Encantos & Desencontros escrita por Maitê Miasi


Capítulo 2
Capítulo 1




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“Porque hoje estou melhor sem você.

Vou de novo recordando o que sou

Sabendo o que você dá e o que dou

Em mim não tem espaço para você

E o tempo fez o que quis e eu entendi

As coisas não acontecem porque sim

Você não é a pessoa que pensei, que acreditei, que pedi.”

Camila – Mientes

****

25 anos depois...

Após tantas controvérsias do destino, Maria seguiu consciente de que esqueceria tudo o a fizera sofrer. O medo batera em sua porta várias vezes querendo fazê-la desistir, tentando fazê-la aceitar que era melhor ficar e admitir qual era seu real destino. Ela quase se deixou levar pelas vozes que falavam a sua cabeça, mas preferiu se arriscar, já que não tinha mais o que perder.

Talvez seu maior obstáculo fosse ela mesma, o momento mais difícil de sua vida fora tomar aquela decisão, e ela teria que lutar consigo, uma luta entre razão e emoção. Sim, havia sido bastante difícil, mas era o único jeito de conseguir dormir em paz, já que naquele lugar seria julgada por todos como a sem caráter.

Ela prometeu que se esqueceria de tudo e todos, e cumprira com suas palavras.

...

A mudança não tinha sido de todo o ruim, já que Maria havia construído uma bela família ao lado de Cláudio. Agora, ela era uma mulher rica, decidida, influente, e no auge dos seus quarenta anos de idade era ainda mais linda do que quando tinha pouca idade. Era comum para ela chamar a atenção por onde passasse, mesmo involuntariamente, sua estonteante beleza arrancava suspiros dos marmanjos de todas as idades.

— Meus amores! – Cláudio aparecera na sala de estar da mansão de braços abertos com uma pasta na mão, doido para abraçar as filhas.

— Pai!

— Pai!

As duas meninas logo que o avistaram, correram ao seu encontro para mais uma sessão de abraços apertados.

O casal era pais de gêmeas idênticas: Giovana e Juliana. As duas meninas eram completamente diferentes entre si. Giovana era extrovertida, falava o que pensava, não levava desaforo pra casa; enquanto Juliana era quieta, romântica, sonhadora e por muitas vezes era taxada pela irmã como boba. As duas viviam em constantes discussões.

— Tenho uma novidade pra vocês.

Os três voltavam para o sofá, onde as meninas estavam instantes antes, o pai ao meio abraçado com as filha, cada uma de um lado.

— Novidade? – Maria apareceu no topo da escada, plena. – Também quero saber que novidade é essa. – Com um sorriso no rosto, ela desceu a escada e se juntou aos três.

— Eu recebi uma proposta de trabalho irrecusável! – Ele era todo entusiasmo.

— Que bom meu amor, meus parabéns! – Com um selinho e um abraço, Maria felicitou o marido. As gêmeas fizeram cara de nojo ao verem a cena.

— Só tem um porém. – Cláudio se pôs um pouco mais sério.

— Ih, lá vem. – Giovana retrucou.

— Vamos ter que nos mudar para o Brasil. – Ele encarou Maria, sabia muito bem o que isso significava para ela.

— Para o Brasil Cláudio? – O olhou com total desaprovação, e o sorriso de minutos antes tinha sumido num estalo.

— Ah, não acredito pai! Tá falando sério? Eu não quero ir pra esse paizinho chinfrim. – Assim como a mãe, Giovana também mostrou desaprovação.

— Ah, eu gosto da ideia, o Brasil é um país lindo e muito diversificado. – A doce Juliana ficara a favor do pai.

— Iu guistu di idia – Giovana imitou a minina tirando sarro da sua cara – mas ninguém se importa com a sua opinião!

— Giovana, por favor. – O pai pediu. – Vai ser uma mudança muito boa, vocês vão ver.

— Boa pra quem? Pra você? Só se for. Com licença.

Maria o olhou com censura antes de se retirar do meio deles, sabia que era um assunto o qual ela não queria discutir, pois, mais que ninguém, o marido sabia dos motivos pelo qual ela tinha repulsa pelo país, aliás, não pelo país, mas por certos moradores. Contudo, Cláudio a seguiu, pois ainda tinhas esperanças de que conseguiria convencer a esposa.

— Você vai ver só, minha mãe vai acabar fazendo meu pai mudar de ideia. – Giovana dizia a irmã com um ar vitorioso.

