The Phantom Agony escrita por Yuma Ashihara


Capítulo 7
O verdadeiro Jeon Jungkook


Notas iniciais do capítulo

Opa! Vejam só quem renasceu das cinzas outra vez! Primeiramente peço desculpas pela demora em trazer uma atualização para esse projeto tão maravilhoso e lindo, e também tão pessoal para mim.

A verdade era que estava passando por um longo período de bloqueio, mas disse para mim mesmo que iria me forçar a escrever quando conseguisse um tempo de férias no trabalho... E ainda bem que o fiz, minha inspiração voltou, e estou com a mente fervilhando de ideias.

E já estou com todo o planejamento da fanfic até o final, então o trabalho mesmo será apenas escrever e seguir com o que foi planejado.

Espero que gostem do capítulo! Boa leitura!



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Não demorou muito para que a situação ficasse mais, digamos, complexa. Ninguém ali estava bem. Nas poucas vezes em que reencontrei Jimin pude perceber como ainda estava arrasado e se culpando por todas as coisas ruins que havia feito à Jungkook, bem como na forma como o Jeon estava a pagar por todos os seus erros em vida. Taehyung, apesar de ainda estar preocupado com a depressão de Hoseok, mostrava uns poucos sinais de melhoras que me deixava mais tranquilo. Sua determinação em fazer com que seu companheiro se sentisse melhor e voltasse a sorrir como antes era contagiante, o que me fazia questionar outras questões.

Como, por exemplo, se estávamos presos naquele mundo para cumprir algum objetivo. Para mim já estava claro que Namjoon e eu estávamos conectados por algum motivo, mas o que eu deveria fazer de fato ainda era um grande mistério.

Mais tarde naquele dia, Namjoon e Hoseok entraram em um acordo e decidiram que deixariam Jungkook descansar na minha casa pelo menos por aquela noite. Estava presente quando o Jung comentou sobre a situação do mais novo, sobre as dívidas que Jimin havia deixado e sobre todos os problemas financeiros que estava enfrentando desde a morte de seu companheiro. Toda aquela preocupação e perseguição estavam dificultando que Jungkook conseguisse um emprego, e era Hoseok quem estava se movendo ao longo dos últimos meses para ajudá-lo com os aluguéis atrasados do apartamento.

E tudo no que eu conseguia pensar era em como aquele jovem estava conseguindo lidar com todo aquele caos sozinho. Olhando-o dormir com o rosto inchado pelas agressões que sofreu, sequer lhe daria vinte anos, e já tinha tanto com o que se preocupar...

— Você está pensativo demais.

A voz de Namjoon soou de repente, tirando-me de meus devaneios. Estava estava sentado sobre o vaso sanitário enquanto Namjoon escovava os dentes na pia, preparando-se para ter sua tão necessária noite de sono. Ainda demorei um pouco para responder, sequer sabia o que dizer na verdade.

— Ainda estou processando o que aconteceu hoje. – Disse, encarando a parede a minha frente. – Não sei se fiz certo em te envolver nisso... Se soubesse que era uma situação tão grave assim, não teria insistido.

— Você só fez o que julgou certo. E sinceramente, ainda bem que o fez. O garoto poderia ter morrido ali. – Namjoon continuou, terminando sua higiene pessoal e passando direto para o corredor. E o segui. – Não sei por que ele ou Hoseok ainda não acionaram a polícia... Mas acho que preciso fazer isso por eles.

— Até porque aqueles três viram o seu rosto. É um risco para você também. – Complementei, ouvindo um suspiro pesado vindo de Namjoon.

— Está preocupado demais comigo ultimamente. Não estou reclamando. – Disse mais do que depressa com um sorriso divertido no rosto, exibindo suas covinhas. Vi quando ele se deixou cair sobre a cama, resmungando bem alto. – Amanhã eu penso no que fazer... Agora, eu só quero dormir. Meu corpo está todo dolorido...

