Tome Tenência, Rapaz escrita por ArnaldoBBMarques


Capítulo 2
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Caíque não tinha certeza se o olhar de Tati era de quem estava interessada, ou de quem estava zoando com ele. Só sabia que aquela garota cheia de tatuagens e brincos por todo o corpo estava deixando ele toca-la. Encostou-a mais rente ao muro e intensificou o ataque. Seus lábios roçavam os brincos de metal que ela tinha no nariz, na orelha e no lábio, e sua mão notou que os brincos também povoavam os bicos dos seios. Ali do lado os amigos riam, mas Caíque nunca sabia se eles estavam rindo com ele, ou rindo dele. Queria ser aceito por aquela turma de baderneiros, mas sabia que para isso tinha que fazer muito mais.

Tati afastou-se com um sorrisinho malicioso, e sem dizer nada foi conversar com um sujeito recém-chegado. Caíque sentiu a decepção, e ficou por um instante parado ali no muro, olhando para o nada, querendo fazer alguma coisa. Ninguém mais parecia notar a sua presença ali, e isso lhe dava uma sensação de desespero. Quando Barbosão, o líder da turma, fez o sinal para todos partirem, Caíque não hesitou:

— Eu vou com vocês!

Tinha medo que eles não aceitassem, mas os olhares indicavam mais uma divertida expectativa do que uma incredulidade. Tati de súbito voltou a mirar os olhos nele, e Caíque teve certeza de ver ali um olhar de admiração. Pensou com toda a força: você vai ver, Tati, você vai ver...

— Sobe aqui! - Disse um colega, mostrando-lhe a garupa da moto.

Os escapamentos ressoaram pelas ruas escuras e vazias, rumo a um quarteirão degradado de um bairro que Caíque mal conhecia. Ali chegando, a turma tratou de sacar os cigarros de maconha que traziam, e Caíque notou que também havia outras drogas. Limitou-se, contudo, a tragar fundo o cigarro, e o efeito combinado com os tragos que já tomara no botequim varreram qualquer resquício de medo. Depois de algum tempo, o pessoal tirou das sacolas as latas de spray de tinta, que foram distribuídas.

— É assim, pratica aqui nesse muro!

O rapaz explicou a Caíque como desenhar o símbolo da gangue, e Caíque aprendeu rápido. Logo estava trepado nas marquises desgastadas junto com os demais, deliciando-se em pichar as paredes cinzentas do prédio vazio. Procurou por um olhar de aprovação de Tati, mas ela estava ocupada demais em pichar uma porta mais abaixo.

— Está dando mole aqui! - Disse alguém do grupo, quebrando o silêncio.

No instante seguinte Caíque escutou o estilhaço do vidro quebrado, e viu dois rapazes se esgueirando por uma janela, a fim de roubar objetos que haviam visto ali dentro. Mirando a cena, o tempo parecia haver parado para Caíque, que só escutava o coração batendo rápido. O transe foi rompido por uma estridente sirene.

— SUJOU, SUJOU!

Todos pularam da marquise e correram, mas a rua não tinha saída, e do outro lado o carro da polícia havia parado. Os policiais saltaram e mandaram todos encostar no muro. Caíque teve a sensação de estar dentro de um filme enquanto sentia as mãos do policial revistando-o. Drogas e latas de spray foram apreendidas. O filme continuava a correr para Caíque. Agora ele estava apertado dentro de um camburão, e na cena seguinte estava em uma sala repleta de gente esquisita na delegacia. Sentia-se tonto e enjoado. Não via mais Tati.


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