Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas escrita por Braunjakga


Capítulo 70
Precisamos de umas informações




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Capítulo 68

Precisamos de umas informações… 

 

I

Vinaròs, Espanha

29 de agosto de 2016

 

Uma menina de jaqueta moletom, com capuz e boné na cabeça, levantou-se da mesa do restaurante de beira de estrada onde estava e se aproximou de um balconista. Ela perguntou:

— “Puc fer ús del telefón?” (Posso usar o telefone?)

O homem pegou o prato de volta e indicou um telefone que ela pudesse usar. Ela discou para um número e esperou. 

— “Hola, qui parlem?” (Olá, quem fala?) — perguntou uma voz feminina do outro lado da linha.

— “Soc jo, seva estranya!” (Sou eu, sua esquisita) — disse a menina.

— Sakura, estava morrendo de preocupação com você agora mesmo! Como é que você tá? — perguntou Tomoyo.

— Eu vou indo bem. O Felipe te passou o recado, né? Eu vi que você depositou o dinheiro… 

— Claro que sim! Você pensa que a gente ia te deixar morrendo de fome por aí? Ainda bem que não dá pra rastrear bitcoin! — Tomoyo sorria do outro lado da linha. — Só não pude te mandar mais porque não estou trabalhando mais no Barça, estou fazendo uns trabalhos por fora na Nikken até eles me efetivarem… E também, com essa minha rotina de “freelancer” indo atrás daqueles caras não consigo ter um emprego fixo… Aí, não dá pra te mandar mais dinheiro… 

— Tomoyo, não esquenta! Eu tendo dinheiro pra comer e pra minha higiene já me ajuda. O resto, vou me virando por aí, pedindo ajuda num albergue pra dormir… Contando com a igreja quando o dinheiro tá curto… Ainda bem que esse moletom que você me mandou tá me ajudando…  

— Você corta o meu coração falando isso, Sakura… — disse Tomoyo.      

— Para de pensar nisso e me fala uma coisa: o Felipe me falou que você começou a querer saber onde é que tá os caras que me atacaram em Bilbao, né? Descobriu alguma coisa? 

— Olha, Sakura, a gente até que tá investigando, mas é meio que um trabalho de formiguinha, sabe? O Albert e a Lari estão ajudando muito, só que a gente depende de eles, a Ordem, a Torre, sei lá, fazerem alguma coisa para que a gente possa tentar prever onde eles vão agir… E outra: e o meu medo que essa ligação seja rastreada por eles? — disse Tomoyo.

— O Kero me ajuda a sentir se tem alguma magia no telefone ou pessoas com poderes mágicos em volta. É assim que eu tô sobrevivendo, menina! Não tá sendo fácil não! Enquanto eu não tiver treinada ainda pra sentir esse tipo de coisa… E olha que tô treinando todo dia… — disse Sakura. 

— O Kero está aí, é? Deixa eu falar com ele! —  disse Tomoyo, um pouco mais animada. 

 

II

 

Fora do restaurante, uma viatura branca da Ertzaintza parou na frente do restaurante “Km 148”, à beira da rodovia N-340. Era incomum um veículo policial daqueles naquela região, ainda mais fora da comunidade autônoma a qual pertencia. Dois policiais saíram da viatura e encararam a construção.

— Hemen al da? (É aqui?) 

— Hemen da? Zatoz! (É aqui mesmo. Vamos).

Os dois policiais, vestidos de preto com ombreiras vermelhas, entraram no restaurante. 

 

III

 

Abrindo a porta transparente, todos os clientes do restaurante não deixaram de reparar nos dois. Agentes da Ertzaintza só podiam atuar no País Basco e não em outros lugares. Se eles estavam por lá, alguma coisa tinha acontecido. Sakura e Kero foram os últimos a perceber.

— Tomoyo, vamos ter que desligar agora, outra hora a gente se fala! — disse Kero, desesperado.

— O que aconteceu? 

— Os tiras ‘tão aqui! — disse Batendo com o telefone no gancho. Os dois agentes perceberam o jeito suspeito que Sakura usava para se vestir e foram até ela, com a mão nas pistolas taser, se fosse necessário. 

— Zu al zara Sakura Kinomoto? (Você é Sakura Kinomoto?) — perguntou um dos agentes.

— Ere Kerberos Hemen da, ez da? (O Kerberos também está aqui, não é?) — perguntou o outro agente, sorridente.    

— Bem… Acho que vocês estão enganados… — disse Sakura, sorrindo. — Vamos dar o fora daqui, Kero! — disse Sakura, correndo do restaurante. Os agentes foram atrás dela. 

 

IV 

 

A rua onde Sakura corria estava há poucos quarteirões da praia. Completamente deserta naquela hora da manhã, era o único canto que ela conhecia daquela cidade. Era um ponto onde sabia que estaria segura. 