Não o respondi depois daquele comentário, primeiro porque Namjoon realmente precisava descansar, e segundo... Sim, estava mais preocupado que o normal. Não sei dizer ao certo como ou quando isso começou, quando comecei a me apegar a ele. Algo dentro de mim gritava para que lhe desse atenção, que não perdesse Namjoon de vista ou que ficasse alerta caso alguma coisa ruim fosse acontecer. Talvez fosse pelo fato de ainda trabalhar expulsando aquelas criaturas disformes de casa.

Tentei espantar aqueles pensamentos e voltei para a sala, onde Jungkook dormia tranquilo sobre o sofá. A história que ouvi de Jimin voltando novamente em meus pensamentos enquanto o observava ressonando. Nunca fui o tipo de pessoa que se sensibilizava facilmente pelos outros, até porque nunca o fizeram por mim durante a minha vida, mas algo havia mudado dentro de mim nos últimos dias. Precisava reconhecer que conviver com Namjoon e Taehyung estava trazendo algo positivo para mim de certa forma.

Às vezes me pego imaginando o que teria acontecido se tivesse sido mais aberto no passado, enquanto ainda estava vivo. Talvez Taehyung e eu fôssemos melhores amigos, talvez tivesse conhecido Namjoon ainda em Daegu após aquele infeliz incidente... Será que nossas vidas seriam tão diferentes? Será que nosso desfecho também seria diferente? Certamente poderia estar fazendo mais por aquelas pessoas se ainda estivesse vivo. Seokjin não carregaria aquela maldita culpa, e também não teria deixado Taehyung passar por todo o abuso que passou na mão de seu agente. Teríamos encontrado um jeito de fazer diferente.

Talvez nosso reencontro não tenha sido por acaso, afinal. Mas ainda não tinha capacidade para tentar interpretar e entender o que tudo aquilo significava ou o que precisava fazer para correr atrás do prejuízo. Se é que era isso de fato o que eu precisava fazer.

Já imaginava o que iria acontecer no dia seguinte, apenas não pensava que tudo fosse acontecer tão rápido. Após muita insistência, Namjoon conseguiu convencer Jungkook a fazer uma denúncia contra aqueles traficantes que o estavam incomodando, e então os acompanhei até a delegacia, onde registraram a queixa oficialmente. Foi quando descobrimos pelo delegado que não era a primeira denúncia que haviam recebido, e que a força policial de Seoul já estava atrás daquele grupo de traficantes há algum tempo. Saber daquilo nos tranquilizou, principalmente pelo apoio e segurança que a polícia nos garantiu. Ninguém chegaria perto de Namjoon e Jungkook.

Era o que eu esperava, pelo menos.

Como era fim de semana e o Jeon ainda parecia abalado com o que havia acontecido no dia anterior, Namjoon achou prudente leva-lo para um passeio. O que para mim foi completamente entediante, afinal, nunca fui um grande apreciador de fast foods e filmes de ação, e o pior foi ter que ficar praticamente em silêncio ao lado de Namjoon ao longo de todo o dia. Não seria prudente provocar uma conversa no meio de tantas pessoas e ao lado de Jungkook, que certamente acharia estranho ver um homem adulto falando sozinho.

Se bem que Namjoon estava longe de ser uma pessoa normal.

Além disso Jungkook era ridiculamente tímido, fugindo completamente da imagem que Jimin havia construído em minha mente. De poucas palavras, sempre ficava encabulado quando Namjoon se oferecia para pagar alguma coisa. Não parecia ser de seu feitio se deixar ser bancado, ou talvez apenas estivesse traumatizado pelo longo relacionamento tóxico que teve. Estava reparando mais em seus gestos do que no assunto aleatório que Namjoon estava tentando manter com o rapaz, mas houve um momento em que eu realmente não consegui deixar de prestar atenção.

— Eu preciso me mudar urgentemente. – Jungkook comentou depois de um longo período em silêncio.

