Trilhando o Próprio Caminho escrita por Camila J Pereira


Capítulo 1
Dois atropelos, um urso e um leão


Notas iniciais do capítulo

Bem-vindos a mais uma aventura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/784656/chapter/1

A gritaria chamou a sua atenção. Ela parou de colocar a roupa no varal e correu para o peitoral do terraço olhando para baixo. Viu os seus amigos discutindo com alguém que saia do carro naquele momento.

Preocupada, desceu as escadas correndo. Jasper sentava-se no chão com alguns outros vizinhos já ao redor dizendo impropérios para o homem que se desculpava. Alice parecia muito chateada e acariciava o ombro do marido tentado fazê-lo erguer-se.

— Por favor, eu o levo para um hospital. Não se preocupe que arcarei com tudo. – Disse nervoso.

— Você pode ter quebrado o pé do meu marido. Tão imprudente!

— Alice, o que aconteceu? – Bella tocou-lhe o ombro. Sabia que a sua imagem era uma bagunça, cabelos revoltos em um coque totalmente desleixado e nada sensual, um vestido simples que parecia ter pego de sua avó, com estampas floridas e um avental também florido, mas com cores totalmente diferentes. Seus chinelos de dedo gastos, estavam molhados e escorregadios, não lhe ajudavam na postura diante do desconhecido. Diferente dela, o homem a sua frente parecia vestir-se com roupas caras e bonitas.

— Jasper estava indo fazer as entregas quando esse homem passou com o carro por cima do seu pé. – Bella recolheu-se e pois as mãos sobre a boca, tentando esconder a sua surpresa. Sentiu a dor no seu próprio pé.

— Jasper você está bem? Acha que quebrou alguma coisa?

— Não tenho certeza. – Disse pálido.

— Foi aquele... aquele carro? – Bella apontou para o carro enorme adiante e olhou para o seu dono também enorme. Ele era alto e forte, como um urso.

— Sim, aquela lindeza. – Disse um pouco sonhador e se recompôs quando viu o olhar de reprovação de todos. – Sinto muito, estava distraído e não medi a distância corretamente. – Por favor, deixe-me leva-lo até o hospital.

— Vamos querido, precisamos ver o que aconteceu. – Os três ajudaram-no a levantar-se.

— Mas e as entregas? – Jasper relutava em se mover. Bella olhou para o relógio. Ainda faltava muito até ao retorno de Theo.

— Deixe comigo. Vão cuidar disso e eu faço as entregas.

— Bella, faria isso por nós? – Alice perguntou.

— Claro, vão logo. – Com um gesto impaciente com os braços, mando-os ir.

Sem nem mesmo se trocar, entrou no carro. Viu os amigos partirem e foi logo atrás, verificando os locais de entrega. Precisava passar em três pontos diferentes da cidade, rezava para que não pegasse qualquer engarrafamento.

Mesmo com algum transito tinha tudo ocorrido bem e estava saindo da última entrega, pronta para ir para casa. Seu celular tocou e estava esticando-se para tentar pegá-lo no banco ao lado, seus dedos empurram-no ainda mais para longe, pois isso, tirou os olhos um pouco da estrada já que era uma rua de condomínios e pouco movimentada, então pegou o seu aparelho. No entanto quando voltou a olhar para frente, teve que frear bruscamente e mesmo assim atingiu a pessoa que caminhava.

Bella parou, tentava controlar a respiração. Seu corpo tremia pelo susto, a pessoa estava de pé. Tinha sido apenas um pequeno choque, mas seu coração estava acelerado e pensava que era bem possível ter algum ataque nos próximos minutos. Mesmo assim, saiu do carro e notou que suas pernas estava fracas, teve que se segurar nele e seguir apoiando-se até a sua vítima.

— Senhor, desculpe-me...

— Você está louca?! – Claro, ele estava irritado. Retirou os óculos escuros e Bella foi atingida pelo olhar gélido que aqueles olhos verdes lançavam em sua direção. – Foi por causa disso? – Com a mão que segurava os óculos ele apontava para o celular que tocava novamente na mão de Bella, olhando para o visor, viu que se tratava de Alice. Com certeza querendo saber sobre as entregas.

