.

Na manhã seguinte, estava sentado na minha carteira e brincava com meus colegas de jogar um lenço no outro, uma brincadeira idiota é claro, mas estávamos nos divertindo e muito, mas o professor chamou nossa atenção e eu voltei meu corpo para frente e procurei me concentrar na matéria que ele escrevia no quadro negro e ouvi a porta da sala de aula ser aberta, hesitei um pouco, mas olhei para trás devagar e lentamente entrando pelo corredor da sala de aula notei uma garota ruiva caminhando na direção da mesa das meninas, Diana e Ruby levantaram rapidamente para recepcionar Anne que sorria abertamente para as mais novas amigas e me voltei novamente para frente, mas não pude evitar um meio sorriso em meus lábios.


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