Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas escrita por Braunjakga


Capítulo 17
Anaia, anaia!




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Capítulo 15

Anaia, anaia! 

 

San Sebastián, Espanha

7 de setembro de 2015

 

I

 

— Haur… Tza… Indegi… — disse Sakura.

— Haurtzaindegi! — disse Chitatsu, batendo as palminhas e sorrindo.

— Ha… Ur.. Tza… In… degi!

— Haurtzaindegi! — disse Chitatsu, mais rápido que a mãe.

— Nossa que palavra difícil, hein? 

Os dois sorriam. Sakura ficava mais feliz ainda por dentro vendo o silencioso filho Chitatsu sorrindo. Aquilo a aliviava ainda mais. Estavam dentro do carro, a caminho da pré-escola. “Haurtzaindegi” era como se dizia “Jardim de infância” em euskera. A médica estava aprendendo aos poucos a língua daquele país com Gotzone e repassava o que aprendia para o filho, assim os dois aprendiam juntos e ela aprendia cada vez mais, explicou a Interventora para Sakura.  

Sakura viu as letras distorcidas e infantis da porta da pré escola onde colocaria o filho e estacionou o carro no meio fio perto da calçada. Havia vários outros veículos de pais que traziam seus filhos para a escola. Ela abriu a porta do carro e tirou o menino de lá. Quando pegou a mochila do rapaz, a cardcaptor percebeu uma coisa estranha. 

— Toma aqui… Filho… Pera aí, o que é isso aqui? 

Sakura abriu o zíper da mochila e viu Kero dentro dela, sorrindo na maior cara de pau.

— O que você tá fazendo, menino? Tá levando o Kero pra escola, é?

— Mamãe… Tô com um pouco de medo… 

— Não dá pra enganar sua mãe não, pirralho! — disse Kero.

— Você trouxe o Kero-chan pra escola porque tava com medo? — Sakura bateu a mão na testa, não acreditando no que o filho, sempre bem educado, tinha feito.

— Sakura, pega leve! 

— Eu deixa que eu falo, Kero-kun… — disse o rapaz. Chitatsu falava tão pouco que era raro ver o filho tomando a iniciativa para falar. Sakura ficou em silêncio apenas escutando e Kero fez a mesma coisa. — Eu pedi pro Kero vir comigo…  

Sakura se ajoelhou ternamente na calçada, ficando com quase a mesma altura do filho. Ela sorria e fazia a cara mais derretida de todas, mas sem perder a compostura de mãe.

— Meu filho. Por que você fez isso?

— Medo… Tava com medo… Não conheço ninguém… Tô sem minha tia Meiling… 

— Filho, escuta a mamãe, tá? Eu sei que você tá com medo, mas você vai arranjar muitos amiguinhos novos aqui que nem o papai e a mamãe arrumaram um dia, tá? 

— Que nem a Chiharu, a Rika e a Naoko?

— Foram elas mesmas que eu arrumei! A gente tem contato até hoje! 

— Eu quero encontrar bons amigos também… — disse, Chitatsu olhando para o chão e segurando a alça da mochila. 

— Se você precisar de ajuda, chama a professora, tá?

— Irakasle! (Professor) — disse Chitatsu, sorrindo e batendo palmas.

— Isso, Irakasle deitu! (chama a professora). Chama ele ou ela, tá? 

— Irakasle deitu! — repetiu Chitatsu. Ele ainda estava parado na calçada, olhando para mãe e para Kero com aqueles olhos verdes iguais aos de Sakura e escuros como os olhos da sua amiga Tomoyo. Às vezes, pensava na amiga querida vendo aqueles olhos. A jovem médica estava tão encantada com o filho que não sabia como se despedir dele. Foi então que Kero se manifestou, dentro da palma da mão de Sakura:

— Chi, vai lá contar quantos blocos a calçada tem daqui até o portão da escola, tá? — disse Kero.

— Tá! — Chitatsu apontou o dedinho para as pedras da calçada e começou a contar, marchando com os pezinhos a cada vez que ele somava um bloco na cabeça. 