— O que te leva a crer que isso vai acontecer?

— Meu pai sempre faz o que minha mãe quer, e dessa vez não vai ser diferente, você vai ver só.

— Eu não acho, minha mãe não é tão egoísta como você, e vai acabar cedendo, porque ela sabe que é importante pro meu pai. – Dessa vez era Juliana quem tinha um ar vitorioso na face.

— Ah é? Então vamos apostar: se eu ganhar, quero metade da sua mesada durante um ano.

— Tá, e se eu ganhar, você vai arrumar todas as minhas coisas pra viagem.

— Ok, apostado então. – As duas apertaram as mãos selando a aposta.

...

No quarto do casal, ainda rolava uma discussão, mas era uma discussão centrada, sem gritarias, apenas os dois sabiam o que se passava ali.

— Por favor, Maria, tenta entender!

— Te entender? E você, entende meu lado? – Ela andanva de um lado para o outro, tensa com a situação. – Você melhor que ninguém sabe o porquê de eu não querer voltar – parou para o olhar – e como você quer que eu te entenda?

— Maria – ele foi até a ela, calmo, pois sabia que os dois nervosos não chegariam a lugar algum – eu sei muito bem os motivos que você tem, e não te recrimino. – Com sua mão direita ele segurou a mão dela, e com a esquerda pôs-se a acariciar se rosto com carinho. – Já se passou tanto tempo meu amor, você acha mesmo que chegando lá vai dar de cara com aquelas pessoas que te machucaram? – Ele fez uma pausa antes de prosseguir. – Com ele?

Contudo ela não disse nada, apenas o olhava, e ele continuou.

— Eu não vou deixar nada acontecer com você, meu amor. E no final, o Brasil é um país enorme, é quase impossível você dar de cara com qualquer um deles.

Ainda com os olhos fitados no marido, Maria ficou a refletir em suas palavras. Talvez ele tivesse razão, talvez fosse apenas um medo bobo de sua parte.

— Talvez você esteja certo – disse por fim – deve ser só um medo infantil. – Ela lhe sorriu. – Acho que não tem nada a ver voltarmos pra lá.

— Viu, era só questão de pensamos com calma – colocou uma mecha solta do seu cabelo atrás da orelha - ninguém mais vai se meter com você, agora eu tô aqui. – Um beijo apaixonado foi trocado entre eles.

— Acho que vai ser bom pra mim também, vou poder aceitar uma proposta que me foi ofertada.

— Viu, vai ser bom pra nós dois.

Ele a abraçou e a suspendeu no ar agradecendo-a por sempre ser uma esposa compreensiva e atenciosa.

Na sala, as gêmeas ainda discutiam, cada uma defendendo o seu ponto de vista, e ambas acreditavam que seus pais haveriam de fazer o que – para elas – fosse o melhor.

O casal descia as escadas, de mãos dadas, sorrindo, deixando as meninas curiosas sobre a decisão tomada.

— Olha, eles estão vindo! – Juliana disse se ajeitando no sofá, com uma almofada no colo.

— E então pai, nós vamos ficar né? – Giovana perguntou afoita.

— O pai de vocês e eu conversamos e entramos num concenso.

— Que é...? – Giovana interrompeu a mãe que acabara de sentar-se ao sofá frente ao que ela e a irmã estavam.

— Nós vamos para o Brasil.

Ao ouvir o veredido dado pelo pai, Juliana começou a zombar da irmã, se jogando em cima dela, e rindo da sua cara, Giovana por sua vez espraguejava a irmã, sendo advertida pela mãe.

— Por favor, mãe, diz que não é verdade! A senhora não pode concordar com essa sandice! – A menina se jogou aos pés da mãe implorando para que ela mudasse de idéia.

— Giovana, levanta daí, já está decidido, nós vamos para o Brasil, você querendo ou não.

— Então deixa eu ficar com a tia Sandra mãe, por favor. – Ela seguia a mãe, que tinha saído do seu lugar.

— Nem pensar! – Maria a encarou. – Não sei se você se lembra, mas você não se dá bem com sua tia e com nenhum dos parentes do seu pai.

— É Giovana, vai ter que aceitar, nós vamos pro Brasil. – Deu de ombros chacoteando da irmã.

— Ah, se mata garota insuportável.

A menina saiu marchando e com a pior das caras possíveis arrancando risadas dos pais e da irmã.

...