— Eu sinto mui...

— Claro que deve sentir! Mas não o bastante para que nunca mais faça isso, não é mesmo? O que pensa que estava fazendo em um bairro residencial?

— Eu me distrai por um momento.

— É disso que se trata! – Disse em tom acusatório.

— Você se machucou? – Perguntou tentando ignorar a rispidez que era lhe dispensada.

— Ah claro, agora você está preocupada... – Ele parou no momento em que inspecionava o seu corpo, a sua calça branca tinha ganhado uma grande mancha marrom escura da lataria do carro.

— Oh, meu... Isso pode ser resolvido. – Correu para verificar a gravidade do problema. Tocou na perda e sentiu a firmeza do músculo mesmo apenas com as pontas dos dedos. Bella viu as suas mãos sendo afastadas com agressividade. – Desculpe, eu só estava...

— Você deve ter mesmo muito do que se desculpar. – O homem irritado, olhou-a de cima a baixo com meticulosidade.

Bella automaticamente tentou arrumar o avental que ainda usava, mexeu os dedos dos pés na sandália gasta e passou as mãos nos cabelos revoltos. O homem tão elegante quanto o outro que havia atropelado Jas, pôs os óculos novamente e começou a caminhar para longe.

— Espere! Você está mesmo bem?

— Não é nada para que eu perca o meu tempo. – Ainda o ouviu responder antes de ficar mais distante.

Bella voltou para o carro e forçou-se a triplicar a atenção em tudo o que fazia. Não gostaria de passar novamente por aquilo. Estacionou com cuidado em frente ao pequeno prédio onde morava. Alice a gritou do primeiro andar, ela acenou com o coração aliviado por vê-la já me casa.

— Já em casa? Ele está bem?

— O Emmett nos levou em um grande hospital. Tudo lá reluzia, nossa, incrível! – Disse a amiga ainda perplexa.

— Emmett?

— Sim, foi ele que atropelou o Jasper. O médico que ele levou a gente, é um médico de família. Isso não existe apenas em filmes e dramas, Bella. – Alice falava rindo. – Ele nos encaminhou rapidamente para fazer exames e chamou um ortopedista. Jas teve fratura em dois dedos. Coitadinho...

— Sim, deve ter sido doloroso.

— Meu marido aguentou bem. Imobilizaram o pé todo e o remédio o fez dormir. Emmett bancou tudo e trocamos telefones. Acredita que ele já ligou querendo saber se está tudo bem?

— Pareceu mesmo que era uma boa pessoa.

— Na volta para casa já estávamos conversando sobre tudo. Ele não parava de falar sobre o Duster dele. Que carro... – Disse sonhadora.

— Imagino, ainda mais sendo com você. – Disse rindo.

— Sim, verdade. Eu te liguei a pouco para saber como estava indo as entregas, mas você não me atendeu.  – Bella franziu o cenho, recordando do encontro desagradável que teve mais cedo. – O que foi?

— Alice... Eu tentei pegar o celular no outro banco quando tocava e atropelei uma pessoa.

— O que?! – Gritou histérica. – Você atropelou alguém?

— Não foi nada grave. – Tranquilizou rapidamente a amiga. – O carro apenas bateu nele, aparentemente não houve nada, a não ser uma calça branca manchada. Vocês precisam lavar aquele carro.

— Bella, você deve ter ficado assustada.

— Me surpreendi, mas a culpa foi minha. Não deveria ter tentado atender. Só pensei que pudesse ser sobre o Theo. E irritei bastante aquele homem, ele parecia um leão faminto prestes a me abocanhar por inteiro de uma vez.

— Homens são assim, ainda mais quando veem que são mulheres no volante. Não fique tão chateada.

— É... – Deu de ombros tentando afastar as recordações do leão. Sem querer sorriu.

— O que foi agora, amiga?

— Quando vi o homem que atropelou o Jas, eu o achei parecido com um urso.

— Pensando bem, parece mesmo. – Concordou Alice.