— Eu imagino que sim. Hoseok comentou comigo que está ficando difícil pagar o aluguel, não é...? – Namjoon continuou. – Você está trabalhando?

Jungkook negou com a cabeça.

— Eu... Estou com medo, na verdade. – Jungkook usou um tom de voz cansado, e até afastou o copo de refrigerante dos lábios antes de puxar os cabelos pretos para trás, preocupado. – O que você viu ontem já aconteceu tantas vezes que eu... Simplesmente fico apavorado. Não consigo sair de casa a menos que seja muito necessário...

— É até compreensível pelo risco que você corria. – Namjoon comentou, trocando olhares comigo por um momento. Parecia ser uma coisa boa Jungkook estar se abrindo pelo menos um pouco, então apenas gesticulei para que continuasse.

— Eles sabem onde eu moro, e eu tenho medo de morrer, Namjoon. – O mais jovem continuou, abaixando a cabeça um tanto amedrontado. Parecia um gatinho medroso aos meus olhos, e essa imagem fez com que me sentisse mal. – Tem tanta coisa que eu ainda gostaria de fazer... Fiz tantas promessas ao Jimin antes de tudo acontecer, há coisas que eu ainda preciso fazer por ele, por nós... Eu não posso morrer agora.

O silêncio que se instaurou entre nós foi quase sepulcral, e a julgar pelo olhar que Namjoon me lançou, posso arriscar que acabou pensando o mesmo que eu. Mesmo depois de tudo o que havia passado, ou Jungkook ainda nutria fortes sentimentos por Jimin, ou a submissão e os meses sendo agredido verbal e fisicamente ainda tinham uma grande influência sobre si.

E como se estivesse adivinhando nossos pensamentos, Jungkook levantou os olhos doloridos para Namjoon, deixando um suspiro fraco escapar.

— Por favor, não me olhe assim... Eu sei no que você está pensando. – Ditou com a voz fraca, até mesmo um tanto trêmula, como se pudesse começar a chorar a qualquer momento. – O Jimin que eu conheci... O Jimin que eu amei, o meu Jimin... Ele não era aquela pessoa horrível. Se não fosse pelo vício em heroína nossas vidas teriam sido diferentes, estaríamos bem... – Fungando, Jungkook deixou um sorriso dolorido desenhar os lábios finos. – Sei que deve estar achando um absurdo eu ainda ser tão apegado a uma pessoa que me machucou tanto por tanto tempo... Mas é porque você não conheceu quem Jimin era de verdade. A pessoa amorosa, atenciosa... Ele... Ele se perdeu com o tempo, e estava tentando fazê-lo se encontrar de novo, encontrar o homem que ele era de verdade... Tudo o que eu queria era que o meu Jimin voltasse para mim...

E estava feito, Jungkook estava ali chorando diante de nós com as duas mãos cobrindo o rosto enquanto soluçava e colocava aquela dor para fora. Apenas pude observar quando Namjoon pulou para a cadeira ao seu lado, puxando o garoto para mais perto de si e deixando que este desabafasse o quanto queria. E aquilo estava me tocando fundo, não existia uma forma de se manter alheio ao o que acontecia diante dos meus olhos. Aquele garoto precisava de ajuda, e Hoseok sozinho não seria capaz de ajudá-lo e ajudar a si próprio ao mesmo tempo.

— Eu quero que ele more conosco, Namjoon. – Disse mais do que depressa, o que obviamente atraiu um olhar curioso dele para mim.

Admito que não estava pensando direito quando fiz aquela proposta, estava sendo levado pela emoção e calor do momento, mas não me arrependi quando voltamos para casa e vi o sorriso e a expressão de alívio no rosto daquele garoto. Seria temporário, claro, pelo menos até Jungkook conseguir colocar toda a bagunça de sua vida em ordem e conseguir se reerguer e se sustentar sozinho. Além disso, conviver com alguém em casa além de uma alma penada como eu talvez fosse fazer bem a Namjoon. E a mim também.

