Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas escrita por Braunjakga


Capítulo 16
Acho que a gente tem que se ajudar




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Capítulo 4

Acho que a gente tem que se ajudar.

 

Hospital Universitário de Deusto, Donostia, País Basco

15 de agosto de 2015

 

I

 

— Doutora Sakura Kinomoto, essa aqui é a nossa ala ortopédica e de tratamento de traumatismos, mais pra frente, a senhora vai encontrar a enfermaria e o almoxarifado… Alguma pergunta até o momento? 

— Por enquanto não… Isso aqui é muito grande, né? — disse Sakura, olhando para uma das colunas dos jardins da faculdade de medicina. 

— Uma das maiores de Euskadi… — disse a professora. Sakura leu no crachá que seu nome era Begoña Oihartzabali. Ela era uma mulher de cinquenta anos, rosto levemente enrugado e cabelos curtos, encaracolados, como os da sua amiga Chiharu Mihara. 

Depois de três dias internada, Sakura recebeu alta e seguiu com a vida no País Basco. A nova ministra de assuntos especiais, Beatriz Fanjul, colocou tropas à paisana prontas para agir a qualquer momento para proteger toda a família Kinomoto-Li e Tomoyo também em caso de ataque da Ordem. Isso era mais efetivo do que os guardas aleatórios que foram usados para proteger Tomoyo há quatro anos.

Syaoran havia comprado uma casa em San Sebastián, do lado do mar. A cidade era chamada de Donostia na língua basca. A casa tinha academia e um campo grande de futebol para treinar. Com o dinheiro enorme que o Real Madrid lhe pagava, a Família Kinomoto-Li tinha um padrão de vida muito bom. Sakura nem precisaria trabalhar, se quisesse, mas isso nunca foi a cara dela. Sempre foi sua intenção terminar os estudos e trabalhar como médica. 

Syaoran sempre esteve do lado da jovem mulher. Como Meiling ainda estava internada, se recuperando dos ferimentos, os dois Cardcaptors contaram com a ajuda de Nakuru para cuidar do pequeno. A moça havia feito ortopedia no Japão, mas devido ao sequestro de Touya e o acidente com Meiling, decidiu ajudar Sakura a cuidar do filho

— Acho que ele ia querer que eu continuasse a vida, não é? Não é por que o Eriol se foi que a nossa vida tem que parar… Eu vou esperar pelo Touya até o dia que ele tiver que voltar. — explicava a moça de cabelos castanhos.

— Eu também vou esperar por ele, Nakuru! — respondeu Sakura.

Falando em continuar com a vida, Sakura também continuava a sua, com otimismo e esperança, e a professora a acordava para a vida real nesse exato momento:

— Sakura? Sakura? Está me ouvindo? 

— Sim, sim, fessora, essa é uma das maiores universidades de Euskadi, né? 

— Eu tava falando das aulas, Sakura! 

— Ah, sim, ah, sim! De segunda a sábado, não é? 

— Sim. Segunda a Sábado, sempre de manhã. À tarde, você vai ter consultas e aulas práticas no hospital universitário. Até você se especializar, em dois anos, essa vai ser sua rotina, das sete às sete. Depois de formada, vai ser dia sim, dia não, 12 por 12, entendido? 

— Sim, sim!

— E o mais importante: você tem que aprender euskera, Sakura! Tem pacientes que só querem saber de ser atendidos em euskera! 

— Puxa vida! A Tomoyo me falou disso! Eu aprendi espanhol por nada, então?

— Não diga isso. Talvez o pessoal te entenda por você ser japonesa, mas trate de aprender logo, está bem? Uma parte do seu Trabalho de conclusão vai ter que ser em euskara… 

— Certo, fessora Begoña! Eu já tava até pensando nisso… Vou precisar contratar um professor particular… 

— Que é isso! Você vai aprender com a gente mesmo… 

— Com vocês mesmo?

— Sim! Todo médico daqui é acompanhado por uma aluna de enfermagem, com você não ia ser diferente… 

— É sério, é? Vou ter uma enfermeira só pra mim? 

