Remanescentes - A Fazenda Amaldiçoada escrita por Eddie Stoff


Capítulo 13
"Era uma vez... daí pra frente deu tudo errado"




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Nota mental: Já estou cansado de desmaiar e acordar com a cabeça doendo. Só uma vez, sério, só uma vez eu queria acordar bem, ou não desmaiar.

Desculpe o desabafo. Voltando à programação normal.

Era noite

Acordei com uma baita dor de cabeça. Pelo menos desta vez eu estava repousando no banco traseiro do carro que havíamos "pegado emprestado" do meu pai.

Meu pai... Ele sumiu diante dos meus olhos, sem que pudesse ajudá-lo de alguma forma. E para piorar, ele havia sido esfaqueado na barriga por um dos zumbis de areia. Já não bastasse ter perdido a Marie, agora ele. Em menos de vinte e quatro horas havia perdido as duas pessoas que mais amava. Será que estou passando por testes ou algo do tipo? Uma espécie de provação, quem sabe? Meu pai era a outra parte boa que eu tinha dentro de mim, agora não havia mais nada em que me apegar. Me sentia vazio por dentro.

Comecei a me agitar no banco. A cena dentro do carro era a mesma de antes: Sue sentada ao meu lado; Candence dirigindo a mil por hora, enquanto ouvia suas músicas punk/rock no volume máximo do rádio; e Ferdinand ao seu lado, fazendo as preces silenciosas para que chegássemos ao nosso destino, que agora estava se concretizando. Eu podia estar meio desorientado, mas sabia para onde estávamos indo: Bahuessi.

Este era o plano: ir para Bahuessi. Mas fomos pegos dentro de uma armação feita pelos Zumbis de Areia, quando eles invadiram minha casa e mataram Marie. E não bastasse tê-la matado, ainda foram atrás do meu pai. De uma forma distorcida, o plano deu certo, mas não da melhor maneira que poderia ser.

Minha cabeça girava. Ver a paisagem através da janela do carro a toda velocidade não ajudava muito. Segundo Candence, como sua mãe é a deusa dos viajantes e das estradas, ela conseguia se deslocar com certa velocidade acima do permitido, ficando quase que invisível para as outras pessoas. Porém, Candence gostava de viver perigosamente e quase nunca viajava invisível quando estava na hipervelocidade à la Flash.

— Você acordou — reparou Sue. Ela parecia abatida.

— O quê? — gritou Candence, no volante.

— ADRIAN! ACORDOU! — Sue gritou mais alto, o que foi um pouco exagerado.

Ferdinand parou com sua oração silenciosa para desligar o rádio.

— Ei! A melhor parte é o refrão — protestou Candence.

O grandão deu de ombros, como quem diz "tanto faz". Virou-se para trás e perguntou:

— Tampinha, está tudo bem contigo?

Demorei um tempo para responder. Era difícil assimilar que ele estava se esforçando para esboçar alguma preocupação.

— Sim. Tirando a dor de cabeça, eu acho que sim — respondi. A voz falhava um pouco — Falta muito para chegarmos em Bahuessi?

— Alguns quilômetros de Bahuessi ainda — Candence respondeu, ela ainda estava meio emburrada pelo rádio ter sido desligado.

— Adrian..— chamou Sue. O jeito que ela falava era como quem estava tentando prevenir alguma reação adversa. — Você se lembra do que aconteceu após seu pai ter sido levado pelos zumbis, no Planetário?

Me esforcei para tentar lembrar, mas nada vinha à minha mente. Do momento em que meu pai foi levado até eu acordar no carro, não tinha nada. Apenas um escuro.

— Não. Infelizmente não — respondi. — Por quê?

Sue não disse nada. Na verdade, ninguém disse mais nada. Desde que eu havia acordado, aquela era a única vez que estava em silêncio.

— Por que, Sue? — insisti.

— Não sei bem como falar isso, Adrian — disse ela, com certo receio.

— Ora, diga logo. — Candence se abusou pela enrolação. — Você teve algum tipo de surto e acabou com tudo, Adrian.

Eu fiquei sem entender.

— Surto? Como assim?

— Você começou a gritar — falou Susan, retomando a vez. — As luzes oscilaram, até que veio o apagão. Não foram simples lâmpadas queimadas. Era como se o céu tivesse apagado. E quando voltou ao normal, as janelas, os projetos de foguete, até mesmo o telescópio em si foi quebrado. Destruídos.

— Achamos você desacordado no chão — completou Ferdinand. — Conseguimos tirar você a tempo de evitar que uma das maquetes caísse bem em cima da sua cabeça. — Ele deu um sorriso torto, sem graça. — Acho que nos deixa quites.

— É, eu acho que sim. Obrigado — agradeci meio sem jeito.

