Gato por lebre escrita por Aislyn


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Se a Deby tivesse me contado que já teve coelho, essa fic teria trazido mais problemas pro Mikaru >D

Boa leitura!



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Shiroyama ignorou completamente o horário e mais ainda o fato de ser começo de semana, aparecendo na casa de Mikaru sem avisar. A desculpa do guitarrista era que o amigo era dono da empresa, então não precisava se preocupar com a hora que iria chegar, além do mais, ele havia deixado Hayato na cafeteria e não queria voltar pra casa. A fofoca que ouviu pelo telefone a respeito de um coelho era apenas um motivo extra.

 

— E então, onde ele está?

 

— Na lavanderia. – Mikaru respondeu a contragosto, terminando de ajeitar o terno, saindo do closet para encontrar o amigo no quarto, jogado em sua cama – Shiro, você sabe que eu não gosto de chegar atrasado. Pode vir mais tarde.

 

— Só um pouco, vai? Enquanto você toma café.

 

Com um suspiro derrotado, Mikaru saiu com o amigo do quarto, indo até a cozinha pegar seu café, apontando a outra porta com a cabeça.

 

— Vai lá se divertir.

 

Não foi necessário uma segunda liberação. Takeo invadiu o cômodo, sorrindo satisfeito quando viu a criaturinha, se sentando no chão para observar melhor.

 

— Qual nome deu pra ele?

 

— Não tem. Quando for adotado a pessoa escolhe. – Mikaru deu de ombros desinteressado, pegando o lanche que Shiroyama trouxe para si da cafeteria.

 

— É? Não vai ficar com ele?

 

— Não. Meu tempo é curto e não quero abusar da ajuda do Katsuya.

 

— Tenho certeza que ele não se importa. – sem pedir permissão, Takeo abriu a gaiola, retirando o coelho de dentro para brincar, ao que o pequeno aceitou os carinhos de bom grado.

 

Mikaru ignorou o comentário, dividindo a atenção entre seu café e o celular, onde conferia a agenda do dia. É claro que havia pensado em adotar. Katsuya foi muito convincente na oferta, mas ainda tinha receio de fazer algo errado. Voltou a atenção ao amigo quando não entendeu o comentário seguinte:

 

— Ele é mau, não é? Te abandonando assim.

 

— Mau? Katsuya não me abandonou, na verdade ofereceu ajuda…

 

— Eu estou falando com o coelho sobre você. – Takeo interrompeu, usando o tom mais sério que conseguiu. Mikaru o encarou meio atônito, meio sem entender, a xícara suspensa no ar.

 

— Com o coelho?

 

— Isso. Trouxe ele pra casa, cuidou dele e agora fica dizendo que não vai adotar. Nem um nome você escolheu!

 

— Ahm… e você está supondo que ele te entende? – Mikaru negou com um aceno, incrédulo. Só o amigo pra vir com essas brincadeiras estranhas.

 

— Claro que entende! – dessa vez foi Shiroyama quem pareceu horrorizado – Vai me dizer que nunca conversou com ele?

 

Mikaru abriu a boca, pronto para negar de prontidão, mas não o fez. Sentiu o rosto esquentar enquanto resmungava uma afirmação.

 

— Uma vez ou outra… isso não é certo.

 

— Por que não? Eu converso com os gatos e Hayato também. – Takeo deu de ombros, voltando com o coelho para a lavanderia, depositando-o na gaiola e completando ao voltar – O problema é quando respondem. Junai fica resmungando quando acha que vou fazer algo errado e vira a cara se eu não coloco comida pra ele primeiro.

 

— Você é doido. – mas Mikaru se sentiu aliviado por saber que aquilo era comum entre quem tinha animais em casa. Podia falar com o coelho sem medo.

 

* * *

 

Contando com o fim de semana, aquele era o quarto dia completo que ficava com o coelho. Para quem se negou a cuidar uma semana inteira, metade dela havia se passado de forma tranquila. Mikaru nem acreditou em como foi fácil se adaptar, principalmente depois de colocar um alerta no celular com o passo-a-passo de coisas que não podia esquecer. Não sabia se era sorte, mas acabou escolhendo um animal tranquilo que, mesmo solto, preferia brincar nas proximidades ao invés de correr pra todo lado.

 

Por outro lado, estava feliz que seu tempo como babá havia chegado ao fim. Kurosaki viria passar a noite e na manhã seguinte o levaria de volta para a clínica, para ficar com os outros coelhos e a família que iria adotá-lo. Futuramente, pensaria em fazer o mesmo, mas só depois que aprendesse a se cuidar.

 

Sobressaltou-se com o toque do interfone, pegando a carteira antes mesmo de atender, pois sabia que era o serviço de entrega trazendo o jantar. Encomendou a comida assim que chegou em casa, imaginando que Katsuya não ia demorar, mas quase duas horas haviam se passado e ele ainda não havia aparecido.

