Rainha de Vidro escrita por William de Assis


Capítulo 6
6 - Liam




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/784362/chapter/6

EU SENTIA EQNUANTO MEU CORPO ERA EMPURRADO DEGRAU POR DEGRAU ATÉ O TOPO DO GRANDE PALÁCIO DA CAPITAL, RAMIN. Lembro de como fui puxado pelos cavalos até chegar aqui. A forma como crianças e seus pais atiravam comida podre em cima de mim, o jeito como apontavam enquanto comentavam que o assassino das tribos finalmente tinha sido pego por ordem da imperatriz. Não sou inocente de nenhuma dessas acusações, muito pelo contrário, eu chegaria de frente a imperatriz e de todos os senhores da guerra e então imploraria pela justiça estabelecida séculos atrás pelo primeiro imperador do nosso povo. Malus Kon Anthem.

Eu era empurrado pelo povo no meio do caminho, empurrado pelos guardas na capital e proibido de ter meu rosto visto por causa da máscara de ferro. A maldição de não ser lembrado como nada além de um assassino. Era o pior castigo para alguém do nosso povo.

Remexi minhas mãos enquanto as correntes me puxavam mais alguns degraus, meus dedos estavam dormentes, formigavam e ainda sentia como se estivesse fazendo o que era certo. Pensei em me jogar no chão, mas provavelmente os guardas ignorariam que estamos numa escada e puxariam as correntes ainda com mais força.

A luz finalmente aumentou. As lâmpadas finalmente brilhavam e me permitiam ver a grande porta de madeira em minha frente. O símbolo das onze tribos parecia brilhar diante dos meus olhos. Eu sentia a eletricidade percorrer sobre as paredes, minha alma parecia gritar para que eu me soltasse e assassinasse qualquer um deles somente para chamar atenção daqueles que estão ali dentro, mas a imagem do meu pai em minha mente me acalma novamente.

Lembro que quando esteve vivo, ele implorou para que eu nunca mostrasse a ninguém a ninguém o que eu conseguia fazer e qual era a cor do meu sangue. Ele dizia:

Nós temos sorte, você, meu doce menino foi agraciado com o sangue dos nossos ancestrais. É aquele que um dia vai colocar todas as tribos de joelhos e levar nosso povo para uma era infinita de paz.

Eu ria sempre que lembrava dessas palavras. Ele pedia para que eu fosse forte, bom para todos e um bom líder quando chegasse a hora certa, mas aprendi da pior forma que inocência não floresce naqueles com o sangue amaldiçoado.

Com todo poder que eu tinha, não fui capaz de salva-lo, mas hoje, finalmente vou ter a vingança que sonho desde os meus seis anos.

— Ainda hoje nos encontraremos de novo pai — sussurrei para mim, mesmo que os guardas rissem na minha frente com o óbvio. Eu não tinha a menor chance de sair vivo do tribunal dos senhores da guerra, mas eu poderia levar um deles comigo. Sei disso.

Sou empurrado para dentro da sala da imperatriz.

O frio que senti durante todo o caminho passava aos poucos, a eletricidade correndo pelas paredes fez meu corpo parecer que estava em chamas, enquanto a mulher em minha frente parecia tão calma diante dos líderes das onze tribos.

Caminhei lentamente diante de todos eles, sentindo o sangue fresco molhar meus pés enquanto minha besta ancestral rugia e implorava para que eu finalmente mostrasse a todos quem deveria estar sentado naquele trono, trazendo paz como meu pai queria.

— O que uma criança faz aqui? — perguntou a imperatriz. — E qual das leis foram infringidas para que fosse necessária a máscara de ferro?

Diferente de tudo o que diziam sobre a imperatriz, ela estava calma. Mostrava a todos os líderes das onze tribos que sua besta estava tão controlada que qualquer movimento brusco poderia ser o último para eles.

— Minha imperatriz, esse garoto foi o responsável pela chuva de sangue que nossos homens reportaram nas últimas semanas — disse o ancião.

— Essa criança é meu assassino? — perguntou a imperatriz. — Impossível.

Sorri por debaixo da máscara de ferro, enquanto observava o crânio de ossos que todos os imperadores já sentaram durante seus anos como governantes. Era lindo.

— Nada é impossível minha imperatriz — disse o ancião.