— Adrian, durante todo o percurso que fizemos até agora, desde que saímos de lá, venho pensando em algo — revelou Candence. — O incidente na sua antiga escola, a High Tower, o que te acarretou a fazer aquilo? Talvez não tenha sido intencional, mas deve ter ativado algum gatilho para ter acontecido aquilo.

Não foi intencional, Candence. Eu não sei bem o que me levou a fazer aquilo, pode ter sido as falsas acusações ou o bullying que faziam. Acho que devo ter chegado no meu limite e acabou saindo do controle. — Relembrar o que aconteceu na High Tower fez minha cabeça doer mais ainda. Aquela era uma parte do meu passado que eu queria esquecer, mas parece que não dava. Sempre teria algo para me fazer lembrar.

— Você está bem, Adrian? — Sue havia notado meu mal-estar.

— Não — respondi. A cabeça doía demais.

— Susan, pegue aquele último pedaço do bolo cura tudo que coloquei na sua mochila — disse Ferdinand.

— Tá. — Ela abriu a mochila e retirou de dentro um paninho branco que enrolava o pedaço do bolo. — Aqui.

Nem pensei duas vezes. Posso ter parecido alvoroçado, mas coloquei o bolo na boca na mesma hora que ela entregou. O gosto era quase o mesmo de antes: bolo de laranja que a Marie fazia, junto com bolinhos feitos no Confins de Júpiter, quando ia com meu pai até lá.

Talvez estivesse querendo me mostrar algo como “não importa aonde vá, eles estarão com você”. Só que eu não queria nada disso. Não queria me ver no meio de alguma coisa sobrenatural envolvendo deuses e monstros. Queria ser apenas eu, Adrian West, um pré-adolescente qualquer, sem amigos. E com as duas pessoas que mais amo sãs e salvas. Mas parece que não podia.

Enfim, o bolo começava a fazer efeito. Minha cabeça já não doía tanto, virou apenas um incômodo passageiro que rapidamente extinguiu-se. Senti, também, fazer efeito pelo restante do meu corpo. Não lembrava de ter sido gravemente ferido, apenas uns pequenos cortes nas mãos e braços, e o joelho ralado de quando entramos pela passagem secreta do Planetário. Porém, a única dor que aquele bolo não curava era a emocional, a qual, infelizmente, era a pior de todas.

Quando achávamos que estava tudo bem e tranquilo, Candence voltou a ligar o rádio. O heavy metal era cuspido pelo rádio no volume máximo, causando desconforto nos ouvidos. Resmungamos, mas ela preferiu nos ignorar e se concentrar na pista, enquanto cantava os refrãos das músicas errado. Ela se enrolava toda, era até engraçado.

Eu já estava confiando mais neles, mas ainda ficava meio relutante com tudo aquilo, talvez eu não estivesse pronto para o que viesse no futuro.

***

Passavam das sete horas quando atravessamos a divisa entre Sempre Noite e Bahuessi. O trânsito era praticamente escasso, a não ser por alguns animais que corriam pelo acostamento da rodovia. Mas acho que não contam como trânsito. Com o dom da Candence, conseguimos percorrer o trajeto em quase tempo recorde. O tempo médio entre Sempre Noite e Bahuessi é cerca de oito horas de carro. Ela fez isso na metade do tempo.

Sue, que estava ao meu lado, parecia animada com a ida para o tal Q.G. Depois de horas desde que soube que ela era uma... Qual era mesmo o termo que Candence disse? Ah. Remanescente, isso. Ela já estava aceitando um pouco melhor essa outra vida na qual entramos hoje.

Quanto mais adentrávamos a cidade, a floresta ia se perdendo nas poucas lembranças de minutos atrás. Bahuessi, ao contrário de Sempre Noite, é uma cidade mais urbanizada, voltada à rapidez e urgência que uma cidade grande precisa. A cada esquina erguia-se um arranha-céu novo. Quarteirões e mais quarteirões daqueles prédios enormes que doíam a cabeça ao tentar enxergar o topo.

Passamos por uma rua cheia de bares, restaurantes e lanchonetes. Eram seis em cada lado, enfileirados e organizados em um único padrão, como se fossem galerias gastronômicas. Minha barriga roncou um pouco alto demais. Sue olhou pra mim, surpresa.

— O que foi isso? — questionou Candence, sem tirar os olhos da pista.

— Foi a barriga do Adrian. — Sue não aguentou e começou a rir.

Os outros dois a imitaram e começaram a rir também.

— Não tem graça — protestei— Não como nada desde o almoço, e nem vocês também.

— E por isso você tem um leão da montanha na barriga, Tampinha? — retrucou Ferdinand, em meio às gargalhadas.

Como sabia que não adiantava reclamar ou ficar zangado, comecei a rir também. O clima dentro do carro com eles estava ficando legal, por um momento esqueci por tudo que havíamos passado. Esses três, em poucas horas, se provaram serem amigos leais, mesmo com certo atrito em ambas as partes, mas conseguiríamos superar.