 

Voltou com um pacote para dentro de casa, guardando-o no microondas para comerem depois, retornando para a sala e sentando no chão para voltar ao que fazia, contudo, não avistou seu mascote em lugar nenhum. O coelho estava no tapete quando saiu para atender a porta, não estava?

 

Olhou embaixo do sofá, atrás da mesa do telefone e também atrás das cortinas. Nenhum sinal. Caminhou por todo o cômodo, esperando ver a bolinha peluda pulando por algum canto, mas ele parecia ser o único ser vivo presente ali. Dirigiu-se até a lavanderia para confirmar se o colocou na gaiola, mas confiava em sua memória, tendo a certeza que o deixou na sala.

 

Havia perdido o coelho.

 

Cozinha, quarto, banheiro… nada! Nenhum sinal dele em lugar nenhum!

 

Precisava manter a calma e procurar direito. Se entrasse em pânico seria pior. O tempo que levou para atender a porta e voltar seria o suficiente para o coelho chegar onde? Mikaru se considerava mais rápido, então não devia ter saído de casa. Contudo, se levasse em conta a porta que levava para o jardim lateral… ela estava aberta e ele podia ter saído por ali…

 

Pegou o telefone para ligar para Katsuya, mas desligou antes mesmo de completar a chamada. Não queria preocupá-lo com algo desnecessário. Precisava procurar melhor! Caminhou para fora de casa, refazendo todo o caminho até o portão e voltando, olhando também no jardim, vasculhando o entorno da árvore e das pedras no lago artificial. A seguir conferiu a garagem, olhando atrás das rodas de seu carro em busca de qualquer coisa que parecesse presa nos vãos. Nada. Voltou para o interior da casa, sentindo o desespero tomar conta.

 

E se ele tivesse mesmo saído para a rua? Nunca iria encontrá-lo. Era uma criatura pequena num lugar muito grande!

 

Precisava contar para Katsuya. O coelho estava sob sua responsabilidade e precisava lidar com seus erros. Sabia que não devia ter pegado para cuidar. Não conseguia cuidar nem de si mesmo! Arrumaria outro, se fosse preciso. Podia comprar em alguma pet shop. Iria repor o que perdeu.

 

Como que esperando aquele momento crítico, Mikaru ouviu o portão abrindo, tendo certeza que era Katsuya quem chegava. A única outra pessoa que tinha a chave era Shiroyama, e o amigo não ia aparecer aquele horário sem avisar. Respirou fundo, se dirigindo para a entrada, pronto para confessar tudo. Não queria magoar o namorado, mas era inevitável.

 

— Você disse que comprou o jantar. Eu trouxe sobremesa. – Katsuya ergueu o pacote com o emblema de uma confeitaria conhecida, se aproximando para cumprimentá-lo com um beijo, mas Mikaru negou o gesto, virando o rosto para outra direção – Aconteceu alguma coisa?

 

— Eu… perdi ele de vista. – não ia conseguir encará-lo. Sabia que veria decepção no olhar de Katsuya – Vim atender a porta e quando voltei, ele tinha sumido. Já olhei por toda a casa e não encontrei… não sei se deu tempo de sair pra rua…

 

— Está falando do coelho? Ele deve estar explorando a casa. Ainda é um filhote, duvido que vá muito longe num lugar que não conhece bem. – Katsuya tentou outra aproximação, acariciando o topo da cabeça de Mikaru enquanto o guiava para dentro de casa. Mesmo se tivesse perdido o coelho, não podia fazer muita coisa. Como ia brigar com o namorado quando ele parecia a ponto de chorar? Era uma cena que não suportaria ver.

 

— Eu já olhei por todo lado… não sei onde pode estar.

 

— Vou te ajudar a procurar. Vamos olhar cada canto com cuidado e fechar as portas depois que terminarmos, pra não correr o risco dele entrar onde já olhamos.

 

— E se ele não estiver aqui dentro?

 

— Aí procuramos lá fora, primeiro no jardim e depois na rua. – Katsuya deixou a mochila no sofá e os doces na geladeira, tentando motivar um pouco o empresário – Não vamos apressar as coisas. Vai ficar tudo bem.

 

— Se não acharmos… eu reponho a mais. Compro outros pra compensar.

 

— Isso vai te fazer sentir melhor? Aqueles foram deixados lá para adoção, a antiga dona não tinha espaço pra todos, então ficou só com a mãe e um dos filhotes. – pegando-o pela mão, Katsuya guiou o namorado de volta para a sala, fechando a porta da cozinha para que não procurassem repetidamente – Por isso te ofereci um pra cuidar. Outros três também já tem dono, acho que comentei que ia ficar com eles até o final da semana, tinha esperanças que o novo dono levasse todos. Não me agrada a ideia do filhote perdido, por isso vamos atrás dele, mas não quero que se sinta culpado.