— Tá vendo? Um dia você aprende, Sakura! Eu te ensino! — disse Kero, zuando com a cara da mestra. Sakura olhou para ele com uma cara de “ah, é mesmo, espertalhão?”.

Chitatsu era inteligente demais pra entender que a mãe estava partindo e ele estava começando um novo ciclo. Ele já tinha vindo na escola antes, apesar de não ter falado nada com ninguém.  

— Meu Deus! Como eu fui ter um filho esquisito desses! — disse Sakura, com o rosto vermelho e os olhos nas nuvens, da mesma forma que olhava Yukito no passado. Era seu momento “hanyan”, agora com o filho iniciando uma nova etapa na vida.

— Puxou a Tomoyo… — respondeu Kero.

— Como assim! 

— Ela tava presente quando ele nasceu, não tava? 

— Eu sempre contei tudo pra ela!

— Por isso! Quando uma mulher grávida pensa em abóbora a gravidez toda, o menino nasce com cara de abóbora! Agora, como você tava o tempo todo besta no zap zap, falando com a Tomoyo… O Chi nasceu esquisito que nem ela! 

— Não fala assim dele, Kero-chan! Eu também tava conversando com o meu pai, meu irmão e minhas amigas! — disse Sakura, apertando o guardião nas mãos. 

— Ei… Seu dinossauro! Olha lá ele dando tchau! — disse Kero, sufocado. Ele mordeu o dedo de Sakura, mas ela não ligou. Ficou olhando os olhos fechados e sorridentes dele em seu modo "hanyan". Ele era a cara dela, até mesmo sorrindo. 

Chitatsu voltou a contar os blocos de pedra da calçada até a escola quando, de repente, dois meninos correram na direção dele, de braços abertos. O filhote de Sakura abriu os olhos e também correu na direção dos meninos.

— Anaia! Anaia! — disseram os rapazinhos. Eles tinham cabelos castanhos bagunçados e olhos azuis. 

— Ah, não acredito! — disse Sakura.

— Não brinca… — continuou Kero, sentindo a mesma surpresa que sua mestra.

— Inãki, Iñigo! Presta atenção! — gritou Gotzone. Ela também descia do carro e levava os filhos para a escola. Os dois pareciam que levaram um choque ao ouvir a mãe. Tremeram e começaram a falar outra coisa:

— Laguna (amigo)! Laguna! — Os dois alcançaram Chitatsu e deram um abração nele como se conhecessem havia anos.

— Anaia? — disse Sakura, chegando perto dos três meninos com a cara mais desconfiada do mundo. Os dois rapazes de Gotzone trataram de resolver o mal entendido. 

— Anaia, Anaia! — disseram os dois, sorrindo e apontando um para o outro. Os rapazes eram mesmo parecidos e quase não dava pra diferenciá-los a primeira vista. Depois, apontaram para Chitatsu e disseram num grito só:

— Laguna! — Iñaki e Iñigo abraçaram com força Chitatsu. O medo que ele sentia da pré escola parecia que desapareceu com um abraço e os sorrisos de todo mundo.

— Panpina (boneco)! — disse Iñigo, apontando para Kero.

— Panpina! — repetiu Iñaki. Iñigo começou a achar tanta graça de Kero que deu um tapa com as costas da mão na barriga de Chitatsu e saiu rolando de rir no chão. Iñaki continuou a rir, um pouco mais contido e Chitatsu se segurava para não rir. 

— Kero-chan… — dizia o filho de Sakura, segurando as bochechas.

— Esse pirralho tá tirando uma com a minha cara! — disse Kero, irritado por ver Iñigo rolar de rir no chão até doer a barriga. Gotzone correu e pegou o filho pela orelha.

— Tá se sujando todo, mutila (menino)! — A loira levantou o rapaz do chão e ficou batendo nas costas dele, tirando a poeira. 

— Gotzone… Você aqui? — disse Sakura, sem acreditar.

