New Legends Universe: Saga dos Titãs escrita por Phoenix M Marques W MWU 27


Capítulo 12
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Os deuses agitados - Parte 2



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Casa de Leão

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                        Lavou o rosto em seu quarto e se olhou no espelho. A barba continua aí. Ele sabia que seus irmãos logo iriam perturbá-lo para que fizesse a barba.

                        Seus pensamentos foram distraídos por uma presença sentida na Casa. Diabos, quem será dessa vez? Ele saiu do quarto, ainda de armadura, e foi para a área social.

                        Havia alguém na Casa de Leão. Uma garota morena, aparentando uns nove anos, de cabelo castanho, usando um vestidinho marrom, estava sentada diante de uma lareira, mexendo com gravetos no fogo. Seus olhos tinham o tom vermelho de chamas. Matt se encaminhou até ela.

                        Quando o cavaleiro parou diante do fogo, a garota ergueu a cabeça e sorriu para ele.

— Senhora Héstia – disse o cavaleiro. – É um prazer vê-la.

                        Ele inclinou a cabeça. Héstia ergueu a mão.

— Que a benção do Olimpo lhe proteja, querido – disse. – Também é bom te ver.

                        Matt se ajoelhou diante da lareira.

— O que a traz aqui, minha senhora?

                        Héstia parou de sorrir, e deixou de mexer no fogo.

— Lembra-se da guerra do Olimpo, meu querido? Ainda tem o meu presente?

                        Ele se levantou, e foi buscar uma pedra vermelha, pendurada à parede: a pedra sagrada que Héstia havia lhe entregado após o fim da Guerra do Olimpo, com o símbolo de um elefante imponente e ancestral. Matt reparou que agora a pedra estava mais quente, talvez devido à presença da deusa.

                        Ele depositou a pedra ao lado da lareira.

— Vim, na verdade, ter com Atena – afirmou Héstia. – Mas há pessoas aqui no Santuário com quem eu preciso me preocupar.

— Meus amigos – arriscou Matt. – A senhora nos deu seus metais lendários há quinze anos.

— Verdade. Poseidon, Hades e Zeus já estão pressentindo algo ruim para o Olimpo. O que quer que seja, eu me senti na obrigação de visitá-los para alertá-los... Na falta de um termo melhor.

                        O cavaleiro de Leão olhou para a pedra, para a lareira e depois para Héstia. Refletiu sobre as visitas de Osíris, Poseidon e Antenor, e o fato de Hades ter visitado Betinho.

— Você se recorda, Matt, da minha função? – perguntou ela. – Sou quem resta quando há conflitos envolvendo os olimpianos: o lar. A lareira. A última olimpiana.

— Por isso, devemos nos lembrar da senhora quando... – ele hesitou. – Quando estivermos com a esperança por um fio.

                        A deusa sorriu descontraída.

— Mesmo usando termos coloquiais, você fala bem, querido. Você e seus amigos ainda são, até hoje, os únicos mortais que conseguiram dar uma lição de família à deusa da família. Lembra?

                        Matt assentiu. E pensar que ele já havia erguido a mão contra Héstia.

— Eu procurei guiá-lo – continuou ela. – Fiz você instruir sua irmã. Fiz você encontrar seus irmãos. Você desenvolveu um laço de companheirismo forte com seu primo. Você tem uma relação boa com a mulher que ama. Em tudo, Matt, você tem a benção de Héstia. A benção da família.

                        Ainda de pé, ele fungou.

— Não sei como lhe agradecer, bondosa senhora – declarou.

— Seus amigos também podem contar comigo – disse Héstia. – Eles também são bondosos. Tanto que os deuses, a minha família, resolveram protegê-los. Héstia fará de tudo para abençoá-los. Mas, primeiro, precisava conversar com você, querido.

— Sobre...?

— Você é, digamos, um cavaleiro extremamente social – afirmou ela, sorridente. – Faz amizades facilmente... Até com pessoas diferentes de você.

                        Matt franziu o cenho e coçou a cabeça.

— Ah, bom... Eu não tenho preconceito – admitiu ele.

— Mas também demorou a aceitar ser amigo de algumas pessoas – falou Héstia. – Pessoas que também são protegidas de Héstia.

— Ahn, são, minha senhora?

— Sim. – Héstia juntou as mãos. – Perseu Jackson. Matt Stick. Robert Langdon. Todos foram abençoados às suas maneiras.

                        O cavaleiro tentou se lembrar o que a benção de Langdon tinha a ver com família, mas achou melhor não perguntar.

— Você não simpatizou com eles a princípio – recordou a deusa. – Mas agora são seus amigos. Você não tem o que reclamar das bênçãos de Héstia, meu rapaz.