Não demorou muito para que fôssemos visitados por Taehyung e Jimin, que estava ansioso para ver como Jungkook estava. Tiramos um tempo para conversar sobre a estranha necessidade que Jimin tinha de se alimentar da energia positiva das pessoas, até que Namjoon entrou no assunto com a teoria de que espíritos que sucumbiram ao vício ao longo da vida acabam carregando essa necessidade após a morte. A sensação gostosa que a droga proporcionava e a abstinência eram coisas que Jimin admitia ainda sentir, e que muitas vezes era difícil resistir àquela necessidade, mas conseguia se controlar quando Taehyung estava perto.

— Sempre que ele começa a se deformar, eu começo a conversar com ele sobre o Jungkook. E então ele volta ao normal. – Taehyung comentou, o que me remeteu ao comentário que o Jeon fez na praça de alimentação do shopping.

Talvez aquele monstro que Jimin era quando estava agarrado às costas de Hoseok fosse o mesmo monstro que transformou a vida de Jungkook em um inferno. O monstro que Jimin não teve forças em vida para lutar contra por vontade própria.

Se a minha teoria estivesse certa, então isso significa que cada um de nós temos aquele mesmo monstro dentro de nós, e que estamos lutando contra ele dia após dia. E qualquer gatilho poderia despertar o pior de nós mesmos.

Foi um debate que tive a sós com Namjoon naquela noite, que parecia tão confuso e pensativo quanto eu. Aquilo também me fez enxergar aquelas criaturas disformes com outros olhos. Eles não eram necessariamente seres ruins, talvez estivessem tão quebrados e a beira do desespero que tudo o que precisam é de alguém que lhes estenda a mão e as ajude, assim como fizemos com Jimin.

Só precisam de alguém que lhes dê uma chance.

Voltei a observar o sono de Jungkook na sala quando percebi que Namjoon já dormia profundamente e não mais conversaria comigo. Fico me perguntando no que aquele garoto teria se transformado se não tivéssemos entrado no seu caminho, e no que aconteceria com Hoseok se, além do amor de sua vida, também perdesse o querido primo mais novo. Teriam ambos se transformado em monstros ou naquelas criaturas...?

“Você devaneia tanto, Min Yoongi...”

Fui pego completamente desprevenido por aquela voz grave que parecia ter soado dentro da minha cabeça, e mais do que depressa encarei Jungkook, que ainda dormia tranquilamente no sofá. Por breves momentos imaginei que estivesse falando comigo, o que era impossível já que humanos normais não poderiam nos ver.

Até que ouvi novamente. Era uma risada grave, no mesmo tom da de Jungkook.

“Eu te assustei, não foi...? Peço desculpas...”

— Pirralho, se você estiver fazendo um joguinho comigo, é melhor parar agora antes que faça o Namjoon mudar de ideia sobre você ficar aqui. – Disse mais do que depressa, irritado com aquela provocação sem fundamento.

O que mais estava me intrigando, no entanto, era saber como Jungkook estava fazendo aquilo. Ou melhor, saber que de alguma forma o garoto sabia da minha existência... Mas por que estava falando comigo apenas agora?

“Eu apenas quero conversar com você... Mas não posso fazer isso por meios naturais, se é que me entende”

“Este corpo físico não tem a habilidade para falar com os mortos diretamente, como Namjoon faz com você”

De alguma forma aquele garoto sabia sobre as habilidades de Namjoon, e admito que estava mais do que curioso para tentar entender o que estava acontecendo. Não era como se estivesse assustado ou com medo, afinal, muitas coisas estranhas estavam acontecendo nos últimos dias, aquela era só mais uma para a coleção de desventuras espirituais de Min Yoongi.

— Bom... Sou todo ouvidos. – Disse por fim, cruzando os braços e esperando pelo o que quer que a voz de Jungkook queria dizer.

“Aqui não. Não sabe como é difícil para mim manter um diálogo desse jeito”

— Então o que quer que eu faça? Possua você? – Perguntei em um tom de escárnio.