A muitos quilômetros dali, Estêvão se encontrava em seu escritório, rindo, feliz depois de receber uma ligação satisfatória. Seus negócios iam de vento em polpa, e fluiriam mais ainda agora, que seu futuro sócio, lhe dera a notícia que, ainda aquela semana, estariam na mesma cidade.  

— Posso saber o motivo desse sorriso? – Fabíola foi até o marido e o cumprimentou com um selinho amável, e se sentou em seu colo rodeando seus braços em seu pescoço.

— Acabei de receber uma ligação do meu futuro sócio, ele acabou de me confirmar que ele e a família virão para o Brasil. – Seu sorriso entusiasmado ia de orelha a orelha.

— Que bom meu amor, fico feliz por você. – Ela saiu do seu colo, mas ainda ficara de frente para ele. – Que tal oferecermos um jantar pra eles assim que chegarem? Como boas vindas, pra estreitarmos a relação.

— É uma ótima ideia Fabíola. Assim que ele tiver a data certa de chegada, eu aviso a você para que providencie tudo.

— Só vou avisando que não vou tolerar xilique de americana fresca! – Aumentou um pouco seu tom de voz.

— Ela não é americana, é brasileira. – Constatou sem saber de quem realmente se tratava.

— Pior ainda! Eu não vou aturar xilique de brasileira metida a americana, não mesmo!

— Fabíola, por favor, né. – Ele se levantou e se serviu de um drink. – Serão apenas algumas horas, será que dá pra relevar? Afinal, são meus negócios que estão em jogo. – Em um gole, tomou todo o liquido contido no pequeno copo.

— Tá. – Concordou, mas revirou os olhos.

...

Passagens compradas, tudo acertado. Poucas horas separavam a família feliz e unida (ou quase isso) do país de origem dos anfitriões. Tirando a mal humorada Giovana, todos estavam muito animados com a mudança, até mesmo Maria, que sentia que bons ares esperavam por ela.

— Giovana, seja um pouco mais rápida minha filha, daqui a pouco vamos e sair, e suas coisas mal estão prontas. – Maria disse assim que entrou no quarto, encontrando a filha de frente para o espelho se arrumando sem o menor ânimo.

— Aposto que você não falou nada com a Juliana, claro, ela é sua queridinha.

— Eu acabei de sair do quarto dela, e ao contrário de você, as coisas dela já estão prontas. Agora vamos logo, não quero ter que vir aqui de novo!

Maria falou um pouco mais alto e saiu do quarto.

...

Os quatro já estavam no aeroporto com tudo pronto, apenas aguardando a autorização para o embarque.

Juliana era só alegria, já tinha planejado mil coisas para fazer quando pisasse em solo brasileiro, em contrapartida, Giovana estava com a cara amarrada, e não se importava em mostrar isso aos pais. Cláudio também compartilhava a mesma alegria de Juliana, já Maria estava tensa, tentava se mostrar bem para a família, mas só ela sabia o quanto seu coração estava apertado por voltar ao seu país de origem. Cláudio tinha razão sobre a possibilidade de encontrar seu passado ser mínima, mas de repente ele caiu de paraquedas em seu colo deixando-a um tanto desnorteada.

— É o nosso vôo. – Cláudio disse assim que fora anunciado o vôo deles.

— Eu não vou me sentar ao lado da Juliana. – Disse Giovana pegando suas coisas.

Maria respirou fundo antes de responder.

— Você se senta ao meu lado, e sua irmã com seu pai. Tá bom assim? – Perguntou perdendo a paciência.

— Perfeito. – Sorriu com uma pitada de deboche.

O percurso todo foi calmo, como estavam acostumados. Sem turbulências ou imprevistos, a família chegara ao país dentro do tempo estipulado.

— Tô falando, que lugarzinho mais sem graça. – A menina analisava as coisas e as pessoas ao redor. – Vocês dois então doidos. – Negou com a cabeça.

— Você é muita chata sabia? A gente mal chegou, e você já tá reclamando! – Juliana se opôs a atitude da irmã.

— Mãe! – Olhou para Maria.

— Juliana está certa Giovana, você deveria reclamar menos. – Maria concordou com Juliana.

— Pai!

Olhou para Cláudio, que deu de ombros, concordando com as outras duas. Giovana fechou a cara – como se tivesse aberto em algum momento – e saiu ignorando eles.

...

O apartamento que eles ficariam alguns dias não era tão grande quanto a casa, pelo contrário, de acordo com as medidas da casa que eles moravam, o apartamento era minúsculo, mas era apenas por alguns dias até que comprassem uma casa nova.

