Isso não é uma carta de suicídio escrita por Beykatze


Capítulo 3
Namorado


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♥



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“Oi amor

Eu pensei se deveria escrever essa carta pra você ou não, por você achar que eu fico remoendo demais os assuntos, mas resolvi que sim, é necessário.

Nosso início de namoro foi maluco, bem comédia romântica, vamos encarar. Eu me lembro daquele dia como se fosse ontem.

Estávamos no cinema, primeira vez que saímos depois de meses de conversa, vimos um filme de terror ruim e eu fiquei esperando que você me beijasse, mas você estava tão tímido quanto eu e nem respirava na cadeira. Acabou o filme e fomos para a praça ao lado do shopping dar uma volta ao ar livre e tomar nosso sorvete.

Depois disso eu vi você comendo a bunda de uma garota com os olhos enquanto conversava comigo. Fiquei furiosa, te chamei de canalha e quis ir embora. Lembra que, totalmente do nada, começou a chover? Caiu o mundo na nossa cabeça quando eu me afastei. As gotas geladas pingavam na minha pele quando você segurou minha mão, me impedindo de ir embora, e me puxou para si, me beijando. Um beijo digno de Hollywood.

Pena que esse conto de fadas moderno não durou tanto tempo sem estupidezes. Teve um dia, uma merda de dia, que eu peguei seu celular para mandar mensagem para o nosso amigo e a conversa de antes terminava com você falando "é sério cara, muito gostosa" me senti mal por espiar, mas achei que você estava falando de alguma comida que eu tinha feito e fui ler pra inflar o ego de cozinheira. Ridículo.

Na verdade, após ler três vezes sem acreditar, descobri que você tinha ficado com uma menina e estava mandando mensagem para o Gabriel dizendo o quanto ela era "gostosa". Na mensagem, ainda me lembro bem, você disse:

Lauro: Gab . Fiquei com uma mina ontem. Foi só um beijo.

Gabriel: Uau, onde isso?

Lauro: Eu fui naquela festa da minha prima e essa menina ficou me dando mole cara. Mas pensa em uma mina gostosa.

Então você mandou um áudio dizendo, especificando com muita emoção, o quanto ela era gostosa.

Aquilo me quebrou. Eu juro que eu não me machucava mais, juro que estava quase perto de me gostar, mas aquilo me quebrou tanto e tão fundo que eu piorei tudo de novo. Voltei para a estaca zero da aceitação.

Não estou dizendo que você é pessoalmente responsável pela minha saúde mental e pela minha mutilação, isso seria ridículo. Mas é.”

Naiara respirou fundo, escrever aquilo estava sendo mais difícil do que esperava que fosse. E relembrar aquela história toda era algo muito duro.

Lembrava que, depois de ler as mensagens, correu para o banheiro na casa de Lauro e não chorou, apenas controlou a respiração estranhamente ofegante e acalmou a mente que corria sem parar. Em que época aquilo tinha acontecido? Eles tinham brigado? Ela estava sendo uma vaca? Por isso aquilo a aconteceu? O que estava acontecendo com eles naquele momento? Porque Lauro fez aquilo? O que tinha de errado com ela?

Eram tantas perguntas que sua cabeça girava até que fosse insuportável pensar. Jogou água no rosto e se concentrou em cantar uma música. Uma música boba, mas que ela sabia a letra inteira.

Depois disso, saiu do banheiro, os dois conversaram e aí Naiara chorou. O garoto explicou tudo calmamente, não era bem aquilo. Sim, ele tinha sido um babaca, mas fazia tempo, ele sentia muito e ficou por isso.

Olhando os fatos Naiara agora só se sentia tola. Mas tudo bem, porque os dois estavam bem.

Tentou não pensar nas noites mal dormidas se sentindo insuficiente e feia. Tentou não pensar no rosto da garota, cujo perfil do Facebook achou mais tarde, nem em quanto ela era mais bonita que ela. Ou mais atraente, mais encorpada, com peitos maiores, com bunda empinada e barriga pra dentro.

Tentou não pensar em como a garota, que agora era quase uma entidade de beleza que unia todos os atributos que faltavam a Naiara, também devia ser legal. Nem pensou nela estar fazendo o curso dos sonhos de Naiara, Culinária.

Sentiu que uma onda de tristeza congelante estava para chegar, então pegou o celular de cima das cartas, deixando-as voar pelo cômodo e correu para o sofá na sala, onde mastigou pedras de gelo para se distrair enquanto ligava a tv.

Sacou o telefone e digitou:

Naiara: Amor, tô triste.

Enviou a mensagem. Era muito mais complexo que estar triste, mas precisava só desabafar.

O som do gelo despedaçando sob seus dentes tranquilizou a mente inquieta.

Lauro: QQ deu?

Naiara: Não sei explicar.

Sabia, mas era demais para apenas algumas mensagens,

Naiara: O de sempre.

Ele sabia o que era o de sempre: estou me sentindo insuficiente, um lixo, feia e a culpa é sua, mas não posso dizer para não ferir seus sentimentos.

Lauro: Vc tem q superar isso Nai.

Lauro era um sábio e excelente conselheiro.

Naiara: Eu sei né. Eu faria se eu conseguisse.

Lauro: Vc só não consegue porque não quer.

Naiara encarou a mensagem indignada. Não podia acreditar naquilo. Antes que pudesse expressar sua raiva que agora substituía a tristeza, mais uma mensagem chegou.

Lauro: Vc é muito infantil, não consegue superar essas bobagens.

Lágrimas furiosas invadiram os olhos castanhos e Naiara rumou para o quarto, deixando o celular na sala. Lauro era ridículo. Ia escrever mais uma carta para se distrair e evitar mandar o garoto longe.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenhan gostado
E nao me odeiem por terminar o capítulo assim hahaha
Essa semana tem mais :D



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