Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas escrita por Braunjakga


Capítulo 61
Não vamos nos dar ao luxo de deixar eles vencerem!




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Capítulo 59

Não vamos nos dar ao luxo de deixar eles vencerem!

 

I

 

San Sebastian, Euskadi, Espanha

2 de agosto de 2016

 

Era manhã, por volta das sete horas. A floresta ao redor do palácio da Ordem do Dragão em Guipúzcoa ainda orvalhava. Olhando por cima das muralhas, dava para ver homens e mulheres de armadura vermelha como sangue e capa nas costas entrando aos poucos no pátio externo do palácio, depois de passar por um portão de madeira totalmente destroçado. 

O cenário era de desolação total. Não havia ninguém no palácio, nem sequer um ser vivo. As pedras que formavam as muralhas estavam espalhadas pelo pátio. Haviam buracos eddg g g  ggggttftrgnormes nos muros e os demais portões estavam totalmente arruinados.  

Dentro do palácio, o cenário não era diferente. Havia indícios de que um incêndio grande havia tomado conta do lugar. Pedaços de armadura estavam pelos corredores e haviam muitas ikurriñas, a bandeira do País Basco, chamuscadas. Para o observador mais atento, até mesmo alguns pedaços de ossos e tecidos podiam ser observados pelos corredores e salões abandonados. 

Um a um, os homens e mulheres de armadura vermelha como sangue chegavam até uma imensa sala de reuniões. Estavam no andar mais alto do palácio e puderam observar o caos com mais detalhes ainda. Nem tinha teto a sala onde estavam, só uma mesa de madeira chamuscada com cadeiras em volta dela, que ainda resistia. No outro lado da mesa, estava Gotzone, apoiando a longa espada de duas mãos no chão cheio de poeira, fuligem e musgo. 

A loira não estava sozinha. Em pé, do lado direito dela, estava Aitor Aguirre, o rechonchudo, sucessor de Gotzone caso alguma coisa acontecesse com ela e amigo de Gotzone. Ao lado da porta apodrecida do salão, estavam Usoa Garrastazu, uma mulher alta e magra, Interventora de Guipúzcoa, Argiñe Zabala, mulher de cabelos castanhos e encaracolados, Interventora de Bizkaia e Lore Ibarra, uma mulher gordinha, interventora de Arabá. 

— “Buenos días a todos!” (bom dia à todos) — disse uma mulher.

— "Egun On" (bom dia), Idoia. — disse Gotzone.

— Essa mesa aguentou bem, né? — disse Idoia, tentando quebrar o gelo e o clima de enterro.

— Essa mesa, essas cadeiras, aguentam bem. Devo lembrar, Idoia, que elas foram feitas com árvores bascas. Nossas árvores são locais sagrados de reunião, estão tão acostumadas a serem queimadas que ganharam até resistência. Nem sentem mais o fogo. — disse Gotzone, seca e sem emoção. 

— Tá, Goti, não precisa ser tã o nacionalista assim! É um lugar velho, eu respeito, mas têm um ar um tanto largado, você não acha? — perguntou Idoia Fuentes, Interventora de Madrid e vice Interventora de Victor Delgado, uma mulher de cabelos castanhos curtos.

— Largado é ver o que vocês fizeram com as regras da Ordem, atacando a Sakura Kinomoto numa rodovia aqui de Euskadi, a minha pátria, debaixo do meu nariz! Vocês não só atacaram ela, como se expuseram pra aquela mulherzinha da Beatriz Fanjul! Vergonhoso! — respondeu Gotzone. Idoia calou-se baixou a cabeça na hora. 

— Mil perdões, Gotzone! Sabia que tinha alguma coisa de errado com a Ordem, mas nunca podia acreditar que alguma coisa estivesse manipulando o Interventor da Catalunha por baixo dos panos! É inadmissível engolir que gente da Torre Negra, nossos piores inimigos, tenha se infiltrado na Catalunha e tomado nossas armaduras sagradas! A nossa mais sagrada armadura! — disse Juan Ortiz, Interventor da Extremadura, um homem de cabelos e barbas grisalhos.

— Eu te entendo, Juan. Você é um homem maduro e experiente. Já me falou que notou alguma coisa de estranho com aquela ordem absurda que todos receberam. Eu mesma nem atendi. Desconfiei logo de cara quando ele mandou os interventores pro Japão, mas vocês foram cabeça dura e não me escutaram! — disse Nerea Sagastizábal, uma mulher jovem de cabelos brancos, Interventora de Navarra. 

— Você está sendo um pouco dura demais, Nerea. Todo mundo que tá aqui foi enganado. Só quando a gente foi exposto pra Dona Beatriz que a gente viu que foi vítima de um golpe! Um golpe contra a própria Ordem! — disse Ágatha Santiago, uma mulher de cabelos claros, Interventora de Leão. — O Lorenzo que o diga… 

— Com certeza, Ágatha. Eu fui ameaçado, fui chantageado por aquele falso Interventor da Catalunha, mas estou aqui! Os meus valores, meu compromisso com a Ordem são irrefutáveis! E, além disso, tive a ajuda da Gotzone pra tirar minha mulher e minha filha da Espanha! Olha só! Se não fosse por isso, sabe-se lá Deus o que seria delas! — disse Lorenzo Mata, um homem jovem de cabelos e barba castanhos, Interventor das Ilhas Canárias. — A gente se reunir nesse castelo arruinado é um exemplo da humilhação que a Torre quer fazer a Ordem passar! É exemplo do que eles querem fazer com a gente! Que ninguém dê um passo atrás na luta contra eles depois de ver isso!  