Se pondo em minha frente, o careca idiota agarrou a gola da minha camisa como se eu fosse apenas mais um pedaço de carne morta que ele poderia deixar os animais se aproveitarem depois. Ri baixo, qualquer sinal de deboche que eu fizesse na frente da imperatriz seria considerado minha sentença de morte.

— Solte-o Alexandre — ordenou a imperatriz. — Uma criança é incapaz de fazer tudo isso.

Os cabelos castanhos claros cumpridos deveria tornar seu rosto um pouco mais angelical, porém, as marcas de guerra desenhadas em seu rosto e o olhar como de uma serpente eram o suficiente para deixar qualquer inimigo assustado. Sua voz era doce, seu longo vestido negro expondo as pernas e a gigantesca lança tornavam-na uma linda mulher Aos poucos tenho certeza de que a imperatriz não passa de uma garotinha assustada, dividida entre seu dever de comandar homens que estão acostumados a matar sem hesitar, enquanto seu coração doce sofre em silêncio.

Observei as tatuagens que os anciões deveriam sempre ter, as marcas negras pela cabeça descendo até as costas escondidas pelo grande hobby pardo dos anciões e formando o símbolo sagrado de todo nosso povo. O gigantesco dragão ancestral com suas ondas de choques espalhadas por todos os lados.

— Minha imperatriz, esse garoto matou os homens que foram enviados ao cerco ao Pyke. Prendeu quarenta e cinco soltados em redes no alto e deixou que eles sangrassem de cabeça para baixo sujando os sobreviventes com chuva de sangue — disse o ancião.

— É uma criança — disse a imperatriz. — Sem treinamento militar, sem espada, sem lança, sem as amarras da morte.

— Essa criança sem treinamento militar matou doze dos meus homens — disse o ancião. — Assassinou a família do líder do clã do céu e ainda acabou com o cerco em Pyke sozinho.

— Esse garoto é uma criança — disse a imperatriz, finalmente saindo de seu trono. O longo vestido negro arrastava pelo chão a cada passo que ela dava até mim, os cabelos se emaranhavam em pequenas ondas, a lança em suas mãos parecia pesada, mas ela não demonstrava muito interesse nas palavras dos outros. Eu conhecia bem de mais as pessoas para saber quando elas estavam sendo enganadas por um simples olhar infantil. — É provável que esse garoto nem tenha chego a maturidade.

Os guardas chutaram minhas pernas. Estive de joelhos de frente a imperatriz que simplesmente tocou meu rosto. Eu seus olhos eu vi minha morte, lenta e dolorosa, preso numa cruz invertida, sangrando em praça pública, enquanto crianças apontariam para mim e perguntariam o que demais eu teria feito de errado.

— Eu quero ouvi-lo — disse a imperatriz. — Quero saber como uma criança foi a responsável por acabar com um cerco que levou meses para ser planejado?

Ela não acreditava em tudo o que tinha feito. Era minha consequência por ser uma criança na frente dos grandes mestres de guerra de todos os clãs.

— Tirem a máscara de ferro do assassino — disse o ancião.

Sorri uma última vez, antes que os guardas soltassem calmamente a máscara que impedia que meu rosto ficasse exposto. Eu me vi diante dos olhos de todos. Aquela expressão assustada que colocava todos os senhores numa posição complicada. Um rosto jovem marcado pela guerra, um símbolo de inocência corrompido por tudo o que eles já nos ensinaram pelo menos uma vez.

— Uma criança — sussurrou a imperatriz. — Quantos anos tem?

Caminhou lentamente até o trono.

— Tenho a idade que a imperatriz tinha quando matou pela primeira vez — respondi. — Sou tão jovem quanto aqueles treinados para assumir seu lugar.

— Só tem doze anos então? — perguntou ela. O sorriso em seu rosto era obvio até demais para mim; significava inocência, ironia e a vontade de matar todos que estavam ao nosso redor. Ela era exatamente como eu. — Como uma criança matou meus melhores homens?

Sorri uma última vez. Balancei os cabelos ruivos cumpridos, meus olhos azuis cintilaram como os dela. Eu soltei as amarradas dos meus pulsos, me pondo de pé e assustando mesmo os guardas que me trouxeram contra minha vontade.

— Eu sou Liam, filho de Tibérias Kon Anthem, antigo líder da tribo Tchakada, a criança com o sangue dos imperadores.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Rainha de Vidro" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.