Trio Maravilha escrita por Karina A de Souza


Capítulo 2
Fora de si


Notas iniciais do capítulo

E o Trio Maravilha retorna, com mais loucuras.



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—Esse sorriso diz praticamente tudo o que eu preciso saber. -Missy comentou, como quem não queria nada, enquanto mexia em algumas joias expostas na tenda. Calea olhou pra ela.

—O que?

—Ah, não, nem comece a fingir que não entendeu. Eu sei muito bem o que você e o Júnior andaram aprontando.

—O que?

—Eu tenho uma audição excelente, querida, e a proteção acústica foi desligada temporariamente por que os fios de repente sumiram... Ou foram comidos por um rato espacial, ainda não sabemos.

—Eu... Definitivamente não...

—Calea, Calea, você não pode mentir pra mim. Eu praticamente inventei a mentira. -Deu uns tapinhas de leve no rosto dela. -Você e o Júnior andaram aprontando noite passada, e não foi uma só vez. Eu perdi a conta depois da quinta.

—Missy!-Se afastou dela, o rosto vermelho.

—Isso é rubor ou você está sufocando?

—Não é engraçado. E não é certo espionar.

—Eu não espionei ninguém. Mas, caso tivesse permissão, seria muito bom.

—Não vou dizer nada sobre isso.

—Okay. -Pegou um colar. -Você não vai dizer nada sobre...

—Não.

—Ah, não faça isso com a sua melhor amiga.

—Você é minha única amiga.

—Eu sei, é bom não ter concorrência. Foi tão ruim assim?-Largou o que segurava. -Eu não costumo pensar nisso, mas eu era ótima como homem. Mas, para registro, sou muito melhor agora.

—Eu não precisava saber disso.

—Nunca se sabe. É bom testar coisas.

—Não vou dormir com você.

—Que seja. Agora desembucha. Coloca essa boquinha híbrida para trabalhar e conta tudo.

—Você sabe que estamos em público, certo? Qualquer um pode ouvir.

—Que se dane, eu quero detalhes. Garota, pra quem chutou o traseiro do Doutor e se uniu com dois dos melhores vilões desse universo, você é muito certinha.

—Eu ainda tô aprendendo. E esse assunto em particular não tem nada a ver com ser vilã ou não.

—Tem, por que uma boa vilã não sente vergonha. Ainda mais de uma coisa... Sei lá, tão natural.

—É íntimo, eu não preciso sair espalhando. -Missy parou, encarando-a. -Foi legal.

—Legal? É assim que você diz “péssimo”?

—Não vai arrancar mais nada de mim.

—Ah, não devia ter dito isso. -Sorriu malignamente. Calea tentou não recuar. -Ih, falando no garanhão...

—Por favor, nunca mais repita essa palavra.

—Ei, ele acabou de cair de cara no chão?

Calea se virou. É, o Mestre simplesmente estava estirado no chão, no meio da feira de antiguidades de Plutão Maior. Missy e Calea trocaram um olhar espantado (a primeira levemente risonha), então correram até o Senhor do Tempo.

—Você tá bem?-Calea perguntou, enquanto o ajudavam a sentar.

—Ah, ele tá sim. -Missy riu. -Talvez não bem, mas bêbado com certeza.

—O Mestre não fica bêbado. Espera, ele fica?

—Uhum. -Riu. -Você não vai querer ver isso.

—Ele não tá bêbado. -Uma moça disse, passando pelos três. -Ele aceitou uma bebida da bruxa e ficou assim. Enfeitiçado, eu digo! Fujam das bruxas!

—Júnior, merda, eu não disse pra não aceitar nada de estranhos? Logo te levam pra uma nave qualquer, oferecendo doces!

—Então ele tá enfeitiçado?-Calea perguntou. -Por uma bruxa alien? Que?

—Você tá meio...

—Linda. -O Mestre interrompeu.

—Eu ia dizer lerda. -Olhou a amiga de cima abaixo. -Mas errado não tá.

—As coisas tão rodando.

—Se vomitar nos meus sapatos, eu te jogo num buraco negro e digo que se mudou para uma colônia gay em Calisto.

—Você tá me atrapalhando, mulher. Shh. -Missy ergueu as mãos em gesto de rendição, uma expressão exagerada no rosto.

—Vá em frente.

—A gente devia levar ele pra TARDIS. -Calea sugeriu. -Antes que ele desmaie.

—Ah, não, ainda nem ficou divertido.

—Se ele desmaiar aqui, vão ser nós duas carregando ele pra nave. Ele é grande, forte e é pesado, eu sei muito bem disso. Não vamos conseguir levá-lo sozinhas. É melhor aproveitarmos que ele ainda pode andar.

—Você tá muito pensando na noite de ontem, não tá?

—Missy! Foco!

—Não. Shh. -O Mestre insistiu. -Calea?

—Sim?-As duas viraram pra ele, esperando, mas ele simplesmente ficou em silêncio. -Sim?

—Eu te amo.

Então Missy estava rindo histericamente, chamando atenção das pessoas que estavam pela feira. Calea respirou fundo e tentou manter o próprio foco.

—Okay. Por que agora você não vem com Missy e eu para a nave?

—Não. Eu ainda nem falei o resto.

—Mas não precisa. Eu sei.

—Como?-Franziu a testa.

—Eu... Tenho poderes de híbrida. Meio humana, meio Kepleriana. Sempre sei de tudo.

—Ah. Você nunca disse isso.

—Claro que disse. Você só não se lembra. Agora vamos, pode me contar mais quando chegarmos na TARDIS.

