Encantos & Desencontros escrita por Maitê Miasi


Capítulo 33
Capítulo 33




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PENÚLTIMO CAPÍTULO

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“Mudaram as estações, nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
'Tá tudo assim, tão diferente

Se lembra quando a gente
Chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre
Sem saber que o pra sempre sempre acaba

Mas nada vai conseguir mudar o que ficou
Quando penso em alguém só penso em você
E aí, então, estamos bem

Mesmo com tantos motivos
Pra deixar tudo como está
Nem desistir nem tentar, agora tanto faz
Estamos indo de volta pra casa.”

Legião Urbana – Por Enquanto

****

Juliana era a própria histeria quando desceu a escada, e assim que se aproximou, puxou a mão de Estêvão da de Maria com rispidez, como se aquilo fosse o apocalipse. Enquanto a menina os olhava com total desaprovação, o casal a sua frente se mostrava desnorteados, sem saber como agir, mas no fundo, Maria sabia que teria que tomar uma atitude logo, antes que as coisas saíssem ainda mais do controle.

— Juliana, por Deus, será que dá pra você se controlar? – Deu um passo a frente, falando um pouco mais alto.

— Claro que não! – Esbravejou. – Será que você não percebe que desde que acordou, ele tá se aproveitando da sua falta de memória?

— Eu nunca quis me aproveitar da sua mãe! – Estêvão tentou se defender, também aumentando a voz.

— Óbvio que sim! Tudo isso porque ela não se lembra do que você aprontou com ela!

— Juliana, ele não tá se aproveitando da mim, para com isso. – Maria buscou manter-se serena, tentando fazer a filha se acalmar. – Eu sei exatamente quem Estêvão é, eu me lembro de tudo. – Confessou tranquila, porém atenta à filha.

— Espera aí – Juliana parou diante a afirmação da mãe – sua memória voltou?

— Não, ela não voltou porque ela não foi a lugar algum. – Os olhos de Maria passaram por Estêvão e ficaram em Juliana. Não foi difícil ler o pensamento da filha. – É isso mesmo que você tá pensando.

— Você tá dizendo que tava fingindo esse tempo todo? – Indagou num tom acusador, e Maria anuiu. – Mãe, como você foi capaz?

— Será que você vai aguentar se eu começar a listar todos meus motivos, Juliana?

— Não justifica. Nós morremos de preocupação! E vocês, por que não estão surpresos? – Ela olhou para Estêvão e depois para Giovana, que estava sentada no topo da escada só assistindo tudo. – Ah claro, vocês já sabiam, e como sempre, eu sou a última a saber. Obrigada pela consideração.

Juliana saiu em disparada em direção ao quarto, e no mesmo instante Maria ameaçou ir atrás dela, mas a voz de Giovana a fez parar:

— Deixa que eu falo com ela.

Num salto, Giovana se levantou de onde estava, e sumiu no corredor atrás da irmã.

— Você não cansa de pisar na bola, né Juliana? – Ela impediu que a irmã fechasse a porta, e saiu invadindo o quarto.

— Sai daqui, Giovana. – Ordenou sem olhá-la.

— Não, você vai me ouvir. – Ela parou na frente da irmã, que não fazia questão de encará-la. – Será que não percebe que tá sendo ridícula agindo assim? Será que ainda não entendeu que nossos pais não vão voltar? Deixa de ser infantil, Juliana, respeita a decisão dela!

— Falando assim, da até pra pensar que Estêvão é o santo e meu pai o cafajeste. – A fitou.

— Não é uma disputa de quem é o melhor, se trata de quem ela quer do lado dela. Tenta entender uma coisa: você acha mesmo que nossos pais seriam felizes se continuassem juntos? Não, porque minha mãe deixou bem claro que é Estêvão que ela ama. Ela já o perdoou, Juliana, então não cabe a você dizer que ela tá errada. Meu pai já aceitou, todo mundo aceitou, só você que tá aí, agindo como uma idiota. – Giovana gesticulava todo o tempo.

— Você acha que é assim que eles me me vêem? – Perguntou, sentindo uma pontada de peso na consciência.