— Vejo que você escolheu a mesma “haurtzaindegi (pré escola)” que eu, Sakura. Não existem coincidências, não é? Você quem me disse isso… 

Sakura ficou pensativa, olhando para os rapazes, que já começavam a se apresentar um para o outro. Gotzone prosseguiu:

— Eu sei que você tá pensando que seria melhor mudar o Chi de escola…

— Hoe! Você lê pensamentos?

A jogadora fez sim com a cabeça. 

— Toda a minha família é boa nisso… Mas não vamos falar de mim, vamos falar dos meninos. Seu filho tem medo de encarar o mundo que ele não conhece, não é? 

Sakura não respondia nada, apenas olhava para a sua enfermeira assistente com cara de desconfiada.

— Agora eu sei como os prontuários chegam certinho na minha mesa sem nem eu pedir! Eu achando que era eficiência! — desabafou a cardcaptor.

— Não fica assim. Ele é muito valente. Mesmo com medo, ele foi pra cima do portão da escola. Agora ele se acalmou um pouco quando encontrou o Iñaki e o Iñigo. Sabia que o Shorancito é do mesmo jeito?

— Sua… Cretina! 

— Não fica assim! Só tô adiantando o seu lado um pouco. O meu também.

— Sei… Esses meninos são um ano mais velho que o meu, né? Então por que… 

— Sim, Meus filhos tão indo pra pré escola só agora porque meus tios que preferiram assim… Acho que foi melhor pra eles… 

Sakura não estava a fim de sentir simpatias por Gotzone, mas, ver a forma calorosa como os filhos dela trataram seu menino, não a fazia pensar de outra forma. Apesar de Kero não ter gostado muito, Sakura achou graça no que Iñigo havia falado. Tinha vezes que ela também discutia com o guardião daquela forma, com aquela troca de apelidos, e a dentada no dedo dela ainda coçava.

— Ama… Musu, musu (beijo)! — disse Iñigo. 

— Nossa, já tá querendo um beijo de despedida? — disse Gotzone, abaixando-se e dando um beijo na testa de Iñigo e de Iñaki e recebendo um beijo deles em cada lado da bochecha. — Você é muito paquerador! Vai lá e cuidem do Chi, está bem? Iñaki, cuida do seu irmão pra ele não fazer besteira! Você é o mais velho e o mais responsável! — Disse Gotzone, se despedindo dos rapazes. Eles entraram de uma vez pelos portões da escola e puxaram Chitatsu consigo. 

— Aqueles pirralhos se deram bem, não é? — comentou Kero.

— É típico da gente que tem poderes mágicos. Não precisamos ler as mentes uns dos outros pra ver se vamos ou não com a cara de alguém. Basta chegar perto. Isso evita muita briga mais pra frente… — explicou Gotzone.

— Pior que é… — concordou Kero.

— Então, quer dizer que quem tem poderes mágicos já sabe se vai se dar bem ou não um com o outro? Mas eu não conheci o Shoran me dando bem com ele! 

— Mas você se aproximou dele aos poucos, mesmo ele querendo levar as cartas, não foi? — perguntou a loira. 

— Sim, mas… 

— Isso já é tudo, não acha? 

Sakura não soube o que dizer. 

— Você é muito espertalhona! 

— E nossos filhos são potenciais futuros melhores amigos. Do jeito que a coisa começou, é noventa por cento de certeza! — disse Goti, sorrindo. — Não era você que desejava que o Chi fizesse amigos o mais cedo possível?

— Tá bom, tá bom! Vou pra facul, tenho mais que fazer, e você também! 

— Hoje eu não vou, eu tenho treino com a Real. E outra: eu já fiz as matérias de hoje no técnico, não preciso fazer denovo… 

— Puxa vida, eu também quero ser sabichona assim… — disse Sakura, se rendendo à Gotzone.

— Você é tapada, Sakura! Você nunca vai ser sabichona, nem bonitona! — disse Kero. Foi o bastante pra Sakura fechar as mãos em torno do guardião. O pessoal na calçada não entendia e Goti, como sempre, apenas sorria diante daquela confusão toda dos dois.

 

Continua…            


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