O Pequeno Rei e sua coroa de espinhos escrita por crowhime


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Estava louca pra escrever a história do Reg, ainda não terminei, mas a ansiedade pra postar não me deixou esperar! Tentarei trazer atualizações semanais.
Boa leitura ♥



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A água gelada arrastava o corpo, envolvendo-o e puxando para baixo como amarras invisíveis, e por mais que tentasse se impulsionar para frente e se agarrar na superfície úmida da ilha de pedra, os dedos escorregavam inutilmente sobre a pedra lisa, a corrente revolta mais forte do que as mãos trêmulas. Em contraponto, a mesma água fazia a garganta e os pulmões pegarem fogo, queimando-os à medida que os invadia. Tentou prender a respiração enquanto se debatia, lutando por reflexo, chutando as mãos que se agarravam pesadamente às suas pernas, arrastando-o, puxando-o, arranhando-o, levando-o direto para o fundo - direto para as garras da morte. Sem sucesso para se soltar, o desespero tomou conta de si, o impedindo de racionalizar com clareza. Tinha a varinha firme entre os dedos e conjurou um feitiço, fogo, o qual logo se apagou devido à incapacidade do momento em se concentrar. Proferiu mais alguns outros, porém nada parecia trazer resultado.

A mente estava turva, o corpo fraco; e se por um lado os instintos lhe diziam para lutar e viver, por outro sua mente gritava que deveria morrer. Que era o certo. O melhor para todos. Que já havia passado da hora.

Alguns diziam que o fogo era a purificação da alma. Ou a punição pela destruição eterna. Nada se erguia de volta das chamas, era a extinção de tudo que desagradava. Nem mesmo o bruxo mais poderoso poderia ser como uma fênix e escapar da morte. Talvez a água fosse reservada aos pecadores. Talvez tivesse uma chance de rendição, quem sabe na próxima vida.

Não conseguia pensar direito, mas esperava que sim.

Nunca havia sido um herói, afinal.

Não havia nascido para ser um herói.

Em busca involuntária pelo oxigênio, respirou, tentando suprir a necessidade de ar, porém tudo que lhe preencheu foi a água, que perfurava seu interior como agulhas. A traquéia ardia, assim como os pulmões que se enchiam; e não conseguia mais se mover. Não sabia mais se os olhos ardendo e o nó na garganta era por conta das lágrimas, que se uniam às águas ao lago. O cérebro ficava turvo, assim como as águas escuras, mal podia ver a luz verde, bruxuleante, ao longe, os olhos ardendo tornando cada vez mais difícil mantê-los abertos.

Se viu refletido na superfície e nem mesmo se reconheceu.

A mão se estendeu ao alto, como se tentasse tocar o reflexo, mas já havia sido solto há o que parecia uma eternidade que preenchia aqueles poucos segundos, e não havia ninguém ali para ajudá-lo. Havia dito para ser solto. Ordenado, na verdade. Os dedos esqueléticos de Monstro ainda tentaram puxá-lo enquanto o elfo choramingava, sabendo o que inevitavelmente aconteceria, e, da garganta seca, não soube como extraiu o imperativo, alto e claro, de que ele deveria soltá-lo. Deveria deixá-lo ir. Se ele continuasse a insistir naquilo, seria levado junto e isso Regulus não poderia permitir. Não havia levado Monstro ali - pedido ao elfo para levá-lo até ali - para abandoná-lo à morte ou levá-lo junto consigo; não temia estar sozinho, afinal o que era uma morte solitária para quem já viveu uma vida sozinho?

E afinal, em algum lugar dentro de si, já havia aceitado aquele destino. O fim. Ao menos para sua existência.

Não existiria mais Regulus Black. Com o tempo, quem sabe, nem mesmo haveria mais família Black.

Tudo -- era inútil.

Tudo, até hoje, havia sido inútil.

A guerra estava insana, em seu ápice, não havia ninguém páreo para o Lorde das Trevas, nem mesmo Dumbledore. Mortes, mortes e mais mortes. E o sangue também pingava de suas mãos, pois também era culpado, e aquela era uma última investida desesperada de compensar por todo o mal que havia feito. Estava certo de que morreria de um jeito ou de outro, ao menos que fosse fazendo algo de bom, pois não aguentava mais, fazer o que pediam, e fingir não ouvir as vozes chorando e gritando em sua cabeça. Queria ao menos ter terminado pessoalmente a tarefa, porém confiava em Monstro. Ele era um bom elfo. Faria o que havia dito: tinha certeza. E isso lhe dava alguma paz, no mínimo um consolo, naqueles últimos instantes.

As mãos brancas o puxavam com força e já não conseguia mais lutar, sequer tinha vontade, que se dissipava proporcionalmente a quão mais perto das profundezas seu corpo chegava. Uma mancha escura subia flutuante pela água. Sangue, reconheceu, ao menos imaginou que sim, porém não sentia dor. A água gélida anestesiava a sensação e a consciência se esvaía e já não se debatia mais, deixando o corpo à mercê da água, dos inferis, do que quer que viesse a seguir. De qualquer coisa que agora o aguardasse. Do destino no qual havia se jogado.

Nunca havia pensado se havia algo além, mas mesmo assim pediu perdão.

Não sabia ao certo a quem ou sobre o quê.

As bolhas de seu último inspirar subiram, quando o corpo também desistiu, reluzindo fracamente mediante à única fonte de luz, fraca e distante, da caverna que se resumia a um antro de escuridão que o engolia. Viu ali seu próprio reflexo desaparecendo - assim como toda sua existência.

Brilhavam como pequenas estrelas, antes de se dissolverem no preto para todo o sempre.


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