                        Matt pôs-se a andar, pensativo. Héstia tinha razão: ele havia se precipitado várias vezes ao conhecer pessoas de outras esferas. Matt Stick – um bruxo. Robert Langdon - um mortal.  Percy Jackson – um meio-sangue. Mesmo assim, os quatro compartilhavam de alguma maneira a benção da família. O cavaleiro não tinha o que questionar...

                        Ele parou de andar. Havia uma questão, perturbando seus pensamentos. Só não sabia se era algo da esfera de Héstia.

— Hm, não quero incomodá-la, senhora, mas tem uma coisa que eu quero perguntar – começou ele, virando-se para a garota. Mas, ao olhar bem para ela, ele estacou.

                        Aquele rosto. Aquele cabelo. Aquela voz. Ele não via aquele perfil há anos, mas ainda se lembrava vivamente.

                        Héstia também estranhou a mudança no comportamento de Matt.

— Tem algo errado, meu querido?

— Como eu nunca percebi isso? – disparou ele de repente, olhando a deusa menina mais atentamente. – Todos esses anos e eu nunca...

— O quê? – perguntou Héstia. – O que houve, Matt?

— Senhora, me perdoe por dizer isso... – O tom dele era hesitante. – É que o seu perfil lembra-me muito o de uma amazona que habitou aqui há quase vinte anos, chamada Thayná de Ave do Paraíso.

                        O olhar de Héstia se tornou mais penoso ao ouvir isso.

— Querido, não precisa se desculpar. Mas peço que perdoe a mim pelo que vou lhe dizer agora...

                        Matt se endireitou para ouvir, esperançoso.

— Eu conheço essa sua amiga, mais do que você imagina – declarou Héstia.

— Ela morreu, minha senhora, quando Hécate e Hebe invadiram o Santuário – recordou Matt. – E eu não pude fazer nada para...

— Ela NÃO morreu, Matt. – O tom de voz de Héstia se elevou um pouco, para fazer o cavaleiro prestar atenção. – O meu perfil e o dela são parecidos por uma razão. Depois da explosão que ocorreu no Santuário, quando Hécate declarou guerra, ela ficou perdida nos escombros, e todos pensaram que ela havia morrido, inclusive você. Mas aí eu apareci para ela.

                        Matt arregalou os olhos.

— E a senhora...

— Querido, o destino dela a guiou naquele dia, e a salvou. Ela nasceu predestinada a ser minha encarnação. A alma dela foi para o Elísio, e o corpo dela e o meu agora são o mesmo, ao menos quando apareço na forma de criança. Até a armadura dela, a de Ave do Paraíso, era uma indicação para mim. Nas nossas batalhas anteriores, eu já imaginava que você e seus amigos teriam percebido isso.

                        Matt estava pálido e sem força após o discurso de Héstia.

— Eu gostava muito dela, minha senhora... Essa era a minha pergunta.

— Sobre o que havia acontecido com ela, ou sobre o porquê de ela lhe ter sido tirada?

— As duas coisas – disse ele, desconsolado.

— Meu querido, tudo na vida é guiado pelo destino – explicou Héstia, com um tom maternal. – O destino a guiou até mim. E guiou você à pessoa que você realmente ama, que você sempre amou... A Bella. E essa foi a sua benção de Héstia. Clarear a sua mente para esse intuito.

                        Matt ergueu a cabeça e contemplou a menina-deusa.

— Perdoe-me, senhora.

— Não se preocupe, filho – retrucou ela. – Sabe, talvez tenha sido a presença dela que fez com que eu me afeiçoasse a você. No fundo, ela ainda está aqui, entre nós, guiando você e seus amigos.

                        Ele pareceu se confortar com a mensagem, e se ajoelhou defronte à deusa.

— Eu agradeço, senhora – disse. – Mas, se Thayná sempre esteve com a senhora, por que a senhora tentou nos matar durante a Guerra do Olimpo?

                        Incrivelmente, Héstia deu um risinho de menina que só Thayná conseguia dar.

— Meu querido, eu não estava agindo por conta própria, não é mesmo?

                        Matt sorriu de leve, e inclinou a cabeça. A deusa pronunciou uma benção em grego antigo sobre ele, e desapareceu na lareira em seguida.

            O cavaleiro de Leão fez uma anotação mental de que precisava parar de questionar os deuses olímpicos por seus atos do passado. Um deus podia ser poderoso e raivoso, mas um deus manipulado por outros fatores ou por outros seres ou deuses, sempre era ainda mais raivoso e destrutivo. Quase todas as batalhas que ele e seus amigos haviam passado antes ilustravam isso.

            Aquilo o fez pensar também que poderia haver infiltrados e entidades manipuláveis debaixo do nariz do Olimpo já naquele momento, como prenunciado por Héstia e os demais deuses, em face dessa potencial nova ameaça diante deles. A reclamação de Hades sobre o odor e a postura fechada dos egípcios pareciam ser indícios de que algo grande estava por vir. O Santuário precisava se preparar desde já, para não correr o risco de ser pego de surpresa.


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