— E o que atropelei, parece um leão. Um leão ruivo.

— Ruivo? Sabe o que dizem sobre eles, não? – Soou misteriosa.

— Não. – Bella pareceu intrigada.

— Vermelho na cabeça, fogo na cama. – Piscou para a amiga que ficou vermelha imediatamente.

— Ah, para com isso, Alice!

— Não sou eu quem disse. É de conhecimento global.

— Não acredito que está sexualizando uma pessoa por características físicas.

— Eu fiz isso, não fiz? – Deu-se conta arrependida.

— Sim.

— Um dia com dois atropelamentos, é um dia estressante. Sinto muito pela maneira que extravasei.

— Vamos evitar carros por hoje. – Deu batidinhas na mão da amiga.

— Parece uma boa ideia.

— Vou esperar o Theo lá embaixo, já está na hora. – Olhou para o relógio.

— Você deve estar mesmo impressionada. Não o esperava na rua a muito tempo.

— Ele me repreende dizendo que já é crescido, por isso evitei.

— Eu sei. – Eles sorriram.

— Descanse um pouco também. Foi um belo susto.

Bella desceu novamente as escadas e ficou a alguns passos de distância da entrada. Logo um carro escolar parou e um garoto de cabelos negros encaracolados na altura dos olhos desceu e pôs a mochila nos ombros. O motorista buzinou e ela acenou um tchau com um sorriso.

— Oi, filhote. – Acariciou as madeixas escuras e o beijou na testa.

— Oi, mamãe. – Aquilo era como tomar um banho de luz, ouvir aquela vozinha lhe chamar de mamãe. – Ai que vergonha, eu já disse que sou crescido e posso subir sozinho.

— Mesmo crescido quero esperar por vocês as vezes.

— Não pode me ver de lá de cima?

— Sou um pouco míope, preciso ver de perto. – Brincou e o enlaçou pelos ombros, guiando seguro em seus braços até em casa.

— Tome um banho e venha comer alguma coisa.

Bella preparou um almoço rápido para o filho. Theo sentou-se na pequena mesa encostada na meia parede da cozinha americana e começou a comer com prazer. Sempre se emocionava quando o via comer de bom grado qualquer coisa que fizesse. Era um menino adorável o seu pequeno filho. Tocou-lhe as madeixas mais uma vez com amor.

— Não vai comer, mamãe?

— Ah, sim, vou. – Bella teve algumas belas garfadas até lembrar-se do ocorrido com o Jas. – Não fique muito ansioso, mas o seu tio Jas está machucado.

— O que ele tem?

— Teve dois dedos fraturados... ele foi atropelado aqui na frente. Por isso fico repetindo para você ter atenção. Nunca é demais. – Theo levantou-se ainda mastigando. – Onde vai?

— Ver o tio Jas. – Bella conseguiu segurá-lo antes que ele corresse.

— Espere. Eu disse para não ficar ansioso. Ele está bem, tomou um remédio e está dormindo agora. Termine de comer e iremos depois até lá para vê-lo.

— Quero vê-lo agora. – Respondeu.

— Theo, não vai mudar em nada se for agora ou depois.

— Então vou agora, mamãe. – Os olhos do menino estavam aterrorizados.

— Filhote, não fique tão preocupado. Não mentiria para você, seu tio está bem. – Bella segurou sem suas mãos. – Tudo bem, vamos dar uma olhadinha rápida nele e depois voltamos para almoçar.

— Sim.

— Você entendeu mesmo? – Repetiu devagar.

— Sim. Vamos. – Puxou as mãos da mãe para que ela o acompanhasse.

Bella tocou a companhia. Alice atendeu quase imediatamente.

— O Theo ficou muito preocupado e quer ver... – Theo não esperou que terminasse, apenas entrou passando por elas e foi até o quarto. – Theo, tenha modos. – Pediu.

— Tudo bem, amiga. Sabemos que esses dois se adoram. – Alice a puxou pela mão para que entrasse também.