— O Lorenzo tá certo! Esse castelo antes era vivo e pulsava energia. Agora ele é uma ruína, tudo porque o maldito Victor Delgado transformou ele nisso! Ele trouxe monstros que a gente nunca viu pra combater a gente! Mesmo assim, a maioria de vocês se reuniu com o falso Interventor da Catalunha! Que maravilha! — disse Gotzone, irônica. Todo mundo baixou a cabeça e não falou mais nada. 

— Isso serve de lição, como o Lorenzo disse. Esse castelo era para ser do Mikel Uralde, meu amigo de infância. Agora, não serve pra nada, nem pra eu dar pra Usoa, a legítima herdeira dele. Quem de vocês vai me ajudar a restaurar? Quem? — perguntou Gotzone. 

— Gotzone, eu entendo que pegar as Cartas Sakura em plena cara das autoridades do ministério foi errado, eu entendo que a gente se expôs demais fazendo isso! A Mercê e a Marta tão presas, isso já é humilhante demais! Agora, não vem aqui me dizer que a nossa missão não é pegar as cartas Sakura! — disse Marcos Nuñez, um homem de cabelos pretos, curtos, e pele morena, Interventor de Ceuta. Todos os interventores ficaram boquiabertos. Marcos prosseguiu — Me desculpe, Gotzone, sei que sou o menor dos Interventores da Espanha, mas não posso me arrepender de cumprir uma ordem histórica da Ordem do Dragão, assinada na frente do rei Felipe III e de Gerard Bernat! Nesse sentido, não posso dizer que fui enganado!

— O próximo Interventor que ousar ir atrás dessas cartas amaldiçoadas dizendo que foi "guiado" por essa missão, vai se ver comigo. — disse Gotzone, colocando a espada de duas mãos sobre a mesa. Todos se calaram.

— Mas por quê, Goti? Você não acha que tá sendo dura demais? Pensa bem, foi como o Marcos falou: isso foi assinado na frente de El Rey Felipe III, diante de Gerard Bernar, diante do próprio Zigor, diante… — disse Jessica Gómez, interventora das Astúrias, uma mulher de cabelos ondulados, longos e castanhos. Ela foi interrompida de imediato por Gotzone.

— Já que você citou o nome do Zigor, por que não pergunta pra ele a história daquele pergaminho? Por que não perguntam? — perguntou Gotzone. Ninguém falou mais nada. — Não precisa disso, eu mesmo falo pra vocês: Enric Miró capturou e prendeu Yue, um dos guardiões criados pelo Clow. Quem sempre quis as cartas foi ele. Vocês nunca se perguntaram por que a Ordem nunca precisou colecionar até agora itens mágicos? Por que a gente sempre teve nossas relíquias! Nunca precisamos nada dos outros! O Orgulho de depender só da gente e não contar com os outros é a nossa razão de ser! Essa é a Ordem do Dragão! Parece que esse orgulho foi perdido com o tempo! Nem mesmo Gerard Bernat quis assinar aquilo, sempre foi o Enric Miró! Sabem como ele morreu? Morreu podre, morreu decadente, sem alcançar seu objetivo! É esse o fim que vocês querem ter? — explicou Gotzone. — Por isso, eu estou falando aqui e agora: qualquer um que for atrás das cartas, vai se ver comigo! Falo com a experiência de quem já enfrentou Sakura Kinomoto, o exército de cartas Clow dela e ganhou!  

— Perdão, Goti. Justamente por você ter enfrentando essas cartas uma vez e ganhado, não significa que ela não pode ser útil pra gente! Quem diz que a Sakura não vai vir atrás da gente com elas com o ódio que ela tá da Ordem? Você mesma prendeu o pai e o irmão dela, Goti! — disse Laura Iglesias, Interventora de Múrcia, uma mulher jovem de cabelos pretos curtos. — Se essa Sakura vier atrás de mim, eu não vou hesitar de ver o que as cartas têm de tão bom! — finalizou Laura. Gotzone fez não com a cabeça, se recusando a acreditar no que ouvia.

De repente, mais dois passos foram escutados no corredor atrás da sala.  

— Se algum de vocês aqui quiser ir atrás das Cartas Sakura, saibam que eu aqui vou tratar de enfrentar cada um de vocês! — disse uma voz atrás da porta da sala arruinada. os Interventores ficaram confusos. — Vocês não ouviram a Gotzone não? Ninguém mais vai atrás das cartas!

— E eu tô fechado com o carinha aqui! O próximo que botar a mão nas Cartas Sakura eu arranco o braço fora sem dó e faço churrasco com ele! — disse outra voz.

Pela porta da sala em ruínas, apareceram Kero e Syaoran. O chinês vestia a armadura vermelha como sangue da Ordem, mas sem a capa, como os demais interventores usavam. Todos se assustaram, exceto Gotzone e os amigos dela de Euskadi, que já sabiam da presença deles.

 

II

Palácio flutuante da Ordem

Toledo, Espanha

2 de agosto de 2016

 

Era manhã. Acima das nuvens, dez quilômetros de altura acima da superfície, não havia tempestades, nem muitas nuvens, nem nada do tipo. Apenas um céu azul e limpo. O sol se erguia numa ponta do horizonte, começando sua caminhada pela abóbada celeste.

Em meio àquela paz, um palácio feito de torres e muralhas brancas saía do meio de uma nuvem cumulonimbus. Seus telhados eram inclinados como cones, prismas e pirâmides, revestidos por telhas azuis.

Há muito tempo no passado, dragões voavam ao redor do palácio e haviam muitos soldados da Ordem treinando magia no pátio. Nenhuma das duas coisas era mais era vista nas redondezas. 