Nas poucas horas já havíamos enfrentado coisas que pra mim eram inexplicáveis, impossíveis de existir. Marie sempre me dizia para seguir apenas em frente, fazer amigos e nunca olhar para o passado. De certa forma eu estava fazendo o que ela pediu. Ela, onde quer que estivesse, devia estar orgulhosa dos avanços que fez hoje. E meu pai... Ele sempre me apoiou no que fosse.

Eu estava focado tão intensamente em meus pensamentos que demorou alguns minutos para eu notar que havíamos saído do centro urbano de Bahuessi. Essa área para onde estávamos indo tinha bem menos prédios e mais casas tradicionais, sem grandes apartamentos. Aquela região de Bahuessi eu nunca tinha visto, mas era algo simples, um tanto confortável para se morar, ao menos era o que parecia.

— Estamos quase lá — anunciou Candence.

Poucos metros adiante, o carro começou a engasgar e a pifar. Saía uma fumaça esbranquiçada do capô, até que o carro morreu. Saímos às pressas para ver o que tinha acontecido. Candence, com ajuda do Ferdinand, levantou o capô. A fumaça veio direto na sua cara. Ela espanava a fumaça com uma das mãos, enquanto cobria o rosto com a outra. Ferdinand fazia o mesmo.

— O que houve? — perguntei. Obviamente eu sabia que o carro tinha dado problema, só não sabia o quê.

Silêncio.

— Tenho duas notícias, uma boa e uma má — disse Candence.

— Diga a má. — Sue se aproximou do capô, e eu, claro, fui junto.

— O carro morreu. Está com algum problema no motor ou algo do tipo — contou Ferdinand.

— A boa é que falta pouco para chegarmos ao Q.G. — acrescentou Candence.

— Pouco quanto?

— Uns quinhentos metros, mais ou menos — falou Ferdinand.

— Ótimo — resmungou Sue, chutando uma pedrinha na pista, indo para o carro.

— Bom, quem está a fim de uma boa caminhada ao luar? — perguntou Candence com seu usual bom humor, ignorando Susan.

— Vou falar com ela — disse eu.

Entrei no carro e sentei ao lado da Sue.

— O que houve?

— Nada, Adrian — ela rebateu.

— Qual é, Sue, passamos por um bocado de coisa hoje. Você pode confiar em mim.

Ela não disse nada de imediato, mas depois começou a falar:

— Não foi nada, Adrian, sério. Se formos andando podemos acabar em uma emboscada, vocês têm meios de se defender, enquanto eu ficaria para trás.

Eu sabia o que ela estava sentindo. Já havia me sentido assim também. Como alguém impotente que não consegue ajudar seus amigos ou familiares quando mais precisam.

— Ora, você não foi inútil, Sue — Tentei confortá-la. — Você achou a passagem que deu de entrada para o Planetário. E também ajudou a acabar com aqueles zumbis com a faca que o Ferdinand te deu. Talvez a Candence nunca vá admitir, mas você meio que salvou a vida dela.

— Você acha? — Susan esboçou um sorriso. 

—  Claro que sim. Você fez mais coisa do que pensa. Se não fosse por você, eu não estaria aqui. Galiofeu teria me matado ou me entregado para “Ele”. Você foi muito corajosa, Sue.

Ela pareceu concordar.

Sue me abraçou e enterrou a cabeça no meu ombro, parecia estar chorando e ela fungava um pouco. Ficamos pouco mais de um minuto abraçados, e quando ela se afastou eu estava totalmente vermelho. Parecia um pimentão. Sue não pareceu se importar. Enxugou as lágrimas, ajeitou a roupa, pegou a mochila do piso do carro e saiu.

— Vamos bobão — chamou, para irmos fazer a caminhada sob o luar junto de Candence e Ferdinand, que esperavam já impacientes. Candence nos olhava de um jeito estranho, como se apenas ela pudesse ver o que estava acontecendo além do abraço. O que não teve nada!

Nós quatro fomos andando pela calçada de um jeito nada suspeito. Dois garotos e duas garotas andando juntos sob a luz da lua. Os vizinhos daquele quarteirão nos olhavam atravessados, era possível sentir o desgosto que eles tinham ao nos ver. Era como se eles vissem quatro jovens e dissessem "Ah, outros delinquentes estão se unindo à causa. Viva! Mais roubos no bairro”. Um dos moradores gritou:

— Vão embora! Não precisamos de mais adolescentes problemáticos por aqui.

Candence disse para ignorarmos, e assim fizemos.

Paramos em frente a uma casa de madeira velha e caindo aos pedaços. Era quase um milagre a casa ainda estar de pé. Bom, milagres devem ser uma ramificação das coisas que acontecem conosco. A casa não tinha janelas, apenas um vão no lugar em que elas ficariam. A escada que tinha para subirmos estava faltando alguns degraus. Acho que a parte mais estranha foi um senhor sentado numa cadeira de balanço virado para a rua, nos saudando.

