Filhos da noite 2 – Sozinha escrita por CM Winchester


Capítulo 2
Capítulo 1 - SEMPRE QUIS FAZER ISSO




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Ben e eu estávamos caminhando pela praia, nossos dedos entrelaçados.
Ele se inclinou e beijou minha bochecha sorrindo e depois passou seus olhos pelo meu corpo.
Estava com uma camiseta gola v branca de mangas curtas, short jeans, chinelo e carregava um canguru moletom azul pendurado no ombro.
Os fogos de artifício brilhavam no céu. Era final de junho.
— Nora te convenceu a fazer o curso de escola de verão? - Ben perguntou.
— Ela inscreveu meu nome sem que eu soubesse. - Resmunguei e ele riu.
— Não acredito que a Nora te passou a perna.
— Nem me fale. - Sorri.
Nos encontramos com eles abraçados olhando os fogos.
— Oi. - Falei me aproximando de Nora e Patch.
— Vocês demoraram. - Nora falou sorrindo.
Ela sabia que Ben e eu tínhamos transado. Só não sabia ainda que foi a primeira e única vez nossa. Ele tinha dito que tinha sido bom, mas que não poderíamos fazer de novo.
Nós tínhamos ultrapassado uma fina linha entre o certo e o errado. Eu sabia. Anjos não poderiam pecar desse jeito. Eu aceitei a resposta dele. Apesar de sentir falta dele nesse quesito. Ele acabou se afastando um pouco de mim também.
Parecia que o fogo começava a se apagar. E disso eu tinha medo.
— Eu estava indo pegar um cheeseburger. - Nora falou. - Quer alguma coisa? É claro que quer. - Nora passou o braço pelo meu braço. - Você nunca recusa comida.
Ben sorriu e eu enruguei o nariz, ele pegou meu casaco e me entregou uma nota de 20.
— Para que isso?
— Para comprar comida.
— Sabe que eu posso pagar, não é?
— Sim, mas eu sou um cavalheiro. - Ele sorriu antes de beijar minha bochecha.
Nora e eu fomos para a fila da barraca do Hambúrguer que estava enorme.
— Que maravilha. - Resmunguei colocando as mãos nos bolsos do short.
— Ei. - Nora falou e eu me virei para Marcie.
— Ei. - Ela respondeu de volta.
Voltei a me virar. Eu não costumava dar "oi" para quem vivia em pé de guerra comigo. Na verdade ela nunca tinha entrado em um embate comigo até por que sabia que eu poderia vence-la facilmente. Mas seu divertimento era infernizar a vida de Nora e Vee.
— Dá pra gente ir mais devagar pessoal? - Marcie gritou de trás da fila. - Alguns de nós estão morrendo de fome aqui atrás.
— Só tem uma pessoa trabalhando no balcão. - Nora falou.
— E daí? Deveriam contratar mais pessoas. Oferta e procura.
Respirei fundo. A coisa tinha acabado de piorar.
10 minutos depois tinha feito um progresso.
— Faminta com um F maiúsculo. - Marcie resmungou atrás de mim.
O cara na nossa frente pagou e saiu.
— Dois cheeseburger e duas Cocas. - Nora falou depois me encarou e eu assenti. - Então. Com quem você está aqui? - Nora perguntou a Marcie.
— Sem ofensa, mas não estou com saco para papear. Estou na fila pelo que parecem ser cinco horas, esperando por uma garota incompetente que obviamente não consegue cozinhar dois hambúrgueres de uma só vez.
Respirei fundo de novo e contei até 10. Senti compaixão pela garota que mesmo tendo ouvido o que Marcie falou continuou fazendo seu trabalho de cabeça baixa.
— O seu pai não se importa de você estar passeando na Praia Delphic? - Nora perguntou. - Pode macular a estimada reputação da família Millar. Especialmente agora que seu pai foi aceito no Clube de Iate de Harraseeket.
— Fico surpresa do seu pai não se importar por você estar aqui. Ah espera. É mesmo. Ele está morto. - Arregalei os olhos e virei para Nora. - O quê? - Ela deu de ombros. - Ele está morto. É um fato. Você quer que eu minta sobre os fatos?
— O que foi que eu já fiz para você?
