Nada é real até que se acabe escrita por asthenia


Capítulo 18
As verdades de Neji Hyuuga


Notas iniciais do capítulo

As férias facilitaram a minha vida para isso: capítulo novinho pra vocês!
Alguma leitora me perguntou há um tempo se eu ia citar Neji nessa história e ela acertou EM CHEIO! Eu amo esse personagem, demais!
Para vocês entenderem, nesse capítulo os flashbacks vieram no meio da história. Eles estão em itálico, entre dois pontos.
Eu espero que gostem! ♥



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“Every night you cry yourself to sleep

Thinking, ‘Why does this happen to me?

Why does every moment have to be so hard?’

Hard to believe it.”

 

“Toda noite você chora até dormir

Pensando ‘Por que isso acontece comigo?

Por que todo momento tem que ser tão difícil?’

Difícil de acreditar.”

 

Seu teto continuava desinteressante, mas seus olhos não conseguiam se desviar dele. O relógio marcava quatro e quarenta e sete da manhã. Quase duas horas mais cedo do horário que deveria se levantar. Suspirou alto, ainda encarando um ponto qualquer acima de si mesma. A dor continuava ali, estancada. Não sabia se havia sonhado com ele, ou se dormiu nas lembranças. Mas doía. O tom não era mais o mesmo. Sentia falta de cor, de gostos, de cheiros. Da pele quente dele contra a dela. Do sorriso que lhe era exclusivo. Do jeito fácil que ele agia.

As lágrimas escorreram pelos lados de seu rosto. Não impediria seu choro. Era ela, sozinha, naquele apartamento, em seu quarto quando o resto do mundo ainda estava dormindo. Só queria que sua cama lhe abraçasse e que ela não tivesse que sair até que seu coração estivesse inteiro, batendo em seu peito em perfeito estado. Virou-se para sua janela, pela fresta da cortina assistiu o dia amanhecer. Chorou mais uma vez por não ser capaz de apreciar o nascer do sol completamente, quando ainda se sentia destruída. Já haviam se passado três semanas. Será que não iria se sarar nunca?

Lembrou-se de seus amigos se despedindo dela no aeroporto. Do abraço apertado de Sakura e Ino. Lembrou-se que chorou ali, antes de partir para o embarque. Das noites que se seguiram já quando estava de volta a Kumo, em seu apartamento, lembrando-se dos beijos contra seu pescoço, das vezes que ele disse que a amava, da noite que dormiram juntos. Sentia seu peito apertar. Ainda não tivera coragem em apagar as últimas mensagens dele de seu celular, tampouco em abri-las de novo.

Hinata voltou a sua rotina, sentindo-se mais solitária do que antes. Acordava, tomava seu café com torradas na cozinha. Pegava seus materiais e partia para a escola em que lecionava. No metrô não andava mais do que três estações. Na escola, lecionava até o meio da tarde, voltando para casa, parando em algum mercado para abastecer sua cozinha e terminava seu dia assistindo alguma série, ou filme, ou preparando aulas. No entanto, seu sentimento de solidão era quase insuportável, principalmente quando via casais sorrindo espontaneamente pelas ruas, ou quando sua cama parecia grande demais. Nos dias que passavam tinha esperança que encontraria forças para acordar no dia seguinte, evitar pensar nele, e seguir como se tudo o que havia vivido nos poucos dias que esteve em Konoha fossem apenas doces lembranças de um passado distante.

Em um desses dias a diretora da escola pedira a ela que ministrasse aulas de reforço a alguns alunos que estavam prestes a se formar. Ela aceitou, sem demora, pronta para mais uma desculpa para manter sua cabeça ocupada.

Quando as aulas acabavam, ou entre nas pausas entre as aulas, Hinata costumava ir para a sala dos professores para seu descanso ou comer alguma coisa. Ao encaminhar até lá encontrou outras professoras que também estavam administrando aulas de reforço. Era incomum se encontrarem, já que normalmente tinham horários diferentes.