— Sim… Vamos, vamos indo… — A professora Begoña pegou as mãos de Sakura e correu com ela pelos corredores. De repente, Sakura sentiu uma presença mágica conhecida e seu coração palpitou. 

— O que foi, Sakura?

— Nada não! É que eu senti uma presença estranha… 

— Olha que coincidência! Olha sua enfermeira vindo alí! Goti! Goti! Vem aqui! 

— Aquela é minha enfermeira? Hoe!!! — exclamou Sakura, assustada. Sua enfermeira era nada mais, nada menos que Gotzone Bengoetxea, a Interventora da Ordem do Dragão de Gipuzkoa de quatro anos atrás e a mesma pessoa que cortou o Interventor comandante ao meio. A moça bonita de tranças claras media a pressão de um senhorzinho cego quando foi avistada.

— Sakura? Você por aqui? — disse a jogadora, assustada.

— Tô vendo que vocês já se conhecem! Nem precisei apresentar as duas, se bem que eu nem preciso apresentar a Goti por aqui! Mas ninguém liga com isso, se ela é famosa ou não! Todo euskaldunak (basco) daqui é de casa! — disse a professora, sorrindo de alegria. — Vocês tem muito a conversar, eu vou indo. Com licença! — A professora agarrou calorosamente o ombro das duas e afagou as costas delas antes de sair. Sakura olhou para Gotzone com um misto de espanto e desconforto. 

— Tô vendo que não têm coincidências, né? Só inevitáveis? — comentou a cardcaptor.

 

II 

 

Durante toda a tarde, Sakura e Gotzone ficaram incomunicáveis. A doutora Sakura atendia os pacientes do hospital universitário como socorrista e clínica geral, e a enfermeira Gotzone lhe trazia as fichas com os prontuários dos pacientes que chegavam. A cardcaptor estava entrando na rotina, mas, ao mesmo tempo, se sentia tão desconfortável que a loira percebeu. Quando estava para dar às sete horas no relógio e trocar de turno com outro médico, Gotzone aproveitou o momento para falar com Sakura no consultório.

— Sakura?

— Oi, Gotzone, aconteceu alguma coisa?

— Bem… Só queria falar que não precisa ficar assim comigo… Eu sou uma pessoa normal sabia? 

— Você cortou um cara na minha frente com uma espada gigante e você me fala que é uma pessoa normal? É claro que eu vou ficar preocupada!

— Sei o porquê de você ficar preocupada. Eu não sou o Lorenzo, sabia?

— Você é da Ordem do Dragão e isso já basta! — disse Sakura para ela. Sakura estava aproveitando os minutos antes de sair para anotar o nome dos remédios em euskera, para receitar para os pacientes. 

— Essa sua desconfiança na verdade é outra coisa, não é? — perguntou a jogadora. 

Sakura soltou o frasco na mesa e olhou pela primeira vez para a loira, perdendo a paciência.

— Você é uma assanhada que fica dando em cima do marido dos outros! Isso sim!

— Assanhada, eu? 

— A Tomoyo-chan me falou que viu você olhando pro Shoran com uma cara diferente… 

— E você precisa da sua amiguinha pra defender seu homem de mim? — disse Gotzone, provocando Sakura. Ela olhava para a cardcaptor com uma malícia que Sakura não acreditou que ela podia usar. 

— O que é que você disse? — Sakura se levantou da cadeira e encarou a jovem enfermeira.

— Você é uma sem peito que tem medo de se garantir contra mim! Sua sem peito! — disse Gotzone, cutucando por cima dos pequenos seios da cardcaptor. Sakura ficou tão vermelha que não sabia o que fazer. Pensou em gritar, mas não queria causar escândalo no meio do hospital. Respirou fundo e disse o que precisava dizer. 

— Como é que você diz um negócio desses pra mim! Eu conheço o Shoran faz anos, anos, você ouviu? que negócio é esse de se garantir? Desde os meus 12 anos eu me garanto! 

