GIRL ON FIRE, paul lahote escrita por Pyxisz


Capítulo 1
↠ PROLOGUE, they’re coming for me




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/784741/chapter/1

They send me away to find them a fortune,
A chest filled with diamonds and gold.
The house was awake,
With shadows and monsters,
The hallways, they echoed and growned.

—--

Ela ouvia os passos do outro lado da porta, de onde entrava uma fraca luz por uma brecha, que também a permitia ouvir um leve sussurro. Eram pelo menos duas pessoas, não conseguia discernir palavras, mas podia identificar vozes distintas, uma feminina e outra masculina.

Remexeu-se por entre os trapos que impediam que a mesma congelasse. Era outono, e não se podia realmente considerar um clima gelado, estava ameno. Mas em suas condições, sentia-se como se estivesse soterrada por neve e completamente desprotegida.

A porta rangeu e abriu-se até que a figura de um homem transpassou por ela. Era alto e tinha olhos esbugalhados, que pareciam brilhar sombriamente ali no escuro. Sobrancelhas grossa e negras, pele parda e rosto quadro. Seria até bonito, se não estivesse com as feições duras.

Ela tremeu. Agora já não sabia se de frio ou medo. Talvez uma mistura de ambos. Afundou-se no chão, ali onde dormia, querendo fundir-se ao assoalho. Tornar-se a madeira podre, na onde sentava. Encarou-o por breves segundos, a expressão de repugnância formando-se no ser a sua frente.

Sentiu uma ardência no lado direito do rosto. Seus olhos lacrimejaram e ela tombou para o lado com o impacto do tapa.

—Você, criatura asquerosa... Seu fim está próximo, e todos os nossos sofrimentos partiram com a sua ida ao inferno. -Não disse nada, na verdade, não se moveu, continuou inerte na posição que havia caído.

Tornou a sentir uma queimação, dessa vez no couro cabeludo. O homem usava suas mãos enormes para puxar os cabelos curtos e sujos dela, a força que aplicava foi tanta que conseguia levantá-la.

—Pedro, está na hora. -A voz feminina que ouvira anteriormente voltou a falar. O homem então soltou bruscamente as suas madeixas, arrancando um tufo de fios, devido a brutalidade da ação.

—Você sabe o caminho, demônio. -A voz grave soou como ordem. Um sussurro infernal. Ela não tinha forças para levantar, mas saiba que seria pior não fazer o que lhe foi mandado. Tirando energia de onde nem mesmo ela sabia, impulsionou seu magro corpo para erguer-se. Exigindo mais do que suas pernas conseguiam oferecer, sentiu-se quase cair. Amparou-se na parede e estabilizou-se. Sem olhar para cima, para fitar o homem do seu lado, seguiu de cabeça baixa em direção a porta. Ao passar pela mesma, fechou seus olhos fortemente, sua visão nem um pouco acostumada com um ambiente tão bem iluminado. Abrindo apenas o necessário para se locomover com o olho esquerdo, prosseguiu em direção da saída da casa onde estava.

Do lado de fora, o dia já estava escurecendo, apenas alguns fracos raios de sol alaranjados surgiam pelo horizonte, mesclando-se com o azul escuro do céu da noite. Sentiu uma pedra afiada machucar a sola dos seus pés, que estavam descalços. Ao respirar profundamente, um ar gélido entrou em seus pulmões, que reclamaram com uma dor que lhe engasgou.

—Rápido. -Foi empurrada para a frente, quase resultando em uma queda. Apressou então o máximo que seus pés podiam, praticamente trotando, para acompanhar o ritmo do homem que seguia ao seu lado. Ele tinha pernas longas e ela pernas pequenas. Era suposto que realmente alguém teria que se adaptar um pouco pelo outro, e no caso, obviamente, ela era quem tinha que se esforçar.