— Você é de Konoha, certo? – Perguntou Yugito, uma mulher que passara dos trinta anos, de olhos escuros e cabelos loiros, lisos. Hinata concordou. – Parece ser um lugar muito bonito.

— É, bastante. – Sorriu, voltando sua atenção ao iogurte que tomava.

Uma outra professora, Amaru, entrou na sala, carregando alguns livros. Amaru parecia ser tão jovem quanto Hinata. A ruiva cumprimentou assim que chegou e ligou a pequena televisão do local, colocando em um canal específico.

— Vocês se importam se eu ligar a tevê? – Hinata e Yugito negaram. – É que quero assistir as notícias de hoje. Vão falar sobre a eleição a Hokage de Konoha.

A Hyuuga parou, por um momento. Seu coração batia rápido em seu peito.

— Hinata é de Konoha, sabia?

— É mesmo? – Amaru se aproximou, olhando-a. A mulher tinha os cabelos compridos castanhos-avermelhados, e belos olhos azuis. – Você deve conhecer o novo Hokage então, Naruto Uzumaki.

Hinata se mexeu incomodada, em sua cadeira. Sentiu suas bochechas esquentarem. Se fosse possível, ela sumiria dali.

— Eu o conheço sim.

— Não ligue para Amaru. – Yugito disse, revirando os olhos. – Ela faz parte do fã clube dele.

— Qual é Yugito, você já viu aquele homem? Ele é maravilhoso. – Disse, rindo. Voltou sua atenção a Hinata. – Da onde vocês se conhecem?

Voltou sua concentração ao iogurte.

Não vá chorar agora, Hinata. Não faça isso. Aja naturalmente.

— Nós estudamos na mesma escola. – Respondeu simplesmente.

— Eu acompanhei a campanha toda dele. Soube que ele tem um projeto social bem interessante. – Amaru se sentou do outro lado da mesa. – Acho que ele será ótimo para Konoha, não é? Junto ao prefeito.

— Chega de babar no cara, Amaru. – A loira apontou para a tevê. – Olha, vão falar dele.

Na tela, uma repórter de cabelos curtos sorria.

Estamos aqui na prefeitura de Konoha esperando para que o novo Hokage, Naruto Uzumaki, assuma oficialmente sua posição. O candidato eleito semana passada defende causas sociais como a ampliação de um centro social para crianças órfãs e carentes. O jovem de vinte e quatro anos trabalha junto a prefeitura desde que iniciou seus estudos na universidade de Konoha. Junto a prefeitura, ele é uma das grandes revelações nesse cargo.

— Viu só, Yugito? Além de gato é consciente.

Yugito apenas riu. Hinata não tirava seus olhos da tela da tevê, sentindo seu coração se apertar.

Acabo de receber aqui no ponto eletrônico que ele irá começar seu discurso de posse. Vamos acompanhar.

A cena muda para um palanque. De repente, Naruto aparecia, caminhando até um microfone no meio do palanque improvisado. Vestindo uma camisa social, blazer, e uma calça lisa. Seus cabelos continuavam bagunçados como conhecia. Ele sorria, recebidos por palmas e flashes de câmeras. A saudade encheu o peito da Hyuuga, que era difícil de calar.

— Obrigado a todos que estão aqui. Aos meus amigos, aos apoiadores dessa campanha e aos que acreditaram em mim. — Ele sorria, olhando a todos. A Hyuuga pôde perceber que ele estava nervoso. Seus dedos se apertavam.— Eu espero que possamos fazer um grande trabalho na prefeitura. Obrigado!

Ele sorriu uma última vez antes de descer do palanque. A imagem da repórter voltou a tevê.

Com um discurso curto, temos então o novo Hokage de Konoha. Na próxima semana começarão as inscrições de novos patrocínios para que seu projeto social seja iniciado. Empresas que tenham interesse é só entrar em contato com a prefeitura de Konoha. De volta ao estúdio.

— Acho que ele será um bom Hokage.

— Com toda certeza do mundo, Yugito. – Amaru suspirou olhando para a tevê. – Isso tudo não é só beleza não. Ele é um cara completo! Você não concorda, Hinata?