— É aqui — falou Candence.

— Lar doce lar. — Ferdinand suspirou em alívio.

Sue olhou pra eles, espantada. Eu também estava.

— O quê?

O senhor gritou lá da varanda:

— Estão atrasados, Candence e Ferdinand. Parece que conseguiram trazê-los. Não que eu tenha duvidado. Venham, entrem. A reunião está prestes a começar.

O lugar não parecia um dos mais agradáveis para se morar, mas Candence e Ferdinand seguiram até a varanda da casa. Sue e eu os seguimos sem entender muito bem. Quando dei o primeiro passo em um dos degraus, ele partiu ao meio. Eles viraram pra trás.

— Foi mal — falei, sem graça.

— Tudo bem, Adrian. As coisas quebram facilmente por aqui — respondeu Candence e voltou a subir normalmente.

A cada passo que dava, ficava mais próximo daquele senhor, dando uma olhada melhor nele. O senhor devia ter por volta dos setenta, talvez oitenta anos. A pele era morena, castigada pelo sol. Tinha poucos cabelos, mas esses poucos eram grisalhos. O detalhe que mais chamou a atenção foi o fato de ele ser cego, algo que eu não havia percebido até então. Ele havia reconhecido Candence e Ferdinand sem ao menos conseguir enxergar, e, além disso, sabia que eles estavam acompanhados por Sue e eu.

— Demoraram muito — disse o homem. Sua voz era profunda, meio trêmula por conta da idade. — Receio que não era uma simples missão de busca.

— É, Paul, foi mais complicado do que previsto — contou-lhe Candence. — No fim, conseguimos e os trouxemos para casa.

— Tragam eles até aqui, quero vê-los de perto.

— Vê-los? — sussurrei pra Sue, do meu lado. Ela não disse nada, apenas revirou os olhos em desaprovação.

— É modo de expressão — respondeu Paul, claramente tendo uma audição muito boa.

— D-Desculpe... Senhor.

— Não, tá tudo bem. — Riu. — Acontece com todos que vieram pela primeira vez. Antes de tudo, crianças, meu nome é Paul du Garth. Sou, hã, como vocês viram? O sentinela do I.Q.G. E vocês?

— Meu nome é Susan McMenning, senhor. — Sue se apresentou. — Com dois n. Mas pode me chamar de Sue.

Claro que ela disse isso de novo.

— Sinta-se à vontade, minha querida. — Paul ofereceu-lhe a mão em cumprimento. — E você, quem é? — perguntou para mim.

— Adrian, senhor. West — respondi.

O sorriso no rosto do Paul desapareceu. No lugar, ficou apenas uma carranca sinistra. Era óbvio que ele teve algum pressentimento.

— Ah, seja bem-vindo, Adrian. — Ele limpou a garganta, me cumprimentando.

— Agora que vocês já se conhecem, Paul, temos que ir, não é? — disse Candence. — A reunião.

— Sim, sim, minha querida. — Paul estava distraído. — A reunião. É bom vocês irem logo.

— Paul, cadê o Beto? — Ferdinand perguntou, de repente.

— Ele deve ter ido dar uma volta, esquentar aquele esqueleto velho dele. — Paul riu.

— Quem é Beto? — perguntou Sue.

— Meu cachorro, Beethoven — respondeu Paul. — Um São Bernardo gordo e velho.

— Você tem um São Bernardo chamando Beethoven? — perguntei, segurando o riso por pouco.

— É. Por quê? — Paul não parecia ter entendido a referência.

Nem um deles, na verdade.

— Não, nada. É um bom nome para cachorro — falei, em meio à contenção de uma gargalhada.

— Vamos logo — repreendeu Candence. — Não quero lavar os estábulos dos cavalos de novo por ter chegado atrasada.

Os poucos cabelos de Ferdinand pareceram se arrepiar quando Candence falou isso.

— É, vamos logo. Nada de estábulos pra mim. — Ele se virou na direção de Paul. — Até depois, Paul.

— Até, crianças — respondeu, sucinto. Voltou para a cadeira de balanço, encarando a rua com seus olhos brancos.

— Não é por nada, mas como, logicamente, há um Q.G aí dentro? — indaguei. — É apenas uma cabana velha de madeira.

Candence deu um sorriso de canto de rosto.

— Vocês verão.

— São Bernardo. Beethoven — sussurrei pra Sue, ignorando a resposta vaga de Candence. — Clássico.

— Você não tem jeito mesmo, não é? — resmungou de volta.

— Não quando a ironia já vem pronta.

Ela revirou os olhos.