— Eles vai dizer que não, mas tenho certeza que minha mãe revira os olhos toda vez que você abre a boca. – Tentou segurar o riso. – Escuta, nossos pais serão sempre Cláudio e Maria, é óbvio que Estêvão não quer roubar o lugar dele, e nem se quisesse, conseguiria. Ele só quer fazer nossa mãe feliz, e tenho certeza que ele não quer uma enteada como inimiga. – Ela se sentou ao seu lado, quando notou que ela já estava baixando a guarda.

— Pois é, como se já não fosse suficiente ter sido assediado pela outra. – Zombou.

— Cala a boca! – Gritou rindo.

— Ai, como eu sou tapada, eu faço tudo errado mesmo!

— Devo concordar. – Brincou.

— Giovana!

— Tô brincando. Ainda dá tempo de rever seus conceitos, tenho certeza que isso vai deixar minha mãe muito feliz.

— Ouvi um “minha mãe” e “muito feliz”. – Maria apareceu com a cabeça na porta. –  Posso entrar?

— Claro. E o Estêvão? – Giovana perguntou.

— Ele já foi. Juliana – mirou a filha – podemos conversar?

— Eu que tenho que falar. Na verdade, te pedir desculpas pelas minhas atitudes grosseiras contra o Estêvão. Giovana me fez abrir os olhos e perceber o quão incoveniente eu tenho sido. – Juliana falou rápido, estava um tanto nervosa.

— Sério filha? Que coisa boa de se ouvir! Você não imagina o quanto me faz feliz dizendo isso.

— Até que não foi difícil, sabia. – Giovana se meteu no meio da conversa das duas. – Foi só dizer que ela tava sendo chata e sem noção, que ela caiu na real.

— Ela não é nada disso, só tava querendo preservar o casamento dos pais. – Maria defendeu.

— Giovana tem razão, eu tava sendo tudo isso sim. Mãe, eu vou deixar vocês em paz, você merece ser feliz, mesmo que não seja com meu pai. E por você, vou procurar ser mais agradável com Estêvão, vai ser difícil, mas vou me esforçar. – Dessa vez a menina falou mais devagar, convicta de suas palavras.

— Obrigada, meu amor. – Maria acariciou sua face. – E pode ter certeza que seu pai vai encontrar alguém que o ame como ele merece ser amado.

— Tenho certeza que sim. Ah, tô muito feliz por sua memória estar intacta, eu tive tanto medo, mãe...

— Desculpe, meu amor, não quis te deixar assim.

Aquela foi a deixa perfeita para que Maria aconchegasse sua pequena em seus braços. Com os olhos fechados, ela inalou o doce aroma de seus cabelos, como sempre fazia. Ainda com Juliana nos braços, Maria abriu os olhos e viu Giovana admirando a cena, e logo a convidou para que se juntasse àquele abraço caloroso, de pronto a outra gêmea aceitou o convite.

Maria apertou ambas contra seu corpo, podendo sentir as batidas do coração de cada uma, mesmo que fora do ritmo. Naquele momento, Maria sentia que parte do seu mundo estava preso naquele abraço. Ela ficaria ali por muito mais tempo se não tivesse a certeza que não demoraria muito, e as duas iniciariam uma discussão.

...

Foi difícil para Maria se desgrudar das gêmeas, mas depois de um longo período recheado de muitos beijos e cafunés, ela e Giovana se retiraram para seus aposentos. Não demorou muito e logo a bela dama adormeceu, e a noite passou como num estalo, e quando notou, o dia já tinha amanhecido, e já passava das nove da manhã.

Como era de se esperar, as gêmeas já tinham saído quando saiu da cama, e como ainda não havia retornado ao trabalho, Maria passaria o dia todo sozinha, sem ter o que fazer. Por sorte, Miguel apareceu, tirando-a do marasmo.

— Bom dia, mãe. – Miguel beijou seus cabelos e se acomodou à mesa.

— Bom dia.

— Passei pra dar um oi. Aposto que você tá agoniada e não aguenta mais ficar trancada aqui. Se bem que eu soube que você andou saindo com Estêvão. – A olhou com uma cara travessa.

