Ahriat estava chorando quando ouviu as baleias.

Era tarde da madrugada, e ele não sabia as horas. O céu estava escuro, sem estrelas, só nuvens. O ar estava gelado, mas a brisa era fraca. Descalço sobre a terra seca, ele nem sabia por que chorava mais. Talvez fosse a saudade de casa, mas ele não gostava de lá. Talvez fosse a falta dos amigos, mas eles não o abraçavam. Talvez não fosse nada, e ele só quisesse sentir os soluços chacoalhando seu corpo para lembrar-se de que algo dentro dele ainda estava ali.

As árvores que o cercavam eram lindas, e ele as amava e as odiava por isso. Odiava porque eram incógnitas, altas, imponentes — o espelho daquelas pessoas que o arrancaram de casa e o arrastaram para dentro daquela floresta. Mas amava porque eram fortes, grandes, velhas — o símbolo de uma deusa que criara com amor todo aquele mundo. Mas era um mundo cruel. E Ahriat já não sabia mais por quanto tempo iria aguentar.

Quando olhou para cima, não havia estrelas — apenas as pontas das árvores, o mar de nuvens. Sua visão estava turva com as lágrimas que transbordavam, o corpo que sacudia. E de repente elas vieram, com um brilho colorido e um canto distante. As baleias. E ele desejou que pudesse voar entre elas.

Eram tantas, e tão longe — grandes, pequenas, velhas e jovens. Nadavam por entre as nuvens como se dançassem com bailarinas. As luzes que as contornavam desenhavam-se como num sonho: verdes e azuis, rosas e roxas, linhas e mais linhas de luz que ele poderia fingir tocar. Por isso, ele estendeu a mão.

O vento soprou, e com ele as folhas sussurraram em seus ouvidos. As baleias seguiram seu rumo, entoando o canto que ele jamais seria capaz de entender. Nadavam e dançavam por entre as pequenas ilhas que flutuavam lá em cima com elas. E junto delas iam as luzes, como num sonho fugaz.

Então veio a chuva. Uma gota, duas, e de repente estava todo encharcado, de volta ao escuro. Chorava ainda — ainda sem saber por quê. Mas, dessa vez, era muito mais fácil respirar.

Quando um de seus captores puxou-o para que saísse da chuva, Ahriat deixou as árvores sem folhas para trás.