— Meu nome é Chan, faço parte da Ordem e sou o atual aprendiz do Mestre Fu. – Marinette continuou o encarando com desconfiança – Estou ciente da situação entre vocês e por isso eu vim aqui.

— Veio dar um recado? Diga a ele que logo vou direto pra casa, não falta muito pra eu terminar tudo.

— Não, não é isso. – Marinette sentou na sua cadeira de sempre, enquanto Chan encarava todos os seus movimentos. – Eu vim porque quero ajudar você. – a azulada franziu a testa e gesticulou para que ele sentasse à sua frente. O homem foi até a cadeira e sentou–se cautelosamente.

— Me ajudar? Como assim? Está aqui para me ajudar a pegar os Miraculous ou...

— Não... Bem, recuperar os Miraculous é o meu principal objetivo, contudo, não para o mesmo fim que o Mestre. – ela não disse nada, então Chan continuou – A Ordem não sabe que ele perdeu a caixa para a sua mãe. Eles acreditam que Fu está fazendo um bom uso e que inclusive, os seus amigos heróis, receberam os Miraculous dele.

— Isso é uma grande mentira!

— Sim, porém, é a história que ele fez todos acreditarem. – Chan se aproximou – Ouça, não temos muito tempo. Fu já saiu para esperar você na sua casa, por isso eu vim. Não posso fazer nada sozinho, ele é o Mestre e seria minha palavra contra a dele. Mas se você me ajudar a encontrar e reunir os Miraculous, podemos tentar contatar a Ordem diretamente.

— Como vou saber se não está tentando me enganar? – a expressão do homem se tornou um tanto frustrada, não tinha pensado que teria que convence-la. Por outro lado, nem imaginou que teria coragem para ir contra as ordens do Mestre, mesmo que fosse por um bem maior.

— Estou arriscando tudo aqui. Se o Mestre descobrir a minha traição, vai inventar algo pior para a Ordem e eu serei executado. – Marinette respirou fundo, nem um pouco contente com a última palavra. – Mas eu preciso tentar, pelo bem de todos. – parecia muito com a situação da própria azulada. Estaria sacrificando muito se fosse em frente, mas isso era para o bem de todos. Falando em perdas...

— Antes de eu considerar isso, eu preciso saber de uma coisa. – Chan assentiu – Sabine Cheng, aonde ela está sendo mantida? – se endireitou na cadeira, pronta para ouvir a resposta. Se Chan fosse mesmo ajudá-la e o que ele disse sobre a Ordem, era verdadeiro, teria grandes chances de recuperar a sua mãe.

— A antiga aprendiz do Mestre? Por que acha que ele a mantem presa?

— Ele me disse que só a soltaria se eu entregasse os Miraculous. Ela... Está na China?

— Desculpe, mas... A Ordem não faz prisioneiros.

— Mas ele a prendeu. Aonde ele prendeu a minha mãe? – a voz de Marinette se elevou, enquanto Chan escorava as costas na cadeira, como se tivesse sido empurrado por ela.

— Se ele tivesse feito algo do tipo, não teria como esconder da Ordem e então inventaria uma história sobre a prisão de Sabine. Assim como fez com os Miraculous. – os olhos de Marinette se encheram d'água – Mas ele não o fez. Sinto muito, mas a sua mãe não está presa, ela está... Morta.

***

Bumblebee, Tortue e Viper se aproximaram da casa de Marinette e se esgueiraram entre os arbustos. Precisavam encontrar um lugar para se esconderem antes que Wang Fu chegasse ao local.

— Como você sabe que ele ainda não chegou? – Nino questionou sussurrando.

— A Marinette ia me mandar uma mensagem. Sabe, pra ficar alerta.

— Então já coloca esse troço no silencioso. – Luka apontou para o celular do amigo – Duvido que ele escute algo daqui, mas o cara tem ninjas. Melhor não abusar da sorte. – deu de ombros. Nino estremeceu.

— Tinha me esquecido da parte dos ninjas. Será que podemos dar conta? Porque sabe, eles são ninjas!

— Sshh! – pela janela lateral, viram a luz da sala acender. – A Marinette já chegou? Nós nem vimos nada!

— Não. Acho que não deve ser ela. – Adrien concluiu com o maxilar trincado – Fu está esperando por ela.

— Nesse caso, vamos nos esconder melhor. – Luka puxou os dois amigos um pouco mais para baixo. – Olha, a Marinette tá chegando!

Olhando a azulada chegar em casa, poderiam até dizer que se tratava de uma mulher normal, com problemas comuns. Adrien notou que havia algo errado, Marinette não estava com a expressão ansiosa de quando mencionava Fu, ela parecia irritada, decidida. O que não deixava o loiro tranquilo.

— Olha! – Adrien estava tão concentrado em Marinette, que não tinha enviado a mensagem que eles combinaram, que nem tinha visto outra sombra se esgueirando para perto da casa. Adrien fez menção de levantar, mas Luka o segurou. – Deixa que eu vou, vocês ficam aqui e se eu precisar de reforço, eu chamo. – os dois assentaram enquanto Viper se movimentava com cuidado até a outra pessoa. Pelo que podiam ver, ele estava tentando abrir silenciosamente a janela que dava para o quarto de Marinette. Poderia ser um ninja, ou até mesmo um ladrão comum. A sombra viu Luka se aproximando e parou na hora. Os dois estavam falando alguma coisa e Luka parecia um pouco confuso, porém se nenhum dos dois atacou, provavelmente tinham um bom motivo. Luka voltou para aonde estava, deixando a sombra adentrar a casa. Adrien foi até o amigo, totalmente confuso.