— É, Estêvão tem sido uma ótima companhia. Hum – mordeu uma torrada – ele me disse que, finalmente, você levantou a bandeira branca.

— Pois é, ele meu pai, né, não custa nada dar um voto de confiança a ele.

— Sua atitude me deixa bastante orgulhosa.

— Tô me sentindo bem quanto a isso, e de quebra, acho que ganhei um irmão, na verdade, não sei mais como chamá-lo: irmão ou cunhado. – Riu. – Henrique ficou muito animado com essa ideia, até me chamou pra irmos ao estádio assistir uma partida de futebol. Acho que vai ser legal.

— Que bom. É bom que vocês se dêem bem. – Maria deu uma pequena pausa enquanto comia um mamão, mas logo voltou ao filho, um tanto tensa. – Miguel, aproveitando que você tá aqui, tenho que te falar um coisa. Você vai saber mais cedo ou mais tarde, então é melhor que saiba por mim.

— Fala. – Deu uma dentada num pão de queijo.

— Hum... É sobre minha memória. Eu nunca a perdi, isso foi uma história que inventei.

Ele riu.

— Giovana ficou boquiaberta, Estêvão perturbado,  Juliana surtou, e você ri?! – Pasmou.

— Não é isso, é que eu já sabia.

— Você já sabia? Como assim?! – Um V se formou entre suas sobrancelhas.

— O médico do seu caso é amigo de um dos médico do hospital que eu trabalho, que é meu mentor, e me falou, sem saber que eu era seu filho.

— E por que nunca disse nada?

— Porque não, ora. Se você não disse, é porque não queria que soubéssemos.

— E não vai me xingar nem nada?

— Claro que não, mãe. Eu compreendi os motivos que te levaram a isso. Nós passamos por um mês muito angustiante, sem saber o que seria de você, e eu tô feliz por você tá aqui agora e bem. A última coisa que quero é brigar com você, com meus dois pais, com as meninas ou com quem quer que seja. Só quero que a gente fique bem.

— Meus três filhos me surpreendendo. Vocês não sabem como meu coração fica quando vejo vocês agindo assim. Sinto que acertei com vocês.

— Claro que acertou, mãe. Nós três temos diferenças, mas concordamos numa coisa: você é a mãe mais maravilhosa de todas!

— E eu tenho certeza que não poderia ter filhos melhores.

Maria e Miguel ainda ficaram à mesa durante algum tempo trocando palavras dóceis e sorrisos abertos. Ele tinha um tempo disponível até a hora do trabalho, então, ambos aproveitaram aqueles preciosos minutos para apreciar a presença um do outro.

Depois que Miguel saiu, a casa tornou a ficar silenciosa, e Maria, voltou ao tédio a qual obrigaram-na. Porém, ela não era mulher de ficar sentada assistindo TV, e como sua cabeça estava a mil, ela resolveu sentar e colocar suas ideias num papel.

Seus rabiscos logo se transformaram em belos desenhos. Maria não sabia ao certo o que estava fazendo, mas esse era o seu modo de criar: ela dava os lápis para sua mão, e ela se encarregada do resto. No começo, ela não entendia, mas no fim, se surpreendia com o que saía de dentro de si.

O tempo passou tão depressa, que ela nem havia se dado conta que já estava entardecendo. Desde que pegara seu material de trabalho, ela só havia parado uma ou duas vezes para ir ao banheiro. Ela estava tão entretida ali, que nem se deu conta que sua barriga roncava. O que a fez voltar à terra foi a chegada de Cláudio à casa.

— Maria. – Saudou com um aceno de cabeça.

— Cláudio, que surpresa agradável! – Ela parou o que estava fazendo, dando a ele toda sua atenção. – As meninas não estão, ainda não chegaram do trabalho.

— Vim falar com você mesmo, ou melhor, vim trazer os papéis do divórcio. Eu já assinei, e assim que você o fizer, estará livre. – Ele colocou sobre a mesa de centro um pasta fina, e permaneceu de pé.

— Pelo visto não sou eu quem almeja tanto a liberdade. – Se recostou no sofá.

— Tô sabendo que você e Estêvão andam se vendo com frequência, e se te conheço bem, acho que não deseja estar com ele ainda casada.