— Você nasceu.
— Isso foi longe demais. - Falei.
Fechei a mão em punho e acertei o nariz perfeito de Marcie que cambaleou para trás, no mesmo impulso soquei de novo sua cara e ela caiu no chão, seu rosto tingindo de sangue.
Nora agarrou meu braço e Marcie aproveitou isso para chutar a minha perna, cambaleei quase caindo e lancei um olhar para Marcie. Avancei de 4 na direção dela agarrando seus cabelos.
— Vai aprender a socializar. Vai aprender a ser gente. - Falei balançando sua cabeça.
Quando me preparei para dar outro soco nela alguém segurou meu pulso e me ergueu para cima. Ainda agarrada aos cabelos de Marcie a puxei para cima junto comigo e ela gritou. Ben apertou meus pulsos me fazendo solta-la e me arrastou para longe dali.
Eu estava furiosa.
— O que aconteceu? Você parecia um pitbull atacando Marcie.
— Ela mereceu. Onde está a Nora?
— Não a vi.
— Ela falou coisas horríveis para Nora. Preciso encontrá-la.
Consegui localizar Nora pelos pensamentos e apressei o passo na direção dos banheiros móveis. Entrei no feminino e encontrei Nora chorando. Eu não tinha palavras para falar a ela até por que cada pessoa lidava com a sua dor de um jeito. E eu mais do que ninguém sei a dor de não ter pai.
— Limpe o rosto. - Comandei e ela me encarou. - Essa noite está muito boa para ser estragada por aquela vaca. Vamos nos divertir. - Ela forçou um sorriso e respirou fundo.
Esperamos um pouco no banheiro até que saímos. Ben estava do lado de fora nos esperando.
— Tudo bem? - Ele perguntou preocupado e Nora assentiu.
Caminhamos um pouco até encontrar Patch em um jogo de atirar bolas. Rixon estava ao lado dele. Eu não conseguia gostar de Rixon, não o achava confiável. Nem mesmo Ben gostava dele.
— Nós vamos para outro lado. - Falei e Nora assentiu. - Fica bem.
Me afastei com Ben e seguimos caminhando.
— Que horas temos que ir?
— Às 10. Você sabe que Blyte assumiu isso para atrapalhar Nora e Patch.
— Vamos comer algo. - Ele falou.
Comi um algodão doce, e uma pipoca. Andamos pelo lugar olhando alguns brinquedos e jogos.
— Você está tão longe. - Ele murmurou e o encarei.
— Digo o mesmo de você, parceiro. - Retruquei e ele sorriu. - Acho que temos que ir.
— O que você falou com o seu advogado?
— Eu fiz 17 anos. - Dei de ombros. - Não adianta falar nada. Por enquanto ficamos só com a parte em que eu tenho acesso a casa e ao dinheiro para me manter. Depois dos 18 ai sim tenho acesso a tudo. Isso vai incluir muitos documentos importantes que estão dentro daquela casa.
— Você quer mesmo saber o que é uma filha de Lilith?
— Claro. O básico que você disse não me fez entender nada. Eu sou filha de um demônio. Isso é passado de geração em geração, isso eu entendi. Mas quem dos meus pais era demônio? E se algum deles era demônio, como morreram?
— Já pensou que talvez você seja adotada?
— Não. Sou filha biológica dos dois. Sabe, é isso que eu não entendo. E o advogado não comenta nada sobre testamento. Nem mesmo falou sobre a necropsia. Eles estavam mortos quando você chegou ao carro?
— Eu não sei. Só me preocupei em salva-la, depois daquilo os Anjos vieram e me levaram. Eu ganhei as asas e o cargo de seu Anjo da guarda. Foi ai que eu soube que você tinha ficado órfã.
— Tem muitos pontos soltos.
— E eu não posso ajudar nessa parte. Não sei nada sobre os Filhos de Lilith. Na verdade, achei que estavam extintos.
— E agora eu tenho outra coisa para me preocupar.
— O que?
— O recital é semana que vem.
— Você vai tocar semana que vem?
— Sim. Lembra, eu te falei.
— Sim. Só não falou o dia.
— Fiquei sabendo hoje. Simas avisou.
— Você sabe que eu não suporto esse seu professor, não é?