— Sério que vamos ter que ficar nisso? Isso aqui é menor que meu quarto.

— Com licença, vou ter que atender a ligação do meu sócio. – Se afastou das demais.

— É só por uns dias Giovana – a mãe disse pacientemente – tenta ser um pouco flexível filha.

— Vou ter que dividir meu quarto com ela? – Se referiu a Juliana, e Maria concordou com a cabeça.

— Aff!

— Eu também não tô morrendo de felicidade não tá.

— Ninguém se importa com isso!

— Ei, ei, vamos parando as duas! Eu não quero saber de briga, e já disse isso um milhão de vezes, eu não eduquei vocês duas pra ficarem brincando como duas mal educadas! – Esbravejou.

— Desculpa mãe. – Disse Juliana.

— Desculpa mãe. – Disse Giovana.

— Que isso não se repita.

Encerrada a ligação, Cláudio voltou para junto das três, mais uma vez com um sorriso animado.

— Mulheres da minha vida, acabei de falar com meu sócio, e ele nos convidou para jantarmos com ele.

— Ah que ótimo, eu tô morrendo de fome. – Maria declarou. – Eu só preciso de um banho pra dar uma revigorada.

— E vocês não perguntam a nossa opinião?

Maria apenas olhou para a filha mimada de canto de olho, e rindo, foi para seu quarto sendo seguida por seu marido.

A bela mulher já estava de banho tomado, apenas portando um hobby rosa bebê. Sua maquiagem estava quase pronta, para que então desse atenção às suas madeixas negras.

— Eu tô feliz, sabia – Cláudio chegou por detrás dela, cheirando seu pescoço, deixando-a arrepiada – tô sentindo que as coisas vão dar muito certo aqui.

— Tomara – se virou para olhá-lo – acho que essa experiência vai ser muito boa, vai ser bom para as meninas também, sair da bolha a qual estão acostumadas.

— Te amo tanto, sabia? – Ele segurou sua mão e a levantou deixando-a próxima a sua boca. – Eu não poderia ter escolhido mulher melhor pra amar. – E beijando sua delicada e pequena mão, ele concluiu.

— Hum, tá tão romântico – tocou o seu nariz com o indicador – acho que nossa noite vai terminar muito bem hoje. – Piscou travessa.

— Temos que esperar até a hora de dormir? – A puxou pela cintura, grudando seus corpos.

— Sim, ou se esqueceu que temos um compromisso com seu sócio? – O beijou.

— Ah é, será que não podemos adiar? – Brincou.

— Acho melhor não, afinal, temos todo o tempo pra isso, seu danadinho. – Se soltou dele e voltou-se para o espelho.

— Ok, ok, você venceu, mas não vai fugir de mim logo mais hein.

— E quem disse que eu quero?

Um sorriso cúmplice fora trocado entre eles, pois era o que eles eram: cúmplices, parceiros, aliados, e o passar dos anos só enriqueciam a bonita relação dos dois.

O táxi os esperava na portaria do prédio onde estavam passando aquela curta temporada, e logo eles estavam a caminho da casa do sócio de Cláudio. Durante o percurso, Maria ficava a olhar pela janela a cidade que sempre sonhara em morar, mas não tivera a oportunidade, e agora, depois de tanto tempo, estava ali realizando seu sonho de menina.

A grande São Paulo estava iluminada pelas luzes dos altos prédios, dos postes e dos carros, e também pelo brilho que reluzia no olhar de Maria, ela estava se sentindo como aquela menina sonhadora de anos atrás, mas dessa vez não se sentia tão frustada como naquela época.

O condomínio era um luxo só, era uma dos mais requintados da cidade, e só abrigava gente importante, o sócio de Cláudio era um desses. Todos os olhos naquele carro percorriam ao redor admirados por tamanha beleza e suntuosidade, e uns pensavam que a beleza ali exposta não se equiparava com o lugar de onde vieram.

Ao chegarem a tal casa, pagaram o táxi e entraram. A empregada os recebeu com muita educação, e os levou até a sala de estar onde o dono os esperava. A senhora da casa ainda não estava presente, pois ainda estava a terminar de se arrumar.

Quando os recém-chegados se encontraram com o dono da casa, um grito súbito invadiu o coração de Maria, e por muito pouco não atravessara sua garganta.

— Você?! – Maria e Estêvão disseram em uníssono.


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