Miraculous Evolution - Primeira Temporada escrita por Bardo Maldito


Capítulo 1
Episódio 1 - Rakshasa (Primeira Parte)


Notas iniciais do capítulo

Essa é uma fanfic sem fins lucrativos, que imagina um futuro em que Hawk Moth já foi derrotado, e surgem novos desafios e novos aliados para Ladybug e Chat Noir. Essa fanfic considera como canon os episódios até o fim da terceira temporada, que é o ponto que a série estava quando a fanfic foi feita: eventuais semelhanças com episódios da série que forem lançados após os capítulos da fanfic são apenas coincidência. Teremos dois tipos de episódios: episódios no "presente", que contam a história de Ladybug e Chat Noir com 19 anos, e episódios "flashback", que se passam durante a época do desenho original, dando minha própria versão para pontos que a terceira temporada não explicou.



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— Ah. Eu achei que você talvez aparecesse. Que coincidência.

Wang Fu estava deitado na cama do hospital, com tubos e aparelhos conectados a seu corpo. Estendeu uma mão fraquinha que foi agarrada pela jovem mulher, que olhou para seu rosto, com a expressão carregada de pesar.

— Eu nunca entendi bem, mas já desisti de te entender, menina. – disse Wang Fu, com a voz fraca – Às vezes, parece que você me confundiu com outra pessoa.

— Não confundi, não. É você. Mestre Fu. – disse a jovem, contendo a vontade de chorar

— Mestre Fu? Eu não lembro de já ter te ensinado coisa alguma. – Wang Fu riu baixinho, antes de dar uma tossida – Na verdade, não lembro de muita coisa. Mas fico feliz que você tenha me confundido com esse mestre. Você tem sido uma alegria enorme nessas últimas semanas.

A jovem não disse nada, apenas segurou a mão de Wang Fu, lutando para conter as lágrimas.

— Sabe? Eu acho que estou pronto pra morrer desde que minha querida Marianne se foi, ano passado. – continuou Wang Fu – Minha memória não é mais a mesma, mas… todos os anos que passamos juntos, eu não me lembro mais dos detalhes, só sei que ela era meu sol, minha alegria. Como se tivéssemos lutado muito pra ficar juntos, passado por tanto juntos. É estranho que eu não lembre de nada.

Wang Fu pareceu sonhador por uns instantes. Mas então, acordou e voltou a atenção para a jovem.

— E isso que é engraçado. Você… eu também tenho a impressão que já te conheço. Há mais tempo do que aquela vez que nos encontramos em Paris. Como se eu tivesse visto você crescer. Não desde criança, mas como pessoa… – Wang Fu se distanciou novamente por um instante, antes de voltar a olhar para a jovem, bem sério – Você tem certeza que não me confundiu? Eu fui mesmo seu mestre?

As lágrimas não resistiam mais. Com o rosto manchado e um nó na garganta, a jovem apenas acenou que sim com a cabeça.

Wang Fu sorriu.

— Entendo… então, acho que tenho algo pra me orgulhar. Eu não lembro de você, nem de nada que eu fiz. Mas pelo que conheço de você nas últimas semanas, você é uma boa garota. Uma boa mulher. E se eu te ensinei alguma coisa, então acho que devo ter feito um bom trabalho. Eu fui um bom mestre?

— Foi o melhor. – disse a jovem, com um fio de voz – Eu devo tudo a você. Tudo mesmo.

— Que bom, que bom… – Wang Fu tossiu – Então, eu fiz algo de bom com a minha vida. Marianne com certeza teria orgulho de mim…

Wang Fu deu mais uma tossida fraquinha. Fechou os olhos sorrindo, tranquilo como se estivesse dormindo.

— Mestre? – chamou a jovem

Mas não houve resposta.

A jovem desabou a chorar. Uma criaturinha pequena, que lembrava uma tartaruga do tamanho de um hamster, saiu voando de seu bolso. Seus olhos enormes estavam cheios de lágrimas.