“Exatamente”

Demorei uns segundos para perceber que ele estava falando sério, e a ausência de qualquer outro comentário me fez pensar que talvez Jungkook realmente não estivesse mais conseguindo se comunicar comigo daquela forma estranha. Mas, se ele conseguia se comunicar com os mortos, mesmo que a sua própria maneira, isso significa que ele também é um médium?

Sabia que essas perguntas apenas seriam respondidas se as fizesse diretamente para Jungkook, e foi com isso em mente que me apressei em me acomodar naquele sofá, deitando e assim sendo capaz de possuí-lo, assim como fiz com Namjoon há alguns dias atrás.

Mas daquela vez era diferente, logo percebi que não era eu quem estava no controle daquele corpo. Na verdade, quando me senti completamente conectado ao corpo de Jungkook e abri os olhos, tive a surpresa de ver apenas um imenso e infinito escuro, um breu tão grande que parecia querer me consumir por inteiro. Não sabia onde estava, mas logo o eco do som de passos se fez presente, estes que estavam se aproximando de mim muito lentamente.

Não demorou para que os traços familiares de Jungkook entrassem em meu campo de visão, completamente iluminados no meio daquela imensidão escura. Assim como eu, ele também trajava roupas completamente brancas e radiantes, mas sua aparência estava diferente. Parecia mais velho, quase na casa dos vinte e cinco anos, e com um brilho inspirador no olhar que o rapaz que dormia no sofá não possuía. Não parecia ter sequer um único resquício da dor que o jovem adormecido tinha com relação a Jimin.

— Espero não ter te assustado muito com aquela abordagem... Eu normalmente não faço esse tipo de coisa. – A voz familiar soou novamente quando estava mais perto de mim, mas não consegui proferir palavra alguma naquele momento. – Deve estar se perguntando o que está acontecendo, não é?

— Acho que é meio óbvio. – Respondi um tanto duro, arrancando uma risada animada do rapaz a minha frente. – Você é um médium também?

Jungkook balançou a cabeça positivamente, respondendo a minha pergunta.

— Um médium dos sonhos, como muitos dizem. – Continuou de forma paciente. – As minhas habilidades se manifestam de forma diferente das que você vê com Namjoon. A única forma que tenho de me comunicar com os mortos é por meio dos sonhos do meu corpo físico.

Aquilo era definitivamente uma grande novidade para mim. Namjoon havia me dito uma vez que existiam diferentes tipos de médiuns e manifestações mediúnicas, mas presenciar uma daquela forma era surreal.

— Então a nossa conversa não vai passar de um sonho para o seu corpo físico? – Perguntei, e Jungkook assentiu. – E ele tem conhecimento disso?

Novamente uma resposta positiva.

— A maioria dos sonhos do meu corpo físico são manifestações de espíritos que o possuem durante o sono, intencionalmente ou não. – Jungkook começou a explicar. – Normalmente tento elaborar um cenário familiar ou que seja no mínimo confortável para que o espírito que entra em contato comigo se acalme e se sinta bem o suficiente. Às vezes é uma memória esquecida, ou um momento que ele sempre quis ter em vida e nunca teve a oportunidade.

— Certo... E por que tudo o que eu vejo é um breu? – Perguntei, mas logo desisti daquela pergunta. Estava tentando manter a mente aberta para toda aquela loucura. – Se você só consegue se comunicar com os mortos pelos sonhos, como conseguiu falar comigo naquela hora?

E novamente Jungkook sorriu, sereno. Parecia estar gostando dos meus questionamentos, e de certa forma estava... Feliz? Feliz por ele estar disposto a me ouvir...?

— Digamos que o mundo dos sonhos e o mundo dos mortos vibram quase que na mesma sintonia. – Explicou enquanto gesticulava com as duas mãos. – É um pouco difícil para mim fazer isso, mas uso dessa ferramenta para chamar a atenção dos espíritos que eu acho que precisam de ajuda.

