COEUR escrita por La Neige


Capítulo 3
Capítulo 3




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Narração de David

Dez meses antes...

Não consegui tomar o café, ele simplesmente não descia pela garganta. Então tomei meu bom e velho Bourbon, ignorando o fato de ter que enterrar meu pai em poucas horas. Na verdade, isso era a única coisa que fazia esse momento ser suportável. Se não bastasse minha mãe ter morrido por conta daquela doença horrível, agora meu pai. Sinto que a família Carter está se acabando.

Minha vontade é de ir para a ilha da nossa família e ignorar todos os abutres que estarão em cima de mim agora procurando um pedaço da herança. Nunca foi um problema conviver com todos eles, na verdade sempre achei engraçado a forma que todos na cidade nos bajulavam e imploravam por um pouco de nossa atenção, mas neste dia eu só queria um momento as sós com o corpo de meu pai.

Percebi que já estava quase na hora da cerimonia de o velório começar, então pedi que Felix tirasse o carro da garagem para que pudéssemos ir.

— Você é David Carter! – afirmei para mim mesmo. Meu pai sempre me disse que ser um Carter é ser um rei.

Flashback – Vinte dois anos antes

Minha mãe havia acabado de morrer, os enfermeiros estavam tirando os equipamentos do quarto dela. Meu peito parecia que estava prestes a explodir, minhas pernas não me sustentavam mais. Tinha em minha a sensação de morte súbita. Então ouvi o barulho da porta do banheiro se abrindo, quando olhei em sua direção lá estava ele, William Carter, meu pai. Ele era tão alto que me sentia pequeno em sua presença, sempre com a postura rígida, o olhar sério e o terno impecável.

— O que faz todo encolhido e chorando, David? – sua voz não expressava nenhum conforto.

— Papai, está doendo tanto, quero a mamãe de volta! - disse enquanto as lagrimas embaçavam meu olhar. Corri até ele e abracei sua cintura, a única parte que eu alcançava.

— Pare com isso agora! – ordenou rígido me afastando dele.

— Mas papai.. – tentei dizer.

— Eu te criei para ser um homem, e não um bebê chorão. Nós Carter’s não nos damos a essas fraquezas. – afirmou. – Se eu te pegar chorando novamente prometo que lhe darei uma surra como você nunca viu. – nem parecia que a esposa dele havia acabado de falecer. – Você é David Carter, e um Carter é um rei!

Fim do Flashback

Lembrei enquanto passávamos pelas ruas da cidade em direção a Igreja. Eu nunca mais me esqueci desse dia, e também nunca mais fui aquele menino chorão e frágil. Após a morte de minha mãe William me ensinou o legado da família. Um Carter é alguém que as pessoas temem, admiram e desejam se tornarem. Um Carter nunca ouve um não, todos o obedecem e seguem suas ordens sem questionar. Um Carter é um rei.

Paramos em um farol vermelho e percebi que não havia ninguém nas ruas da cidade. O prefeito havia promulgado luto. Todos estavam na Igreja esperando que eu chegasse. Imbecis, são todos falsos, nunca gostaram do meu pai, apenas queriam os privilégios de estar próximo a ele. Acreditavam que o enganavam, mas eram apenas fantoches nas mãos do meu pai. A influência no governo é a família Carter, os investidores das fabricas da cidade é a família Carter. Até mesmo os mais baixos escalões são comandados pela minha família, embora não percebam.

Percebi que tinha uma menina em frente a uma casa amarela no subúrbio de Vantter City. Estava usando uma calça de jeans escura e um moletom vermelho com touca. Provavelmente a única que não estava na Igreja esperando a cerimonia de o velório começar. Resolvi parar, então pedi que Felix estacionasse em frente à casa.

— Ei garota! – disse abaixando o vidro do carro. – O que faz ai? Não vai ao velório do Sr. Carter? – continuei após ela olhar para mim.

— Acho que já tem bastante gente lá. – respondeu sem dar muita atenção. – Tenho certeza que não vão sentir minha falta. – concluiu enquanto arremessava uma bola de basquete contra a parede da casa.

— Posso te oferecer uma carona caso precise. – ofereci arqueando as sobrancelhas. Ela poderia não fazer falta, mas com certeza toda a cidade deveria homenagear meu pai.

— Obrigada, vou ficar em casa. – respondeu batendo continência com um sorriso de lado. Pude perceber que seus olhos eram verdes, seus lábios eram finos e rosados. Uma madeixa loira estava caída sobre seu rosto. Ela era linda.

— Tudo bem! – disse antes que Felix arrancasse com o carro.