— Adeus. – disse Wayzz, com a voz fininha cheia de pesar, antes de voltar para o bolso de Marinette Dupain–Cheng

 

*

 

— Guardiã Marinette. Nós chegamos a uma conclusão.

Marinette se sentou à frente dos Mestres. Depois de um ano aprendendo no templo, já estava acostumada com a etiqueta rígida do local. Os Mestres, todos vestindo o mesmo hábito alaranjado, sentados eretos, severos, impessoais, a olhavam como juízes. De cabeças raspadas idênticas, eram quase indistinguíveis um do outro.

— Mestre Wang Fu a nomeou uma Guardiã antes de renunciar à posse dos Miraculous. – disse o Mestre dos Mestres, que ficava no meio do grupo – À época, havia o conflito contra os portadores da Borboleta e do Pavão. Mas agora, que esse conflito acabou, seu caráter tinha que ser posto à prova. O normal seria que um Guardião verdadeiro tivesse anos de treinamento antes de ter direito a portar um Miraculous permanentemente. Mas, em reconhecimento ao seu trabalho, confiamos o Miraculous da Joaninha a você, bem como a caixa com os Miraculous do Gato Negro, da Raposa, da Tartaruga, da Abelha, do Pavão e da Borboleta.

— Espere. Só esses? – perguntou Marinette, aparentemente esquecendo a etiqueta por um instante – Mas e o Kaalki, o Sass, o Longg…?

— Os Miraculous do Zodíaco permanecerão no Templo. – respondeu o Mestre dos Mestres

— Mas… o combinado não era esse! – protestou Marinette, se levantando indignada – O combinado era que se eu fosse nomeada uma Guardiã oficialmente, eu poderia continuar cuidando dos Miraculous!

— O da Joaninha, sim. O do Gato Negro deve sempre permanecer com o da Joaninha, então também conferimos posse a Adrien Agreste, mesmo que sob sua responsabilidade. Da Raposa, da Tartaruga, da Abelha, do Pavão e da Borboleta, também confiamos às suas mãos e ao seu discernimento, para que os confie às pessoas apropriadas se a situação assim exigir. Mas manter todos os Miraculous em Paris seria perigoso demais para que uma única Guardiã cuide sozinha.

— Mas… mas… – Marinette gaguejou, mas se calou logo, cerrando os dentes

— E lembrando que, em caso de necessidade, você deve estar pronta para abrir mão da sua vida em Paris e ir pra onde for necessário que os Miraculous atuem. – continuou o Mestre dos Mestres – Sua vida pertence ao Templo dos Guardiões, Marinette Dupain–Cheng.

Marinette realmente não gostava de nada disso. Realmente, o Mestre Fu não estava brincando quando falou de regras rígidas e antiquadas. Perto de tudo que vinha vivendo nas últimas semanas, as 24 horas sem comida e água que Mestre Fu descreveu quando contou sobre seu treinamento pareciam ser até bem razoáveis.

Mas… não tinha jeito. Era o único jeito de seguir com a vontade do Mestre.

— Eu posso me despedir deles? – perguntou Marinette

Os Mestres olharam Marinette com estranhamento, mas permitiram. Após remover a tampa, Marinette foi cercada pelos doze kwamis, todos parecendo bem aflitos e falando ao mesmo tempo.

— Calma, calma! – Marinette riu, meio atrapalhada com toda a comoção, e tentando parecer otimista – Olha… é temporário, tudo bem? Eu volto pra visitar vocês. Se sentirem saudades, peçam pro Mestre dos Mestres deixar o Kaalki levar vocês pra Paris, pra visitar a gente. Vou mandar lembranças pro Luka, pra Kagami, pro Max, pra todo mundo.

Os Mestres realmente não estavam entendendo bem. Mas Marinette estava acostumada com isso, mesmo que não simpatizasse. Aparentemente, para os Mestres de grande escalão, era estranho tratar os kwamis como criaturas vivas e dignas de carinho e atenção.

De qualquer jeito, essa etapa estava concluída.

Hora de voltar pra Paris.