— Certeza mesmo? Não parece… 

Sakura ficou com tanta raiva que parecia que fumaça saía de sua cabeça. Gotzone não falou mais nada por um tempo. Apenas sorriu vendo o rosto infantil que Sakura fazia. 

— Você é tão bobinha, Sakura. Talvez seja por isso que você é tão… digamos, encantadora. Deve ser isso que o Shorancito viu em você… 

— Encantadora, é? Hey, como você fala do Shoran com essa intimidade!

— Eu também conheço o Shoran faz tempo… Sabia? A Real Sociedad e o Gamba têm uma parceria… 

— O Shoran não me contou nada disso… 

— E você procurou saber? 

Sakura se calou. Ficou com o olhar perdido pela sala branca, cheia de remédios nas prateleiras, antes de responder:

— O problema foi o tempo. A minha vida foi difícil em muitos momentos. Me casei com 19 anos, Fui mãe aos 21, tive que parar uns seis meses a faculdade, depois corri pra recuperar o tempo perdido… Minha vida sempre foi estudar e estudar até agora… Nunca tive um descanso, nem pra ficar com o meu filho. Era a Meiling que tomava conta dele, mas agora ela tá em coma… Só sobrou o Kero-chan e a Nakuru pra me ajudar aqui… 

— Você não tinha nem descanso pra ver os jogos do seu marido?

Sakura ficou acuada e não soube como responder a pergunta, mas desabafou mesmo assim:

— Olha, as finais eu ia, sabe, mas… Você pensa que ser médica no meu país é fácil? São anos de estudo e nunca fui muito boa de prestar atenção nas coisas, mas o Shoran… Sempre me apoiou, sempre teve do meu lado… Ele é um marido de ouro, sabia? Por isso, eu digo: eu me garanto, tá! Eu já dei um filho pra ele! — disse Sakura, alternando momentos de melancolia, tristeza para terminar naquele berro que ela deu no final e a imensa cara de orgulho e satisfação, cruzando os braços. Gotzone sorria com os lábios.

— Esse é seu problema, Sakura! Você deu pouca atenção pra ele, ele já te deu muita… Isso acaba com um casamento, sabia? 

— O que você tá querendo dizer? — Sakura quase jogava uma caixa cheia de seringas na cara dela, mas Gotzone estava impassível como um samurai debaixo da cachoeira. — Eu vou deixar acabar esses estudos e você vai ver a minha atenção! 

— Boa sorte, Sakura! Só acho que a gente tem que se ajudar, você não acha? 

— Como assim? 

— Nosso inimigo é a Ordem do Dragão. Tanto eu, quanto você, gostamos do Shoran e queremos o melhor pra ele. 

— Hunf! — Sakura cruzou os braços e virou a cara para o lado. Gotzone tentou mudar de assunto:

— Nós duas somos mães e queremos proteger nossos filhos a todo custo desse inimigo comum… 

— Você tem filho, é? 

Gotzone tirou o celular do bolso e mostrou a foto de dois rapazes de cabelos castanhos bagunçados e olhos claros como os da mãe. 

— Esse é o Iñaki e esse é o Iñigo. Eles são um ano mais velhos que o seu. O Iñaki é um menino gentil e gosta de animais. O Iñigo é bagunceiro e gosta de aprontar. 

— Gosta de aprontar, é? Parece até o Kero-chan! 

— Pra você ver! — Gotzone sorriu e Sakura também. Parecia que no fim daquela tarde, as duas tinham chegado à um acordo. 

— Então… Vai virar a cara pra mim ou vai me ajudar? — disse a enfermeira, estendendo a mão para ela. Sakura pegou e apertou a mão dela também. 

— Só porque eu achei seus meninos muito bonitinhos, está bem? Mas é só por isso mesmo! 

— Quem sabe um dia você conhece eles?