O caminho seguiu silencioso, depois de transitarem pela vila que estava estranhamente vazia, passaram a empreitar-se pela floresta que envolvia aquele lugar. As árvores eram espessas e altas. Uma trilha iluminada surgiu ao caminharem uns cinco metros na, praticamente, escuridão total.

Ela sabia que estava se aproximando do seu destino quando passou a ouvir o batucar de tambores, ritmados, num som, que soou para a mesma, assustador. O chão parecia tremer e o ar lhe faltava novamente. Seus passos começaram a diminuir de velocidade.

Completamente apavorada. Não seria o mesmo sofrimento de sempre, seria algo maior. Algo pior. Estremeceu.

Olhou para os lados, na mata ao seu redor parecia ter vários olhos a espreitando, vigiando... Julgando. Esbarrou com a pessoa que a acompanhava. Sentiu novamente ser jogada ao chão por, dessa vez, um murro no olho direito.

—Em frente, coisa ruim. -Seguiu alguns centímetros se arrastando no chão, até, novamente, buscar forças para se levantar.

Chegando ao local, o batuque começou a se tornar mais acelerado. Todas as pessoas da vila estavam ali. Formando um círculo, cujo o centro se encontrava o ancião. Quatro homens tocavam o tambor, naquele ritmo que lhe arrepiava.

Sentiu sua única peça de roupa ser retirada do seu pequeno corpo, uma camiseta velha e surrada, que lhe servia como um vestido.

Foi, então, suspendida por duas mulheres loiras, uma de cada lado, a levantando pelos braços. Encaminhada para um tronco que também estava posicionado no centro. Foi amarrada ali, pelos pulsos e tornozelos, que queimaram com o contado da corda em machucados que ali tinham.

Olhava desnorteada para todos os lados, como se esperando que alguém fosse ajuda-la. Ninguém. Ela sabia disso, mas tinha medo, então seus olhos clamavam por socorro. Todos estavam sérios e fitavam qualquer coisa, menos ela, pareciam tensos, mas receosos. Não moveriam um músculo sequer para socorrê-la.

Os tambores pararam de tocar quando se foi ouvido o soar estridente de um sino. Engoliu em seco. Agora, todos a encaravam... Na verdade, encaravam o senhor ali na sua frente. Cabelos brancos e pele enrugada, mas olhos azuis vívidos, que gritavam crueldade.

—Quando, esse ser repulsivo aqui na minha frente, nasceu, todos víamos o futuro. A paz. -Sua voz soava rígida e alta para todos ouvirem, mas seu olhar ficava preso a menina ali na sua frente. -Os olhos castanhos, tais qual a do pai. Uma bela criança de terra, certamente. MAS... -Ele gritou vorazmente. -Essa criatura vil, poucos meses depois, mostrou seu eu verdadeiro. A cada fio de cabelo ruivo que nascia, eu podia sentir a sua essência... A sua maldade. -Ele dava ênfase vertiginosamente. -Logo, tudo se encaixava. Todo o caos que esse demônio trouxe para nosso povo. Toda a desgraça que ela estava incumbida de nos proporcionar. Em seus poucos segundos de vida a sua maldade já se fez presente.

Ele rugia enquanto pronunciava sua manifestação, expressando-se avidamente. O esforço, porém, cobrou seus pulmões velhos. Ofegou forte. Aguardou alguns segundo para estabilizar a respiração.

—Eu tenho conhecimento do que alguns pensam. Afinal, eu sei de tudo que se passa com meu povo. Minha família. Mas quero que todos entendam que enquanto vocês veem uma criança de seis anos, eu vejo a nossa destruição. Eu vejo nosso vilarejo sendo engolido pelas chamas. Vejo nossas pessoas de bem sendo queimadas pelo fogo. O fogo! O fogo infernal que acompanha esse a criatura na nossa frente. Essa criatura que é a própria caixa de Pandora, com os males que assolarão a todos nós. -Ele encarava a menina na sua frente, agora com um olhar monótono, um olhar que a assustou mais do que o anterior, que era feroz.