—Não interrompa o show. -Missy repreendeu. -Está ficando bom.

—Não é engraçado. Vamos, me ajuda. Missy.

—Okay, okay. Vamos, Júnior querido, hora de ir pra casa.

E lá foram as duas, uma de cada lado, levando o Mestre aos tropeços, enquanto ele insistia que tinha coisas a dizer, e às vezes dizia coisas incompreensíveis.

Quando finalmente chegaram na nave, o Senhor do Tempo apagou, caindo com tudo no chão e quase levando as duas companheiras junto.

—Você tinha razão, ele era pesado mesmo. -Missy comentou, empurrando o Mestre com o pé. -Ei, acorda, princesa. Eu não vou te carregar pro seu quarto. Inferno, por que ele deixa as luzes tão fracas?-Foi mexer no console.

Calea se abaixou para verificar o homem no chão, então parou notando algo saindo do bolso dele. Tirou a caixinha com cuidado, vendo se Missy estava olhando, e a abriu. Havia um anel dentro.

Fechou a caixinha rapidamente, enfiando no próprio bolso, e ficou de pé.

—Ele apagou mesmo, não é?-Missy perguntou, se virando.

—Totalmente. O que a gente faz?-A outra pareceu pensar.

—Sabe, eu vi uma barraquinha de comida lá na feira. Quer ir lá?

—É. Parece uma boa ideia.

—Ótimo!-Entrelaçou o braço junto com o de Calea, saindo pelas portas. -Enquanto caminhamos, você pode me contar sobre noite passada.

—Missy!

—Tá bem, tá bem.

***

—Minha cabeça está explodindo. -O Mestre comentou, uma careta de dor no rosto.

—Eu não esperaria outra coisa. -Missy zombou, sentada num canto. -Você estava completamente fora de si, maninho.

—O que?

—Bebeu a poção de uma bruxa e puff: doidão.

—Não me lembro de nada.

—Ah, eu lembro. Você falou coisas sem sentido, se declarou pra Calea e no fim caiu de cara no chão. -Sorriu. -O ponto alto da minha semana, com certeza. Tentei encontrar a bruxa depois, mas ela desapareceu. Que os deuses a abençoem.

—Você é detestável.

—Nós somos, querido, nós somos.

—O que exatamente eu fiz?-Missy riu.

—Quer mesmo saber?

***

—Aí está você!

—Meus deuses!-Calea gritou, levando a mão ao peito. -Missy, você quer me matar de susto? Disse que éramos amigas!

—Foi só um susto de nada, exagerada. -Se sentou numa das espreguiçadeiras. -Por que está na sala da piscina?

—Por que é calmo e ninguém nunca vem aqui. Além disso, o sol artificial não queima a minha pele.

—Está se escondendo?

—Não. Você está?

—Basicamente. O Mestre surtou e está revirando toda a nave. Mandei ele ficar longe do meu quarto.

—Por quê?

—Não o quero fuçando no meu baú de brinquedos...

—Não. -Balançou a cabeça, tentando não pensar que “brinquedos” eram esses. -Por que ele está revirando a nave?

—Não sei. Disse que perdeu uma coisa, mas não disse o que é, nem quer dizer.

—Que... Estranho. -Olhou rapidamente para o roupão ao seu lado. -O que acha que é?

—Algo comprometedor. Adoraria saber mais, mas Júnior não está querendo compartilhar.

—Certo.

—Quer apostar o que é?-Calea fez que não, ficando de pé e vestindo o roupão.

—Nunca fui boa em apostas.

—Tudo bem. -Se esticou na espreguiçadeira como uma gata preguiçosa. -Te conto o que é quando descobrir.

—Okay.

Foi para o corredor, sem muita pressa. Tinha aprendido muita coisa sobre seus “tutores" depois que deixou o Doutor e decidiu ir com Missy e o Mestre universo afora, com a intenção de ser uma vilã.

Ela sabia que Missy gostava de cantarolar, mesmo que errasse totalmente a letra ou a melodia da música escolhida, e que podia ser facilmente encontrada bebendo chá, enquanto lia algum livro.

O Mestre não era mais tão misterioso quanto no começo. Calea sabia que ele passava tanto tempo na biblioteca quanto em seu quarto, e que o segundo aposento era totalmente organizado, com nada fora do lugar, como ela tinha visto alguns dias atrás. Ele gostava de entrar em discussões com Missy e andava com um lápis de olho no bolso, girando-o distraidamente nos dedos de vez em quando.

Pensando bem, ele não parecia afeiçoado por nenhum objeto em específico. Se tinha perdido algo e estava procurando pela nave desesperadamente, como Missy tinha dado a entender, devia ser alguma coisa muito importante.

—Hey, o que está procurando?-Calea perguntou, vendo o Senhor do Tempo revirando uns armários na cozinha.

—Uma coisa.

—Você quer ajuda pra procurar?

—Não!-Se virou pra ela, agitado, então tentou disfarçar. -Não, não precisa.

—Okay. Avise se mudar de ideia.

Começou a se afastar, a testa franzida. O que podia ser tão importante?

Estendeu a mão, tocando a caixinha dentro do roupão, e parou de andar por um momento.

O Mestre não podia estar procurando por... Não, não podia ser.

Suspirou, deu de ombros, e continuou andando.


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Notas finais do capítulo

O que aprendemos hoje, crianças? Nunca aceitem bebidas de bruxas aliens estranhas.
Esse cap virou um gancho pra umas paradas futuras, vamos ver como isso vai se desenrolar em breve.
No próximo capítulo as coisas vão esquentar... Literalmente.
Até maaais! ♥



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