Perdeu a fala. Os olhos de suas colegas se focaram nela e Hinata não soube o que dizer. Antes que passassem mais tempo em silêncio, a porta da sala se abriu. Samui, sua diretora, aparecera, chamando-a. Hinata pediu licença, saindo dali aliviada por fugir da pergunta de Amaru.

— Desculpe interromper, é que há alguém nos jardins da escola que está a sua procura.

— Tudo bem. – Sorriu. – Desculpe, mas a pessoa se identificou?

— Diz ser uma amiga sua.

—/-

Hinata caminhou até a entrada da escola e viu de longe alguém a esperando nos jardins, olhando para o horizonte, do o outro lado. Ao aproximar, surpreendeu-se a identificar quem era.

— Tenten?

A morena sorriu a Hyuuga.

— Oi Hinata! – Disse, aproximando-se. – Como está?

— Estou bem. – Retribuiu o olhar, sorrindo. – Que surpresa vê-la por aqui.

— É, eu sei que nunca fomos muito próximas. – Desviou o olhar um pouco sem graça. – Sei que deve achar bem estranho essa visita. Eu precisava conversar com você. Está ocupada?

— Na verdade não, já terminei minhas aulas de hoje.

 - Conhece algum lugar por aqui que possamos ir para conversar?

—/-

O café não era longe da escola, apenas meio quarteirão de caminhada. Assim que chegaram, escolheram uma mesa na parte externa. Sentaram-se e fizeram seus pedidos que em poucos segundos já estavam na mesa.

— Já esteve antes em Kumo? Quer dizer... – Seu olhar ficou triste. – Além do funeral de Neji.

Tenten voltou seu olhar a Hinata, respirando fundo.

— Já sim. Eu estive aqui outras vezes e é por isso que procurei você. – Hinata a olhou sem entender. Tenten abriu sua bolsa, tirando algo de lá, e entregando a Hyuuga. Era uma fotografia em belo porta-retratos.

Assim que Hinata olhou, instantaneamente seus olhos se arregalaram. Na foto estava Tenten e atrás dela Neji, abraçando-a por trás. Ambos estavam em um parque conhecido em Kumo.

— Neji e eu éramos noivos.

Hinata encarou Tenten. Se viu sem palavras. Nunca soubera de nenhuma relação íntima de Neji. Sabia que Rock Lee e Tenten eram grandes amigos dele, mas nada além disso. Nunca desconfiara de nada.

— Noivos? Por que nunca disseram nada?

Tenten tomou eu café, suspirando alto.

— Neji e eu nos conhecíamos desde a escola. No último ano do ensino médio nós nos aproximamos e durante um tempo houve algo entre nós, sabe? – Sorriu, encarando sua xícara. – Nós vivíamos nos beijando as escondidas. Naquele tempo decidimos não contar nada a ninguém e eu sinceramente duvidava que ficaríamos juntos mais do que algumas semanas. - Encarou Hinata. - Mas nós nos apaixonamos. Eu era louca por ele, você não faz ideia. Só que seu primo não queria que nada atrapalhasse sua carreira e ele duvidava que seu pai deixaria que nós ficássemos juntos. Então, terminamos. – Tenten respirou fundo. – Incontáveis vezes. Mas no fim a gente sempre acabava voltando. A briga era sempre a mesma, sobre a nossa relação às escondidas. Ele ainda não queria que seu pai e vocês soubessem que estávamos juntos. Achava que seu pai iria fazer de tudo para que a gente se separasse, já que ele era de alta confiança de Hiashi. Até que eu dei um basta a ele e foi então que surgiu essa oportunidade aqui em Kumo. Neji disse que viria, iria crescer como advogado, ficar independente de seu pai, e que depois nós dois construiríamos nossa vida juntos. Foi então que tudo aquilo aconteceu com você. – Hinata baixou o olhar envergonhada. – Neji ficou revoltado e não achava uma boa ideia você continuar em Konoha. Ele quis que você fizesse o mesmo que ele: fugisse.