— O que você fez?

— Fica quieto! – puxou ele para baixo novamente – Aquele cara está ajudando a Marinette.

— O quê? Como pode ter certeza? Ela não avisou nada! Deve der uma armadilha! – Adrien fez menção de levantar, porém Luka o segurou.

— Acha que não fiz a mesma pergunta, gênio? Mas ele tinha um recado da Marinette, que ela disse pra ele entregar a você caso tudo desse errado hoje.

— Como assim "caso tudo desse errado"?

— Qual é o recado? – Nino questionou intrigado.

— Que ela te ama muito e que não há como salva-la. Mas que você precisa ser forte e fazer o que é preciso pelo bem de todos.

— E-Eu não entendo...

— Ele também disse que nós precisamos ficar aqui. – Adrien riu sem humor.

— Não vou ficar parado enquanto a pessoa que eu amo corre perigo.

— Eu sei disso. Também não vamos ficar parados, estamos com você nessa. Mas, se quisermos salvar a Marinette, e o resto do mundo, precisamos tomar cuidado. Fu não é alguém com quem podemos brincar.

— E ele tem ninjas! – Nino lembrou.

— Isso, isso. Eu tenho um plano, mas vamos ter que fazer tudo com calma. Ok? – Adrien não pensou duas vezes em concordar, confiava sua vida em Luka e Nino. Sabia que podia contar com seus amigos para salvar a sua amada.

***

Marinette ouvia o discurso de Fu, com uma expressão de falsa compreensão. Tudo que ela queria era levantar do sofá e chutar o velho chinês. Porém, ela se conteve.

— Você entende que há muita coisa em jogo, certo Marinette? Sua mãe, a Ordem... – Novamente Marinette teve que lutar contra a vontade de socar Fu – se eles cansarem de esperar, não adianta o que eu diga, eles virão até você e pior, até as pessoas que você ama. – infelizmente ela não tinha como ter certeza se a versão de Fu era a verdadeira, ou a de Chan. Contudo, ela conversou frente a frente com o mais novo e quase que viu um reflexo de si. E Fu era um ser deplorável, que poderia ser bastante capaz de mentir sobre muitas coisas. Não era difícil escolher um lado. – Por isso, levarei os Miraculous que você já tem comigo, para acalmar a Ordem. Depois disso, tenho certeza que você irá achar os outros rapidamente. Só precisa do incentivo certo. – o homem sorriu de lado – Sua mãe mandou dizer que sente saudades. Falei com ela antes de vir. Ela espera que você a salve, Marinette. Não quer decepciona-la, não é? – a azulada cerrou os punhos tão fortemente, que chegou a sentir a dor das unhas cravando na pele.

— Tem razão.

— Sabia que concordaria comigo. Agora aonde estão as joias?

— Seguras. – respondeu como quem não quer nada – Antes de entregar elas, preciso saber algumas coisinhas.

— O que você precisa saber? – estranhou o comportamento calmo dela, porém permaneceu impassível.

— Primeiro, quando pretende entregar a minha mãe? – era isso, precisava entrar no jogo dele, só assim teria chance de descobrir a verdade de uma vez por todas.

— Ora, o combinado era entrega-la depois que eu estivesse com todos os Miraculous que ela escondeu.

— E aonde ela está? Na China?

— Sim, aonde mais seria? A Ordem é quem está a mantendo, então por isso...

— Engraçado! – interrompeu irônica – Ouvi dizer que a Ordem não faz prisioneiros. – Marinette encarou Fu profundamente e reuniu toda a coragem, precisava ouvir isso da boca dele antes de fazer qualquer coisa – A minha mãe está viva ou não?

— É claro que sim. Não faria um acordo que não pudesse cumprir. – Fu era um excelente mentiroso, contudo, Marinette estava determinada demais a saber a verdade para que ele conseguisse engana-la. – Agora, sobre os Miraculous...

— Já disse, estão seguros. Principalmente de você. – Marinette notou que sua fala havia afetado Fu, embora ele tenha feito de tudo para não deixar transparecer. - As joias foram criadas para o bem de todos. Você planeja fazer coisas ruins com elas. Não vou entrega-las. – ele riu de leve.

— Então é isso? Planeja sacrificar a sua mãe pelo "bem de todos"? – foi a vez de Marinette rir com escárnio. A azulada ficou de pé, a expressão tão sombria que fez Fu estremecer, nunca tinha a visto dessa maneira.

— Ela mesma se sacrificou fazendo a escolha de proteger os Miraculous de você e Deus sabe que eu faria de tudo para salva-la, mas eu não posso, porque você a matou. Você a matou por causa de um desejo egoísta, sujo e psicótico! – os olhos dela emanavam fúria, a raiva corria pelas suas veias – Não minta para mim, seu velho nojento! Acha que vou ajudar você a destruir o mundo dos outros, depois que destruiu o meu? Porque se por um momento considerou isso, está muito enganado!