 

*

 

— Ah, que bom! Eu não estava acostumada com o Tibet, depois de ficar em Paris tanto tempo. Que saudades! – exclamou Tikki, colocando só a cabeça pra fora do bolso de Marinette

— Nem me fala. Estava morrendo de saudaAAAAAA…!

Marinette tropeçou numa mala que estava no chão, e caiu.

— Ai, desculpa! Tá tudo bem? – perguntou a dona da mala, uma jovem de cabelos castanhos com um ligeiro sotaque lusitano em sua pronúncia, estendendo a mão para Marinette

— Tá, tá tudo bem! Eu que não olhava por onde estava indo, he, he… – disse Marinette, tentando disfarçar, mas se sentindo embaraçada e querendo que o chão se abrisse pra engolir ela

— De qualquer jeito, perdão. – disse a jovem – Escuta, você sabe me dizer onde eu posso pegar um táxi?

— Ah, é fácil! O ponto de táxi é logo ali naquele… – Marinette apontou, mas perdeu a fala quando viu quem estava lá, bem na frente do ponto de táxi

— Ali? – perguntou a moça da mala

— É, ali. Dá licença, meu namorado veio me buscar.

Marinette nem ouviu o agradecimento da moça, e foi correndo na direção de Adrien, que a esperava sorrindo. Se jogou nos braços dele, abraçando–o com força e o beijando uma, duas, mil vezes, uma pra cada momento que sentiu falta dele, nesse ano que ficou longe.

Após um longo instante, finalmente os rostos se separaram. Marinette olhou o rosto que conhecia tão bem, que sorria com o mesmo carinho de sempre.

— Você deixou o cabelo crescer mais. – disse Adrien

— Você também. – Marinette notou que o cabelo de Adrien estava tão grande que ele amarrava em um coquezinho – Tá bem hipster, bem charmoso.

— Bondade sua, Milady. – Adrien tomou sua mão e a beijou – Gostaria de ser conduzida à sua casa, senhorita?

— É, eu acho que minha mãe e meu pai vão morrer se eu não for visitar eles primeiro. – Marinette riu, enquanto Adrien abria a porta do carro

 

*

 

— Minha filhinha amada!

O pai ainda abraçava apertado como um urso. Mas Marinette sentia saudades até disso, do carinho de gigante do pai. E, claro, também da doçura delicada da mãe.

— Você tá mais pálida. Você comeu direitinho lá na China? – perguntou o pai, ansioso – Hoje a janta vai ser caprichada!

— Como foi o intercâmbio, minha filha? – perguntou a mãe – Aprendeu tudo o que queria?

Wǒ xué dàole yīqiè! – disse Marinette, orgulhosa do chinês que aprendeu no Templo dos Guardiões, necessário pra decifrar muitos dos livros de lá

— Ela disse “eu aprendi tudo”. – disse Adrien, rindo, pois embora a mãe de Marinette fosse de família chinesa, não sabia falar chinês

— Depois eu vou mostrar os vestidos que fiz. Fiz um especialmente pra você, mãe! – pra poder passar pelo treinamento no templo, Marinette disse que casa que faria um intercâmbio na China estudando moda tradicional chinesa, mas pra não ser uma mentira completa, Marinette realmente passava as raras horas de folga no templo estudando e costurando

— Vocês dois vão adorar! E é melhor provarem de tudo! – Marinette ouviu a voz do pai lá da cozinha

— Ele está planejando esse jantar há semanas. Não é brincadeira, é melhor provarem de tudo mesmo. – a mãe riu – E, Marinette… boas notícias. Sua admissão foi aprovada, recebemos a carta semana passada.

— S… sério? UHUUL! – Marinette gritou e pulou no pescoço de Adrien, e depois no da mãe. Havia sido aprovada no curso de Moda, Corte e Costura da Université de Paris!

— Você vai adorar. – disse Adrien, sorrindo – O campus é lindo, e a maior parte dos nossos amigos está estudando lá!

— É, vai ser bom começar essa nova etapa tendo os amigos por perto. – Marinette sabia que Adrien havia começado o curso de Psicologia, e Alya estava cursando Jornalismo, mas depois teria que perguntar pra Adrien o que seus amigos estavam fazendo

— As aulas começam semana que vem. Até lá, dá tempo de vocês se planejarem bem, né?

