Celine a trois escrita por lljj
— Aqui, pessoal! Eu trassei um roteiro — disse Celine e abriu um mapa sobre a mesa da cafeteria. — Vamos começar pela loja de móveis usados em Oakland. Depois pegamos o metrô para a Union Square, tenho cupons de desconto para três lojas diferentes — sorriu. — Estaremos perto do restaurante coreano que o Panda sugeriu, então podemos almoçar lá. De tarde, passamos no bazar da rua Sant Mission. Depois, deixamos as compras no meu apartamento e vamos direto para a sessão das cinco no cinema. Combinado?
— Puxa, você planeja tudo mesmo, hein — comentou Pardo.
— Polar admira tanta organização — disse o irmão.
Panda ficou sem palavras. Celine almoçaria no seu restaurante preferido. Ela se impressionaria com seu bom gosto gastronômico e desejaria ter uma refeição a sós com ele. Um momento exclusivo dos dois, algo que não aconteceu desde a chegada dela, três dias atrás.
Que saco!
— Panda, já terminou o seu café? — perguntou ela, e encarou o relógio de pulso. — Temos que sair agora para não atrasar o cronograma.
— Ah, sim, sim! Eu terminei.
Celine sorriu para ele; Panda sentiu o rosto aquecer em rubor.
— É hora das compras! — disse ela.
Ele também sorriu. As lojas de móveis e utensílios domésticos que visitariam hoje eram indicações suas. Dessa vez, Pardo e Polar ficariam de escanteio, porque Panda iria brilhar.
Pelo menos, foi o que ele pensou.
Tão logo iniciaram o itinerário, Pardo começou a matracar. Era uma característica dele, porém, perto de Celine, estava atingindo outro patamar. Qualquer coisa, por mais boba que fosse, era motivo para ele arrastá-la em uma longa conversa. O pior era que ela dava corda. Ambos passaram o trajeto inteiro até Oakland discutindo qual filme da sequência Parceiros da Ação possuía o maior número de explosões.
Panda torceu para que quando chegassem nas lojas, o foco dela se concentrasse nele. Uma esperança vazia. Polar apresentou uma habilidade ridícula para garimpar os melhores itens pelos menores preços aonde quer que entrasse. Celine o seguiu de perto, lógico, enquanto Panda era relegado a segurar as bolsas.
Na hora do almoço, quando pretendia usar o karaokê do restaurante como trunfo na sua aproximação, veio a bomba:
— Desculpe, Panda, mas o tempo está apertado — informou Celine, encarando o relógio. — Vamos cantar um outro dia, está bem?
Ele concordou, a decepção fixando residência em seu peito. Celine era bem neurótica com esse negócio de cumprir horários. Também havia um gênio mandão por trás dos seus olhos travessos. Quando vetou o karaokê, ninguém ousou contrariá-la.
No bazar de garagem, Panda não conseguiu disfarçar o mau humor. Ficou de braços cruzados na entrada enquanto os outros vasculhavam as mercadorias. A senhora responsável pelas vendas indagou:
— Está tudo bem, mocinho?
— Sim, só estou um pouco cansado... de ser ignorado! — cochichou.
— Pode se sentar naquele sofá — indicou ela. — Só não ponha os pés no forro.
Panda recusaria a oferta, mas Celine surgiu ao seu lado, de repente, e interrompeu:
— O sofá também está à venda?
— Na verdade, está para ser doado — respondeu a senhora. — Se conseguir levá-lo até o fim do dia, será seu.
— Ah, mas aonde eu encontraria um frete a essa hora?
Uma lâmpada acendeu sobre a cabeça de Panda.
— Não precisa de frete, Celine. Posso carregar pra você — garantiu. Um sofázinho de dois lugares não devia ser tão pesado. Confiante, segurou uma das laterais e puxou. Nada. Tentou de novo, com mais força. Nada. Colocou ainda mais empenho, até seus músculos tremerem pelo esforço. Mesmo assim, o sofá não mexeu um centímetro.
— Acho que é mais pesado do que parece — comentou Celine.
O medo de um vexame obrigou Panda a insistir na tarefa.
— Que nada — murmurou, ofegante. — É só uma questão de jeito e...
— Ei, Pan-pan — exclamou Pardo —, deixa que eu ajudo!
Antes que Panda pudesse recusar, o irmão surgiu do outro lado do sofá. Num movimento brusco, com força desmedida, Pardo lançou aquela lateral para cima. Por um instante, o sofá ficou na vertical; logo em seguida, tombou em cima de Panda, prendendo-o contra o chão.
— Ai, socorro!
Houve um grande alvoroço ao seu redor. Pardo e Polar tiraram o sofá de cima dele. Celine, com olhos alarmados, se ajoelhou ao seu lado.
— Meu Deus, Panda! Machucou?
O corpo dele estava intacto, embora seu ego carregasse uma fratura exposta.
Deixaram o bazar pouco depois. O sofá malvado ficou lá, à espera da próxima vítima. Constrangimento acompanhou Panda para o apartamento de Celine. Quando foram para o cinema, ainda remoía o jeito vergonhoso com que se debateu no chão. Não ajudou ouvir Celine perguntar novamente se ele tinha se machucado.
— Eu estou bem, sério...
Estavam na fila para comprar pipoca e, só naquele momento, Panda notou que seus irmãos tinham se afastado. Celine o fitava com a atenção que ele passou o dia todo querendo receber.
— Tem certeza que não bateu a cabeça quando caiu? — questionou ela.
Sem jeito, ele desviou o olhar.
— É, sim... — suspirou. — Você deve me achar um bobão.
— Tá brincando? Ser derrubado por um sofá não é nada. Uma vez, sem querer, ativei um colchão inflável no meio do supermercado e derrubei, sei lá, umas sete prateleiras de produtos. Levei um ano até quitar todos os prejuízos.
Panda piscou.
— Isso já aconteceu comigo!
Celine riu, e os dois entabularam uma discussão sobre quem havia passado a situação mais embaraçosa. Um páreo acirrado. Durante o filme, sentaram-se lado a lado e dividiram um balde de pipoca.
A confusão valeu a pena.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
A história do colchão inflável é canônica. Panda fez uma zona no supermercado no episódio 58, Planeta Urso.