— Ele nem quis terminar o almoço. – Roçou as mãos pelos próprios braços. Estava se autocompensando, pois alguns pensamentos tormentosos vinham agora. Explicações mais do que óbvias do que porque Theo era tão apegado a Jas, a sua figura masculina mais próxima.

— Ei, não começa. – Alice percebeu o seu tom de voz tristonho.

— Claro que não. – Sacodiu a cabeça afastando os pensamentos ruins.

Theo surgiu diante delas com os olhos arregalados.

— Mãe, ele está com o pé todo enrolado. E está roncando muito alto.

— Então já viu que ele está bem, não é? – O chamou com a mão sorrindo das constatações dele.

— Ele está dormindo. – Concluiu abraçando-a.

— Você é um sobrinho maravilhoso. – Alice acariciou seus cabelos por trás. Theo saiu dos braços da mãe para abraçar a tia.

— Cuide bem dele, tia Alie.

— Tudo bem, eu cuido.

— Mamãe, vou voltar a comer. – Falou antes de sair e deixa-las como se não tivesse antes estado tão ansioso.

— Quem dera tivéssemos esse poder de superação. – Disse vendo-o sair. – Alie, lembra-se que amanhã começarei no meu trabalho novo. Enfim, uma empresa grande com perspectivas.

— Sim, espero que realmente dê certo. Você estava sendo muito explorada no antigo trabalho.

— Também espero isso. Pedirei descaradamente que fique de olho no Theo até eu voltar para casa à noite. Ele é esperto, já lhe dei instruções, mas sempre fico preocupada.

— Pode deixar. Estarei de olho nele. – Bella a abraçou agradecida.

Voltou para casa e terminou o almoço com o filho. Queria muito ter um desenvolvimento neste novo trabalho. Pensava até em voltar a estudar, queria que enfim fosse possível dar uma vida melhor para Theo. Era a sua prioridade.

***

Aquela manhã, depois de correr e se exercitar. Tomou o seu banho e comeu um café da manhã nutritivo. Sentou-se diante do computador para ver seus e-mails. Havia recebido na noite anterior uma mensagem da sua mãe, ela queria vê-lo. Marcou uma hora naquela manhã. Olhou para o relógio, faltava pouco para o horário marcado.

Pouco tempo depois, havia respondido muitos e o interfone tocou avisando da presença materna. Ele liberou a sua entrada e em breve abria a porta para uma linda mulher ruiva, muito parecida com ele que sorria gentilmente.

— Oi, mãe. – Ele aceitou o abraço da mãe. Gostava do cheiro dela, mas também o irritava.

— Que saudades! – Ela o apertou ainda mais.

— Sem exageros. – Afastou-se delicadamente.

— Edward, faz quase um mês que não nos vemos e moramos na mesma cidade! Você nunca pode se encontrar. Eu sei que é ocupado e tenho que entender, mas sou a sua mãe e sinto a sua falta. – Era a mesma coisa sempre. Ele a guiou até o interior, fechando a porta.

— Sei que já deve ter comido algo, mas eu tenho café da manhã ainda. – Sentou-se com ela na cozinha ampla, clara e bem arrumada.

— Você nem parece um homem solteiro. A sua casa é muito arrumada e limpa e fico impressionada toda vez que venho.

— Café com pouco açúcar. – Falava enquanto a servia. – Torradas com manteiga.

— Você ainda sabe do que eu gosto mesmo depois de tanto tempo.

— Não é algo extremamente difícil de saber. – Deu de ombros, mas sentia os olhos da mãe sobre ele. – Não começa. – Pediu sério.

— Queria poder tê-lo mais em minha vida.

— Nós fizemos as nossas escolhas, mãe. Sou um homem crescido, pare de me ver como uma criança que precisa da presença da mãe o tempo todo.

— Eu sou uma mãe que precisa mais da presença do filho. Um pouco mais. - Esme segurou a mão do filho sobre a mesa. – Eu sei que é difícil para você, mas a Rose também...

— Para. Não a meta nisso. – Seu tom de voz mudou completamente. Era um alerta, mas ela ignoraria.

— É que eu sei que tudo isso também é porque eu fiquei com a Rose. – Edward levantou-se.