Marinette e Adrien ficaram vermelhos e desviaram o olhar.

— Vai ser difícil. – continuou a mãe, falando bem baixinho – Mas nós dois desejamos toda a sorte do mundo a vocês dois nessa jornada.

— Por que está falando tão baixinho? – perguntou Marinette, também baixinho

— Seu pai começa a chorar sempre que eu toco no assunto. – fez uma expressão como que dizendo “ele não tem jeito, você sabe” – Você conhece ele, ele apoia os planos de vocês, mas só vai se conformar quando vocês estiverem finalmente morando juntos. E provavelmente vai passar algumas semanas ligando pra vocês todas as noites, preocupado.

— Ah, vai dar tudo certo. – disse Adrien, passando o braço pelos ombros de Marinette

— Claro que vai! Eu também vou arranjar um emprego, mesmo que temporário! – exclamou Marinette

— Ah, emprego temporário é o que não falta! Só nas últimas semanas, eu já trabalhei de fotógrafo, cuidador de cachorro, garçom, mordomo particular, carteiro, motorista, cobrador, balconista…

Marinette riu, mas notou o olhar preocupado da mãe. Era uma situação realmente complicada. Pra ela, de fora, era incompreensível pensar no porquê de Adrien ter decidido se afastar do pai a esse nível, pegando mil empregos temporários pra não usar a fortuna da família, nem mesmo trabalhando como modelo. Mas… era parte de quem eram. Essa ferida não ia se fechar tão cedo.

Pensando nisso, Marinette se lembrou de Nooroo. E sentiu vontade de acabar a noite logo, pra poder abrir a caixa de Miraculous e ver como todos estavam.

 

*

 

Fazemos votos que Jagged Stone realmente não lance essa música ofensiva a que nossos informantes tiveram acesso exclusivo.

Lila Rossi terminou de digitar o texto e sorriu. Mais uma história falsa. Mais um boato que criaria polêmica, que traria dúvida e levaria pessoas a se descabelarem. Enquanto isso, a mídia encontraria motivo pra comemorar e lucrar.

Se espreguiçou. Realmente, havia nascido pra esse tipo de trabalho. Mas não deixava de ser cansativo. Embora fosse sua especialidade, estava ficando difícil criar tantos nomes e identidades diferentes, pra escrever pra tantos jornais e sites de notícias diferentes.

Era um sucesso. Encontrara seu talento, estava ganhando dinheiro sem nem sair do pequeno apartamento que comprara em Paris, enquanto a família e os antigos colegas acreditavam que estava fazendo faculdade na Suíça. Mas… ainda havia algo faltando. No fundo, ainda havia um certo vazio. Uma vontade amarga, que não sabia se algum dia iria se concretizar.

Sua vingança.

Lila se assustou com o barulho que veio de seu armário.

Seu sangue gelou. De novo, não.

— Ok… vamos lá, não deve ser tão ruim. – disse Lila pra si mesma, enquanto se levantava e andava até o armário, tentando manter a calma

Parada na frente do armário, respirou fundo e abriu a porta.

Lá dentro, em uma gaiola, estava um akuma carregado de energia negativa. O único que conseguiu capturar há anos atrás, quando quase conseguiu roubar os Miraculous do Hawk Moth e de Mayura. Antes, guardava esse akuma pra tentar novamente conseguir os Miraculous, mas agora que Hawk Moth e Mayura haviam sido derrotados, era meio em vão. Apenas guardava o akuma, esperando pela oportunidade perfeita pra infectar alguém em meio a um plano para atrair Ladybug e ter sua vingança.

Mas o akuma aparentemente não gostava de ser preso. E… estava mais alterado. Maior, com espinhos, a energia negativa fluindo como se estivesse prestes a transformá–lo. E, de vez em quando, tendo esses surtos em que se jogava na parede da gaiola por horas.

— Eu não posso te soltar. – disse Lila, aparentando mais calma do que realmente sentia – Você vai servir aos meus planos. Até lá, você vai ficar aí. Entendeu? Você me pertence.