— Eu juro que não fazia ideia. Neji sempre foi fechado, recluso. Eu sinceramente lamento por ter atrapalhado os planos de vocês.

Tenteu a encarou.

— Eu não fiquei chateada que você viesse morar com ele, não é isso. Você não atrapalhou nossos planos. Eu não aprovava que Neji te instruísse a fazer o mesmo que ele. – A Hyuuga olhou sem entender. – Olha, eu entendo que você e sua família visse Neji como um gênio, um exemplo a ser seguido. Porém as coisas não eram exatamente assim. Neji não saiu de Konoha para mudar de vida, ele queria fugir. E isso nunca fez bem a ele ou a mim. Seu primo me amava, eu sei. No entanto não assumia isso para o mundo pois achava que esse amor era sua fraqueza, e que eu não me encaixava nos padrões da sua família. Quando tudo aconteceu a você e a Naruto, para ele era uma comprovação dessa ideia estúpida.

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Seus olhares cruzaram. Neji voltou sua atenção aos papéis sobre a mesa.

— Me diga que isso é mentira, Neji.

— Isso é pelo bem de Hinata. – Disse, enquanto alinhava os arquivos.

Tenten soltou o ar, incrédula.

— Bem? Que bem você está fazendo? Ela vai sair fugida de Konoha, é isso?

O Hyuuga guardou os papéis em uma pasta.

— Ela vai reconstruir a vida dela longe. É só isso. – A morena parou a frente dele. – Isso fará bem a ela.

— Hinata tem que ficar e enfrentar a situação. Não importa o lugar que esteja, ela vai levar isso com ela. Por que os dois não conversam de uma vez para resolver as coisas?

— Você se esqueceu da humilhação? Do constrangimento? – Encarou sua namorada. – Sem contar que ele não está à altura de Hinata em nenhum aspecto.

O Hyuuga viu a expressão de incredulidade de sua companheira. Percebeu que havia falado demais.

— Então eu também não estou à sua altura.

— Não diga besteira, Tenten. Vocês são pessoas diferentes.

Ela pegou sua bolsa, colocando em seu ombro.

— Não, não somos. Assim como ele não tenho um sobrenome de peso, ou dinheiro o suficiente. Não fale mais comigo.

A morena partiu, sem olhar para trás.

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Hinata nada disse. Pensava nas palavras de sua ex-colega de escola. Seus olhos se desviaram para a paisagem de pessoas andando pelas redondezas. Respirou fundo antes de voltar a encarar Tenten.

— Eu sei que pode ser difícil de acreditar agora, mas vir a Kumo me fez muito bem.

— Neji me disse isso, assim que você começou suas aulas na universidade. – A morena sorriu. – Ele sempre teve orgulho de seu progresso.

— Eu também lhe peço perdão pela minha família. – Suas bochechas ficaram levemente coradas. – Por muito tempo papai acreditou nessa besteira de ter um sobrenome, posses. Eu não duvido que na época meu pai interferisse no relacionamento de vocês. – Respirou fundo. – Porém hoje eu duvido que ele fizesse algo parecido.

A morena sorriu a Hinata.

— Fico muito feliz por isso. No entanto, meu maior problema com seu primo era ele mesmo. – Tomou um gole de café. – E isso se comprovou ser verdade quando Naruto esteve aqui. Eu não sei do que você soube Hinata, mas há muitos detalhes importantes dessa história. Eu vim até aqui te contar tudo o que aconteceu.

Hinata engoliu em seco.

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Estava distraída com um programa qualquer que passava na televisão, quando seu telefone tocou. Tenten deslizou seu polegar na tela, respondendo a ligação de vídeo.

— Já está em casa?

— Não, estou no carro. – Tenten logo identificou que seu noivo estava dirigindo quando viu a câmera mal posicionada, atrás do volante.

A morena o conhecia bem. Neji nunca ligava quando estava dirigindo.

— O que aconteceu?

— Naruto esteve hoje no escritório.