Jungkook me pegou desprevenido por aquela pergunta. Então ele conseguiu perceber a minha confusão mental? Ele sentiu que estava perdido e que precisava de orientação e respostas?

O vi sorrindo outra vez enquanto esperava que me recuperasse da repentina surpresa, e então sua mão se estendeu na minha direção.

— Segure a minha mão, feche bem os olhos e depois abra. – Jungkook pediu e o encarei desconfiado. – Confie em mim... Você vai gostar.

O que mais eu podia fazer? Apenas fiz como me era pedido, e senti como se o chão abaixo de mim desaparecesse por um ou dois segundos, como se tivéssemos despencado um degrau.

E quando abri os olhos, não pude acreditar no que vi.

Tudo estava ali, exatamente como era nas minhas lembranças. A minha boa e velha cama de solteiro no canto do meu antigo quarto da casa dos meus pais, os pôsteres dos rappers coreanos que tinha como inspiração para as minhas composições, minha prateleira cheia de livros escolares que nunca dei muita atenção, e meu precioso teclado que sempre deixava no meio do quarto.

A empolgação era tanta que me afastei de Jungkook para observar tudo de perto, meus cadernos repletos de composições antigas e anotações que gostava de fazer ao longo do dia na escola apenas para chegar em casa e tentar transformá-las em alguma melodia agradável com o meu teclado.

Havia passado os melhores momentos da minha vida dentro daquele quarto.

Apenas fui tirado dos meus pensamentos quando ouvi um barulho na minha cama, onde vi Jungkook deitado ali, esticando-se confortavelmente.

— Como você sabia...?

O Jeon apenas deu de ombros, voltando os olhos brilhantes para mim como se estivesse pensando no que dizer.

— Por que não aproveita para me contar o que se passa nessa sua cabeça? – Indagou por fim.

Aquele era mesmo um bom momento para falar sobre algumas dúvidas que estavam me incomodando naqueles últimos dias, e como um adolescente, deitei-me ao seu lado na cama antes de começar meus questionamentos, quase infinitos questionamentos.

Mesmo com a aparência jovem, aquele Jungkook parecia muito experiente e ter propriedade nas coisas que dizia, além de ser solícito em me ajudar a compreender o que estava acontecendo na minha vida após a morte. Explicou-me que espíritos apenas ficam presos na terra quando possuem pendências que precisam resolver antes de ascenderem ao mundo superior, que em outras palavras seria o Céu ou Paraíso em outras palavras. E apesar de conhecer muito sobre o assunto, não sabia me explicar exatamente qual era a missão que eu precisava completar.

Mas algo ele deixou bem claro para mim: Minha missão estava diretamente ligada a Namjoon e que, de alguma forma, havia me tornado uma espécie de anjo protetor que precisava zelar por si e por suas habilidades.

Teríamos continuado conversando se não tivesse sentido um desconforto na altura do estômago, um desconforto um tanto familiar.

— Oh... Acho que estou acordando. – Jungkook comentou, olhando para Yoongi ao seu lado e segurando novamente em sua mão. – Feche os olhos, Yoongi. Irei te mandar de volta.

— Podemos conversar de novo? Tem tanta coisa que queria perguntar a você... – Perguntei, deixando transparecer uma chateação maior do que realmente queria. E apenas vi Jungkook sorrir novamente, exibindo os dentes de coelho.

— Já sabe como entrar em contato comigo, não é? Basta me procurar em meus sonhos, Min Yoongi.

Tão rapidamente quanto fui enviado para aquele mundo dos sonhos, Jungkook me enviou de volta para a terra. Quando abri os olhos estava outra vez na sala de minha velha casa e o sol parecia ter nascido há pouco tempo. Não havíamos ficado conversando por muito tempo, o que me levou a pensar que o tempo passava de forma diferente naqueles dois mundos.