— Você não sabe de nada.

— Então me diga para que eu saiba. – Disse com sinceridade e aquilo o fazia ficar ainda mais irritado.

— Mãe, porque sempre tem que ser assim? Porque diz essas coisas mesmo sabendo que me irritam?

— Eu sinto muito, filho.

Esme atendeu o seu celular que tocava, mas ainda olhava para Edward com tristeza.

— Sim, querido. – Edward bufou alto ouvindo aquilo. Caminhou até a sala, deixando-a mais a vontade, mas ainda ouvia o que ela dizia. – Claro que estou. Não fale assim, ele é um bom menino. Voltarei logo.

— Um bom menino? Era sobre mim? Ele estava perguntando como eu me comportava? – Voltou para a presença da mãe ainda mais irritado.

— Ele se preocupa sim, mas é por causa do seu comportamento externo. Ele não te conhece como eu.

— Porque não volta para casa agora? Volta e fica com a sua família.

— Você faz parte da minha família, Edward. – Esme apesar de ouvir muito do filho, nunca o tinha ouvido manda-la embora daquela forma. – Você é meu filho.

— Um problema a ser resolvido. – Esme estava de boca aberta, arrasada com o que ouvia. Lágrimas silenciosas desceram pelo seu rosto. – Seu casamento resolveu bastante coisa, uma nova família, perfeita.

— Um filho nunca é um problema. – Ele riu amargurado.

— Para com isso, mãe. Não tente parecer que foi tranquilo para você.

— Não foi, mas eu nunca colocaria a culpa em você.

— Eu não quero ouvir isso. – Estava especificamente mais mal-humorado naquele dia.

— Você é cabeça dura, intransigente. Se não consegue entender por mim, através do meu amor e das nossas experiências que entenda por outra maneira. Que alguém igual a mim entre em sua vida e te faça tremer até que essa sua torre alta, forte, impenetrável e segura caia. Que você Edward, filho... Veja que só faz mal para si mesmo quando se prende em tantas crenças...

— Parece um feitiço. É isso mesmo? Agora está me amaldiçoando?

— Não, estou te abençoando. Espero que seja o mais rápido possível, para que não envelheça assim.

— Assim? Eu tenho uma vida ótima em consideração de onde vim. Não precisei me associar a qualquer pessoa...

— Está falando que fiz isso quando me casei? Finalmente está dizendo.

— Eu preciso trabalhar, vamos terminar por aqui. – Respirou antes de olhá-la.

— Claro, o trabalho é sempre a sua desculpa. – Esme levantou-se, estava visivelmente abalada. Mesmo assim, abraçou-se, o fez abaixar para lhe dar um beijo no rosto.

— Eu amo você, filho.

Ouviu a porta bater e fechou os olhos sentindo o peso de tudo o que disse para mãe. Claro, estava arrependido, mas ao mesmo tempo sentia-se vingado. Quando se tratava da mãe, era sempre assim, era um misto de sentimentos.

A amava igualmente, e por amá-la tanto também ficava irritado por tudo o que ela fez. Sabia que ele havia sido a razão de todas as escolhas que ela tinha feito e aquilo o deixava louco. Saiu sem rumo, pensando que caminhar ao ar livre seria bom para voltar com os seus sentidos. Mas não passava, não era tão fácil assim. Estava mergulhando cada vez mais em lembranças quando foi atingido por um carro.

Não acreditou imediatamente, por isso parou diante do carro e olhou para dentro. Claro, tinha sido uma mulher! Estava revoltado, sentia-se ultrajado. Ela saiu nervosa do carro. Edward não se lembra de tudo o que disse e ouviu, mas despejou toda a sua ira nela. Sem nenhum arrependimento seguiu o seu caminho de volta para casa.

Um pouco mais calmo verificou as mensagens no celular. Seu amigo parecia desesperado e então resolveu ligar. Emmett não atendeu, isso o preocupou por ele ter mencionado um acidente em uma das mensagens.

— O que aconteceu? – Na segunda tentativa ele atendeu.