Tenten encarou a tela de seu celular, sem entender. Neji mantinha seus olhos na estrada.

— Naruto Uzumaki...?

— Ele mesmo. – Respirou fundo. Sua expressão era impassível. – Foi atrás de mim pedindo que eu lhe desse o contato de Hinata.

— Se acalma, Neji. – Tenten se levantou, caminhando para sua cozinha, com o celular em mãos. – Conte direito. Eu quero detalhes.

O Hyuuga bufou.

— Ele chegou lá, com um buquê de flores, pedindo para falar comigo. Quando ele entrou na minha sala disse que queria o endereço e o contato de Hinata, que queria esclarecer as coisas com ela.

Tenten enrugou a testa.

— E qual é o problema disso?

Neji olhou rapidamente para seu celular.

— Você se esqueceu do que ele fez a Hinata?

Ignorando a feição impaciente de seu noivo, Tenten bufou.

— Isso já foi há dois anos, Neji.

— Ele não mudou em nada, Tenten. Nada. O mesmo irresponsável de sempre. Estava em um ambiente de classe, se vestindo de qualquer jeito, falando alto. Ficou insistindo que eu falasse a localização de Hinata, como se eu lhe devesse alguma coisa! – Falou alto.

A morena ficou alguns segundos em silêncio, escolhendo as palavras certas, evitando uma possível briga com seu noivo.

— Naruto está fazendo um ótimo trabalho por aqui. Ele tem um cargo de confiança na prefeitura, está planejando se candidatar a Hokage, além de ser um atleta que joga pela universidade de Konoha.

Neji respirou fundo.

— Isso não muda a sua postura.

— Pois eu o admiro por ter ido até aí. – Cruzou os braços. – Não é só postura que define o caráter de alguém. As atitudes definem muito mais. Não somos todos privilegiados por termos vindo de um clã de renome.

Tenten percebeu que Neji provavelmente estava estacionando o carro. O moreno nada disse por alguns minutos.

— O que você disse a ele?

— Que eu não iria dar a localização de Hinata. – Viu o rosto de seu noivo aparecer completo na câmera. – Que ali não era o lugar dele, que ele tinha que deixar Hinata em paz de uma vez por todas. E que.... Que ele era inadequado.

Tenten balançou a cabeça, incrédula.

— Como você pôde falar com ele assim?

— Eu só estou protegendo a Hinata.

— Não, Neji. Você está sendo um preconceituoso idiota! – Falou alto. – Você não pode falar assim com as pessoas!

Encarou sua noiva pelo celular.

— Naruto magoou Hinata!

— Não importa! Isso não é problema seu! Deixe que ela decida como resolver essa situação.

Neji baixou o olhar após a repreensão de sua companheira.

— Eu só estou tentando proteger a minha prima.

— Você tem que dar uma nova oportunidade a ele.

Neji bufou, cruzando os braços.

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— Depois disso Neji conseguiu contato de Naruto através da recepção do prédio do escritório. Ele mandou uma mensagem logo pela manhã, chamando Naruto para que conversassem.

Sentiu seu coração se apertar.

— Eu não sabia que Neji tinha dito tantas coisas terríveis assim ao Naruto.

Tenten olhou sua amiga.

— E essa não foi a primeira vez. Um pouco antes de você se mudar para Kumo, Naruto foi até sua casa e ficou berrando seu nome na porta. – Hinata se surpreendeu. – Ele estava bêbado. Disse que precisava falar com você, mas você não estava em casa. Neji o destratou e pediu que ele sumisse.

Sentiu seus olhos encherem d’água. Lembrou-se da última conversa que eles tiveram, o quanto havia sido ríspida, defendendo Neji.

— Por que Neji fez isso? Por que ele nunca me contou nada disso?

Tenten suspirou alto.

— Ele achava que estava te protegendo. Neji errou muito, Hinata. Mas ele nunca deixaria que você ou sua família soubessem desses erros.

Hinata colocou sua cabeça entre suas mãos, desolada.