Sentado em uma cadeira, olhando para o sol nascente, estava o Interventor da Catalunha, com sua armadura vermelha como sangue e sua máscara típica, onde ninguém conseguia ver seu rosto. Passados alguns segundos, Victor Delgado, homem forte e musculoso, Interventor de Castela, pousou ao lado dele. Maitê Ferrer, mulher de cabelos pretos e olhos azuis claros pousou em seguida. Ela era irmã do rei Felipe VII e Interventora da Galícia. Por fim, Ignacio Díaz, homem de tez morena e cabelos longos, pousou entre os dois que chegaram antes. Ele era o Interventor da Andaluzia. Os três estavam com suas armaduras vermelhas e se curvaram perante o Interventor em sua cadeira.

— Senhor… Estamos aqui, conforme ordenado — disse Victor. 

— Eu vejo… E os demais? — perguntou o Interventor chefe. 

— Não vão vir, senhor. Todos foram se encontrar com a Gotzone segundo a minha espiã que coloquei em Euskadi… — respondeu Maitê.

— Com a Gotzone, é? Muito bem… Eu estava decidido a reduzir o número de Interventores mesmo… — disse o homem no trono. 

— Senhor, se me permite uma observação… A Ordem do Dragão é muito orgulhosa. A exposição que todos tiveram naquele ataque na rodovia foi muito grande pros padrões da Ordem e acho que temeram outras retaliações do Ministério de assuntos especiais… — disse Ignacio.

— Você é sempre tão bonzinho, Ignácio. Sempre tentando ver o lado bom da situação. Mas eu não sou assim, muito menos sigo as tradições da Ordem, nem tão pouco temo as reações do ministério de assuntos especiais… — disse o Comandante.

— Senhor, aquela mulher arruinou a minha vida! Eu fui falsamente acusada de tráfico de drogas! A Guardia Civil revirou o meu castelo e do meu marido! Ele até pediu o divórcio! Como não ter medo daquela mulher e do Ministério? Eles são cruéis demais! — disse Maitê.

— Maitê… Você ainda duvida de mim depois de tudo o que eu mostrei pra você esses anos todos? Olha bem! Nesse castelo, até a década de 40 do século vinte, voavam centenas de dragões. O que aconteceu com todos eles? Viraram pó, os ossos deles estão espalhados pelo pátio, como vocês podem ver… — disse o Interventor da Catalunha, apontando com a mão para as cabeças e costelas de dragão ao redor dele. — Você mesma me ajudou a acabar com alguns deles… Me diz: se eu consegui acabar com um exército de dragões, o que pra mim acabar com todas as acusações contra você do dia pra noite? 

— Senhor… O senhor fala como se tivesse o controle do ministério todo! A Torre ainda é pequena diante desse poder deles… — retrucou Maitê.

— Eu tenho o controle do ministério e vou dar uma prova para todos vocês. Podem entrar. — disse o Interventor. Dois círculos mágicos apareceram atrás dos interventores  e duas pessoas de capuz negro no corpo todo saíram de lá. 

— Senhor… Nunca imaginei que faria a reunião tão cedo… — disse uma das pessoas de capuz, com uma voz masculina. Maitê arregalou os olhos e virou a cabeça quando escutou aquilo. 

— Mas isso é… — disse Maitê.

— Nada é cedo o bastante quando os ratos da Gotzone já estão planejando assaltar o queijo debaixo dos nossos narizes… Trouxeram o livro das cartas? — perguntou o Interventor da Catalunha.

— Sim senhor, está aqui! — disse a segunda pessoa de capuz, com uma voz feminina. Das mangas da túnica negra dela, saiu o livro das cartas Sakura, de capa rosa e com detalhes dourados. A mulher andou alguns metros e entregou o livro ao Interventor. 

— Excelente… Já cumprimos o maior dos objetivos da Ordem em um instante… O que acha disso, Maitê? — perguntou o Interventor. A mulher tremia. 

— Estou espantada, senhor, sério mesmo. Nunca imaginei… — disse Maitê, olhando para o homem de capuz negro. — Nunca imaginei mesmo que… 

— O mundo é feito de coisas que nunca imaginamos. Cabe a nós fazer a imaginação se tornar realidade… O problema é o tempo. Alguém sabe me dizer o que tá faltando aqui? — perguntou o Interventor.

— A chave do lacre que ainda tá com a Sakura. Sem ela, não dá pra abrir o livro. — respondeu Victor.

— Alguém andou fazendo a lição de casa… — comentou o Interventor.

— Senhor, se o senhor já tinha controle sobre algumas pessoas do ministério, por que não tomou a chave do lacre quando teve a chance? — indagou Maitê.

— Calma, Maitê, vamos por partes… Sei que você está ansiosa demais com as novidades, mas precisamos ter calma… Melhor um pássaro na mão que dois voando… — disse o Interventor.

 

III

Donostia, Euskadi, Espanha

Ao mesmo tempo.

 

Os interventores estavam tão surpresos com a presença de Syaoran e de Kero na reunião deles que Marcos Nuñez não hesitou em perguntar.

— Senhora Gotzone! O que eles fazem aqui? Ainda mais com a nossa armadura? — perguntou o Interventor de Ceuta. 

— O Syaoran foi vítima da Torre Negra e tá com um tumor no cérebro. Pra adiar o avanço do tumor, tive que usar uma garra de dragão. Com o tempo, ele se adaptou à nossa magia. Ele se tornou digno de receber o título de enviado da Ordem. — respondeu Gozone.

— Como assim? — insistiu Marcos.