O akuma se movimentou mais bruscamente, jogando a gaiola de um canto pra outro, com violência. Não tinha voz, mas certamente estaria guinchando, se tivesse.

“Isso tá ficando crítico. Eu tenho que tomar uma atitude logo.”

 

*

 

— Ei, turma. Podem sair. – sussurrou Marinette, após trancar a porta de seu quarto

Mal disse isso, os kwamis saíram da caixa que estava dentro de sua mala. Além de Tikki, a Joaninha (que sempre ficava com Marinette), também estavam ali Trixx, a kwami do Miraculous da Raposa; Pollen, a kwami do Miraculous da Abelha; Wayzz, o kwami do Miraculous da Tartaruga; Duusu, a kwami do Miraculous do Pavão; e Nooroo, o kwami do Miraculous da Borboleta. Também havia Plagg, o kwami do Miraculos do Gato Preto, mas esse ficava sempre com Adrien, seu portador.

Mas havia algo de diferente na energia dos kwamis. Quando podiam ficar soltos, o normal é que voassem de um lado pro outro, animados. Agora, estavam cabisbaixos, meio deprimidos.

— Ei, o que foi? – Marinette disse, enquanto se sentava na cama, próxima aos kwamis

— O Mestre Fu. – respondeu Tikki, que parecia mais preocupada que deprimida

— Ah. É, eu… eu sinto muito. – disse Marinette, meio desajeitada – Ele significava muito pra mim também.

— A gente passou anos e anos com ele. – comentou Trixx – E… mesmo na Ordem dos Guardiões, eram poucos que tratavam a gente bem, que nem ele tratava.

— E ele era o meu portador. Mesmo que ele tenha perdido as memórias… eu não esqueço tão fácil. – disse Wayzz, que parecia muito mais abalado do que os outros

— Acho que eu ia me sentir melhor se pudesse falar com a minha Rainha. – disse Pollen, voando em torno de Marinette – Você me leva pra ver ela, Marinette?

— Ah, bem… – Marinette hesitou, era complicado tentar explicar pros kwamis que só podia levá–los até seus portadores em situações de emergência

— E alguém tem que contar pro Plagg. – disse Duusu, a mais sentimental dos kwamis, que parecia estar à beira das lágrimas, já há dias – Só ele que não sabe.

— Ah, é… – realmente, quando Marinette foi para o Tibet, o Miraculous do Gato Preto ficou com Adrien, de modo que Plagg era o único que não sabia da morte do Mestre Fu

— Eu conversei com ele enquanto vocês jantavam, mas não falei nada. – disse Tikki – Acho que é melhor contarmos pra ele juntos.

— Ok, gente, assim. Prestem atenção. – Marinette chamou a atenção de todos os kwamis – Agora as coisas vão ser diferentes. Daqui a uns dias, nós vamos morar com o Adrien. Não vai mais ter meus pais em casa, vocês não vão precisar ficar dentro da caixa o dia inteiro. Aí… nós todos vamos contar pro Plagg, tudo bem? Até lá, vou precisar que vocês tenham paciência. Sei que vocês estão tristes, mas tudo vai melhorar. Eu prometo.

Os kwamis ainda pareciam tristes, mas pareceram encontrar algum consolo nas palavras de Marinette. Exceto um.

— Ei, Nooroo. Como você tá? – perguntou Marinette

Nooroo era mais complicado, precisava de mais cuidados, Marinette bem sabia. Demorou um tempinho antes de perguntar:

— Você teve notícias do Mestre?

— Nooroo, já conversamos sobre isso. – Marinette pegou Nooroo carinhosamente entre as mãos

— Eu sei, eu sei. Mas… – Nooroo suspirou – Ele é muito sofrido. E se sente mal por estar sozinho. Eu sei que ele era mau, que ele me obrigou a fazer maldades. Mas… não dá, não consigo parar de me preocupar.