 

III

 

Casa dos Kinomoto,

Horas mais tarde… 

 

— Shoran-kun, você acha que eu preciso colocar um silicone, hein? — perguntou Sakura, sentada na mesa de jantar. O Chinês quase colocou o que comeu para fora. Nakuru sorriu timidamente com a pergunta. Ela já não era mais a menina alegre que todos conheciam desde que Touya foi sequestrado, mas aquela pergunta fez a Ruby Moon descontrair um pouco. Chitatsu apenas ficou calado, contando as ervilhas no prato antes de comer. Ele não se aquietava enquanto não conseguisse colocar dez no garfo e aquela pergunta era irrelevante para ele. Kero não estava lá. Tinha ido passear em Barcelona com Sonomi e Tomoyo e estaria de volta amanhã.

— De onde você tirou essa ideia? — perguntou o chinês.

— Sabia que a bendita da Gotzone tá fazendo faculdade de enfermagem lá na Deusto? — disse Sakura.

— A Gotzone? Aquela bonitona, é? — perguntou Nakuru. 

— Até você! — disse Sakura, elevando o tom de voz.

— Calma, Sakura! Só tô falando que ela é muito bonita mesmo… Ela é jogadora, não é? É difícil alguém como ela querer se formar na faculdade… Ela é um caso em mil… — explicou Nakuru.

— O pior é que ela já tem dois anos lá.. Ela já tinha feito o técnico e faz estágio no clube mesmo… Só vou ficar de olho em quem ela atende… — disse Sakura, olhando de relance para o marido.

Syaoran se calou quando escutou o nome dela. Sakura, pela primeira vez, reparou mais nesse silêncio. 

— O que foi Shoran, porque fechou a boca? 

— Nada não, não tenho nada a falar sobre ela… — disse Syaoran. Era o mesmo tom que ele usou quando disse que ela poderia ficar com o ursinho que ele costurou e esqueceu de entregar, fazia muitos anos atrás. A cardcaptor reparou e percebeu que ele escondia alguma coisa.

— Como nada, Shoran? Ela trabalha no mesmo lugar que você.

— Sim, mas eu não vou ficar pra sempre aqui. Eu vou pra Madrid no meio do ano, não vou ficar me preocupando em fazer amizade… Você tá muito desconfiada, Sakura. 

— Eu sou médica, eu tenho que desconfiar dos sintomas pra dar o diagnóstico correto. 

— E que diagnóstico você tem que dar sobre um ciúme besta que surgiu em você do nada? Eu já tirei foto com um monte de mulher, algumas até mesmo me agarraram pra tirar selfie e você não ficava assim.

— Mas você já conhecia ela, não conhecia? E não me falou nada! 

— Você queria que eu falasse o quê? Queria que eu falasse: olha, Sakura, conheci a Gotzone, tá? Ela joga bola, tem gostos parecidos com os meus e é muito bonita, está bem pra você? Eu mal falo com a Gotzone, só comecei a falar com ela agora e você já fica com essa pilha toda! Por isso, não gosto de falar algumas coisas pra você. — disse Syaoran, seco, sem acreditar no que a jovem mulher dizia e perguntava. Sakura ficou tão surpresa com aquilo que não quis perguntar mais nada.   

— Tá bom, Shoran, tá bom! Se você não quer falar mais nada, vamos terminar de comer e ir dormir. — disse Sakura, sem olhar para ele. 

— Você nunca me perguntou nada esses anos todos. — respondeu Syaoran, sem olhar para a cardcaptor. 

O clima na mesa ficou tão instável que Chitatsu olhou os pais com preocupação. Parecia que ele queria chorar a qualquer instante, mas ele se segurou. Ele nem contava mais as ervilhas antes de comer e engolia tudo com voracidade. Ruby Moon percebeu e chamou a atenção dos dois:

— Ih, gente, que clima é esse, hein? Uma DR na mesa de jantar? Puxa vida! Até a comida azedou… — disse Nakuru. — Vocês não pensam no menino mesmo, puxa… Vem, Chi, vem com a tia… — Nakuru pegou Chitatsu pelo colo e tirou ele de lá. Sakura e Syaoran finalmente olharam um para o outro, sem saber o que dizer.

 

Continua… 


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