Ferdinand foi à frente e abriu a porta. Ela rangeu alto, como se não fosse aberta há décadas. Dentro da casa o visual era pior que do lado de fora. Não tinha muitos móveis, apenas uma mesa velha de madeira e um sofá rasgado no canto da sala. Havia duas escadas – uma em cada canto da sala que davam acesso até o primeiro andar. As janelas, como já tinha visto antes, não tinham vidros, apenas cortinas desgastadas.

— Isso é o Q.G? — perguntei, cético.

— Apenas entre, Tampinha — retrucou Ferdinand.

— Venham — chamou Candence, atravessando a porta, e, no mesmo instante, sumindo através dela.

Sue olhou pra mim incrédula, eu também estava. E eu achando que teria uma noite tranquila, sem esquisitices.

— Como? — Sue estava boquiaberta.

— Vocês vão saber tudo após a reunião. Agora, vamos logo! — Ferdinand atravessou também. A mesma luz o cercou, fazendo-o sumir.

— Primeiro as damas? — Brinquei. Sue me deu um soquinho no braço.

— Não. Vá você. Estarei logo atrás.

Relutante, atravessei. A luz branca veio. Senti meu corpo esquentar um pouco. E então foi como um flash. De repente, estava tudo branco. Não conseguia ver nada. Tentei olhar para trás, mas não adiantava. Tudo branco. “Estou cego,” pensei. Mas a sensação não durou mais que um minuto. Num piscar de olhos, a minha visão estava normal, como se nada tivesse acontecido. E o que eu vi me deixou maravilhado e surpreso.

Aquela velha cabana havia se tornado, hum... Algo a mais. Candence e Ferdinand estavam parados à frente, enquanto Sue apareceu logo atrás de mim, tendo os mesmos efeitos que eu tive.

Logo de cara, acima de nós, estendia-se um arco de mármore que devia ter cerca de seis metros de altura, coberto por algumas raízes que se enroscavam nele. Na parte central do arco tinha três letras: I.Q.G. Olhei para trás, a rua ainda estava lá, como a varanda daquela cabana velha. O velho Paul continuava olhando em direção à calçada. Foquei no lugar que  surgia diante de mim: uma trilha feita por grandes blocos de pedras com ornamentos brilhantes na lateral. O gramado parecia ter sido aparado recentemente, pois ainda dava para sentir o cheiro de quando a grama é cortada. Havia arbustos, uns canteiros de flores e árvores.

Ao lado esquerdo, tinha algo similar a um laguinho com pedras envolta dele. À direita, mais adiante, podia-se ver um espaço circular enorme, tipo uma arena para práticas esportivas. O prédio era grande, não tinha telhado; uma arena ao ar livre. Pude ver lá dentro poucas pessoas usando espadas contra o que pareciam ser bonecos de treino.

A coisa mais incrível que vi foi uma sequoia gigante de sei lá quantos metros, com uma luz forte amarela saindo de seu topo, iluminando o lugar como um grande farol.

Porém, o lugar que mais chamou atenção foi uma casa enorme de madeira, estilo aquelas que ficam em fazendas. Ela tinha quatro andares. As cores com a qual a casa havia sido pintada eram de um vermelho intenso, como as cores da ponte, assim como uma espécie de quartinho que estava conectado à casa A varanda tinha um balanço, uma mesinha e algumas cadeiras. As janelas estavam descobertas, revelando as luzes acesas na parte de dentro da casa. Algumas pessoas corriam até lá, quando soou um apito.

O vento soprou junto dele e vieram alguns gritos daquelas pessoas: "Vai logo. Está começando”.

Adiante, como um apêndice do lugar, havia uma espécie de ilha onde ficavam pequenos prédios, ligados até a parte principal do lugar por uma ponte vermelha, feita de madeira com detalhes coloridos.

Fui tirado do vislumbre do lugar, quando Sue gritou bem atrás de mim:

— Adrian! — Ela tateou o ar, me procurando.

— Calma. Estou aqui — respondi, segurando sua mão. Senti um choque percorrendo todo meu corpo.

— Por que está tudo branco? Não estou vendo nada. — Ela estava nervosa.

— Vai passar logo, Sue, também aconteceu comigo.

— Não estou gostando disso, Adrian.

— Isso acontece com todo mundo, garota, não tem porquê o drama. — falou Candence no seu estilo “educado”.

— É, Candy, acontece. Mas a primeira vez é sempre pior que as outras. Nossos olhos não estão acostumados à mudança tão brusca de cenário. — Ferdinand a repreendeu.

— Bah, tanto faz, Fer. Fique do lado dessa garotinha chorona e não do meu. Vejo você na reunião. — Ela se virou para mim. — Foi bem legal hoje, sabe, tirando o fato de que sua babá, ou melhor, a Dêida que cuidou de você, morreu, e seu pai foi levado só os deuses sabem para onde. Até depois.

E foi em direção à casa com as luzes acesas.

— Sue, você está bem? — perguntei.