— Não duvido nada que ele consiga lutar de igual para igual com você e com muitos daqui e também, sei que você têm certeza disso e mantém o orgulho da Ordem dentro de você intacto… Fora que ele é meu companheiro e pai dos meus filhos… Não podia ter ninguém melhor para receber nosso poder e proteger nosso futuro… — disse Gotzone, encarando todos naquela mesa. Nenhum Interventor questionou mais. Syaoran se sentiu envergonhado por ter sua relação com a loira exposta dessa forma e Kero fez um não com a cabeça. 

— Compreendo, Goti, que queira ter ele do seu lado. Eu também levo meu marido nas missões, apesar de ele não ter magia. Ele me apoia sempre e vem de uma família de magos. Ele tá me esperando fora daqui — disse Jessica Gómez, Interventora das Astúrias. 

— Vamos deixar os assuntos de família um pouco de lado e vamos explicar o porquê do Kerberos estar aqui. Pode entrar, Ami. — disse Gozone. 

Uma mulher de armadura vermelha como sangue entrou na sala. Ninguém sabia quem era ela, mas ela tinha uma capa de Interventor nas costas. Seus cabelos eram curtos e azuis. Seus olhos eram da mesma cor que seus cabelos, um profundo azul safira.

— Me desculpem, irmãos, por não ter me apresentado antes. Sou Ami Mizuno, Interventora de Lleida. Minha existência esteve em segredo desde que o Jordi Bonvehi morreu, lutando contra a Meiling no Japão. — explicou-se a mulher, diante da face de surpresa dos colegas.

— Então… Você é a sub Interventora de Lleida, eu presumo? Como é que diabos aparece um sub interventor da Catalunha, com toda a região comprometida pela Torre? O que garante que a gente não tá sendo espionado? — disse Idoia, desconfiada.

— Senhora Idoia, sei que a desconfiança é grande, mas a Catalunha ainda é leal à Ordem. Ainda tem muita gente leal à Gotzone por lá que não se envolve com com assuntos da Torre. A maioria é independentista, mas estamos todos preocupados com o rumo que a Ordem tá tomando na Catalunya. Por favor, não estigmatizem. Tudo tem sua lógica… — disse Ami.

— Que lógica é essa Goti? Sei do que aquele interventor é capaz de fazer! Eu, inclusive, fui vítima dele! Ele pode muito bem ter te infiltrado aqui! — questionou Lorenzo Mata.  

— Lorenzo, Idoia. Eu entendo as suas desconfianças, mas peço que escutem a história dela. Eu também não acreditei no começo, mas, vendo por outro lado, tem bastante coerência. Comece, Ami. — disse Gotzone. 

— Bem, como vocês podem ver pelo meu nome, minha mãe é catalã e meu pai é um mago japonês sócio da Ordem. Nasci em Tremp, cresci na Ordem e, posso dizer com certeza que o Interventor da Catalunha não é o interventor que vocês esperam.  

— Ótimo! Agora conta uma coisa que a gente não saiba! — disse Ágatha Santiago, interrompendo o relato de Ami. Gotzone bateu a longa espada no chão, pedindo ordem e evitando que aquilo se tornasse uma discussão.

— Continua, Ami. fala pra todo mundo quem foi que disse que o Interventor da Catalunha não era o que se esperava dele… — disse Gotzone.

— Foi o próprio Interventor quem me disse isso. — disse Ami. Todo mundo começou a discutir e Gotzone teve que pedir ordem mais uma vez para que Ami continuasse. — Ele me levou até a Catedral de Barcelona e me falou: 

"Ami, eu sei que eu não estou cumprindo o meu papel de Interventor com você, nem com a Ordem, mas quero que saiba que existe um outro eu dentro de mim que não controla o que faz. Eu não me considero Interventor da Catalunha ainda, mas, desde já, eu estou te nomeando sub interventora de Lleida pra preencher a vaga daqueles que morreram, por ordem do outro Interventor que vive dentro de mim. E também, pra reorganizar a Ordem na Catalunha." 

Foi tudo o que ele me falou. Eu não acreditei, é claro, mas ele tirou a máscara e me mostrou quem ele era. Daí, eu acreditei nele e estou aqui. 

— Ele tirou a máscara, é? Desde que Martí Piqué morreu por causa da Torre, ninguém sabe quem ele é! Eu bem que gostaria de saber quem esse homem é pra tirar a dúvida mesmo… — disse Nerea, estressada. Todo mundo concordou com ela e Gotzone interrompeu o bochicho. 

— Ninguém aqui vai ficar sabendo até chegar a hora. Eu já sei quem é esse homem e já tive uma conversa séria com ele e pude ver que ele tá dizendo a verdade. Vi que a situação é grave mesmo. — disse Gotzone. O pessoal insistiu para saber, mas ela se conteve. — Silêncio. O mais importante aqui, gente, é saber que o corpo do Interventor da Catalunha foi possuído por um espírito maligno da Torre. Um espírito que interrompeu a sucessão de Elsa Nuet pra Martí Piqué e agora tá causando o caos no nosso meio. Vocês entendem o que é isso? — perguntou Gotzone. Todo mundo ficou em silêncio e ela continuou. — O Hernán Cuesta já foi enganado por ele, a Maitê, irmã do rei, foi seduzida por esse “fantasma”, justo a Interventora da Galícia, uma das três grandes da Ordem. Quanto ao Ignácio e ao Victor, eles não são dignos nem de serem Interventores de tão corruptos que são. Vocês não querem ser os próximos, ou querem? Pois saibam que vou cortar o pescoço com essa minha espada aqui! — disse Gotzone. ninguém questionou a razão dela. 