— Eu sei. Mas ele está se comportando muito bem.
— Que continue assim.
Ben me deixou em casa às 10 e fui direto tomar banho. Precisava tirar a sujeira e o sangue de Marcie de mim.
Estava distraída escutando música no fone de ouvido e arrumando minhas coisas que fui surpreendida por Nora que entrou de supetão no quarto.
— Tudo bem? - Perguntei.
— Eu disse para o Patch que o amava.
— E o que tem isso?
— Que ele fugiu.
— O que? - Tirei o fone de ouvido e parei encarando ela.
— Ele disse que tinha algo entre as árvores. Minha mãe saiu exigindo que eu entrasse por que estava 4 minutos atrasada. Ele foi embora, mas não tinha nada entre as árvores. Era só eu... Burra e dizendo que o amava.
— Olha, eu sei que o Patch sente isso por você.
— Não tem como saber, Nikki. Ele não fala. Ele não me deixa entrar na vida dele. Ele nem ao menos me sente.
— Mas o coração dele sente. Você acha que ele teria te trazido a vida se não te amasse?
— Por que ele não respondeu?
— Bom... Isso você vai ter que perguntar a ele.
— Ben já disse isso a você?
— Sim, mas... Ben e eu... É diferente.
— Diferente como?
Como eu iria explicar tudo a ela. Se nem eu mesma sabia por onde começar.
— Senta. - Ela sentou na minha frente e eu sentei em posição de lótus. - Ok. Você acredita em reencarnações?
— Mais ou menos.
— Eu sou reencarnada. Ben não fala muito sobre isso, mas eu sou a terceira que ele conhece. Fui eu que o fiz cair dos céus. Depois ele me reencontrou de novo e eu morri. E agora ele me reencontrou de novo e eu o fiz voltar aos céus. No acidente em que todos morreram, ele me salvou. É claro que tem muita coisa nisso. Tem muita coisa que ele não relevou. Mas eu sou aquela pessoa que vive o momento. Não me importo com nada. Eu sei que ele me ama e isso já basta.
— Mas você não fica curiosa para saber sobre a vida dele?
— Às vezes sim, mas eu sei que não vou gostar do que vou descobrir. Tem segredos que não devem ser revelados até que chegue o momento certo. E um dia eu sei que Patch irá revelar tudo a você e te levar para conhecer a casa dele.
— Eu não sei.
— Só confia, Nora. - Falei segurando a sua mão. - Ele não é um cara bom, eu sei. Ben também não é. Mas o importante é como ele te trata. Ele não seria capaz de fazer mal a você. Ele já provou isso quando escolheu você no lugar de tudo.
— Eu ando tão confusa.
— Não esquenta a cabeça. - Falei e sorri. - Aproveita isso. Não se prenda em detalhes bobos. - Ela assentiu.
— Obrigada.
— Pelo que?
— Por isso. E por ter socado Marcie.
— Sempre quis fazer isso. - Ela sorriu. - Sempre que precisar estou aqui.
— Obrigada. - Ela me abraçou e eu apertei meus braços a sua volta.
Assim que ela me deixou sozinha. Os pensamentos vieram à minha mente. Não sabia o que esperar de Ben. Sabia que ele escondia coisas de agora e do passado.
Sabia que ele não abriria o jogo nem se eu implorasse por que sabia que eu me afastaria dele.
Tinha um lado sombrio nele. A maldade de milênios de anos como Anjo Caído. Mas tinha algo a mais. Eu só não sabia o que poderia ser. O que esperar desses segredos. E no fundo eu tinha medo do que poderia descobrir.
Por isso sempre evitei entrar no assunto. Sempre evitei perguntar sobre isso.
Tinha coisas que deveriam ficar em segredo.


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Notas finais do capítulo

N.B.: Eu discordo Nikki, como discordo. As coisas devem ser reveladas, você não faz ideia de como segredos acabam com vidas. Adorei esse capítulo. Bjs, bjs. Fhany Malfoy
N.A.: Acho que no caso dela é melhor ficar sem saber por que o segredo que ele esconde vai magoa-la. Bjs. CM Winchester



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