 

Alguma coisa havia sido dita de forma errada ou entendida errada. Mikaru se afastou sem responder, começando a revistar a sala novamente, procurando até em lugares improváveis. Katsuya suspirou fundo, negando com um aceno, sem entender o motivo da chateação, mas era Mikaru, não é? Podia ser algo pequeno mas que o incomodou.

 

Kurosaki iniciou a busca pela outra ponta da sala, olhando atrás de móveis e cortinas, sem nunca perder o namorado de vista. Refez o processo duas vezes antes de se dar por satisfeito, sugerindo ir para o próximo cômodo. Olharam pela lavanderia, quartos, cozinha e banheiro, sem muito sucesso.

 

— Não está em lugar nenhum… ele fugiu. – Mikaru jogou-se no sofá, desolado. Olhar para o lado de fora da casa e imaginar que o animal estava sozinho, na rua e no escuro, não ajudava a acalmá-lo. 

 

— Ainda acho que não fugiu… pelo que me contou, não daria tempo, Mikaru. – Katsuya sentou no braço do sofá, mantendo distância sem saber realmente o motivo – Vou pegar a lanterna para olhar no jardim, mas tenho quase certeza que está dentro de casa.

 

— Nós olhamos tudo, Katsuya! Ele não está aqui dentro!

 

— Algum lugar deve ter passado despercebido. Ele é pequeno, pode se esconder fácil…

 

— Está sugerindo que eu não procurei direito?

 

— Eu ajudei a procurar, então estou referindo a mim mesmo também. – Katsuya sabia que precisava manter a calma, principalmente quando Mikaru se alterava – Nós dois estamos cansados, o coelho pode ter passado do nosso lado e não vimos.

 

— Eu não cometeria um erro tão idiota.

 

— Eu sim… – com um suspiro fundo, Katsuya voltou a se levantar, tentando encontrar um pouco de ânimo – Vamos olhar no jardim? Onde deixou a lanterna?

 

— Está no carro… eu vou lá buscar. Pega as pilhas pra mim?

 

— Claro. No quarto, não é?

 

— Lado direito.

 

Para Mikaru, aquela busca já se provava infrutífera. O coelho não estava dentro de casa, pois olharam em todos os cantos e não encontraram nenhum sinal. Considerava impossível encontrá-lo na rua, àquela hora. Ajudaria o namorado apenas para aliviar o peso na própria consciência, mas sabia que Katsuya estava chateado e a culpa era toda sua. Só não sabia o que podia fazer para ser desculpado. Não teve intenção de perder o animalzinho ou maltratá-lo. Na verdade estava gostando da companhia, mas não tinha muito jeito cuidando de qualquer coisa que não fosse um de seus projetos.

 

Esperou na porta da frente até que Katsuya retornasse, suas esperanças totalmente nulas. E pensar que só queria encerrar o dia com uma noite tranquila, um bom jantar e o namorado do lado…

 

Que retornou instantes depois, com as pilhas numa mão e o maldito coelho aninhado em seus braços.

 

— Onde…?

 

— Na cama, escondido entre os travesseiros. Ele se mexeu quando sentei no colchão. Se não fosse isso, nem iria notá-lo.

 

— Tire essa criatura da minha frente! Não quero vê-lo de novo tão cedo!

 

— Ele estava aquecendo a cama pra você. – Katsuya contou sorrindo, mas não esperou muito para se afastar, levando o coelho para colocar na gaiola. Mikaru estava possesso e seu último aviso provou isso.

 

— Eu quem vou aquecê-lo pra comer no jantar!

 

* * *

 

Voltar para a rotina foi a melhor coisa que Mikaru fez em dias. Se ainda estava inseguro sobre adotar ou não um mascote, perdê-lo dentro da própria casa sanou todas as dúvidas. Ele não queria ninguém morando consigo, além do namorado. Não queria ninguém dependendo de si.

 

Não precisava se apressar pela manhã para o animal brincar, tomar sol e nem precisava perder tempo no mercado, escolhendo legumes frescos. A única coisa que precisava se preocupar era com seu trabalho, pois até o namorado sabia se cuidar e sabia do seu tempo corrido.

 

Foi uma boa experiência e talvez tivesse mais paciência se ainda fosse um adolescente, mas as obrigações da vida adulta não o ajudaram daquela vez. Quem sabe mais a frente, depois de pensar muito e analisar novamente todos os prós e contras…

 

O único momento em que sentiu falta foi quando chegou em casa à noite, no mesmo dia em que Katsuya levou o filhote embora. Esqueceu de desligar o despertador que o lembrava de por comida e, vendo a notificação na tela, não conseguiu reprimir um pequeno sorriso.

 

— Que tal tentar um gato da próxima vez? – Katsuya sugeriu, deitado ao seu lado na cama – Eles são mais independentes, mas são fofos também!

 

Mikaru fingiu não ouvir a sugestão, apenas virando na cama e lhe dando as costas.

 

Era melhor assim…


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Notas finais do capítulo

FIM.
Espero que tenham gostado! Não esqueçam de fazer uma autora feliz ♥



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