Gato por lebre escrita por Aislyn


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Como instruído anteriormente, Mikaru levou o coelho para brincar no jardim, deixando-o à sombra de uma pequena árvore que havia ali. Sentou-se na varanda para observar, tudo sob a supervisão de Katsuya.

 

— Quanto tempo deixo ele solto?

 

— Pelo menos quinze minutos, todos os dias.

 

— Isso não vai dar certo… – Mikaru suspirou frustrado, recebendo um carinho nos cabelos quando Katsuya se aproximou, abaixando ao seu lado.

 

— Mikaru, é só um teste que estamos fazendo. Pra você ver como funciona, saber como é ter um bichinho em casa… Você comentou que nunca teve, achei que quisesse tentar. Se a ideia te desagrada tanto assim, eu levo ele comigo amanhã.

 

— Não é isso… Eu sei que não vou ter esse tempo disponível, nem humor ou disposição todos os dias. Uma hora vou precisar sair correndo e vou esquecer dele, vou chegar tarde demais e cansado até pra colocar comida. Eu mal consigo cuidar de mim!

 

— É por isso que você tem um veterinário na família, não é? – Katsuya puxou-o para seus braços, tentando consolá-lo – Se decidisse mesmo adotar, eu te ajudaria a cuidar. Você ia me avisar da agenda apertada e eu o levaria pra ficar comigo na clínica. Se a gente fosse viajar, por exemplo, a Mayu poderia cuidar. Nós dois conseguimos conciliar nosso tempo, mesmo quando eu ainda estudava e trabalhava. É a mesma coisa, tudo questão de costume.

 

— Odeio esse otimismo… – o que não era de todo verdade. Era graças àquilo que conseguiam manter o equilíbrio. E então notou a falta de movimento – Ele sumiu. – afastando-se do abraço, Mikaru perscrutou o jardim, sem conseguir encontrar nenhum montinho amarelado e peludo pela grama – Ele sumiu!

 

— Ele está atrás das pedras, relaxa.

 

— Como pode ter certeza? – Mikaru se ergueu para ir até o gramado verificar, mas Katsuya o segurou no lugar, negando com um aceno – E se ele estiver preso?

 

— Eu estou de olho, Mikaru. Vi ele indo lá pra trás. Não tem nada pra deixá-lo preso. Daqui a pouco ele aparece. Confia em mim.

 

Mikaru foi poupado de responder graças à aparição do coelho, pulando tranquilo como se quase não o tivesse matado de susto. Ele confiava em Katsuya… contudo, preferia conferir pessoalmente.

 

Voltando a se sentar e suspirando longamente, o empresário conseguiu imaginar o estresse que passaria durante aqueles dias, até entender que nem tudo era algum perigo em potencial para uma criaturinha daquele tamanho.

 

* * *

 

Um dia foi o suficiente para Katsuya encher a memória do celular com fotos da interação de Mikaru com o coelho. O ápice da incredulidade de Mikaru foi atingido quando ele descobriu um vídeo em que conversava com o animal. Sentiu o rosto esquentar tamanha vergonha, exigindo que o namorado apagasse aquelas evidências, o que foi feito a contragosto.

 

— Já escolheu o nome dele? – acomodado no sofá com Mikaru deitado em seu colo, Katsuya questionou entre uma conversa e outra, tentando se aproveitar da distração criada pelas fotos, mas sabia que raramente conseguia aquele feito, já que Mikaru sempre estava atento.

 

— Não sou eu quem tenho que nomear. Quem adotar ele vai fazer isso.

 

— E essa pessoa não pode ser você? – o olhar afiado que recebeu o fez cessar o carinho nos cabelos loiros, cogitando ter extrapolado na insistência.

 

— Fora de cogitação. Já disse que não tenho tempo, paciência ou disposição. Vou cumprir minha parte no acordo e tentar por alguns dias, mas só.

 

— Acordo… pare de encarar isso como um dos seus trabalhos e aproveite a companhia.

 

— Estou aproveitando a sua e servindo de babá em treinamento pra ele.