— Bom, já que está aqui, tem uma coisa que tenho que falar com você. Sobre...

— Sobre sua memória? Já sei que você inventou essa história. – Foi direto.

— Como assim?! – Arregalou o olhos.

— Giovana deixou escapar o que aconteceu aqui ontem. Aí quando viu que falou demais, ela abriu o jogo de uma vez.

— Você não tá irritado? Não parece irritado.

— E não estou. Não nego que meu sangue ferveu quando a Giovana me contou, mas foi só eu pensar um pouco, e a raiva passou.

— Passou? Não tá querendo me esganar agora?

— Não. – Sorriu. – Maria, eu fiz tudo quanto é promessa enquanto você estava em coma, então, não faz sentido eu ficar com raiva, sabendo que tá bem. Eu compreendi seus motivos.

— Caramba, estou sem palavras. – Riu desacreditada.

— Bom, a sua ideia deu certo, agora parece que as coisas estão entrando nos eixos. Por isso resolvi trazer os papéis do divórcio, eu tava esperando você melhorar pra resolvermos isso.

— Você não quer se sentar? Vamos aproveitar nossos últimos momentos como casados.

— Já que ainda é minha esposa, quero te falar uma coisa. – Ele se acomodou ao seu lado.

— Hum.

— Recebi uma proposta de trabalho nos Estados Unidos, e acho que vou aceitar.

— Vai voltar pros Estados Unidos?

— É, pra eu trabalhar lá, tenho que voltar pra lá. – Brincou.

— Claro. Então você já tá certo disso? Não dá pra... Sei lá, entrar num acordo com Estêvão? Quem sabe ele não aumenta o que você ganha, e você fica... Ah, sei lá, Cláudio.

— Não é pelo salário, Maria, além do mais, eu quero ir. Não tenho mais nada que me prenda aqui.

— E os meninos?

— Todos eles são maiores, e outra, Estados Unidos é aqui do lado, eles vão poder me ir me ver quando quiserem.

— Nada que eu disser vai te fazer mudar de ideia, né?

— Não, a decisão já tá tomada.

— E quando tá pensando em ir?

— Não é pra agora, antes, tenho que resolver uns assuntos pendentes.

— Sei que tá cedo pra chororô, mas vou sentir muito a sua falta. Ah Cláudio, você não sabe o quanto eu desejo que você seja feliz. – Ela se aproximou um pouco mais dele e segurou sua mão.

— Eu também torço por você, e não quero perder o contato, ok? Quero que sejamos aquele tipo de ex casal que se dá muito bem.

— Se depender de mim, vamos continuar tendo uma boa relação. Nunca vou esquecer o que você fez por mim. Obrigada.

— Eu faria tudo de novo só pra te ver bem.

Não havia mais o que dizer, ou eles não sabiam o que falar, mas disseram tudo o que faltava num abraço ímpar, sem amarguras ou qualquer coisa que não combinasse com eles. Cláudio fora alguém fundamental na vida de Maria, não só por ser o pai das suas filhas, mas por ser alguém que esteve ao seu lado quando mais precisou, e ela reconhecia isso, e sabia que ele, mais que ninguém, merecia toda a felicidade do mundo.

...

Uma semana se passou desde o dia em que Maria assinou o divórcio. Certamente, ela não imaginara que sairia tão bem daquele casamento que parecia eterno. Tudo indicava que Cláudio e ela seriam inimigos declarados depois do término, mas, ao contrário disso, eles continuavam amigos, sempre torcendo por uma recíproca felicidade.

No decorrer daquela semana monótona, Maria fez algumas coisas, entre elas, uma ida ao médico. Entre conversas e perguntas, e alguns exames, o adorável senhor disse que não tinha mais porque ela ficar em casa, e a liberou para o trabalho. Maria não conseguia conter a felicidade diante daquela notícia.

Então, ali estava ela, naquela segunda feira, mais do que preparada para voltar a Casa de Modas.

Juliana também estava eufórica, e no caminho, a gêmea falava mais que o habitual. Quando pararam em frente ao prédio, uma alegria envolveu a estilista, parecia que ela não via aquele lugar há séculos. Ela logo se apressou em entrar, e voltar a fazer aquilo que tanto amava.