— E-eu acho que sim. — Ela piscava os olhos repetidamente. — Já não está mais tudo branco. Está voltando ao normal.

— Temos que ir — Ferdinand nos empurrava para não chegarmos atrasados. — A reunião já vai começar.

— Vamos participar dela, sabe, Susan e eu?

— Não, não. A reunião é apenas para efetivos. Vocês ainda precisam falar com Gregório, o diretor do Instituto.

— Instituto? — Estranhei. — Não era um Q.G?

— Sim, é. — Ferdinand coçou a cabeça. — Quando falei Q.G me referia à casa, não ao lugar todo. Aqui é um dos poucos lugares em que nós estamos a salvo de ataques.

— E que lugar seria esse? — Sue ainda estava meio zonza, mas participou da conversa.

— É o Instituto Quase Gente — contou o grandão sem titubear, mantendo sua expressão fechada.

— Sério? — Fiz esforço para não rir. — Então não somos “gente”?

— Não temos tempo para isso, novato — Ferdinand não sabia levar na esportiva, isso era certeza — Agora, temos que ir..

Sue e eu seguimos ele.

As outras pessoas que também iam até lá nos olhavam como se fôssemos estranhos, alguns apontavam e diziam:

— Olha, mais novatos. Já temos com quem pegar no pé amanhã.

Um grupinho deles riu.

Já dentro daquele casarão, as pessoas se amontoavam em direção a uma das salas, que ficavam ao lado direito do recinto. Na esquerda, havia a escada que dava acesso aos andares seguintes. Espiei pela base da escada, tentando ver algo lá em cima, mas as luzes do outro andar estavam apagadas.

Dentro da casa mostrava-se certo luxo — pisos de cerâmicas ornamentadas com figuras bem distintas. As paredes eram coloridas de azul claro, havia algumas mesas com vasos, alguns livros empoeirados. Tinha quadros emoldurados que retratavam batalhas; em um deles estava desenhado duas pessoas com espadas em mãos, lutando contra gigantes seres cinzentos com chifres enormes.

Ferdinand nos levou até uma sala  com uma plaquinha na porta escrita: Diretor.

— Vocês vão ficar aqui esperando a reunião terminar, para o Gregório vir falar com vocês — O grandão praticamente nos jogou dentro da sala. — Se ocorrer tudo bem, vocês serão integrados ao Instituto, terão direito a estadia e treinamentos para lutar contra os monstros lá fora.

— E se não formos aceitos? — Perguntei sem intenção de irritá-lo, mas ele não pareceu ter visto assim.

— Obrigado, Ferdinand. — Sue entrou no meio impedindo de surgir algum atrito entre nós, o que não aconteceu.

Felizmente, não teve abraço.

— É, valeu — Agradeci mesmo ele sendo um pé no saco o dia todo, mas o grandão tinha seus méritos por ter nos salvado algumas vezes e feito seu máximo para nos trazer até o Instituto.  — Obrigado por tudo.

— Nos vemos por aí, Tampinha. Não se meta em confusão — Ferdinand não perdia uma oportunidade para me provocar, mas não me deixei levar por isso. — Até depois, Sue.

Ele foi se afastando, indo até a sala onde estava o amontoado de gente. Era possível ouvir a gritaria vinda de lá, mesmo estando na sala do Diretor. Até que uma voz autoritária falou mais alto:

— SILÊNCIO! Toda semana é a mesma coisa: é essa algazarra na hora da reunião. Assim eu não aguento. Falem um de cada vez. E fechem esta porta, pelos Deuses. Vocês ainda vão me matar.

Todos riram.

— E agora? — Sue perguntou. Ela parecia desconfortável em estar ali, a garota olhava para todos os lados, como se esperasse que algo de ruim fosse acontecer a qualquer momento. Felizmente nada aconteceu.

— Acho que só esperar terminar a tal reunião — falei. Queria acreditar que não demoraria tanto, mas pelo que dava para escutar da reunião, eu não estava tão certo se seria algo rápido.

A sala do diretor Gregório era algo exagerado. Se alguém dos direitos dos animais fosse até lá, com certeza teria um troço. A quantidade de animais empalhados era assustadora. Era nas paredes, com as cabeças de animais colocadas em pilares por quase toda a sala. Tirando isso, era uma sala como qualquer outra. Era tingida de branco, tinha uma mesa de madeira em seu estado mais bruto, como se tivessem cortado e colocado lá.

— Não estou me sentindo bem, Adrian — reclamou Sue. A garota parecia estar prestes a vomitar com todos aqueles animais mortos — Todos esses animais... Parece que estão me encarando.

— Eu sei. Também não me agrada ficar aqui — confessei. — Mas não temos muitas escolhas, não é?

— Infelizmente, não — respondeu, cabisbaixa.

— Tenta não olhar para as cabeças ou as aves. — Sugeri.