 

Katsuya queria chamá-lo de teimoso, mas estaria abusando da boa vontade. Sem falar no quanto foi difícil segurar a risada com o comentário. Ia mudar de assunto quando seu celular tocou, o nome da irmã aparecendo no visor. A ligação durou poucos minutos, mas foi o suficiente para Mikaru notar o ar profissional vindo à tona.

 

— Apareceu uma emergência. Preciso ir na clínica.

 

— Eu te levo lá. – Mikaru ofereceu de prontidão, erguendo-se do sofá.

 

— Não, tudo bem. Estou com o carro do meu pai e é sua folga.

 

— Você sabe que não me importo.

 

— Eu sei, mas você devia aproveitar e descansar. – Katsuya pegou as chaves do carro e da clínica, conferindo se a habilitação estava na carteira – Se for algum procedimento demorado, eu te mando mensagem avisando e passo a noite na casa dos meus pais, mas se for rápido volto ainda hoje.

 

— Ok, tome cuidado. – Mikaru acompanhou-o até a garagem, ganhando um beijo na testa como forma de despedida. Ao retornar para o interior da casa, sentiu um olhar atento a observá-lo – Somos só nós dois agora.

 

Mikaru ainda ficou com o coelho pela sala, acariciando o pêlo macio enquanto o animal pulava e rolava pelo tapete. Pelo tempo que se passou, nenhuma mensagem havia chegado, então supôs que fosse algo sério na clínica, ao ponto do namorado não perder tempo com o celular. Ajeitou a cama e fez um lanche, só então mandando uma mensagem para a cunhada em busca de notícias, confirmando suas suspeitas sobre o ocorrido.

 

Numa decisão impensada, Mikaru levou o coelho consigo para o quarto ao invés de devolvê-lo para a gaiola, largando-o na cama enquanto trocava de roupa. Claro que preferia a companhia de Katsuya, mas ele provavelmente chegaria muito tarde, isso se decidisse voltar.

 

* * * 

 

Ficou um bom tempo rolando no colchão, intercalando olhares entre o teto e o visor do celular, mas o namorado ainda não havia mandado notícia. Talvez Mayu tenha contado ao irmão que o avisou e por isso ele não se preocupou em notificar também, mas queria saber dele que estava tudo bem.

 

Dispensou um último carinho no coelho, acomodado entre seu travesseiro e o de Katsuya, antes de apagar a luz do abajur para finalmente dormir. Não precisava levantar cedo no dia seguinte, mas também não ia esperar sem uma previsão de retorno.

 

Acordou assustado horas depois, prestando atenção em qualquer mínimo movimento pela casa. O que o despertara? O portão abrindo? Ou a porta da frente? Alguma coisa em algum lugar deve ter feito barulho. Esperou alguns instantes e, quando não ouviu nada e o sono deu sinais que voltaria, Mikaru sentiu algo afundar no seu travesseiro, sumindo tão rápido quanto chegou. Sentou-se num pulo, ligando a luz na cabeceira e olhando ao redor, assustado. O que era aquilo?

 

Perscrutou todo o ambiente com calma pelo menos duas vezes, as portas fechadas, tanto do quarto quanto do closet, a janela às suas costas também estava fechada e oculta pela cortina, não parecia ter nada fora do lugar, e então um movimento à frente se fez notar e algo pulou novamente na cama, mostrando o que causara seu susto.

 

— Sua pelota felpuda inescrupulosa! – Mikaru levou a mão ao peito, o coração descompassado e o pensamento grato por ter parado de fumar ou estaria ofegante, se não infartando. Apesar que sabia ser um exagero – Isso não é hora de brincar. – estendendo a mão, conseguiu pegar o coelho e trazê-lo para perto, perguntando-se como havia esquecido dele. Definitivamente, não levava jeito para cuidar de outra pessoa ou animal. Voltou a se deitar, acomodando seu acompanhante em seu ombro e apagando a luz a seguir.

 

Somente ali, praticamente sozinho e no escuro, se permitiu sorrir, murmurando o quanto ele era quente e fofinho, ideal para aquela noite fria.

 

* * *

 

Mikaru despertou novamente, sem ter noção se havia passado muitas ou poucas horas, mas dessa vez o culpado não foi o coelho e sim o namorado que se ajeitava na cama ao seu lado.