Um silêncio incomum tomava o andar que ela ficava, o que a fez ficar em alerta. Assim que cruzou a porta que separava o corredor do espaço de trabalho, deu de cara com todos seus companheiros de trabalho, e logo foi ouvido um grande e ensaiado som:

— Surpresa!

Maria não esperava por aquilo. Ela fora abraçada e recebida de volta por cada um, com belas palavras. Foi demorado, mas via-se de longe o quão emocionada ela estava diante das demonstrações de carinho.

— Minha deusa, como é bom te ter de volta! – Jacques se ajoelhou a sua frente, beijando sua mão direita. – Agora sim eu tenho motivo pra me levantar da cama, você não sabe o quanto eu estava acom saudades. – Secou algumas lágrimas inexistentes.

— Não estava nada, Jacques, se estivesse mesmo, teria ido me visitar.

— Não faz assim, minha rainha. É claro que eu quis ir te ver, mas trabalhei muito pra deixar tudo como você gosta. – Fez manha.

— Vou dar uma checada, dependendo do que encontrar, vejo se te perdôo ou não. – Deu uma piscadela.

Maria ainda ficou alguns minutos entre eles, depois, encerrou a festinha, e mandou todos de volta ao trabalho. Quando entrou em sua sala e ocupou sua cadeira, sentiu que que realmente estava de volta ao seu lugar.

— Será que estavam mesmo com saudades ou é se desculpa pra fazerem uma festinha?

— Não, eles estavam mesmo. Todo o santo dia perguntavam quando você voltaria. E que bom que voltou, viu, isso aqui não é a mesmo coisa sem você. – Juliana confessou.

— Mas todos se saíram bem sem mim, e você, mostrou que realmente é uma Fernandes. – Maria declarou com orgulho.

— Como assim?

— Um passarinho me contou que a senhorita é tão boa como a mãe, e foi uma ótima substituta.

— Nunca, não há pessoa no mundo que consiga te substituir! Quem falou isso?

— Tenho meus informantes. – Disse convencida.

— Não vai falar, né? – Negou.

— E para de falar que eu sou insubstituível, você é ótima sim, e poderia facilmente ficar no meu lugar. Você é grande Juliana, e não vai demorar muito pra que vejam isso também.

— Por falar nisso, tenho que te falar uma coisa. – Juliana se acomodou à frente da mãe, com um sorriso entusiasmado.

— Hum.

— Recebi um e-mail daquela marca de roupas, Zoraya, dizendo que viram meu trabalho e gostaram muito, e me ofereceram um estágio.

— Não acredito! Que notícia maravilhosa!

— Sim, só tem um porém: é nos Estados Unidos.

— Você vai aceitar? – Maria não conseguiu disfarçar o quanto a possibilidade de ficar longe da filha tinha incomodado-a.

— É uma oportunidade única, é um sonho também, e não tô pensando em rejeitar. E meu pai tá voltando pra lá, é mais um ponto a favor.

— E Henrique, já falou com ele?

— Sim. Ele me apoiou, porque sabe que eu quero muito. Nós vamos tentar manter nosso namoro a distância, e assim que der, um viaja pra ver o outro. Você tá chateada? Quer que eu diga que não quero? – Perguntou com intensidade.

— Não, não, não, não. – A mãe balançou a cabeça de uma lado para o outro ostensivamente. – Eu quero que você cresçam e sabia que não cresceria debaixo das minhas asas. Só consegue uma oportunidade na Zoraya uma em um milhão, e você foi privilegiada.

— Assim como você foi. – Lhe sorriu.

— Me responde uma coisa: você não tá indo por causa do meu relacionamento com Estêvão não, né?

— Claro que não, mãe! Eu ainda acho ele um mala, mas menos que antes, eu até ri de uma piada que ele contou no jantar.

— Isso me deixa mais tranquila. – Respirou aliviada. – Então, se é assim, aceita esse estágio porque vai fazer você crescer muito. Mas tem uma condição.

— Qual?

— Você vai ter que me ligar todos os dias.