— Sério? Como se fosse possível. O lugar todo está coberto pelos animais, não é como se pudéssemos olhar outra coisa. 

— É, tadinho dos animais.

— Está brincando com minha cara, Adrian? — Ela me encarou como se fosse me encher de socos.

— Não, não. Sem brincadeiras — Levantei as mãos. Susan tinha esse olhar ameaçador que não tinha visto ainda. Fazer "brincadeira" sobre animais estava fora de questão, mesmo que esteja apenas na minha cabeça, o que não era o caso. — Realmente me solidarizo com esses pobres animais.

— Acho bom, garoto.

 

Até que não esperamos muito tempo naquela sala recheada de animais empalhados. A reunião acabou até que relativamente rápido. A multidão que tinha adentrado a outra salinha estava saindo, gritando pelo corredor do casarão. Tive uma falsa esperança de que Candence e Ferdinand viessem para ajudar na explicação do que ocorrera hoje de tarde, mas não aconteceu. Em vez disso, o diretor do Instituto, Gregório, entrou sozinho, tinha uma cara de cansaço, como se coordenar dezenas de alunos fosse extremamente estressante. 

Assimilar alguém que mata animais por esporte com Gregório foi relativamente fácil. O homem tinha uma expressão bizarra ao olhar para seus troféus, como se tivesse orgulho de ter matado cada um deles, mas, ao mesmo tempo, ele também  nos olhava como se pudesse nos ler facilmente, como se soubesse de tudo que passamos, talvez tivesse sido assim para todos eles que estavam naquele lugar. (Só depois soube que todos nós tínhamos histórias parecidas, tristes em sua maioria, de parentes sendo mortos, de monstros nos perseguindo implacavelmente)

Gregório era alto com os cabelos pretos envoltos em gel, deixando-o brilhoso. Seus olhos eram castanhos e tinha um bigode com alguns pêlos grisalhos. Vestia um terno branco. Do paletó a calça, do colete ao sapato. Pela camisa que ele usava ser apertada, dava pra ver a protuberância da sua barriga. Ele parecia mais um dono de fazenda do século XVII, do que o responsável por aquele lugar. Entretanto, ele possuía, de fato, uma imponência autoritária, não muito rígida, mas de alguém que levava sua função de diretor bem a sério.

Ele passou por nós sem dizer uma palavra sequer. Sentou-se na sua cadeira, de frente à janela. Pegou uma garrafa de uísque de uma das gavetas e serviu um copo para si. Gregório nos olhou por um breve momento, como se já tivesse feito aquilo por dezenas de vezes ao longo de sua carreira como diretor do Instituto.

— Olá, crianças — disse Gregório. — Por que estão aí? Venham, sentem-se nas poltronas.

Não querendo contrariar o cara, nós fomos.

— Querem alguma coisa? — ele perguntou, mas tenho quase certeza que a resposta que ele queria era “não”.

— Não, senhor. Obrigada mesmo assim — disse Sue.

— E você, garoto?

— Não, estou bem. Obrigado — respondi.

— O que acharam da minha coleção de bichinhos? — Apontou para as cabeças empalhadas na parede. Algo em mim gritava que aquilo estava mais para uma provocação do que uma pergunta sincera. Ele reparou como Susan o encarava por causa dos animais nas paredes.

— Bem exótica — disse Sue tentando demonstrar que estava confortável ali, mas era visível que se esforçava para não falar o que fosse sobre os animais expostos como troféus na sala. — Um tanto triste pelo tanto de animais que deram as vidas para estarem pendurados na parede.

— É verdade — concordei. — A variedade de espécies dá vida ao lugar. Se fosse uma sala de um naturalista seria perfeita a decoração.

Gregório não pareceu se importar com o comentário, até achou graça, na verdade.

— Vocês são educados e tímidos, o que é bom para irem se acostumando por aqui. Creio que irei gostar de vocês no começo e depois vou odiá-los. — Sorriu, mostrando seus dentes amarelos. — Mas não se preocupem, não gosto da metade dos que estão aqui, também. Bom, que tal contarem a história de como chegaram aqui, e só depois disso veremos se poderão ingressar no Instituto.

Comecei a contar tudo (Quase tudo) o que aconteceu até chegarmos ao Instituto. Contei também que, de alguma maneira, eu tinha asas agora. A todo instante que Susan se propunha a narrar os fatos, ela aperta forte os punhos da poltrona, como se fosse doloroso demais relembrar de tudo que nos aconteceu nas últimas horas. Eu entendia sua aflição, pois também a sentia, e não era nada confortável estar numa sala cheia de cabeças de animais nos encarando.

— Asas? — indagou Gregório. — Interessante. Não parem, quero ouvir o restante da história.

Sue relatou que a chegada de Candence e Ferdinand foi crucial para matar de vez Galiofeu.