 

— Achei que não fosse voltar hoje… – Mikaru comentou baixinho, se virando de frente para o rapaz que parecia lamentar.

 

— Desculpe, não queria te acordar… Fiquei com a consciência pesada porque não deu tempo de avisar quando cheguei lá.

 

— Eu imaginei que fosse algo sério, falei com sua irmã. Não precisava se preocupar e nem vir dirigindo tão tarde e cansado. É perigoso. – Mikaru estendeu a mão para acariciar seu rosto, mas foi puxado para um abraço desconfortável – Você está gelado!

 

— Está um pouco frio lá fora. – Katsuya riu, sem se sentir culpado, sentindo algo quente se acomodar contra sua mão e as costas do namorado. Ao erguer o corpo, percebeu do que se tratava, a risada aumentando de volume – Me trocou pelo coelho!

 

* * *

 

Uma segunda-feira nunca foi tão agitada como aquela e logo pela manhã. Era a terceira vez que Mikaru ia até a lavanderia conferir se o coelho tinha água e comida, como se os minutos que se afastou para vestir e tomar café fossem o suficiente para ele acabar com toda a ração.

 

Katsuya saiu de casa antes de Mikaru, mas garantiu que não tinha problema deixá-lo sozinho por algumas horas, indo pessoalmente conferir o que o namorado colocou nas vasilhas e confirmando que estava certo.

 

Precisava confiar. Uma pessoa estudada garantiu que não havia nada errado, não tinha porque se preocupar. O problema era fazer sua mente acreditar naquilo. Indo conferir uma última vez, momento que aproveitou para se despedir da criaturinha, Mikaru fechou a porta às suas costas, pegando sua mochila e as chaves, trancando tudo ao sair.

 

Por sorte, a correria na empresa em pleno começo de semana ajudou a mudar o foco de seus pensamentos e concentrar no que era necessário. O dia passou rápido, com algumas reuniões e projetos para aprovar, mas Mikaru gostava do seu trabalho. Não era nem metade do que fazia na antiga empresa, mas notou que preferia assim, sem se matar de trabalhar, sem perder noites de sono e sem precisar dos cigarros para se acalmar. A melhor parte era acompanhar pessoalmente o desenvolvimento de cada projeto, sem deixar nas mãos de terceiros, já que agora tinha tempo e disposição para se dedicar àquilo.

 

Chegar em casa e tirar o terno para se jogar na banheira costumava ser uma das melhores partes do dia. Um banho quente sempre ajudou a relaxar e acabar com a tensão acumulada. A segunda melhor parte era saber que não teria insônia quando se deitasse. Os pesadelos, antes frequentes, agora eram extremamente raros e, mesmo que Mikaru conhecesse o teor deles, no dia seguinte eram facilmente esquecidos.

 

Contudo, naquela noite estava difícil pegar no sono. Ainda estava cedo para seus padrões, Katsuya mandou mensagem dizendo que estava a caminho, mas queria cochilar um pouco enquanto esperava, para então jantarem juntos… estava esquecendo alguma coisa. Só esse tipo de preocupação lhe tirava o sono.

 

Mas o que?

 

Foi então que Mikaru levantou apressado da cama, ligando as luzes conforme passava pelos cômodos da casa, até chegar à lavanderia. Abriu a porta de supetão, conseguindo acompanhar o movimento da bolinha amarelada que correu e se escondeu atrás da máquina de lavar. Não queria assustar o coelho e foi avisado várias vezes que isso poderia causar sua morte, mas sua preocupação foi maior. Suspirou aliviado enquanto se abaixava e sentava apoiado no eletrodoméstico, só depois analisando a situação do cômodo. Ainda havia um pouco de ração na vasilha, além de água o suficiente e um legume meio comido esquecido num canto. Não ia matá-lo de fome e se parabenizou por isso.

 

Talvez fosse mesmo necessário colocar um alerta no celular para não esquecê-lo novamente, pelo menos nos primeiros dias.

 

— Se você miasse ou latisse seria mais fácil lembrar… – o empresário comentou quando o coelho saiu de seu esconderijo, colocando-o em seu colo para brincar um pouco.


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Notas finais do capítulo

O próximo já é o final! Espero que estejam gostando!



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