— Claro.

— E vai ter que se alimentar direito, ir frequentemente ao médico, obedecer seu pai, dormir cedo...

— Já entendi, mãe.

O decorrer do dia foi bem normal: corrido, frenético e com muito falatório, um normal muito diferente dos dias que Maria estava em casa, e um normal que ela preferia muito mais.

Maria estava tão ligada nos afazeres da Casa de Modas, que tinha se esquecido que Estêvão a levariam para jantar fora aquela noite. Por sorte, ela se lembrou a tempo de organizar tudo e ir correndo para casa e se arrumar para seu amado.

Estêvão bem que insistiu em buscá-la em casa, mas sua insistência não era maior que a teimosia de Maria. Ela bateu o pé, e dizendo que não tinha necessidade de se deslocar até sua casa, e que ela poderia muito bem o encontrar no restaurante em questão, e então, depois de um pequena discussão ao telefone, ele concordou que poderiam ir separados.

— Boa noite, senhora teimosia. Está linda, como sempre. – Tomou sua mão e a beijou com delicadeza.

— Eu não seria tão teimosa se você não tentasse me convencer de algo que não quero ser convencida.

Os dois caminharam de mãos dadas até à mesa. Estêvão, como um cavalheiro, puxou a cadeira para que Maria se sentasse, e logo após, tomou seu assento também.

— Tô vendo que teremos muitas discussões por isso. – Continuou o assunto.

— Só se você for bobo, e eu sei que não é.

— É, não. E como foi sua volta ao trabalho?

— Foi ótimo! Nossa, fui tão bem recepcionada, , todos foram tão atenciosos. Ah, eu amei tudo. – Maria era puro entusiasmo.

— Vai com calma, Maria. – Alertou.

— Eu me sinto bem, Estêvão, não tem porque eu ficar cheia de dedos, fazendo o que amo.

— Você parece mesmo feliz. E eu tô começando a ficar com ciúmes, você no fala de mim assim, com tanta empolgação.

— Não mesmo. Não vou ficar fazendo propaganda do que é meu, não quero que fiquem te olhando.

— É um bom argumento. – Concordou.

Os dois conversavam descontraídos, falando de assuntos corriqueiros, sem grande importância. Nesse ínterim, um garçom apareceu servindo-os com um champanhe.

— Por que tá me olhando assim? – Indagou, quando percebeu um olhar diferente dele sobre si.

— Você tá tão radiante, e eu adoro ver você assim.

— Eu tô tão feliz, e há tempos não me sinto assim – suspirou – desde que voltei ao Brasil, na verdade. Quando cheguei e me deparei com você, fiquei apreensiva, eu não tinha um segundo de paz, aí veio as descobertas, o acidente, e só agora eu sinto que a Maria que eu conheço voltou à tona. Se perguntassem se eu queria passar por tudo de novo, acho que diria que sim, só pra estar vivendo o que tô vivendo agora.

— Não dá pra tirar alguma coisinha não?

— Não, assim não teria graça. Acho que não tem como melhorar, se melhorar um pouco mais, eu acho que não aguento.

— Tem certeza? – Perguntou como se quisesse desafiá-la.

— Uhum.

— Posso tentar?

— Pode, mas acho que não vai conseguir.

— Então tá bom, acho que vou arriscar.

Estêvão saiu do seu assento, e de forma magistral, se ajoelhou frente a Maria, estendendo a mão, que continha uma caixinha azul marinho.

— Estêvão, o que você tá fazendo? – Perguntou sem acreditar no que estaria por vir.

— Maria Fernandes...

— Levanta daí, Estêvão. – Falou baixo, mas incisiva.

— Eu não quero passar mais um segundo da minha vida longe de você. Quero acordar todos os dias ao seu lado, vendo seu cabelo bagunçado, sua cara amassada. Quero ter um motivo pra voltar pra casa todas as noites. Quero ouvir você brigando comigo por ter deixado a toalha na cama, enfim, quero experimentar tudo com você Maria, mas quero fazer como manda o figurino.

— Você tá...

— Tô pedindo você em casamento. E então Maria, você aceira se casar comigo?

 


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