— Mas ainda não acabou. – As duas se encararam. – Tem mais coisas eu você precisa saber.

.

.

Assim que a secretária avistou Neji entrando em sua sala, levantou-se rapidamente, segurando algumas correspondências.

— Bom dia Neji-sama.

— Bom dia, Tomoko. – Sentou-se. – Como estão meus compromissos hoje à tarde?

— Nada de muito relevante, apenas alguns clientes que o senhor Chinoike quer que você atenda.

— Está bem. – Neji se sentou confortavelmente na cadeira. – Sabe aquele loiro que esteve aqui ontem? – A secretária concordou. – Ele virá essa tarde de novo. Peço que o encaminhe imediatamente a minha sala, por favor.

— Claro. Aqui estão as correspondências que chegaram hoje.

Tomoko entregou nas mãos de Neji e saiu da sala. O Hyuuga passou a folhear os envelopes. Propagandas, contas a pagar, nada incomum. A não ser um envelope pardo. Olhou dos dois lados antes de abri-lo. Em uma das laterais havia apenas escrito “Endereçado a Neji Hyuuga”. Abriu o envelope, encontrando algumas fotografias. Ao olhá-las com atenção, seus olhos se apertaram, com raiva. Era Naruto rodeado de mulheres seminuas, sorrindo. Atrás das imagens, havia a data em que foram tiradas e o local, escrito manualmente.

No mesmo dia em que Neji decidira dar mais uma chance a Naruto, ele havia ido a uma boate de strippers em Kumo. Rangeu os dentes, irado.

—/-

Surpreendeu-se quando foi bem atendido pela secretária de Neji, que parecia estar lhe esperando. Mais uma vez, com um buquê diferente nas mãos, voltou ao escritório do primo de Hinata. A noite anterior lhe era um borrão – lembrava-se que um simpático assistente do escritório viera falar com ele, após ser escorraçado do local pelo Hyuuga. O tal ofereceu leva-lo a algum lugar para que se acalmasse. O problema era que o local era uma boate repleto de mulheres seminuas. Frustrado e com raiva, Naruto bebeu mais que o normal. No dia seguinte acordara no hotel, com seu celular vibrando. Neji lhe chamava para conversarem mais uma vez no escritório, à tarde. Não se lembrava dos detalhes da noite e preferiu não pensar muito no assunto. Queria aproveitar a nova oportunidade para conversar com Hinata.

Assim que entrou na sala, Neji o esperava de braços cruzados. Quando seu olhar encontrou o olhar frio do Hyuuga, sentiu sua pele arrepiar. Seu nervosismo não era mais devido a nova oportunidade – havia outra coisa no ar.

— Boa tarde, Neji. Obrigado por-

— Deixe que eu falo. – O moreno interrompeu. – Preciso que me responda. Você se diverte com a minha cara? Ou melhor, você se diverte fazendo menos da minha família?

Os olhos de Naruto se abriram, assustados.

— O quê? É claro que não. Por que você acha isso?

O advogado saiu de trás da mesa, parando na frente de Naruto, a pouca distância.

— Você vem até Kumo dizendo que precisa resolver as coisas com minha prima. Você sai de Konoha empenhado, sem ter noção nenhuma de comportamento, compra um buquê qualquer, ensaia um discurso barato pronto para me convencer, e depois isso? – Neji levantou as fotografias, mostrando-as a Naruto. – Me diga, Naruto. Você veio para Kumo para conhecer as mulheres daqui e quis aproveitar para ver Hinata?

Sua voz sumiu. Da onde surgira aquelas fotos que ele não se lembrava sequer de ter as tirado? Era ele, no boate da noite anterior, e as mulheres seminuas.

Apertou o buquê com força

— Não Neji, não é nada disso. – Sentiu suar. – Acredite em mim, eu vim até aqui para falar com Hinata! Todos os dias durante esses dois anos que passaram eu pensei nela! Eu juntei um dinheiro, esperei uma oportunidade e eu só vim até aqui falar com ela! – Naruto desviou o olhar de Neji. – E-Eu saí daqui ontem puto com a situação, com o jeito que você falou comigo... Aí... Aí um dos assistentes do seu escritório me viu mal e ele me chamou pra sair, pra eu me acalmar... Eu não me lembro o nome dele. Nós acabamos nessa boate.... Eu bebi demais e... Eu não me lembro de mais nada.