Em pouco tempo chegamos a Igreja, realmente toda a cidade estava lá, a Igreja estava lotada, muitas pessoas estavam em pé nas laterais do templo. Alguns que já haviam percebido minha presença acenavam em condolência. Aproximava-me de me assento quando o prefeito e a primeira dama vieram em minha direção.

— Meus sentimentos, David! - disse o prefeito me abraçando. Ele era um dos poucos que me chamavam pelo primeiro nome. – Foi uma grande perda para nós e para a cidade, todos vão sentir muito a falta de seu pai. Ele foi um grande homem.- completou com um sorriso amarelo.

— Obrigado John, realmente uma grande perda para todos! - agradeci antes de tomar meu lugar na primeira fileira.

Um mês após o velório de William e eu já estava a par de todos os negócios da família, ele havia me preparado a vida inteira para este momento. Enquanto eu saía de um restaurante após uma reunião com o dono da fábrica têxtil percebi que algumas pessoas se juntavam no centro da praça causando um alvoroço. Era um homem bêbado que armava uma cena para todos, tropeçando e gritando no meio da praça. Uma jovem tentava segurá-lo enquanto ele se desvencilhava.

— Papai, vamos para casa! – dizia firme tentando agarrá-lo após mais um vez ele se desviar dela. As pessoas ao redor tiravam sarro da situação, enquanto outras se mostravam perplexas pelo escândalo.

— Nã, não filha, t-o bem aq-ui. – tentava dizer o homem, que aparentava ter uns 60 anos, com barba para fazer.

— Por favor, papai! – implorou a garota novamente. Até que o homem concordou em sair dali.

Quando se viraram não pude acreditar, aquela garota era a mesma que eu havia conhecido no caminho do velório de William. Perguntei as pessoas ao redor quem era o homem e a garota e me disseram ser os Miller’s. Quando cheguei ao escritório liguei para o investigador da família e o direcionei que descobrisse mais sobre a garota Miller.

A noite Rick, o investigador foi até minha casa para trazer as informações que havia conseguido. A garota se chamava Zoey Miller, ela tinha perdido a mãe quando era pequena, e depois disse seu pai, Santiago Miller, se entregou ao alcoolismo e passou a jogar jogos de azar. O que explica a cena na praça. Sua irmã já tinha sido internada três vezes em clínicas de reabilitação. Era Zoey a principal supridora da família, com a ajuda de seu cunhado Taylor Heyss, o qual iria se casar em poucos meses.

Na manhã seguinte fui até a cafeteria onde Rick disse que Zoey trabalha. Apesar de ser um pouco ultrapassada e nada parecida com uma La Cafeotheque, até que o lugar tinha seu charme.

Busquei me acentar em uma mesa mais afastada das outras, e claro, que fazia parte do atendimento de Zoey, logo ela se aproximou para me atender.

— Olá, bom dia! – falou animada. – Em que posso ajuda-lo? – perguntou prestativa.

— Bom dia! – disse sorrindo. – O que você recomenda?

— Bem, as pessoas costumam pedir bastante o cappuccino acompanhado de pão na chapa. – respondeu em tom amistoso.

— E você? – questionei apoiando os cotovelas na mesa enquanto a fitava. – O que mais gosta de comer nesse lugar? – completei.

— Minha bebida predileta com certeza é o chocolate quente. – disse colocando uma madeixa da franja atrás da orelha.

— Ótimo! – sorri. – Vou querer um desse. Ela assentiu e se retirou.

— Deixe-me adivinhar, um chocolate quente? – disse Zoey com seu sorriso de sempre. Era a terceira vez na mesma semana que eu tomava café da manhã naquele lugar. Ela era como uma droga para mim, precisava vê-la, precisava ouvir sua voz. Hoje, finalmente a teria para mim.

— Acertou! – falei retribuindo seu sorriso. – Na verdade – continuei. – Acho que vou querer mais uma coisa hoje. – sorri ardilosamente. Ela me olhou com uma expressão de interrogação, então continuei. – Talvez pudéssemos nos encontrar depois que você sair do trabalho. – pisquei para ela estendo um cartão com meu número.

— Desculpe, mas acho que o senhor está tendo um lapso. – sua voz tinha um teor de fúria. – Eu não faço este tipo de serviço, caso esteja interessado em outra coisa sugiro que vá até a rua 51 que tem um local mais apropriado aos seus desejos. – ironizou rasgando o cartão. – Idiota! – finalizou antes de sair.

Está decidido, Zoey Miller será minha, não importa o que eu tenha que fazer, ou quanto custe, não desistirei até conseguir tê-la só para mim.


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Notas finais do capítulo

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