— Atropelei uma pessoa mais cedo. Estava deixando ele e a esposa em casa agora por isso não atendi.

— Você o que?! – Era só o que faltava.

— Não foi nada muito sério. Eu passei por cima do pé dele, cara, eu sei que foi uma mancada!

— Ótimo que eu não precise dizer isso. Você resolveu as coisas?

— Levei para o hospital e está tudo bem.

— Você estava no celular também?

— Não, não estava! – Emmett parou percebendo a palavra chave ali. – Também?

— Fui atropelado agora a pouco. Foi só um encontrão, mas a garota estava ao celular.

— Você está bem? – Perguntou agora preocupado com o amigo.

— Nenhum arranhão. Mas me diga, o que estava fazendo para isso acontecer?

— Distraído pensando... Eu dei uma carona a Rose para a aula. – Resolveu admitir no meio da frase inicial. – E fiquei pensando nela e...

— Me poupe dos detalhes.

— Edward, ela está tendo um momento difícil e perguntou por você. Disse que a sua mãe estava indo te ver.

— É, ela veio.

— E?

— Nada diferente. – Não havia mais o que dizer. – Não se envolva com uma universitária.

— Fala isso porque ela é a sua irmãzinha?

— Sabe que de todos os motivos esse não é o caso. – Seu mal humor voltou.

— Tudo bem, entendi. A gente se fala amanhã quando o seu humor melhorar.

— Certamente.

Durante o dia, envolveu-se tanto no trabalho que esqueceu-se da mãe e da Rose. Foi quando pôs a cabeça no travesseiro que a conversa com a mãe retornou, cheia de detalhes e emoções. Aquilo o atrapalharia a dormir. Sentir-se amargurado, culpado e também magoado era um péssimo embalo para o sono.

O que foram mesmo aquelas palavras que a mãe havia lhe dito? Esme nunca tinha sido tão enfática e de algum modo poderosa quanto naquele momento. “Você é cabeça dura, intransigente. Se não consegue entender por mim, através do meu amor e das nossas experiências que entenda por outra maneira. Que alguém igual a mim entre em sua vida e te faça tremer até que essa sua torre alta, forte, impenetrável e segura caia. Que você Edward, filho... Veja que só faz mal para si mesmo quando se prende em tantas crenças...” Aquilo o fez estremecer involuntariamente. Era certo de que as pragas maternas eram infalíveis e poderosas?

— Que besteira. – Disse para si mesmo e virou-se, mudando de posição.

Foi aí que a imagem da garota descabelada usando um avental lhe veio à mente novamente. Agora com calma, lembrava-se de todos os detalhes. Dos cabelos castanhos bagunçados em um tipo precário de coque. A roupa que parecia de uma senhora idosa, um avental ainda mais brega. Os pequenos pés brancos escorregando nos chinelos de dedo. Ela o encarou de frente, mesmo nervosa, com olhos atentos e gentis, olhos cor de avelã, de alguma maneira olhar para ela a fez lembrar a sua mãe. A alguns anos atrás, Esme também não se importava de sair assim à rua.

— Não... – Aquela era a conclusão mais absurda que já havia chegado. – Isso é só a minha mente me pregando uma peça. Muito engraçado por sinal. – Ele dormiu duvidando que poderia ser real.

No dia seguinte, foi trabalhar pela manhã bem cedo. Pegou sua pasta e fechou o carro em sua vaga privativa, quando girou para entrar no prédio, esbarrou em alguém, alguém com um doce perfume. Tentou ampará-la para que não caísse, mas ela só fazia escorregar de suas mãos, a pasta caiu de suas mãos e ao descer pelas pernas da garota, levava consigo também uma parte da meia calça preta. A roupa dela estava arruinada e Edward só podia olhar para aquilo aturdido.

Ela havia conseguido se segurar em outro carro, mas parecia também tonta pelo que acabara de acontecer. Olhando para aqueles olhos avelã assustados, começou a considerar ter sido amaldiçoado de alguma maneira, mesmo que não pela sua mãe.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Trilhando o Próprio Caminho" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.