Neji o puxou pela gola da camisa, encarando-o.

— Acha que eu sou idiota? Acha que vou acreditar em você? – Seus dedos se curvaram no tecido.

Naruto via a raiva nos olhos perolados do Hyuuga.

— Eu juro que estou dizendo a verdade! Eu sei que não agi certo, mas eu tava nervoso, eu não sabia o que fazer-

— E aí você decidiu encher a cara! Ia gritar o nome de Hinata pelas ruas?! – Olhou-o profundamente. –  Nada mudou. Você ainda é o mesmo irresponsável de dezessete anos. – Soltou o Uzumaki. – Você continua sendo inadequado, inconveniente!

O moreno caminhou até a porta de seu escritório, abrindo abruptamente. Assim que a porta fora aberta, todos do lado de fora encaravam os dois. Neji era conhecido por ser sempre sério e contido no escritório. Vê-lo aos berros era uma surpresa.

— Vamos, Naruto. Me diga, quem daqui de dentro te levou a uma boate de strippers ontem?

Todos encaravam o loiro em silêncio, que passeou os olhos no local. Suas mãos tremiam. Não reconhecia nenhum rosto ali. O assistente não estava ali.

— Ele não tá aqui. – Virou-se para Neji. – Ele tinha os cabelos claros, não era muito alto, era-

— Chega, Naruto! Eu quero que suma daqui e não volte mais!

As pessoas continuam observando os dois.

— Neji, você precisa me ouvir!

— Você só envergonha. A mim e a minha família. Tomoko. – Neji chamou sua secretária. – Chame os seguranças para tirá-lo daqui.

Naruto respirou fundo, já em desespero, sem saber o que fazer.

— Não precisa. Eu vou sozinho.

Por uma última vez, Neji olhou para ele.

— Não se aproxime de Hinata ou então eu coloco uma medida protetiva contra você. Me faça um favor: desapareça.

O Hyuuga fechou a porta com força. O Uzumaki saiu do local, envergonhado pela humilhação, enquanto continuava sendo observado por todos.

.

.

— Eu sei... Neji estava tentando te proteger de tudo. Mas ele não deveria ter agido assim.

Hinata juntou seus braços a seu corpo, evitando olhar para Tenten.

— Neji sempre me protegeu. Sempre cuidava de mim.

Tenten sorriu a ela, mesmo que Hinata não a estivesse olhando. Respirou fundo.

— Quando seu primo me contou o que aconteceu, eu estranhei tudo. A forma com que as coisas aconteceram, como Neji ficou sabendo.

Hinata respirou fundo, mordendo os lábios.

— Sabe... Naruto é impulsivo. Talvez ele não tenha pensado direito em tudo.

— Não isso. – Tenten arrumou sua postura na cadeira, olhando para Hinata. – Quem tirou as fotografias e as enviou? Como que Naruto conhecia aquela boate se era a primeira vez dele em Kumo? Era óbvio o que tinha acontecido. Neji sempre foi muito inteligente e assim que a sua raiva passou, ele concordou comigo. Aquilo foi uma cilada.

A testa de Hinata enrugou, porém ela logo percebeu.

— Toneri.

Tenten concordou.

Hinata fechou seus olhos com força. Até onde Toneri estava disposto ir para atingir Naruto?


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Notas finais do capítulo

Música do capítulo é "Won't Go Home Without You" do Maroon 5.
Atualmente eu estou postando a história também no Spirit. Meu nome por lá também é asthenia. Os capítulos estão um pouco mais atrasados que aqui, mas todos postados lá estão sendo revisados.
Obrigada a todos que estão acompanhando e comentando, vocês são demais!
Próximo capítulo teremos mais Neji! ♥



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