O Livro dos Mortos escrita por Alex Porfirio


Capítulo 1
Prólogo




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Ela encarava a cidade do alto. Os humanos eram tão pequenos, tão frágeis e tão arrogantes em seus mundinhos particulares que pareciam ignorar tudo em sua volta. Viu um deles sendo carregado pela sua mãe humana. Bebês eram tão fofos, tão lindos. Mal sabiam o que aconteceria com eles, mal esperavam que alguma coisa errada pudesse acontecer, uma pessoa querida pudesse morrer. Esfregou o rosto quando percebeu que lágrimas pudessem estar escorrendo ao ter novamente aquelas memórias.

Não sentiu nada.

Nem uma gota sequer. Ela não conseguia mais chorar. Aquilo a irritava imensamente, mas se conteve com apenas um pensamento. Ela não podia mais chorar porque já iniciara o que queria e, em breve, a criança que estava ali, no colo de sua mãe, nunca mais precisaria perdê-la, pois a morte não existiria mais.

Morte.

Ao olhar para sua mão, percebeu que o sangue não tinha sido lavado por completo, e acabara secando, a obrigando se lembrar de todos que morreram ao enfrentá-la. Não era assim, não precisava ser assim, mas ela quis. Não sentiu pena, nem remorso ao matar os guardiões daquele corredor, e não hesitou por um segundo sequer ao matar todas aquelas pessoas, com aquela explosão. Milhares de sua espécie morreram, e ela simplesmente não se importou.

Eles entenderiam quando tudo estivesse nos eixos. Se tornaram egoístas e preguiçosos, cheio do poder, mas não os usavam para nada, porque preferiam continuar se sentindo superior do que realmente ajudar as pessoas. Ela também já fora assim. Já foi uma mulher tola, que achava que humanos nada mais eram do que lixo abaixo de mais lixo.

Mas poderia mudar isso com o livro que colocara do seu lado. A capa cinza, com uma grande árvore de quatro galhos que se estendiam pela contra capa. O Livro dos Mortos. Ela muito bem poderia usá-lo para mudar tudo, para dar mais cor a esse mundo, que não fosse tão preto e branco como ele é.

Olhou para frente, ignorando todos os arranha céu e focando no que estava atrás deles. Um sol estava se pondo, e seria uma visão linda. Seu pai amava olhar para ele, todos os dias, quando o mesmo ia embora, deixando um céu rosado minutos antes de tudo se tornar escuro.

— Entre a luz e a escuridão, sempre haverá algo diferente. É ali que você tem que estar. - Ele dizia.

— Pegou? - Saiu de seus devaneios e memórias, querendo continuar ali, quando ouviu a voz sedutora. - Entregue-me.

Não era uma voz sedutora no sentindo bom. Ela não conseguia resistir, nada do que fizesse podia impedir de obedecer. Contra a própria vontade, pegou o livro e estendeu acima da cabeça, não querendo olhar para o homem que estava atrás dela. Sentiu o calor dele a tocar enquanto, finalmente, algo quente escorria em seu rosto.

Sentiu a arma mais poderosa do mundo escorregar de seus dedos. Não havia mais retorno, não havia mais nada.

— Eu preciso mesmo fazer isso? - Ela perguntou, enquanto se levantava contra a própria vontade.
Não houve respostas, então encarou o chão, a mais de dez andares abaixo. Nenhum humano a notou, ninguém quis saber o que estava acontecendo. Talvez ela estivesse errada sobre eles. Talvez realmente não fossem dignos de pena.

E então, ela pulou, e o mundo ficou em câmera lenta, a enchendo de milhões de perguntas. O que ela estava fazendo? Que tipo de magia era aquela? Por que não se controlava? O que era aquele ser? Nada importava, enquanto o chão se aproximava. Seu pai e sua mãe, os veria novamente. O motivo de tudo aquilo que fizera era para enfim os ver, e faria isso.

Sorriu ao perceber a ironia disso. Seu pai e sua mãe fizeram coisas boas em suas vidas, salvaram pessoas e tiveram o amor proibido que sempre quiseram. Eles iriam para um lugar bom.

E ela?

Bom, ela dera inicio ao fim do mundo.


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