Marinette se enchia de preocupação com isso. Por vezes, sentia medo do que podia acontecer. Ao contrário dos outros kwamis, Nooroo e Duusu não ficaram com o Mestre Fu quando o Faminto devorou o Templo, e mais tarde foram encontrados por Gabriel Agreste, e forçados a transformar pessoas em supervilões, e a criar monstros destruidores. Duusu parecia bem, tinha uma personalidade ingênua e inocente demais até pra perceber que havia feito maldades, mas Nooroo ainda carregava muitas mágoas e traumas.

— Ele tá no caminho certo. – respondeu Marinette – Mas ele precisa fazer isso sozinho. Pra melhorar como pessoa. E você… a gente vai estar aqui pra cuidar de você. Tudo bem?

Nooroo não respondeu nada. Marinette sentiu um bolo na garganta.

— Bem, gente… quem quer macarons, antes de dormir? – às vezes, macarons pareciam a melhor solução pra todos os problemas

 

*

 

— AI, AI! ATRASADA! NO PRIMEIRO DIA! – Marinette estava correndo exasperada pelo campus da Université de Paris, meia hora atrasada pro seu primeiro dia de aula

— Eu tentei te acordar. Você não se acostumou a acordar cedinho no templo? – perguntou Tikki, de dentro de seu bolso

— É justamente isso! No templo, eu tinha que acordar cedinho. Aí, fiquei aliviada voltando pra casa e podendo dormir um pouco mais, e perdi a hora! E… foi um trabalhão ontem arrumando as minhas coisas!

— Você não precisava deixar tudo pra última hora…

— Eu não deixei pra última hora! É amanhã que a gente vai mudar pra casa do Adrien, não hoje! Arrumei com um dia de antecedência!

— É, mas teria sido mais fácil se tivesse arrumado um pouquinho todo dia, né?

— Ah, eu… eu…

— Ai, ai, Marinette… você não tem jeito. Você sabe onde é sua sala de aula?

— Claro que sei! É… é… ali! – Marinette começou a correr, ainda teria que percorrer um pedaço até chegar no prédio certo

— Marinette, calma. Tudo bem se apressar, mas cuidado com o caminho. – disse Tikki

— Eu sei o que eu faço, Tikki. Não vai acontecer naAAAAA…!

Marinette sentiu um encontrão violento, e caiu no chão. Tinha batido direto de frente com alguém, uma trombada daquelas, que espalhou todos os materiais no chão.

Havia trombado com uma moça de cabelos castanhos e compridos, que também deixou cair todos os seus materiais com a violência do choque.

— Ah, me desculpa! Foi culpa minha! – exclamou Marinette, imediatamente se mobilizando pra catar os materiais jogados no chão

— Não, não, tá tudo bem… eu também tava correndo, sem ver pra onde ia. Eu… você é do curso de Moda, Corte e Costura? – a moça olhava para as réguas e tesouras de Marinette, que haviam caído da mochila

— Sou, sim. E… espera, você! – Marinette reconheceu o sotaque lusitano e arregalou os olhos de surpresa – A gente se encontrou antes! No aeroporto!

— Peraí, no aeroporto? Então… – a moça pareceu compreender, e também fez expressão de surpresa – Nossa, que coincidência!

— É a segunda vez que faço você passar vergonha. Desculpa. – Marinette decididamente queria sumir do mapa agora

— Calma, tá tudo bem. – disse a moça, terminando de recolher seus materiais – Mas me diz… você sabe onde é a classe da turma de calouros do curso de Moda, Corte e Costura? Eu me perdi, não sabia onde era…

— Sei, sim. Eu só perdi a hora. Vamos lá, que eu também sou caloura, e ainda dá tempo de pegar parte da aula! – Marinette tentou soar animada, embora ainda se sentisse embaraçada

As duas correram (na verdade, andaram rápido, pra evitar novos acidentes), e finalmente chegaram na sala de aula. Só mais tarde, após o fim das aulas, Marinette conseguiu conversar direito com a colega.

— Meu nome é Lúcia. – dizia a moça, enquanto caminhavam mais calmamente, ao final da aula – Sou de Portugal, vim pra cá por causa do curso de Moda, Corte e Costura. Afinal, Paris é a capital da moda, né? Não tem lugar melhor!

