Sabe, eu não sou muito bom com essas coisas. Como começa? Tenho que dizer meu nome primeiro ou colocar no final?

Como foi que alguém me convenceu a escrever sobre a minha vida? Muitos não vão acreditar no que estou dizendo. Na certa pensarão que estou delirando ou que eu tenho problemas mentais.

Oi, meu nome é Adrian West. Mas podem me chamar apenas de Adrian. Estou aqui para falar um pouco sobre como minha vida transformou-se numa gigantesca confusão depois que eu descobri que os deuses existem. Sim, eles existem. Demore o tempo necessário para assimilar a ideia.

Se você que estiver lendo isso for um dos nossos, recomendo que procure ajuda imediatamente. Agora, se for um leitor casual que está procurando algo fantasioso e alegre, você errou de lugar. Não há nada de alegre ou finais felizes por aqui.

 As coisas que irá ler a partir de agora mudarão a sua vida de maneira drástica. Continue se tiver coragem, ou se for mais um daqueles malucos que tem por aí. Ótimo, estou xingando os leitores. Mandei bem! Agora ninguém vai ler.

Bom, você deve estar curioso pra saber o que está aconteceu e como acabei nessas circunstâncias. Vou explicar algumas coisas que farão você entender, pelo menos um pouco, no que me meti.

Então, sabe quando sua vida começa a tomar um rumo inesperado e de repente você se vê preso em algo maior do que você esperava que fosse? É assim que me encontro desde meus treze anos. Sabe, eu fui forçado a entrar num mundo completamente diferente para salvar as pessoas que amava.

Cá entre nós, eu não sabia aonde eu realmente estava me metendo quando decidi aceitar minha descendência de Remanescente. Porém, infelizmente, é algo que você não pode apenas dizer que não quer mais. É como se estivéssemos marcados para sempre. Aliás, “Remanescente” é um termo utilizado para os filhos ou descendentes de filhos dos deuses antigos. O termo é referente ao fato de sermos os últimos da linhagem dos deuses. Os que sobraram. Ser um de nós, no começo, parecia ser bem legal. Sabe, as aventuras, as novas descobertas, finalmente se sentir aceito. Ah, e sem falar das lutas com espadas e outros tipos de armas que são bem legais, com exceção dos machucados.

Mas, acho que se esqueceram de mencionar a parte perigosa no "Manual de Introdução à vida de Remanescente (versão atualizada)" o que chega a ser engraçado, já que são trinta minutos de explicação. Segundo o Manual, ser um Remanescente é fazer parte da história, é ser a herança deixada pelos deuses.

Sobre os deuses: Eles vêm desde os tempos antigos à Terra para, sabe, ficar com mortais, terem filhos ou até mesmo só para ver como estão as coisas por aqui. Em um desses casos de deuses vindo à Terra, minha mãe (SEM SPOILER!), conheceu meu pai. Queria poder dizer que eles se apaixonaram e viveram felizes para sempre, mas não foi bem assim.  Bom, de acordo com meu pai, ele ficou MUUUUITO apaixonado por ela e vice versa, até começaram a morar juntos (Olha só que loucura, né? Uma deusa largando tudo para viver um grande amor) e, nesse meio tempo em que ficaram juntos, ela acabou engravidando e meses depois, cá estou eu! Obviamente, se você for esperto saberá que se passou alguns anos desde que nasci.

E foi aí que começou o problema. Anos depois dela ter partido, eu soube que, após eu ter nascido, ela começou a perder o controle dos seus domínios. Os outros deuses, obviamente, não gostaram muito da ideia dela ter deixado de lado a vida que ela tinha antes. Mesmo que tenha sido temporariamente.  Então, ela teve que partir para retomar o controle de seu reino, deixando meu pai e eu – que devia ter uns três meses – para trás. Não que ele me culpe por ter nascido e ela ter ido embora. Meu pai cuidou de mim muito bem, ainda mais com a vinda da Marie, nossa “mãezona”. Será que devo explicar sobre ela agora ou detalhar na história? É confuso quando tem que relatar sua vida no papel. Bem que eu poderia ter alguém para me ajudar a escrever isso.