De repente, um vendaval soprou forte sobre todos na mesa como uma tempestade. Três armaduras vermelhas como sangue, da Ordem, entraram na sala de reunião e ficaram em pé, ao lado da lareira em ruínas.

— Mas essas são… — começou Ágatha, se aproximando de uma das armaduras, com o desenho de um castelo dourado na capa.

— As armaduras da Maitê, do Victor e do Ignácio! — completou Nerea.

Gotzone se levantou da cadeira e examinou por um bom tempo os objetos.

— Seja lá o que tenha acontecido com eles, essas armaduras só podem ter saído do corpo deles se eles tiverem morrido… É a única explicação possível… — disse Gotzone. Todo mundo tremeu de medo. 

 

IV

 

Palácio flutuante da Ordem

Mesma hora.

 

No pátio do palácio flutuante da Ordem, a reunião continuava. 

— Como eu estava dizendo, Maitê, o nosso maior objetivo não é só pegar as Cartas Sakura e obter a chave do lacre. Obter as cartas é só parte dele. O nosso objetivo final, a Torre Negra, é erradicar os comuns da face da Terra. Para isso, além do controle sobre o Ministério de assuntos especiais, não só da Espanha, como da Europa inteira também, precisamos também do poder de Clow, precisamos eliminar a Ordem do Dragão completamente. Esse não é um objetivo que vamos conquistar do dia pra noite. Pode levar meses, anos ou talvez séculos mas estou preparado pra isso…    

— Séculos? — disse a mulher de capuz preto — Você é louco, é? Eu não tenho esse tempo! Não foi isso que a gente conversou! Você faz ideia o quanto eu me arrisquei pra trazer as cartas pra cá! Se alguém no ministério descobrir isso, estou ferrada! Exijo que o projeto Torre negra seja implementado agora! — disse a mulher. 

Ela ficou tão nervosa que transformou todo o chão do pátio do palácio e algumas paredes ao redor em vidro. Espinhos de vidro surgiram por toda parte e uma grande estalagmite de cacos foi crescendo lentamente até alcançar o pescoço do Interventor da Catalunha. Ele se manteve impassível diante do poder dela. Maitê, Victor, o homem de capuz preto e Ignacio pularam assim que viram o chão ser coberto por vidro, e depois pousaram quando o poder dela se estabilizou. 

— Que circo é esse que você está armando? Você pensa que ninguém aqui tá arriscando nada não, é? Estamos arriscando muito! E outra: você pensa que pode se grudar à sua reputação no mundo dos comuns? O mago que pensa que vai continuar com os mesmos benefícios e privilégios que tinha com os comuns vai estar enganado! Tudo vai ser mudado! 

— Eu não estou querendo dizer que ninguém tá arriscando nada! — disse a mulher de capuz. — Estou querendo dizer que não dá pra aguentar esperar uma eternidade pelas suas promessas! Escuta o que eu tô te dizendo! 

— Eu sei disso. Não pense que eu não sei que o nosso longo tempo de convivência com os comuns nos tornou impacientes como eles. Nos tornou mais frágeis, mais fracos e menos longevos quanto deveríamos ser. Vivíamos mais de 1000 anos no passado e um prazo de 300 anos era como se fosse 30 ou menos para o padrão dos comuns. Eu sei disso. Por isso, eles tem que ser extirpados da superfície do planeta. Eu vou te mostrar que a minha palavra não é em vão… — disse o Interventor da Catalunha, levantando-se do trono. — Maitê, Victor, Ignacio… É a hora!  

Os três Interventores se olharam.

— Tem certeza mesmo que você vai voltar a reviver a gente, né? A punição por renunciar a armadura da Ordem do Dragão é a morte — disse Ignacio.

— Gente sem fé! Será que vocês compraram o discurso dela e começaram a desconfiar de tudo o que eu mostrei pra vocês até agora? Eu juro pra vocês: eu vou transformar em pó o ministério de assuntos especiais que tanto estragaram a vida de vocês dois! — disse o Interventor, olhando para a mulher de capuz. Ela se calou e abaixou a cabeça.

Maitê olhou para Victor e fez um sim com a cabeça. O Interventor de Castela fez um sinal de positivo para a irmã de Felipe e Ignacio também confirmou. Os três levantaram as mãos para o alto e o Interventor da Catalunha disse.

— Eu, como Interventor da Catalunha e legítimo líder da Ordem, é o meu desejo negar a armadura do Dragão a esses três interventores! 

Um círculo mágico vermelho apareceu debaixo dos pés deles. Um espectro de cabeça de dragão surgiu na frente deles. Era um dragão de fogo, vermelho. Ele soprou nos corpos de Maitê, Ignacio e Victor e a armadura vermelha como sangue se desprendeu dos corpos deles. Uma nuvem de fumaça vermelha com forte cheio de sangue pairou sobre o pátio. O homem e a mulher de capuz buscaram se abrigar em algum canto seguro para evitar serem atingidos pela rajada de energia mágica e pelo vidro que saía do chão. A ventania era tão forte que foi capaz até de arrancar alguns paralelepípedos do pátio do palácio. 

Passados uns segundos, a rajada de vento parou. As armaduras dos três voaram para longe do pátio do palácio. A cabeça do dragão de fogo desapareceu e o círculo mágico vermelho também. Maitê, Victor e Ignácio caíram no chão, desfalecidos. O homem de capuz preto aproximou-se deles e tocou o pescoço de cada um dos três.  