— Ah, dá pra entender. Meu nome é Marinette. – Marinette sorriu, mais calma e amistosa agora – Falando nisso, seu francês é ótimo.

— Ah, obrigada. – Lúcia sorriu – Gostei bastante da sua blusa. Foi você que fez?

— Fui eu, sim! – fez em um momento de folga no templo, uma blusinha rosa e simples com gola chinesa, estampada com pequenas flores brancas – Gostou mesmo?

— Gostei! – respondeu Lúcia, se animando – Esse tecido é chinês, né?

— É, bem… eu… eu fiz intercâmbio na China, por um ano. – Marinette gaguejou só um pouquinho, mas Lúcia não pareceu estranhar – Eu vou me encontrar com meu namorado, quer vir junto?

— Ah, eu não quero segurar vela… – Lúcia soou embaraçada

— Não é só com ele que vou me encontrar. Se eu conheço bem o Adrien, ele vai juntar todos os nossos amigos. Voltei de viagem há uma semana, mas estava tudo tão corrido que nem consegui falar com eles direito. Então… vamos estar de turma.

— Se eu não estiver atrapalhando…

— Claro que não! Vem, você conhece o Tártaro?

— Tártaro? Ahn… não?

— É melhor conhecer, então.

Lúcia pareceu estranhar, mas Marinette estava acostumada com isso. E levou Lúcia até a lanchonete, a poucos quarteirões da faculdade, que tinha um letreiro luminoso com um desenho de uma mão despejando molho em uma panela em chamas, e o nome do local: “Cuisine Tartare”.

— Que… curioso. – disse Lúcia, impressionada

— A comida é boa e barata, nossa turma vem pra cá desde o Ensino Médio. – disse Marinette, entrando – E falando em turma…

Mal teve tempo de reagir, antes de ser esmagada em um braço em grupo. Vozes, risos e palavras de carinho em toda parte, de todos os seus amigos. Nos primeiros instantes, Marinette mal pôde distinguir as pessoas e vozes, mas conforme foram se ajeitando, Marinette foi se alegrando, enquanto reconhecia cada um de seus amigos: Alya Césaire, Nino Lahiffe, Luka e Juleka Couffaine, Rose Lavillant, Max Kanté, Alix Kubdel, Mylène Haprèle, Ivan Bruel, Kim Chiến Lê… pra sua surpresa, viu até Chloé Bourgeois na mesa, junto de Adrien e de um rapaz de pele escura, com tatuagens de folhagens nos pulsos e um pavão no pescoço, e bigodinho preto, que não conhecia.

— É melhor você me passar o relatório completo da sua viagem, mocinha. – disse Alya, que ainda não havia soltado Marinette

— Como foi na China? Você aprendeu muito? – perguntou Rose

— Que bom que voltou. Todos ficamos muito felizes. – disse Luka

— Calma, gente. Calma. – Marinette sorria, feliz – Vamos sentar e conversar, também quero saber sobre vocês. Ah! – Marinette se lembrou e puxou Lúcia, que estava meio perdida com aquele mundão de gente – Essa é a Lúcia, colega minha do curso. Nos conhecemos hoje.

— E aí, gente? – Lúcia disse, um pouco embaraçada, mas bem animada

— Você é de Portugal? – perguntou Max, provavelmente reconhecendo o sotaque

— Sou, sim.

— Já estive lá, no último show do Jagged Stone. – disse Luka

— Em Lisboa? Eu também fui!

— Você gosta do Jagged Stone? – perguntou Kim, animado

— Todo mundo gosta do Jagged Stone! – exclamou Juleka – E ele é namorado da minha mãe.

— Pera, o quê?! – perguntou Lúcia, de olhos arregalados

— Ah, é uma longa história… – Luka deu uma risadinha

Assim, entre comentários em torno da volta de Marinette e a nova amiga lusitana, todos se sentaram. Marinette se sentou ao lado de Adrien, e sustentou o olhar orgulhoso de Chloé.