— Hey, Sakura, para aí! A gente só quer conversar! — disse um dos agentes. Eles estavam chegando cada vez mais perto. Sakura virou-se para ele e estendeu as mãos. Eles caíram no chão na hora, como se tivessem sido empurrados por uma coluna de ar vinda do nada. A cardcaptor continuou correndo.

— Sakura, você acha certo continuar fugindo, atrapalhando os guardas? — indagou Kero.

— A minha ideia era a gente chegar no mar e daí, a gente ia voltar voando pra Catalunya! — explicou Sakura.

— Você acha que esses agentes da Ertzaintza vão parar por aqui é? Se nem Valência foi obstáculo pra eles, imagine a Catalunya! — disse Kero. 

— Exato, Kerberos — disse uma voz invisível vinda de trás de um poste. Quando se viraram, o autor da voz, que até então estava invisível, começou a tomar forma e apareceu para eles, para choque de Sakura e Kero. Era um homem de sobretudo, com cavanhaque castanho bem aparado.  

— Hoe! — gritou Sakura. Mal deu tempo de ela gritar e foi golpeada por um bastão elétrico na barriga. Ela caiu paralisada no chão, mas consciente. Os dois agentes da Ertzaintza algemaram Sakura com algemas de plástico e levantaram-na do chão. O homem invisível pegou Kero com a ponta dos dedos. 

— Vocês ainda devem explicações gente… Muitas explicações.

— Que explicação que a gente deve? Vocês quem deviam se explicar — disse o guardião. 

— Então vamos começar! Vejo vocês depois, Joseba, Oskar. — O homem invisível bateu o bastão no ar e a atmosfera em volta deles se distorceu, virando um redemoinho invisível que sugou Sakura, Kero e ele mesmo.

 

IV 

Bilbao, Euskadi, Espanha

Minutos depois.

 

A cadeira de plástico que Sakura estava sentada até que não era desconfortável, mas a sala branca da delegacia de polícia a fazia se lembrar um pouco da antiga vida de médica que tinha naquela cidade. A foto de família em cima da mesa só ajudava a piorar a nostalgia. No fim, não gostava nada daquilo e queria terminar o interrogatório o mais rápido que pudesse. Mesmo em quatro paredes, sentia que podia ser atacada a qualquer momento, mesmo por um homem sorridente e gentil como ele. 

— Pode ficar tranquila, Sakura. Eu não vou te fazer mal nenhum! Eu sei que você deve estar pensando que eu sou um daqueles caras que estão te perseguindo, mas não sou não. Sou um simples delegado de polícia… Se fosse pra pegar a chave do lacre, eu já teria conseguido quando te dei o choque, correto? — disse o homem de sobretudo, adivinhando o que ela pensava. Sakura ficou surpresa com as informações que ele sabia e pensou, por um momento, em não falar nada com ele. Mas então viu a foto de família na mesa dele e percebeu que a esposa ou companheira dele trabalhava junto com ela no hospital universitário e resolveu ouvir o que ele tinha a dizer antes de falar mais sobre ela.

— Senhor… Itzal Ibarra… Não é questão de fazer mal, é a forma que eu vim parar aqui, entende? Esse negócio de me paralisar com aquele bastão… 

— Doeu? Acredito que não, né? Eu procuro ter cuidado com o que eu faço. — disse Itzal, sorridente. A cardcaptor não gostou nada daquilo. 

— Não, mas… precisava daquilo tudo? — perguntou Sakura, num tom sério.

— A resposta é não… Não precisava. Mas você foi a última pessoa que viu a Begoña viva e os filhos dela precisam de uma resposta, não acha? — perguntou o Delegado. Sakura abaixou a cabeça para pensar um pouco — Não só os filhos dela, mas acho que é praxe num procedimento como um assassinato, ainda mais de uma mulher praticado por um homem, ter essa versão dos fatos, não é? Não tivemos nenhum feminicídio em Euskadi esse ano… Até agora… — disse Itzal.

— Então o senhor sabe que não fui eu quem matei a minha professora, não sabe? O senhor mesmo falou que foi um homem… 

— Sim, sei… — disse o delegado, mostrando o vídeo de uma câmera de segurança da faculdade que estava no tablet do delegado. Lá, mostrava claramente a professora sendo executada por Victor e a cardcaptor tentando se defender como podia, paralisando o meliante. Sakura tremeu revendo aquilo. — Foi isso que aconteceu, não foi? Pode ficar tranquila! Só preciso do seu esclarecimento e mais nada, está bem? — disse o Delegado, sorridente.

Então, Sakura deu o seu depoimento para o delegado, sobre o fatídico dia da morte da professora. Como ele tinha usado magia na frente dela, sentiu-se cômoda para informar sobre a ida ao palácio real de Madrid com a professora e o triste retorno depois.