— Estão mortos… 

— Vejo que os dois deuses debaixo do palácio real de Madrid ainda me consideram como Interventor, mas as armaduras foram pro País Basco… Tudo bem. Vai ter uma hora que não vai existir nem palácio em Bilbao, nem em Madrid, nem em canto nenhum onde essas armaduras possam se esconder! — disse o Interventor da Catalunha. Ele juntou a palma das mãos e três círculos mágicos pretos apareceram debaixo do corpo de cada um deles. O círculo brilhou e começou a soltar raios. Passado um tempo, o brilho dos círculos subiu para o alto e desapareceu. Aos poucos, Maitê, Victor e Ignácio se levantaram.     

— Aprendam vocês dois desde já… — disse o Interventor, olhando para as duas pessoas de capuz. — A vida e a morte é uma questão de três coisas: energia, alma e estrutura para abrigar essa energia e alma num só lugar. Se a estrutura, o corpo, continuar intacto, é possível restaurar a energia perdida e reimplantar a alma. O que a Ordem do Dragão faz, impedindo que seus membros renunciem a armadura, é tomar essa energia de cada membro deles e vincular com os Dois deuses debaixo do palácio real de Madrid. Eles são a fonte de energia da Ordem. Com esse banco de energia ilimitada, é possível curar à vontade e lutar sem cansar também. Por isso, renunciar a armadura é ceder a energia do corpo para os Dois deuses novamente. Graças à Carlos Garaikoetxea sabemos desse mecanismo muito bem. O que ele não contava era que eu poderia criar uma outra fonte de energia, a Torre Negra, já que a Ordem não é dona dos corpos deles… — explicou o Interventor para os dois acólitos.  

— Brincar com a vida e a morte é um tabu até na própria sociedade de magos… O que eu vi aqui é espantoso! Será que eles estão bem? — perguntou a mulher de capuz.

— Pois, minha “colega”, aqui está o homem que enfrenta até mesmo a morte! Ainda duvida? Eu não duvido nenhum pouco de nada… — disse o homem de capuz. 

— Bom… Muito bom… Agora vejam outro milagre. — disse o Interventor da Catalunha. — Maitê… Está bem? 

— Eu… Eu não sei… — respondeu a princesa.

— Me diga: sente algo? Perda de memória, fraqueza… — perguntou o Interventor.

— Quanto a memória… Eu me sinto bem, eu me sinto bem mesmo… Lembro com clareza de coisas que eu não me lembrava da infância… Com meu pai… — disse Maitê.

— Eu sinto… Eu sinto um fluxo grande de energia no meu corpo! É como se eu não pudesse controlar! Está fluindo pelo meu cérebro numa velocidade impressionante! — disse Victor. 

— Eu tô começando a ver cenas do passado e do presente, conhecimentos que eu nunca adquiri estão entrando na minha cabeça… — disse Ignácio.

— Vejam! Uma coisa que eu sempre odiei na Ordem é não poder compartilhar memórias e conhecimentos com o “poder do dragão”. Só energia. Aqui está um poder que supera a própria magia do Dragão! — disse o Interventor, orgulhoso.

— Eu teria pena de quem ousar se opor à nós daqui por diante! — disse o homem de capuz. — O futuro é agora!

— Assim espero… — disse a mulher de capuz. 

 

V

 

Donostia, Espanha

Na mesma hora… 

 

Os Interventores se levantaram um a um das cadeiras para ver se aquelas três armaduras eram de Maitê, Victor e Ignácio mesmo. Gotzone continuou sentada na mesa com seus amigos, Syaoran e Kero. 

— A saída de um Interventor da Ordem se paga com a morte. É cruel, eu sei, mas é o preço que devemos pagar pra evitar sermos traídos, apunhalados pelas costas. Devemos considerar desde já que os três já estão mortos. — disse Gotzone.

Todos congelaram e voltaram para seus lugares.   

— E mesmo que não tenham morrido ainda, não acredito que demore muito para isso acontecer. Se mesmo assim a gente tiver que lidar com eles ou qualquer um sob a influência deles, temos que ter a absoluta consciência que o inimigo está pronto pra lidar com a gente. Agora, eu me pergunto: a gente tá pronto pra lidar com eles? Será que estamos prontos para lidar com aqueles que ameaçam a Ordem? Nossas famílias? Nossa vida? — perguntou Gotzone. Nerea se manifestou.   

— Entendo, Goti. Por isso, você pediu a ajuda deles, não é? — perguntou Nerea, apontando para Kero, Syaoran e Ami. 

— Eles estão comigo porque estão nessa guerra faz tempo. Nós que não demos conta que ela já tava aqui antes. A gente pensou que era uma guerra pelas Cartas Sakura. Não é só isso. Muitos aqui foram enganados. Sakura é só a primeira dessa linha de frente. Ela só é uma arma que a Torre usa desde o começo contra a gente. Quem quer que seja que atraiu a ira da Sakura e da comunidade mágica japonesa contra a Ordem, tem por fim nos eliminar. — explicou Gotzone.  

— Só resta você dizer pra Sakura o contrário, não é? Não acredito que só foi a Torre quem virou a cabeça dela contra a gente… — disse Laura Iglesias de Murcia, olhando para Syaoran. 