— Galiofeu? — Gregório passou a mão em seu bigode, parecia surpreso por termos sido atacados pelo Chacáh. O diretor colocou outra dose de uísque e continuou atento ouvindo nosso relato. — Os dois devem ser encrenca para quem quer que esteja atrás de vocês.

— Na verdade, senhor, ele estava atrás de mim — contei. — Susan ter se envolvido nessa é culpa minha.

— Ora, Adrian, era me intrometer para tentar te salvar, ou você ia morrer de qualquer jeito — lembrou Sue. Eu a olhei e a garota sustentava um sorriso, como se sua decisão de me salvar tivesse sido a coisa certa a se fazer, ainda mais por alguém que ela mal conhecia.

— Eu sei. E obrigado por isso — agradeci de novo. 

— Tá, tá. É bom ver que vocês são amiguinhos. — Interrompeu Gregório. — Mas se possível podem continuar a história? Minha intuição diz que tem muito mais coisa por vir.

— Pode apostar que sim. — respondi.

Voltei a contar o que aconteceu a partir da chegada deles dois. Contei que fomos a minha casa para pegar o carro do meu pai emprestado, mas quando chegamos lá tinham dois corpos de zumbis de areia estirados no chão, e Marie, até então a mulher que cuidou de mim, revelou ser uma das Cinco Dêidas. E logo após contar sua história, ela acabou perecendo com os ferimentos.

Sue continuou a história, enquanto eu recuperava o fôlego. Contou que fomos até o Planetário Pérola Lunar para resgatar meu pai que, segundo Marie, antes de morrer, estava em perigo. Quando chegamos lá, os zumbis de areia já haviam tomado o lugar, matando várias pessoas, destruindo o lugar e levando meu pai. Ao terminarmos de contar nossa trajetória até chegarmos ao Instituto, Gregório disse:

— Puxa! Vocês passaram por um bocado, crianças.

Só isso?, pensei. Contamos tudo que havia acontecido conosco, e tudo que ele diz é apenas isso? 

— Pois é, passamos por tudo isso — Sue concordou secamente. Ela pareceu ter o mesmo pensamento que eu. — Meu pai, antes de me despedir dele no colégio, disse algo relacionado a esse lugar, como se ele já conhecesse.

— Seu pai? — perguntou Gregório, estranhando o fato. — Ele é mortal ou a parte divina?

— Mortal.

— Hmm. — Gregório coçou a testa. — Geralmente os mortais comuns não sabem da existência do Instituto. Aquela cabana velha lá fora serve como fachada aos olhos deles. É possível que sua mãe, a parte divina, tenha dito algo pra ele.

— É. Ele disse algo assim, sobre ela ter alertado que esse dia chegaria.

— Bom — Ele se levantou e nos rodeou, ficando no meio de nós dois. —, acho que depois dessa história que acabaram de contar, não tenho mais dúvidas: vocês estão oficialmente integrados no Instituto. Não que vocês não fossem aceitos. Sabe, tem poucos de nós lá fora, não podemos deixar os nossos à mercê dos monstros. É uma honra tê-los conosco e blábláblá. — Fez uma pausa quando notou a confusão em nossos rostos. Gregório conseguia ser uma pessoa legal e chata num piscar de olhos. — Desculpe, crianças, não quis parecer grosseiro. Depois da reunião de agora pouco, minha cabeça está doendo. Vocês não têm noção do que é comandar sessenta adolescentes. Mas, de fato, é uma honra ter jovens tão promissores em meio a nós. Espero que vocês não sejam como alguns outros daqui, achando que tudo que fazemos no Instituto é brincadeira.

— Não, senhor. — Sue quase bateu continência.

— Pode deixar. Não faremos nada disso — disse eu.

— Queria eu acreditar nessas palavras. Sabe, estou no cargo de diretor daqui há quase duas décadas, já vi muitos jovens promissores, assim como vocês, que por ter aprendido o básico já saíam atrás de monstros. Poucos voltaram — Gregório sorriu tristemente. — Enfim, espero que cumpram o que dizem. — Ele nos encarou fixamente. — Há algo lá fora, crianças. Algo mau, como há séculos não se tinha conhecimento. Não precisa ser nenhum vidente para saber que alguma coisa está para acontecer, então precisamos de todos remanescentes que pudermos resgatar.

Gregório caminhou até a porta.

— Venham. Vocês parecem cansados, o que não me admira se baseando no dia que tiveram. Irei levá-los para seus novos quartos.

E assim estava sendo o meu dia após saber que minha mãe é uma deusa, que não podia mais vir à terra (mesmo ela vindo até mim); que a mulher que considerei ser uma mãe pra mim era, na verdade, uma Dêida e que ela sacrificou todo seu legado para vir cuidar de mim. E sabe-se lá quando irei ver meu pai de novo, ou se um dia voltarei a vê-lo.


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