— Eu sei que o senhor é delegado, mas… O senhor vai falar que eu estive aqui pra Dona Beatriz? — perguntou Sakura.  

— Jamais pra aquela mulher… Com Dom Alfredo, a conversa era de outro jeito… — disse o delegado Itzal. Ele abriu a gaveta da mesinha e mostrou para Sakura uma manopla da armadura vermelha como sangue da Ordem do Dragão. A jovem médica deu um salto da cadeira na hora.  

— Hoe! O que é isso?

— Uma armadura da Ordem. Eu tava lá quando você brigou com a Gotzone aqui mesmo em Bilbao e a gente teve que peitar as forças do ministério. Não pense que é incomum aqui em Euskadi encontrar gente da Ordem. Somos muitos e Dona Beatriz não tem toda a razão do mundo. 

— Se você é da Ordem, por que tá me ajudando? — perguntou Sakura.

— Por ordens da minha superior e por desencargo de consciência, precisava livrar a sua ficha de cumplicidade nesse assassinato cometido no mundo dos comuns…

“Bendita Gotzone”, pensou Sakura. 

— E também, eu precisava dar para a família de uma amiga preciosa da minha esposa uma resposta. A professora Begoña sempre foi muito boa comigo e devo a minha vida à ela… — disse o delegado Itzal. Sakura ficou um pouco sentida com a gratidão dele e com a saudade que ele sentia da mestra que tanto desconfiou. 

 

V

 

Já era tarde e o sol estava se pondo. Fora da delegacia, nas escadarias, Sakura e Kero conversavam com o segundo marido da professora Begoña, Imanol Garitano. Kero só não entrou na sala para depor com a mestra porque ele queria, porque queria que ela não falasse nada e resistisse ao máximo a qualquer interrogatório. Só foi depois de muita conversa à parte com os policiais que prenderam os dois que o guardião foi aceitar aquele procedimento.   

— Eu sabia que esse negócio de Ordem do Dragão não ia dar certo. A Begoña já tinha uma carreira sólida como médica, fez doutorado na França, falava quatro línguas…. — disse Imanol, com lágrimas nos olhos. — Então, ela falou pra mim que nasceu com um poder de curar as pessoas que ela nunca entendeu e a Ordem ia ajudar ela entender. Nem eu. Eu nem sabia que era magia até ela me falar sobre isso. 

— O senhor gostava mesmo da ‘Fessora, não é? 

— Eu já conhecia ela antes… A gente trabalhava juntos… 

— É possível ser feliz num novo casamento, né? — perguntou Sakura. 

— Bastante, quando a gente se conhece, a coisa fica mais fácil… — disse Imanol, sorrindo. A Cardcaptor calou-se e ficou um bom tempo cabisbaixa — Bem, Sakura, agora que a Begoña se foi, acho que vou ser o coordenador do seu curso… Acho que seria o que ela queria… Era pra eu ser o coordenador da especialização, mas eu neguei… Agora, não posso fugir do destino, nem quero… Você vai voltar pra faculdade, Sakura? — perguntou Imanol.  

— Professor, vou trancar a faculdade um pouco até resolver algumas coisas na minha vida. Depois, eu volto a estudar com o senhor… — disse Sakura, triste.

— É magia, Sakura? Você também tá nessa? — perguntou Imanol. Sakura não soube como responder — Bem, seja como for, se cuida, tá? Vou cuidar das coisas aqui pra que, pelo menos, você possa fazer algumas partes do curso à distância. Já tá na rede VPN, não precisa se preocupar se vai ser descoberta ou não… —disse o professor, entregando um tablet pra ela. 

— Obrigado, professor… — disse Sakura. 

—  Ainda bem que eu nasci sem isso… Corro menos risco de vida… — disse o professor, despedindo-se de todo mundo. Só ficou Sakura, o delegado Itzal e Kero nas escadas. 

— O que vai fazer agora, Sakura? Vai ir atrás da Torre negra mesmo?

— É, vou sim, vou fazer por mim aquilo que vocês ainda não podem… — disse Sakura, com um sorriso no rosto.  

— E não desacredita não, meu chapa! Tenho mais de trezentos anos de experiência nas costas! — disse Kero. O delegado sorriu.

— Eu não ignoro, Kerberos. Só acho que essa guerra vai vir atrás de todo mundo mais cedo ou mais tarde. Seja eu, seja você, seja qualquer um envolvido com as Cartas Clow e com a Ordem do Dragão. Dois aliados não deveriam lutar separados, não acha?

— Quem sabe um dia a gente não se vê por aí, né? — disse Sakura. — Agur! (Adeus!) 

— Agur, Sakura, eta ona zorte! (Adeus, Sakura, e boa sorte!) — respondeu o delegado. 

Sakura e Kero partiram em direção ao pôr do sol, rumo ao destino que os aguardava.

 

Continua…    


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