— Quanto a ira da Sakura, pode deixar comigo. — disse Syaoran, com voz firme. — Eu aguento tudo o que eu tiver que aguentar. Os meus três filhos tem poderes mágicos. Não quero que eles sejam alvos da Torre. Eu tenho muito pelo que lutar nessa guerra… E muito a perder também… 

— Você é um homem corajoso, Shoran, não é à toa que gostam muito de você… — replicou Laura, olhando para Gotzone. — Quem dera meu ex fosse assim… 

— Não sei quanto a vocês, só sei que não tem nada mais doido que juntar forças com o inimigo. Faz uns trezentos anos que eu fui preso com o Clow em Málaga. Fui preso no palácio flutuante de vocês pela Nadja Rufián, acho que vocês devem saber quem ela é… — disse Kero. Os interventores cochichavam, comentando as informações de Kero. — Fugi com o Clow e juntei forças com a Neus Artells de Sabadell… — Bastou Kero tocar no nome de Neus para que metade dos Interventores virasse a cara para ele. — Vocês como Interventores não gostam dela, né? mas eu digo uma coisa: ela foi uma das primeiras a enfrentar esse mal que a gente ainda tá combatendo até hoje! Sei que a luta dela pode não ter deixado contente vocês… Mas é nela que eu me inspiro quando falo que é esquisito a gente juntar forças com o inimigo e… — Os interventores ainda olhavam para o leão de armadura de jade com desconfiança e raiva. Kero respirou fundo e continuou. — Eu fui o grande leão dourado que chamuscou a cabeça do Rei Felipe III há trezentos anos e lutei contra muitos dos avós de vocês… Mas agora eu tô aqui, juntando forças com vocês. Pela Sakura. Não só por ela, por vocês também. A gente ajudando a Sakura, a gente ajuda todo mundo! — disse Kero.     

— Já que você citou a guerra de trezentos anos atrás, Kerberos… Meu antecessor, Juan González, escreveu no seu diário que quase todos os Interventores da Ordem morreram naquela guerra contra Neus Artells. Por isso é que odiamos ela,  quase dizimou a Ordem. Odiamos aquela luta de 300 anos atrás contra as Cartas Clow, Sakura, sei lá. Só sei que meu antecessor disse que nunca tivemos uma perda tão grande na história da Ordem como aquela. Ele sempre culpou as Cartas por causa daquilo. Elas são coisas amaldiçoadas que só nos trouxeram desgraças. Por um tempo, concordamos com Enric Miró que o melhor seria se as Cartas fossem nossas. Mas tô vendo que tem um inimigo maior e precisamos lidar com ele antes de lidar com a Sakura. Eu tava no Japão seis anos atrás, sei do quê você tá falando… — disse Ágatha Santiago de Leão. 

— Lidar com ele antes de lidar com as Cartas? Mas como assim? Vocês ainda querem as Cartas Sakura mesmo assim? — indagou o guardião.  

— Kerberos… Você ajudou a eliminar a maior parte dos Interventores da Ordem junto com a Neus há mais de trezentos anos. Sei que era uma guerra, mas você acha mesmo que é só chegar, na reunião dos Interventores dessa mesma Ordem que você ajudou a eliminar e falar “Olha gente, eu era inimigo, mas agora sou aliado”? Não é assim! Não é fácil curar o ódio, Kero… — explicou Syaoran.

— Eu sei que não é fácil curar, mas é uma coisa que a gente deve fazer. Eu me esqueci que metade dessa mesa aqui tava tramando com o Interventor da Catalunha só pra gente estar aqui, unidos, juntos mais uma vez, como Ordem, enfrentando nossa maior crise até agora. Se engolir o ódio é difícil, é mais difícil ainda engolir a nossa desaparição por conta de uma birra de nada. Não vou dar o luxo de acabarem com a minha vida. Não vamos nos dar ao luxo de deixar eles vencerem! Por conta de besteira, por conta de birra! É hora de a gente olhar pra frente, virar essa página mofada de 300 anos e salvar do incêndio o resto de páginas que a gente tem que escrever da história da Ordem. E então, estão comigo? — disse Gotzone. Todos ficaram olhando para ela. — Por Euskadi, meus meninos, meu Rei e a princesa das Astúrias, eu estou! — disse Gotzone. Ela levantou-se da sua cadeira e colocou a grande Claymore, a espada de duas mãos, que usava sobre a mesa.   

— Pelos meus filhos, minha mulher, por Espanha, sim, estou! — disse Lorenzo, levantando-se da cadeira e colocando o martelo, sua arma ancestral da Ordem nas Canárias, na mesa, junto com a arma de Gotzone. 

— Pelos meus dois filhos, sim, estou! — disse Ágatha, colocando uma maça estrela na mesa.  

— Por minha mãe já velhinha de idade, sim, estou! — disse Laura, colocando uma maça na mesa.   

— Pelas minhas netas, pela minha fazenda, sim, estou! — disse Juan, colocando uma foice na mesa.

— Por Euskal Herria, Nafarroa e Espanha, pelas minhas meninas, sim, estou! — disse Nerea, colocando uma alabarda na mesa. 

— Pelos meus alunos, pela minha cidade de Ceuta, sim, estou! — disse Marcos, colocando um soco inglês na mesa.

— Pelo meu companheiro e minha Gijón, sim, estou! — disse Jessica, colocando um bastão na mesa. 

— Por minha cidade de Madrid, pelo Rei Felipe VII e pela princesa Sophia, sim, estou pronta pro sacrifício! — disse Idoia, colocando uma espada na mesa. Aitor, Usoa, Lore, Argiñe, amigos de Gotzone, colocaram suas espadas de duas mãos na mesa também. Syaoran colocou sua espada junto com eles e Kerberos colocou sua pata na mesa. Ami sacou seu arco e flecha, armas lendárias da Catalunha, e colocou por cima das armas de todos.

— Por toda Catalunha leal ao conjunto de Espanha… Pela minha família e tudo o que eu tenho a perder, sim, estou pronta! Pela Ordem! Pela paz!  

Gotzone fez uma oração silenciosa e a mesa brilhou em vermelho. As folhas de uma árvore há muito tempo morta no pátio do palácio começaram a cair dentro daquela sala. Uma luz vermelha cobriu as paredes e a face deles, vindas das armas, brilhando em ressonância.  