—Lembrem-se de Alexandra, a doce mulher que morreu por seu pecado, o de por esse ser no mundo. Recordem-se de todo o caos que ela trouxe para nossa pequena população. Agarrem-se a esse sentimento. Pois não foi como planejamos, ela não nos conduziu a paz. Mas a paz será encontrada com seu fim. -Ele voltou ao seu tom de exaltação, gesticulando e apontando para seu rosto, cuspindo nela ao se expressar tão fortemente.

Enquanto o mais velho dizia seu discurso, as duas mulheres que a prenderam ali, começaram a enrolar cordas com grandes pedras ao seu corpo miúdo. Soltaram-na do tronco e a ajudaram a manter-se de pé, pois não aguentava sustentar todo aquele peso preso a si.

O ancião afastou-se por um momento, retornando em seguida com algo nas mãos. Um ferrete jazia em sua posse, a ponta brilhava fortemente em brasa, num tom amarelado.

—Você morre hoje, mas morre, sentindo o próprio veneno. -Ele então, sem demora, começou a golpeá-la com a ponta quente da ferramenta. A ponta alucinantemente quente da ferramenta. Ela não encontrou palavras para descrever a dor que sentia no momento. Nunca tinha sentido algo nesse nível antes, e apesar de ter tão pouca idade, já tinha passado por vários tipos de sofrimento.

Ouvia-se a sua carne queimar com o impacto, o mesmo barulho que faz o bife de boi ao entrar em contato com a frigideira. Olhando zonza de dor para baixo, percebia as bolhas que se formavam instantaneamente ao contato da superfície extremamente quente.

Sentia o seu sangue escorrer devido ao corte causado pela lâmina do ferrete. Ele a batia repetidamente pela barriga, pernas e braços. O mais dolorido foi quando tocou fortemente uma região próxima ao pescoço.

Ela estava sem qualquer vestígio de força. Se as duas mulheres não a mantivessem levantada, teria sucumbido e caído ao chão. Sua cabeça pendia para frente, não conseguia nem ao menos abrir os olhos direito, mas quando o fazia, ao olhar para baixo só via vermelho. Sentiu que ia desmaiar, quando um balde de água gelada foi jogada sobre si. Por um momento pareceu ser o anestésico perfeito, mas após essa impressão, sentiu a feridas recentes doerem mais que anteriormente, se é que isso era possível.

—A água é o fim do fogo. O fogo é o elemento mais destrutivo e a água é sinônimo da vida. E a sua vida, vai se esvair junto ao fogo quando entra em contato com a água... Vai evaporar. -Ele segurava seu rosto pelo queixo, mantendo o contato visual dos dois. -Vamos pôr fim nisso de uma vez. Joguem-na.

Ela passou então a ser arrastada, as pernas se tornando cada vez mais doloridas ao, cortes e queimaduras, entrarem em contato com o atrito e terra. Ela, no momento, se sentia uma boneca de pano, que podia ser feito o que quisesse com. Uma boneca que clamava, agora, pela morte. O confortante e acolhedor fim.

Com os sentidos bagunçados e ineficientes, ouviu o som de água correndo. Olhou para baixo e vislumbrou uma queda de pelo menos uns vinte metros. Lá embaixo ela tinha visão do mar. Um mar negro e violento. Então esse é o fim.

Notou quando perdeu o apoio abaixo dos braços e passou a sentir só o vazio. Fechou os olhos e sentiu o vento que lhe batia em todo o corpo. As pedras certamente reduziram o seu tempo voando como um passarinho livre, seus únicos segundo de liberdade.

Chocou-se contra a água gélida e afundou voluptuosamente. Até tentou segurar o pouco de ar que respirara, mas não tinha mais energias, nem precisava de mais energia. Esse era o fim. Água entrou vertiginosamente pela sua boca e narinas. Sentiu-se sufocar. Os olhos fechando lentamente enquanto buscava o ar desesperadamente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "GIRL ON FIRE, paul lahote" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.