— Já era tempo de voltar, Dupain–Cheng. Se demorasse mais tempo, eu tomava meu Adrikens de você! – exclamou Chloé

Marinette não respondeu nada, apenas olhou calmamente pra Chloé. O clima à mesa ficou um pouco pesado.

— Que é, gente? É brincadeira! A Dupain–Cheng sabe! – Chloé riu, com sua risada esnobe de sempre

— É, eu sei. – Marinette cerrou os dentes, mas nem ficou tão irritada quanto costumava ficar

— Ah, esqueci de te apresentar, Marinette. Esse é o Raju, Raju Dhawan. Meu amigo e colega de classe. – disse Adrien, sinalizando em Língua dos Sinais ao mesmo tempo que falava, o que Marinette achou curioso

— Prazer em te conhecer. – sinalizou o rapaz de bigodinho preto, mas sem falar em voz alta

— Ele é surdo. – disse Adrien, ao mesmo tempo que também sinalizava

— Ah! – Marinette sinalizou para Raju, se apresentando também. Durante seu Ensino Médio, foi aprovada uma lei que tornava obrigatório o ensino de Língua dos Sinais nas escolas, de modo que todos da turma de Marinette sabiam falar, mesmo que não usassem com frequência

— Ah, eu… eu não sei falar em Língua dos Sinais. – disse Lúcia, timidamente – Eu fiquei sabendo que tornaram a matéria obrigatória aqui, mas em Portugal não tive aula.

— Não tem problema. A gente traduz. – respondeu Alya – Em todo caso, garota, pode ir soltando seu relatório. Pode começar a falar tudo da sua via…

— ESSA GALINHA ESTÁ TÃO CRUA QUE SÓ FALTA BOTAR OVOS! QUAL É A PORCARIA DO SEU PROBLEMA?!?!?!

Marinette se sobressaltou. Estava mal–acostumada, já que fazia tanto tempo que não vinha ao Tártaro. Mas Lúcia arregalou os olhos.

— Esse é… é… ? – gaguejou, mal podendo acreditar

— É. É o chef Barton Russell, do programa de TV. – disse o garçom, um rapaz alto, de cavanhaque, que usava uma boina preta, e estava distribuindo os menus nesse instante— Bem–vinda de volta, Marinette!

— Angelo! Ainda trabalhando aqui? – Marinette sorriu. O garçom era Angelo, outro amigo querido, que tinha começado a estudar no Colégio Françoise Dupont durante o Ensino Médio de Marinette

— Isso aqui é minha casa, só saio daqui quando me formar e tiver emprego na minha área. – Angelo riu – Com licença, eu já volto pra anotar os pedidos, tenho que impedir o chefe de estrangular o cozinheiro novo.

Todos riram enquanto Angelo corria pra cozinha. E Marinette se sentiu feliz e amparada. No meio do riso, da confusão… estava em casa.

 

*

 

— Para… para agora!

Lila gritava, mas o akuma não parava. Agora, estava tão grande que mal cabia na gaiola. E estava tão forte que estava há duas horas se jogando com a gaiola de um canto pro outro. Parecia mais um pequeno sentimonstro, do que um akuma.

— Ai, ai… – Lila mordia o lábio – Isso tá ficando insuportável.

Mediu as chances mentalmente. Seria terrível desperdiçar um recurso poderoso como um akuma desse jeito. Mas se ele continuasse crescendo desse jeito, ela não poderia mais controlá–lo. Na pior das hipóteses, se acontecesse algo que a deixasse irritada ou magoada, ele poderia até possuí–la. E, tão carregado de energia negativa como estava, não sabia o que aconteceria, não sabia se ainda teria controle sobre si mesma.

— Espero que você faça um bom trabalho. Com certeza a Ladybug e o Chat Noir não vão esperar por isso, depois de tanto tempo sem um akumatizado sequer. – Lila abriu a janela, levou a gaiola até lá e soltou o akuma, que voou rápido pra fora, cambaleando no ar como que bêbado – Voe, akuma, e traga o mal!

Era sua última chance. Tinha que dar certo.


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Notas finais do capítulo

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