— Hoje começa a maior guerra da nossa história! Não vamos perder! Estamos todos prontos! — finalizou Gotzone, com os olhos brilhando em vermelho.

 

VI

Palácio flutuante da Ordem

 

Em meio ao mar de vidro e ossos que era o pátio do palácio flutuante, o Interventor da Catalunha esfregou as mãos e três círculos mágicos pretos apareceram no chão: um na frente de Maitê, outro na frente de Ignácio e o último na frente de Victor. 

Pouco a pouco, como se de uma outra dimensão tivessem saído, três armaduras negras apareceram dos círculos mágicos. Ela eram exatamente iguais às armaduras da Ordem, com todas as peças, como peitorais e manoplas, só que havia algo diferente nelas. Nas costas, onde deveria ser a capa da armadura, havia um arsenal de armas prontas a serem utilizadas pelos usuários: espadas, maças, lanças, todas as armas que se podia imaginar estavam juntas, nas costas da armadura, numa peça só chamada de "arma". Além disso, dava para ver que as armas podiam ser desmontadas, fundidas e adaptadas conforme a situação exigisse. Havia até mesmo armas modernas no arsenal, como fuzis e submetralhadoras. 

— Com essas armaduras, vocês vão ganhar um poder mágico que supera o que vocês tinham, um poder que ultrapassa qualquer um que a Ordem tenha dado à vocês. Por hora, mas só por hora mesmo, vou continuar com essa armadura. Mas tenham certeza que só vai durar o tempo que a gente levar para exterminar os outros interventores da Ordem… Podem usá-las! — disse o Interventor da Catalunha. Maitê, Victor e Ignácio se aproximaram das armaduras e, repentinamente, elas desmontaram no ar e montaram novamente no corpo de cada um, adaptando-se às proporções de cada um dos corpos que grudaram.      

— Senhor, nós também vamos ganhar uma dessas? — perguntou o homem de capuz negro. 

— Agora não. A guerra de vocês é em outro campo de batalha. Maitê, Victor, Ignacio e eu vamos lutar nas linhas de frente. Vocês dois vão lutar na retaguarda… 

— Você quer que a gente lute na retaguarda? Você quer que a gente entre em confronto aberto com as instituições do estado? — questionou a mulher de capuz negro. 

— Sim. Temos muito a lutar nos bastidores do Ministério de assuntos especiais, no governo da Espanha, nas mais diversas esferas da sociedade, nas sombras, nos submundos. Vocês são esses soldados. Temos que preparar o terreno para a nossa ação definitiva contra os comuns e vocês vão ter um papel chave nisso. Quando essa guerra na linha de frente acabar, eu vou me juntar à vocês. Primeiro a Espanha, depois a Europa.   

— Entendido, senhor! Pode deixar com a gente, não é? — disse o homem de capuz negro, olhando para a colega do lado. 

— Bem… Não tem como dar errado, não é? — disse a mulher de capuz negro.

— Sem erros. Erros não serão tolerados, pois vocês vão pagar com a própria vida de vocês, como você bem nos lembrou. — disse o Interventor, olhando para a mulher de capuz.  

— Senhor, poderia nos dar um indício por onde devemos começar? — perguntou a mulher. 

— Por vocês ainda não terem pleno acesso ao imenso banco de dados que é a magia da Torre Negra, não me espanta vocês saberem meus planos… Os três aqui estão mais silenciosos, mas já sabem de tudo… — disse o Interventor, sorrindo. — Eu explico: O Victor vai começar pelo norte. Euskadi, e vai descendo até Madrid. Além dos Interventores da Ordem serem divididos por região da Espanha, há cerca de 50 sub interventores, um para cada província. São eles os próximos na linha de sucessão da Ordem, precisam ser varridos do mapa o quanto antes. Sem cabeça, o corpo não anda. E tem mais uma missão, não é?      

— Sim, senhor! Pegar a chave do lacre das Cartas Sakura! — respondeu o ex-interventor de Castela.  

— Exato! Victor vai para Euskadi também para eliminar os sub interventores do norte e vamos ver se o Zigor sai do buraco onde se enfiou quando ver os filhos dele morrendo um por um. — explicou o Interventor.   

— A mim me cabe o oeste de Espanha, não é? — perguntou Maitê.

— Sim. Não se espante com a velocidade com que as informações chegam no seu cérebro e não se esqueça das Canárias antes de ir pra Galícia… 

— Entendo, senhor… — disse Maitê.

— Ignacio, você vai para o sul e eu vou começar a minha ação nas Baleares, no oeste. Está tudo bem definido, não? 

— Sim, senhor! — disseram todos. 

— Dispensados. — disse o Interventor da Catalunha. O Interventor comandante, Victor e Ignácio pularam no ar, acelerando cada um para seu destino, à medida que se acostumavam com seus novos poderes. A mulher de capuz negro preferiu sumir num redemoinho transparente que fez aparecer nos ares. Só ficou Maitê e o homem de capuz negro no pátio. Os dois se encaravam com preocupação. O homem tomou a iniciativa e se aproximou da mulher.

— Não morra! Vou te colocar no trono que sempre foi seu quando essa história toda terminar. 

— Você também, mas não conte muito com me devolver um trono que eu renunciei faz tempo. Pense no futuro, nas sementes que podem ocupá-lo. Com você atuando nos bastidores, ainda podemos controlar quem e como vai ser a sucessão dele. — disse Maitê. 

— Com certeza… — disse o homem de capuz negro. Os dois deram um abraço fraterno e a ex-interventora da Galícia deu um salto no ar. A mão dos dois acenaram uma para o outro, num último gesto de adeus. 

 

Continua…    







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