 Anos se passaram e o tópico "Quando a mamãe vai voltar?" foi deixado de lado por nós, mas eu nunca deixei de pensar nela – mesmo antes de saber quem ela era e suas obrigações. Para mim, antes, ela tinha apenas nos deixado sem motivos – o que pode parecer triste, abandonar um bebê tão fofinho como eu. (Sério, você deveria ver minhas fotos de quando era bebê e fazia travessuras na banheira. Hm... quer saber? Melhor não ver. Vamos fingir que nunca falei isso). Só que, lá no fundo, eu ainda tinha esperanças de que um dia iria reencontrá-la.

Bom, é melhor voltar aos avisos.

Eu não podia falar sobre minha vida sem incluir os monstros que estão sempre a postos para nos matar. E é claro, as missões arriscadas, em que somos enviados a fim de recuperar os objetos perdidos dos deuses ou para resgatar remanescentes que caíram nas garras de monstros. E, eu não podia esquecer das perdas de amigos que foram mortos por monstros, ou ao saírem em missões e simplesmente desapareceram (com grande chance de terem sido pegos e mortos). Você pode ver que o lado ruim de ser um Remanescente fica exposto assim que começa aprender um pouco mais sobre nosso histórico de lutas contra os monstros.

Por isso, nunca, nunquinha, jamais queira ser um Remanescente. Como eu disse antes, nossa vida não é apenas diversão. Há muitas dificuldades e, raramente, temos finais felizes. É sempre uma morte trágica e beeeeeeem violenta, agradeça aos monstros por isso. Parece que eles têm alegria em nos ver sofrendo.

Vou te dar uns conselhos caso você se identifique com o que está lendo Eu poderia mandar você simplesmente fechar o livro e ler outra coisa, mas aposto que outra pessoa já pediu que fizesse isso:

1) Se você não tiver seu pai ou sua mãe – é triste, sei bem como é – por favor, não pense que ele ou ela é um(a) deus(a). Por mais que a verdade possa doer, é melhor do que fantasiar e correr o risco de trombar com algum monstro e acabar morrendo por causa disso.

2) Se, por acaso, você sentir uma vontade louca de sair matando tudo quanto é bicho estranho que aparecer na sua frente achando que são monstros, NÃO O FAÇA! Sério, não vai ser legal você acabar matando algum animal em risco de extinção só porque ele é exótico e não foi com sua cara.

3) Agora, se ainda assim, você for um desmiolado que se mete em todo tipo de confusão e com sede de aventura e perigo, é possível que seja um dos nossos. (É nosso slogan: “Maluco e que se mete em situações estranhas”? Bem-vindo ao clube). No momento em que você for reconhecido como um Remanescente, um “alerta” através do Véu – a camada que separa ambas realidades – será emitido e todos os monstros saberão da sua existência e irão atrás de você com a maior vontade de matá-lo. E, possivelmente, virar o jantar. Você não quer virar jantar de monstro, não é?

 É sério, não queira ser um dos nossos.

Os avisos foram dados e agora você sabe um pouco pelo que passei. Você estará por conta própria e risco. Desconfie de todos que sejam bonzinhos demais com você e, principalmente, os desconhecidos. Fique atento a cada esquina... Basicamente em todos os lugares, porque você estará sendo observado. E será uma questão de tempo até ser pego pelos monstros ou resgatado por nós.

Sinceramente, torça para que cheguemos primeiro. Temos cafezinho e biscoito. Eles têm pancadaria, algumas armas que machucam MUUUITO e, ah, eles vão te MATAR. Nada de mais. Apenas mais um dia comum para nós, remanescentes.

Bem-vindo ao meu mundo.

Assinado: Adrian West.

Remanescente. Senhor da confusão. Filho de...