Saturday Night e outras histórias tristes escrita por LittleMalkavian


Capítulo 6
Ah é, eu não sou tudo isso




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Era um mês de janeiro tão quente que eu tinha a sensação de estar no inferno.

Aquele mês foi um inferno.

Terminar um relacionamento com aquela pessoa que eu “crushava” desde o ensino médio não foi uma das coisas mais fáceis pela qual passei. O problema não foi o fim. O problema foi as razões e as palavras que me disse depois.

“Queria uma namorada torta de gostosa, você é só torta”

“Quero comer mais de uma”

“Será que a gostosa da tua prima vem me dar se eu falar com ela? ” – Eu tenho tanto nojo disso que me dá vontade de vomitar.

“Você nem é tudo isso”

“Grande coisa”

“Não acredito que parei de falar com meu melhor amigo por isso (se referindo a mim, lembrando que esse melhor amiguinho fazia de tudo pra ver a gente terminar e tentar me pegar) ”

“Você não é nada mesmo”

“Você foi só mais uma”

“Vê se me esquece por que é isso que eu vou fazer com você”

Sabe como isso doeu? Sabe como isso me deixou em pedaços? É, não sabe.

Aí começa um relacionamento novo menos de duas semanas depois, me liga de manhã cedo para contar como tinha sido bom passar a noite fodendo a namoradinha nova – tanto eu como ela merecíamos um pouco de respeito, não é mesmo? -E fim do mês já é relacionamento sério na facebook, mas se eu ficar com alguém sou a vadia mentirosa. Quanta hipocrisia né?

Pois é. Eu achava que ele era o amor da minha vida, mas mudei totalmente de ideia depois do fim. Eu nunca vou entender a razão dele ter me atacado dessa forma, era só ter dito “acabamos aqui e não nos veremos nunca mais”, mas precisava acabar com qualquer resquício de autoconfiança que eu poderia ter? Onde ficou minha autoestima depois dele ter se casado (dois meses depois do nosso término)? E o pior, parece que ela tenta me copiar.

Okay, meses se passam e eu me questiono todo o fim de dia, o que eu fiz para ser tratada dessa forma? Eu sou tão ruim assim? Por que ele teve que me deixar na merda, ou será que eu sou uma merda?

Mas aí eu conheço outra pessoa.

Uma pessoa que eu já conhecia – que plágio do Humberto-, mas não tinha ligado uma coisa à outra.

Era 12 de março, uma semana antes do casamento do meu ex – ah, ele ainda teve a inconveniência de me chamar para ser madrinha – mas naquela noite fria eu estava tão feliz, que até esqueci.

Foi naquela noite que de fato eu esqueci.

Eu lembro que ventava muito, e então fomos apresentados. A primeira coisa que me deixou com aquela maldita – ou será bendita? – Sensação de borboletas no estomago foi observar tímida e disfarçadamente aqueles longos cabelos castanhos, que faziam um movimento perfeito quando o vento os tocava. Parecia cena de filme. Queria evitar olhar, mas não conseguia. Se um dia me pedissem para descrever o cara dos meus sonhos eu faria aquela descrição.

Mas quando que eu teria a atenção dele? Eu não era torta? Então, vamos só assistir ao filme e eu nunca mais vou vê-lo. Será tipo a Cinderella. Só que vestindo uma camiseta do metallica e jaqueta de couro ao invés de vestido azul brilhante, e coturnos no lugar do sapato de cristal.

Os dias passaram. Senti uma pontinha de felicidade quando descobri que veria ele mais uma vez. Aniversário do meu melhor amigo – irmão, isso sim – deixei meu celular com meus amigos por instantes, e quando cheguei em casa vi que tinha uma nova galeria de fotos.

E uma foto dele.

Guardei aquela foto e sempre que podia olhava ela.

Até que um dia recebo uma solicitação de amizade no facebook. Sorri quando vi quem era. Logo depois já estamos falando sobre a camiseta de banda que eu usava no dia do cinema. Nos falamos pouco, mas eu comecei a sentir uma sensação nova.

Depois de meses fui dormir feliz.

Mais algum tempo se passou, além de ser a personificação do cara perfeito – fisicamente e mentalmente – era simplesmente tudo aquilo que eu sempre quis. Eu nunca quis o príncipe encantado, sempre bondoso e polido. Eu queria o maldito punk  estressado, teimoso, safado, masoquista e um puta ciumento. Que me tratasse bem, mas que fosse humano, soubesse que também erra e não é perfeito.

Mas aí entra a parte ruim da história…

Sem dúvidas ele supera minhas expectativas, me surpreende sempre e eu nunca me senti tão bem e protegida quanto me sinto agora. Mas será que eu correspondo às expectativas dele? Estou sendo suficiente?

É estranho, nunca quis tanto alguém, Não pelo sentimento de posse, mas ter, de cuidar, amar, estar junto, tentar ser importante na vida dele.

Enquanto eu morro de amores, será que ele está simplesmente morrendo?

Não literalmente.

Mas, apenas existindo. Respirando. Células do corpo morrendo.

Por que diabos eu tenho que ter tanta falta de esperança e confiança? Ah, é porquê eu não sou tudo isso.

 


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