Era o segundo dia do fim de semana, o que significava que os dois provavelmente ficariam em casa o dia inteiro, ou receberiam a visita de Hoseok ou Seokjin. Se quisesse contar a Namjoon sobre o que tinha acontecido, precisava ser rápido. E usei da vantagem de ser um fantasma para atravessar as paredes e chegar ao quarto do Kim com a rapidez que precisava.

Namjoon ainda dormia, mas não me importei em me lançar ao seu lado na cama e chama-lo incessantemente até que este acordasse notavelmente irritado por ter sido despertado em um domingo de manhã. Mas eu não podia esperar, e logo ganhei sua total atenção na medida em que relatava a minha aventura sobrenatural que havia tido com Jungkook.

O que obviamente foi um choque para Namjoon, que não imaginava que tivesse justamente aquela habilidade estranha em comum com Jungkook. Quanto a mim... Eu me sentia radiante, com uma animação e uma estranha felicidade que há anos não sentia. Será que era esse o poder de um médium, trazer conforto para as almas atormentadas? Se fosse o caso, Jungkook estava fazendo muito bem o seu trabalho.

— Yoongi... Yoongi?! O que aconteceu?!

A voz de repente preocupada de Namjoon me tirou de meus devaneios, e então o encarei sem entender.

— Por que está chorando, Yoongi...?

Chorando...?

Pensei que Namjoon estivesse alucinando, até que levei a ponta dos dedos ao rosto, sentindo aquela característica umidade que o rastro de lágrimas deixava nas maçãs de meu rosto. Por que eu estava chorando se não estava triste...?

Naturalmente associamos as lágrimas ao sentimento de tristeza, desesperança, e sempre que isso acontecia comigo era justamente por esses motivos. Mas aquele não era o caso, então...?

Foi quando senti algo diferente na altura do peito. Um calor diferente, um comichão agradável, familiar, e acolhedor.

— Yoongi... – Namjoon voltou a chamar, agora sentado e me olhando com atenção, com os olhos levemente arregalados e surpresos. – Você está... Brilhando... Está radiante...

Minhas mãos estavam brilhando. As levantei na altura dos olhos para ver por mim mesmo, e então desci o olhar para o restante do meu corpo. As roupas brancas estavam brilhantes como as que Jungkook usava em nosso encontro em seu sonho, e aquele brilho se espalhava por todo o meu corpo.

— Jungkook... – Murmurei antes de levantar, correndo novamente para a sala mesmo com os chamados de Namjoon, que se levantou para vir atrás de mim.

E qual foi a minha surpresa ao ver que Jungkook já estava acordado? Ajoelhado de frente para o sofá e com os cotovelos apoiados no assento, as mãos unidas e os dedos entrelaçados, os olhos fechados. Não sabia o que aquele garoto estava fazendo, e ao olhar para Namjoon ao meu lado, este também parecia confuso, com a feição cheia de perguntas.

— Ei... Jungkook... – Ouvi Namjoon chamar, atraindo a atenção de Jungkook que respondeu com um resmungo, mas que não moveu um músculo sequer. – O que está fazendo...?

Rezando. – Respondeu baixo, mas em um tom que conseguimos ouvir perfeitamente. – Eu... Sonhei com uma pessoa hoje.

— Uma pessoa? – Namjoon continuou, abaixando-se ao seu lado em tempo suficiente para ver um pequeno sorriso no rosto do jovem Jeon.

— É... Um loiro bem mal-humorado. – Respondeu rindo baixo. – Eu não me lembro muito bem do sonho... Mas essa pessoa precisava de ajuda, então estou fazendo algo a respeito...

Namjoon e eu trocamos olhares, assustados com aquelas palavras. Aquelas coisas estavam acontecendo comigo por causa de Jungkook? Era por isso que estava sentindo todo aquele calor gostoso em meu peito e toda aquela alegria e tranquilidade repentinas?

Era porque tinha alguém rezando por mim pela primeira vez em toda a minha vida?


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