Aniquilação Escarlate escrita por Drafter, Myara, Ocarina


Capítulo 2
Milionário


Notas iniciais do capítulo

Escrito por Myara

É com uma alegria imensa que estou aqui em mais um projeto com essa escritora, amiga e pessoa maravilhosa que é a Drafter, e agora na companhia da também incrível Ocarina, porque dois é bom, mas três é perfeito! E é graças ao apoio e inspiração nascida das nossas ideias loucas que escrevo.

Então sei que demorou para sair, mas espero que gostem e continuem acompanhando =)



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— Senhora Vogler, agradeço a gentileza de me receber.

Kurapika solenemente reverenciou a mulher à sua frente, que recebeu o gesto com um olhar de desdém antes de voltar a se sentar em sua poltrona dourada e carmim. 

— Agradeça ao meu advogado, foi ele quem me disse que eu deveria recebê-lo. Sente-se. 

Ele acatou a ordem seca dela, sem se incomodar. Preferia que as coisas corressem exatamente daquela maneira: direta e rápida. Era uma negociação, afinal. 

— Aceita algo? — A anfitriã ofereceu por mera formalidade. Em torno deles, nos cantos escuros dos aposentos, serviçais permaneciam ao aguardo de qualquer ordem, incluindo seguranças a postos caso alguma ameaça ocorresse sobre a vida da senhora.

— Não é necessário. Gostaria de esclarecer o motivo da minha visita sem mais delongas.

— A herança macabra de meu falecido marido. — Ela proferiu cada palavra como se cuspisse em algo que lhe causava revolta, o olhar cansado mirando algum ponto distante.

— Chegou ao meu conhecimento que após o senhor Vogler falecer, a senhora descobriu que ele possuía um acervo secreto de partes humanas e mumificações, itens de coleção que valem uma fortuna…

— Monstruosidades! — Ela o interrompeu. — Membros arrancados, corpos brutalizados, rostos contorcidos. Só Deus sabe o que fizeram com aquelas pessoas. Podiam ser aberrações, mas não mereciam ter suas vidas arrancadas assim só para se tornarem “itens de coleção” para sádicos como você.

O crucifixo no peito da senhora Vogler refletiu quando a respiração dela tornou-se exasperada, e com aquela imagem impressa na retina Kurapika fechou os olhos e respirou fundo. A mão direita, tão acostumada ao peso das correntes, cerrou-se com força antes que ele cautelosamente prosseguisse:

— Compreendo o que está dizendo — melhor do que você imagina, pensou —, mas entendo também que o melhor seria buscar uma forma de livrar-se desses itens antes que eles lhe causem mais transtornos. 

Gostaria de falar a ela sobre a possibilidade de pessoas sem escrúpulos, que a matariam e pilharam aquela mansão sem pensar duas vezes, estarem também interessadas naquela coleção, porém o olhar dos seguranças medindo cada movimento dele o preveniu. Seria fácil demais interpretar o conselho como ameaça, e ele não estava buscando por um confronto ali.

— Não é necessário se preocupar, eu sei perfeitamente o que fazer. — A resolução da voz dela fez com que Kurapika lançasse um olhar legitimamente interessado em sua direção. Talvez para aproveitar a chance de expor mais uma vez seu posicionamento sobre quem se interessa por aquele tipo de crueldade, a atenção dele a fez prosseguir: 

— Os itens que você se refere são restos mortais de seres humanos, são filhos de Deus. Rezo mais por suas almas do que pela do meu marido, que financiava esse tipo de prática maldita que só causa sofrimento. O fim mais digno que posso dar a elas é um enterro cristão, e é isso que será feito. Não estão à venda. — Após a ênfase obstinada, a senhora levantou-se e finalizou: — Rezarei por sua alma também para que encontre a libertação desse vício sórdido.

Sem esperar por uma resposta, ela virou as costas, pronta para retirar-se da sala e alheia ao fato de que Kurapika, que havia se levantado logo após, não estava disposto a encerrar a conversa ainda. 

— Senhora Vogler — o tom da voz dele estava mais frio do que antes. Gélido. O bastante para que os seguranças dessem um passo em sua direção. A senhora também virou-se para ele novamente, e ainda que estivesse surpresa, gesticulou para que os empregados permanecessem no aguardo.

Olhos vermelhos miravam os dela de forma inexorável.

— A senhora havia dito que só Deus sabe o que aconteceu com essas pessoas, mas eu sei o que aconteceu com o dono dos olhos escarlates que seu marido comprou. — Ele prosseguiu, com amargura. — Não me confunda com quem fez isso. Se alguém tem o direito de dar um enterro digno para aqueles olhos, esse alguém sou eu.

Os dedos finos da mulher lentamente alcançaram o crucifixo ao peito e ela abaixou o olhar, em silêncio. Após alguns segundos arrastados naquele suspense constrangedor, Kurapika respirou fundo e escondeu o rosto por trás da mão, buscando a calma perdida quando deixou os sentimentos o traírem.

Era para ter sido apenas uma negociação.

— Escute, por favor. Me dê um preço apenas para os olhos. Eu pago o que for necessário, e quanto ao resto… 

— Eu não preciso de dinheiro, rapaz. — Ela o interrompeu, e então apertou o crucifixo com força na mão. — Conte-me sua história, e a história de quem morreu para satisfazer a ganância de meu marido. Eu quero conhecer as almas pelas quais eu rezo.

 

[...]

 

Em uma manhã chuvosa, quarenta e quatro covas foram abertas em segredo, em um cemitério particular, para receber caixões de diversos tamanhos com restos mortais que antes faziam parte da coleção de um homem abastado. Em suas lápides, não havia nada além da frase “Aqui jaz uma ovelha do Senhor, abatida em nome da ambição do homem. Deus agora a recebe em seus braços.”

A viúva de Vogler, que solenemente assistia ao enterro, estava acompanhada somente pelo padre e por dois seguranças antes da chegada de Kurapika. Aos braços dela estava uma caixa de madeira que ela aninhava com cuidado. 

Ela fitou o recém-chegado, mas permaneceu em silêncio até que a cerimônia chegasse ao fim. 

— Sei que é seu por direito — ela disse com a voz baixa, afinal —, mas pedi ao padre que encomendasse essa alma também antes de te entregar. 

A senhora virou-se para ele e lhe estendeu a caixa que segurava. Quando Kurapika a tomou para si, o vidro dentro dela tilintou suavemente, e o crucifixo ao peito da mulher refletiu mais uma vez em seus olhos.

— Espero que você também encontre paz, filho.


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