—Mamãezinha, a Clara não para de chorar e a Olivia está cansada. Quero fechar os olhinhos e abrir só quando o sol aparecer e ele não apareceu ainda mamãe, está escuro lá fora. – Olivia diz coçando os olhos assim que entro no quarto delas. Clara está enjoadinha esses dias e não está dando folga para a pobre Olivia.

—Porque não deita hoje na cama da mamãe para dormir? Eu vou acalmar nossa Clarabear até ela dormir de novo. – Ela assente e levanta na cama calçando suas pantufas e se arrasta para fora do quarto e eu vou até o berço pegar minha bebê.

Olivia foi o último presente que meus pais me deixaram, minha mãe estava grávida e feliz por poder ter outro bebê, meu pai então? Estava explodindo de felicidade e eu não podia estar mais orgulhosa da minha família. Eles sempre me apoiaram no meu sonho de ser Fisioterapeuta e assim que eu me formei e consegui um emprego eu me mudei para mais perto do hospital. Eu gostava da minha independência. Só não esperava ter que conviver com ela definitivamente... o acidente dos meus pais me deprimiu por um tempo, eu estava de plantão no dia e ter que escolher entre minha mãe e minha irmã foi a decisão mais difícil, mas desde o início minha mãe sabia que era uma gravidez de risco e ela sempre deixou claro quem ela escolheria. Lá de cima eu sei que eles olham Olivia e eu, fiz de tudo para ser a mãe que essa garotinha merecia. Rose, minha irmã do coração e seus pais – que por acaso são meus padrinhos – estiveram comigo todo o tempo e me ajudaram em tudo. A herança que meus pais deixaram para nós nunca precisou ser tocada, meu salário garantia uma vida boa para nós duas.

Olho para Clara que enfia o rosto no meio dos meus peitos, está próximo da hora de sua mamada, me sento na poltrona de amamentação e lhe dou o peito que ela agarra imediatamente. Clara foi inesperada, o que era para ser apenas uma viagem de verão com minhas amigas acabou se tornando uma gravidez. Pode ter sido imprudente, mas eu não me arrependo de nada daquele verão, Rose, eu e as meninas estávamos animadas para conhecer Las Vegas, tia Eleanor e o tio Thomaz estavam contentes por passar um tempo com Olivia. Meus padrinhos me adotaram como filha desde que os meus se foram e eles faziam um ótimo trabalho. Todos os detalhes daquela viagem seguem muito vívidos na minha memória, em uma noite fomos em um cassino gastar algum dinheiro e acabamos nos separando por lá. Eu era horrível e estava perdendo dinheiro à beça, um cara de sorriso solto me deu uma dica boa e minha maré de azar virou. Ele era engraçado e estupidamente lindo, seu sorriso podia iluminar todo o ambiente e eu não sei em que momento eu segurei a sua mão e saímos daquele cassino em busca de um pub qualquer... tomamos alguns drinks e dançamos loucamente, não demorou muito para eu estar na porta do seu hotel, em seu quarto... em sua cama. Foi uma noite e tanto e eu só sabia o seu nome... Edward. Não trocamos grandes informações, mas ele anotou meu número, eu teria feito o mesmo, mas meu celular tinha morrido.

Nos despedimos com sorrisos e um abraço apertado, havia sido divertido, mas fora só isso, uma diversão de verão. Ele nunca me ligou ou mandou qualquer mensagem mas deixou um presente comigo que eu só pude abrir nove meses depois. Clara era minha preciosa e eu queria tanto que ele soubesse dela, mas ele nunca saberia e eu só poderia dizer a ela que seu pai tinha me feito feliz por um curto momento. Acaricio seu rostinho e ela segura meus dedos com força, quando o aperto diminui eu percebo que ela caiu no sono ainda mamando, com cuidado a tiro do peito e a faço arrotar antes de deita-la no berço e ir para minha cama dormir agarradinha com minha Liviabean. Eu só podia desejar que nada mudasse.